Era um velho hábito de infância, se refugiar na cozinha durante a noite, para atacar a geladeira, quando não conseguia dormir ou estava chateado, por isso Mathews estava lá, nem precisava acender as luzes, conhecia aquele no lugar muito bem, até mesmo no escuro. A torta de maçã, a sua favorita, foi reconfortante para ele, mas as vozes no corredor anunciavam que o problema de que tentava fugir, vinha ao seu encontro, naquele momento.

— Que droga, Mathews! – Lucas reclamou, se recuperando do susto, ao encontrar o irmão ali. Teresa ficou parada, sem ação, com as mãos sobre o peito, apavorada, olhando fixamente para as costas de Mathews, que continuou comendo, sem se virar para eles, pois não tinha coragem de encará-los. – O que você está fazendo aqui no escuro? – Ele perguntou, irritado, para o irmão.

— Comendo torta. – Mathews respondeu, sem emoção na voz, apontando para o prato a sua frente, ainda contendo um pedaço dela. – Mas, tem mais aqui se vocês quiserem. – E continuou comendo, tranquilamente.

Lucas não ficou intimidado pela presença do irmão ali, pegou um prato e serviu-se de um pedaço da torta, que estava em cima da mesa, sentando-se ao lado dele, começou a comer, sem cerimônias. Mas, ao contrário dele, Teresa continuava, ficou imóvel, sem saber como agir.

— Pedir a fome! – Mathews declarou, depois de alguns minutos, empurrando o prato para longe dele. – Vou me deitar. Guarde isso na geladeira! - Ele ordenou para o irmão, apontando para a torta antes de sair. – Boa noite, Lucas, Teresa.

— Boa noite, Mathews. – Lucas se despediu, sem erguer a cabeça do prato.

— Boa noite. – Teresa murmurou para as costas dele..

— Você não estava com sede, Teresa? – Lucas indagou, apontando a geladeira.

— Sim, obrigada. – Então, ela conseguiu se mover, pegou um copo limpo sobre a bancada, foi a geladeira e se serviu, com muito cuidado, virou tudo em um único gole. – Boa noite, vou dormir. – E saiu depressa dali, queria voltar para o quarto, pensando na besteira que fizera em ir até lá, que seria melhor ir embora daquela casa e esquecer essa porcaria de vingança, porém, sem perceber, na penumbra, acabou se perdendo pelos corredores.

Teresa não sabia por onde ir, aquela casa merecia umas placas de orientação iguais às que se encontravam em hotéis, pois para ela as portas eram todas iguais, poderia voltar para a cozinha e esperar por Lucas, se caso ela encontrasse o caminho.

— Ai! – Teresa exclamou, assustada, ao se encontrar com um vulto a sua frente.

— O que está fazendo no meio do corredor, sozinha e no escuro, Teresa? – Mathews indagou, ele mesmo assustado.

— Estou perdida, não sei aonde é o meu quarto. – Ela respondeu, secamente.

— Você quer dizer o quarto do Lucas. – Mathews replicou, em um tom ácido.

— Que seja, o quarto onde estou hospedada. – Ela retrucou, no mesmo tom. – Eu achei que você já estivesse no seu quarto.

— Não, eu fui lá fora fumar. – Mathews revelou.

— Você voltou a fumar? – Teresa o questionou, decepcionada por ele ter retornado o velho mal hábito.

— Só fumo, quando estou estressado. – Ele confessou. – O quarto do Lucas é aquele ali. – Mathews apontou o caminho, ela o seguiu. – Por que você não vai embora, Teresa? Você já que teve a sua resposta. – Interpelou, em voz baixa, enquanto andavam pelo corredor pouco iluminado.

— Porque eu não quero ir, sou a acompanhante de Lucas. – Ela deu de ombros, já resolvida a não mudar de ideia, Mathews parou a encarando.

— Então, você quer se vingar de mim, transando com o meu irmão? – Ele sussurrou entre os dentes, sua voz fria e cortante como o aço.

— E se eu estivesse transado com o seu irmão? Eu estou sozinha. – Teresa deu de ombros - Você sabe que terminei um relacionamento que durou muito tempo, meu namorado vai se casar com outra e, atualmente, eu estou solteira e livre. – Enfrentou, desafiadora.

— Isso começou antes ou depois que você soube do meu casamento? – Mathews fez a pergunta que martelava na sua cabeça, sem cessar.

— O que importa isso agora? E você ficou noivo antes ou depois que começamos a morar juntos? – Ela devolveu a pergunta, sustentando o olhar.

— Logo, depois. – Ele respondeu, secamente, e o chão balançou sob os pés dela, deu um passo para trás se afastando dele, procurando apoio na parede.

— Por que fez isso comigo? – Teresa perguntou, desolada. – Porque mentiu para mim, esse tempo todo, me enganou, mesmo sabendo que eu te amava.

— Eu tinha medo de perder você.

— Então, por que não ficou comigo? Por que eu não sou a esposa certa para você? Só posso estar na sua vida como sua amante? – Ela questionou, desolada.

— Não é isso, Teresa – Mathews deu um passo na direção dela, sua voz estava mais suave. – É só que...

— O que vocês estão fazendo aqui, parados, no meio do corredor, no escuro? – Lucas voltava da cozinha, parou, surpreso, com a cena a sua frente.

— Nada, eu me perdi e Mathews estava me mostrando o caminho do quarto e paramos para conversar. - Teresa explicou, rapidamente, Lucas a encarou, descrente.

— O quarto é logo ali, Teresa. – Lucas apontou para a porta à sua frente. – Boa noite, Mathews. – Lucas se adiantou, abrindo a porta e entrando.

— Boa noite, Mathews. - Teresa o seguiu, fechando a porta atrás de si, deixando o parado no meio do corredor.

 - Acho que você não vai conseguir aguentar essa situação por muito tempo, Teresa? – Lucas a questionou. – Daqui para frente, tudo piora, amanhã haverá um brunch para as famílias, depois um jantar de ensaio e, por fim, a cerimônia de casamento.

— Eu sou forte o bastante, aguentarei. – Teresa respondeu, mas no fundo não tinha certeza. – Vamos dormir, Lucas, eu estou cansada. – Teresa concluiu, abatida.

— Tem certeza, que não quer dormir na cama, tem lugar para os dois. – Lucas a convidou. – Prometo que serei um cavalheiro.

— Eu acredito em você, mas, eu durmo aqui – ela rejeitou, pegando um travesseiro e um cobertor e se acomodando no sofá, demorou até pegar no sono.