Uma semana depois, Teresa e Lucas estavam sentados lado-a-lado, no avião em direção ao seu destino, ela não querendo deixar transparecer o seu nervosismo e ansiedade, fingia segurança e determinação, enquanto ele se divertia com a ideia do que aconteceria em algumas horas, quando chegasse para o casamento do seu irmão com a namorada dele.

— Você está bonita. Quero dizer, mais bonita ainda, Teresa. – Ele a elogiou, admirado, com a aparência dela, mal tinha notado o novo corte e as luzes cor de mel nos cabelos dela nem na sua maquiagem suave, sua calça jeans e camisa de marcas caras e famosas, botas de salto alto e a jaqueta de couro macio, não prestará atenção nos detalhes, mas em todo o conjunto, que a tornava ainda mais encantadora. – Eu ainda não entendo como uma mulher como você, estava fazendo com um cara como o meu irmão. – Repetiu a sua dúvida de sempre.

— É só olhar para o seu irmão, ele pode ser um safado mentiroso, mas é bonito, inteligente e, incrivelmente, sexy – Teresa refletiu, pensativa, sentiria saudades daquelas noites ardentes com Mathews.

— Sexy? Mathews sexy? Mathews é tão sexy quanto um cartão de crédito ilimitado pode ser. – Ele retrucou com desdém.

— Lucas, você, por acaso, acha que eu estava com seu irmão pelo dinheiro? – Teresa encarou, ofendida.

— Eu nunca achei isso de você, Teresa, porque é bem diferente das outras namoradas deles. – Começou a se desculpar.

— Como assim diferente? – Teresa ficou curiosa.

— Elas eram lindas, mas só cascas, se é que você me entende? Sem conteúdo, não dava para conversar cinco minutos com nenhuma dela, sem querer se jogar de uma janela. Mas, Mathews as exibia com faz com a Ferrari dele.

— Não seja dramático, Lucas. - Ela replicou. – Espera, aí? Mathews tem uma Ferrari? – Quis saber, atônita.

— Tem, é parte mais sexy dele. – Lucas afirmou, com sarcasmo.

— Com certeza, não é mesmo, Mathews é incrível. Ele tem uma pegada, que me enlouquecia, um... deixa para lá. – Ela parou, ao ver o olhar incrédulo de Lucas. – Não acredito, que esteja discutindo com você, a minha vida sexual com o seu irmão, a caminho do casamento dele.

— Não, se incomode, estou achando nossa conversa muito interessante, até mesmo excitante. – Lucas falou com cinismo. – Por falar em Mathews, ele passou a semana inteira procurando por você, como um louco.

— Eu sei, tive que desligar o meu telefone por conta disso. Mas, é bom ele sofrer um pouquinho. – Teresa confirmou, dando de ombros, seguiu-se um breve momento de silêncio. – Como ela é? – Ela teve coragem para perguntar, pois tinha medo da resposta.

— Quem? – Lucas imaginava, mas quis ter certeza sobre a pergunta.

— A noiva dele? – Teresa completou, em quase sussurrando.

— Evelyn? – Lucas parou, pensativo, escolhendo as palavras. - Ela é linda, rica, bem-educada, perfeita para um cara com Mathews. – Conclui, como uma ferroada, sem piedade, depois se arrependeu ao fitar a expressão de decepção no rosto de Teresa. – Desculpe, mas foi você quem perguntou.

— Eu sei. – Teresa replicou, conformada, porque precisaria enfrentar a verdade mais cedo ou mais tarde, sabia que aquele era o fim, não havia mais volta para eles. Daí em diante, evitaram conversar sobre o assunto até a sua chegada no aeroporto.

No táxi, durante o longo trajeto para a casa dos seus pais, Lucas dava algumas dicas e instruções para Teresa sobre a sua família.

— Meus pais são muito formais e pontuais, prestam atenção nos pequenos detalhes. E por favor, você me prometeu, sem escândalos. – Ele pediu mais uma vez, ela o olhou, irritada.

— Eu prometi, não prometi? Confie em mim. – Teresa afirmou, com segurança.

— Mais um pequeno detalhe, minha avó, a matriarca dos Bauner. Cuidado, pois ela pode ser um tanto ácida e, terrivelmente, irritante, principalmente, quando não gosta de uma pessoa. – Lucas informou, deixando Teresa abismada, enquanto o carro adentrava por grandes portões de ferro através de um caminho de cascalho, parando em frente de um grande e imponente casarão com um ar austero, com suas paredes da cor de arenito e inúmeras janelas, no meio de imenso jardim, onde já se observava a movimentação para os preparativos da festa de casamento. – Essa é a sua casa? – Perguntou, surpresa, olhando tudo admirada, enquanto saíam do carro pegavam as malas - Parece mais um hotel. – Ela imaginou o pequeno Mathews crescendo ali, perdido nos seus inúmeros cômodos.

— É a casa dos meus pais. Foi construída no final do século XIX e pertenceu a família durante várias gerações, porém, antes da guerra, meus avós fugiram para a Suíça. Quando retornaram, anos depois a compraram, novamente, e a restauraram, ficou igual à que era antes. – Lucas contou, olhando a casa, sem interesse.

— Meu avô era comunista, morreu na prisão, seu corpo nunca foi encontrado. – Teresa observou, com a voz fria, para espanto dele. – Não sei, o que ele pensaria ao ver a neta vestida desse jeito, em uma casa dessa. - Considerou, dando um sorriso que não chegou aos seus olhos.

— Talvez, ele pensasse que o mundo dá muitas voltas. – Lucas respondeu, com um sorriso de cumplicidade, subindo os degraus da frente.

Um empregado apareceu para ajudá-los a levar as malas para dentro.

— Venha, Teresa. – Lucas a incentivou, quando ela estancou na frente da grande porta de entrada, perdera toda a coragem, queria se virar e sair correndo, voltar para trás, estava insegura e com medo do seu encontro com Mathews. – Vamos. – Ele a pegou pelo braço e a trouxe para dentro, a guiando por suntuosos e elegantes cômodos, com uma decoração clássica, um pouco opulenta demais para ela.

Nesse momento, um casal mais velho apareceu para recebê-los, ambos elegantes e altivos, Teresa lembrou-se como imaginou aquele momento, durante todo o tempo que esteve com Mathews, conhecer seus pais, pensando no que falar, como agir nos mínimos detalhes, mas nada estava acontecendo como sonhou no passado.

— Lucas, meu querido! - A senhora de magra e alta de cabelos escuros e bem penteados, avançou para dar dos rápidos beijos na sua face. – Fiquei tão feliz, quando avisou que viria. – Revelou, em um tom alegre.

O homem ao lado dela também era alto, tinha os cabelos grisalhos, outrora louros, e a mesma expressão de Mathews, estendeu o braço para um aperto de mão formal.

— Lucas. –Foi a única palavra que proferiu, sem emoção na voz.

— Pai. – Foi a resposta no mesmo tom, se afastando e trazendo Teresa a frente.

— Pai e mãe, esta é minha namorada Teresa. Teresa essa é minha mãe, Lilian, e meu pai, Albert – Ele os apresentou.

— Senhor e senhora Bauner, é um prazer conhecê-los. – Ela os cumprimentou no mesmo idioma deles, estendendo a mão, tentando manter um sorriso simpático, lembrando-se da formalidade. Mais uma vez, imaginou como esperou por esse dia de ser apresentada aos pais de Mathews e o surpreender, falando o idioma deles, mas isso nunca aconteceria.

Albert a cumprimentou com uma gentil indiferença, mas Lilian foi um pouco mais expansiva.

— Por favor, me chame de Lilian. Teresa, que lindo nome para uma linda mulher. É espanhol, não é? – Lilian indagou, educadamente simpática, Teresa assentiu com a cabeça, encabulada, um tanto intimidada pela situação. – É um prazer, conhecê-la, não sabíamos que Lucas estava namorando uma mulher tão bonita. Na verdade, nem sabia que Lucas estava com um relacionamento sério com alguém. – Lilian prosseguiu. – Como só soubemos, repentinamente, que vocês viriam e a casa está repleta de convidados, acho que não se importarão se ficarem juntos no quarto de Lucas, afinal, somos muito modernos aqui. – Completou com um sorriso gentil, Teresa foi pega de surpresa, mas Lucas contornou bem a situação.

— Claro que não, mãe. – Lucas conclui com um sorriso travesso, dando uma piscada de olho para mãe. – Será um prazer.

— Então, subam e descanse um pouco, pois mais tarde teremos um coquetel de boas-vindas para os convidados às sete.

— Vamos, querida, vou mostrar o nosso quarto. – Lucas colocou a mão nas costas de Teresa, com intimidade, para guiá-la através da casa.

— Ah! E onde estão os noivos? Queríamos cumprimentá-los. – Teresa indagou, de modo casual, mas com o coração aos pulos, com a possibilidade de encontrar Mathews.

— Eles não estão aqui. – Lilian começou a explicar - Evelyn preferiu ficar em um hotel com os pais e outros familiares, enquanto a Mathews...

— Mathews está trabalhando no escritório, com o homem responsável que é. -Complementou o pai, alfinetando Lucas, que sorriu, sem graça.

— Vamos, querida, vamos descansar um pouco. – Lucas saiu, puxando Teresa, que sorriu, se despedindo.