Corações Partidos(Segredos e Mentiras) escrita por calivillas


Capítulo 11
Confissões




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— Lucas, já estou ficando dormente de ficar nessa posição. – Teresa reclamou, depois de um longo tempo, parada, posando. Ele havia pedindo para ela fazer isso, mais algumas vezes, para terminar o quadro que pintava dela, para isso Teresa estava no apartamento simples e acanhado, que Lucas dividia com um amigo, também pintor, um sujeito mais velho, estranho e caladão e que, raramente, estava em casa. O lugar era pequeno, com certo ar de improviso, cheirava a cigarro e tinta. Lucas havia transformado o seu quarto simples em um estúdio, onde, agora, estava deitada sobre a cama dele, ela tentava se manter imóvel por o máximo de tempo possível, mas já se cansara disso.

— Você é uma modelo muito rebelde, Teresa. – Lucas retrucou, em tom de brincadeira.

— Pelo amor de Deus, Lucas! Eu preciso me mexer! – Ela levantou, sentou, depois, alongando-se.

— Está bem, se mexa. – Ele se deu por vencido, soltou o pincel e foi até a mesa, encheu dois copos com o vinho da garrafa, que estava sobre ela, e entregou um para Teresa.

 - Se você está aqui a essa hora, significa que Mathews está viajando, outra vez. – Lucas observou, sentando-se no banquinho na frente dela, cruzando as pernas e acendendo um cigarro.

— Ele tem viajado muito, esses últimos meses, pelo menos, de quinze e quinze dias, ele vai até a matriz da empresa, fica três ou quatro dias por lá e, depois, volta, acho que as coisas com a Saramego, não andam muito bem. – Relatou e tomou um gole de vinho, parecia chateada. – Ele não vai passar as festas de fim-de-ano aqui, queria que fosse para casa comigo, para conhecer meus pais, mas ele me disse que precisava passar com seus pais.

— Também, não convidou você para ir com ele. – Lucas afirmou, já sabendo a resposta.

— Não, ele não convidou. Nós estamos juntos há mais de um ano e eu, ainda, não conheço a família dele, exceto você, é claro. Parece que ele não faz questão disso. -Teresa estava desiludida, já que o relacionamento deles parecia muito sério.

— É o jeito dele. - Lucas disse, dando de ombros, não sabia o que falar, apenas tomou um longo gole de vinho. – Podemos jantar juntos. Aqui perto tem um restaurante com uma comida muito boa, assim fazemos companhia um ao outro.

Teresa concordou, pois gostava da companhia de Lucas, apesar de ser tão diferente do irmão, porque ele era, sempre, engraçado e espontâneo, mesmo assim ele a fazia sentir-se mais próxima de Mathews. Também, podia praticar o idioma deles, que começou a aprender, às escondidas, para surpreender o Mathews. Então, andaram até um pequeno e despretensioso restaurante, sentaram-se à mesa, fizeram os seus pedidos.

— Você está falando o nosso idioma muito bem, Teresa. – Lucas a elogiou, impressionado.

— Tenho treinado muito. Quero fazer uma surpresa para Mathews, no momento certo. – Ela confessou, timidamente. – Mas, ainda não me sinto segura. Posso perguntar uma coisa a você, Lucas? – Teresa o interrogou de modo casual, no momento, que comiam.

— Claro, mas, por favor, nada sobre o meu irmão. – Ele brincou, mas no fundo, falou sério.

— Não, é sobre você mesmo. Eu entendo porque Mathews aprendeu a minha língua, já que era interessante para os negócios, mas e você? Tenho certeza, que não foi por isso. – ela quis saber, Lucas a olhou de forma divertida, refletindo.

— Por causa de uma garota. – Admitiu, com a voz séria.

— Uma garota! – Teresa exclamou, sem esperar por essa resposta.

— Eu a conheci, me apaixonei e a segui até aqui, aprendi a sua língua para impressioná-la, a cerquei por um tempão, porque ela não estava interessada em mim. – Lucas revelou, achando graça.

— Então, você é tão obstinado quanto o seu irmão. – Ela afirmou, Lucas fez uma careta.

— Por favor, nunca faça esse tipo de comparação, Teresa. – Ele falou, aborrecido.

— Então, o que aconteceu com a garota? – Quis saber, bastante intrigada com o final da história.

— Eu me cansei dela, depois que ela deu para mim. – Lucas confessou, dando de ombros, tomando mais um gole, com um ar tristonho, como se escondesse uma lembrança ruim.

— Que coisa horrível de se dizer, Lucas! Nunca imaginei que você fosse tão machista! – Teresa exclamou, chocada e Lucas soltou uma gargalhada.

— Não, estou brincando. Eu vim atrás de uma garota, achei que tínhamos algo especial, mas ela me chamou de idiota e casou com o noivo dela, um médico baixinho e careca. – Ele contou, com sarcasmo.

— Deve ter sido muito ruim para você? – Teresa ficou penalizada.

— Dessa vez, não foi nada. Já a primeira vez foi bem pior, era puro romantismo e só foi desilusão, porque eu me apaixonei por um sonho, pela imagem que fiz dela e quando a conheci como, realmente, ela era, fiquei muito decepcionado. – Ele confessou, uma nuvem escura de tristeza passou pelo seu olhar.

— Pensei, que isso só acontece com as mulheres, criar uma fantasia sobre alguém, se apaixonar por ela, e quando a máscara cai, sofremos à beça. – Teresa confessou

— Não é só com as mulheres, mas todo mundo pode se apaixonar por uma fantasia, consciente ou inconscientemente.

— Como assim, consciente ou inconscientemente? – Teresa ficou interessada na teoria dele.

— Às vezes, criamos nossas próprias fantasias sobre quem amamos, vemos o que queremos, não a realidade. Mas, outras vezes, somos enganados, a pessoa amada cria um personagem, que não existe só para nos manter junto a ela. – Refletiu.

— Mas, não se pode viver em uma mentira para sempre. – Teresa argumentou, com certeza.

— Porém, pode-se viver por muito tempo e quando tudo é revelado, não conseguimos entender como fomos tão cegos. – Lucas confessou, com um tom de tristeza na voz.

— Quem fez você sofrer assim, Lucas? -  Teresa indagou, solidária. - Foi a garota daquele quadro, que você chamou de Lembranças?

— Já faz muito tempo, consegui superar, não quero falar sobre isso agora. – Lucas encerrou o assunto, levando seu copo de vinho a boca.

— E o que você fez depois, que a garota o deixou para se casar? – Ela voltou a história original.

— Eu fiquei por aqui, andei pelo seu país, trabalhei em restaurantes, na cozinha e como garçom, como vendedor de lojas, até como professor de idiomas, o que aparecesse, para sobreviver.

— Espera aí! Você trabalhava para se sustentar? – Teresa o questionou, surpresa, com aquela revelação dele não viver com o dinheiro da família.

— Desde que sai de casa, eu vivo com o meu dinheiro. – Lucas esclareceu, deixando Teresa admirada.


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