Namoro à Indiana escrita por nywphadora, nywphadora


Capítulo 1
Capítulo 1




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— Todas estão falando sobre ele — ela escuta sua amiga dizer.

— Bom para ele... — murmura, ainda concentrada em seus livros de matemática.

No começo do dia, elas são surpreendidas com o boato de um possível teste surpresa vindo do professor. Todo o mês acontece esses testes, a questão é o dia.

— Sério que não está nem um pouco curiosa? — Alarice insiste, dando uma cotovelada amigável na amiga.

— Lari, nós precisamos estudar para esse teste — Malaya revira os olhos.

— Estamos estudando desde que chegamos! — argumenta a outra.

— Exceto que fomos atrapalhadas pelas aulas — retruca.

Alarice bufa, olhando para o lado contrário.

— Queria saber em que curso ele deve estar... — murmura, procurando-o com os olhos.

Assim que essa frase é dita, Malaya fecha os livros em um baque, colocando-os depressa dentro da bolsa, e levantando-se.

— O que é isso? — pergunta a amiga, desconcertada.

— Eu quero estudar! Estudar! Eu preciso desenhar para você entender? — explode, afastando-se dela.

— Ih! Eu, hein! — murmura Alarice, jogando a franja do cabelo para trás — Tá de TPM...

Já longe da amiga tagarela, Malaya olha para o relógio, amaldiçoando ao ver que falta pouquíssimo tempo para o intervalo terminar. Vai até o seu armário, tentando lembrar-se, sem sucesso, da matéria que estava lendo.

Atchá! Finalmente alguém! — ela ouve, ao mesmo tempo em que uma mão pousa sobre seu ombro.

— Em que posso ajudar? — pergunta, olhando estranhada para a garota.

Vestida com uma blusa de tecido, aparentemente, grosso, que cobria seus braços, e tinha um decote muito leve na gola, mas era tampado por um cachecol. A calça reta, nem grudada, nem solta, com a mesma cor da blusa. Por baixo da calça, só o sapato podendo ser visto.

“É, não é a moda da estação” pensa Malaya, ainda olhando para as roupas dela.

— Eu estou completamente perdida! — ela fala em um sotaque estranho, dando uma entonação exagerada em algumas palavras, e não se importando com o seu olhar — Os corredores completamente vazios...

— É o intervalo — interrompe.

— O quê? — pergunta, confusa.

— Intervalo. Parada das aulas, você come... — Malaya começa a se perguntar de que planeta essa garota vem.

— Ah! Sim! — ela diz, envergonhada — Então... Onde fica o prédio B?

Malaya simplesmente aponta para a direção contrária, o corredor cortado por uma porta de vidro.

— As portas separam os prédios — explica, brevemente.

Shukriya! Juily Kaiser — ela estende a mão.

— Malaya Griffiths — responde, sorrindo.

“Um planeta bem parecido com a Terra” conclui.

— Malaya? — repete — Nome indiano!

— Ah! Você é indiana! — conclui a garota.

A sineta toca nesse mesmo instante, assustando a garota de saree.

— Calma! Calma! — Malaya aproxima-se dela — É só o sinal! Ele avisa a mudança de aulas!

— Ah! — ela ri, aliviada — Que estranho...

— Vamos?

Elas começam a caminhar em direção às portas de vidro, já que Malaya também teria aula por lá.

— Está fazendo intercâmbio? — pergunta para a estrangeira.

Tik he! Eu e meu bhaya — responde, com naturalidade.

— Desculpe-me... O seu o quê? — ela ri com a palavra, sem conseguir entender do que se trata.

— Eu não sei como se fala... — Juily murmura — Ele... Arebaguandi! Nasceu antes de mim, temos os mesmos pais.

— Irmão — explica Malaya.

— Isso! — exclama a outra, satisfeita — Irmão.

— Às vezes você fala umas palavras... — ri.

— Sinto muito, saímos há muito pouco tempo da Índia, e não é costume de aprender inglês por lá.

— Tudo bem! Eu te ajudo...

Por coincidência, ao chegarem, elas descobrem compartilhar a mesma aula, naquele horário.

A manhã passa rapidamente. Em algumas aulas, ela compartilha com Juily; outras, com Alarice. E ainda há aquelas em que ela tem apenas a parede como companhia. Como todos os dias, é um verdadeiro alívio quando o sinal da última aula é tocado, e ela sai, com todos os outros estudantes.

— Finalmente! Pensei que não lhe encontraria ainda hoje! — diz Alarice, indo em sua direção.

— Não seja exagerada! Compartilhamos aulas — ela ri, sem parar de caminhar.

— No fim das contas, o professor nem deu o teste... — reclama, cruzando os braços — Não dá para confiar no Marcos...

— É, não dá mesmo. Tente arrumar outras fontes — declara, rindo.

Elas escutam uma voz chamando pelo nome de Malaya.

— Maly! — murmura Alarice, puxando a manga da camiseta dela.

— O que foi? — pergunta a outra, franzindo o cenho.

— É aquele garoto que te falei! O novato! — diz, no mesmo momento em que eles se aproximam.

— Nirvan, ela quem me ajudou hoje. Malaya, esse é o meu bha... — ela interrompe-se, rindo — Irmão.

— Essa é Alarice — ela apressa-se a apresentar, ao não saber o que dizer.

— Olá! — a outra acena, sorrindo, constrangida.

Namastê! — ele juntou as duas mãos, como se estivesse rezando.

As outras duas repetiram.

— Eu preciso ir, o trabalho — murmura Malaya para a amiga, e virou-se para os outros dois — Um prazer conhecê-los, mas preciso ir! Tchau!

Om Shanti! — diz Juily, antes que ela se afaste.

— Ela pode estar te xingando, e você nunca saberá! — murmura Alarice, fazendo a amiga rir.

— Vamos! Estou atrasada... — responde.

XXX

— Você não vai para casa, não? — pergunta Malaya, olhando desanimada para a falta de movimento na loja.

— Ah! Esqueci de te avisar! — diz, o olhar fixo no celular — Vou dormir na sua casa hoje.

A garota vira-se, lentamente, largando o cabide que segurava.

— Quem te convidou? — diz, bruscamente.

— Eu, é lógico! — ela sorri, sem vergonha — Acostume-se!

Ela revira os olhos, e já está pronta para responder à amiga, quando a porta abre-se.

— Atenda os seus clientes... — Alarice dá um sorriso irônico.

Saindo de trás do balcão, ela leva uma grande surpresa ao encontrar Juily.

— Oi! — ela sorri, simpática.

— Malaya! — exclama, surpresa por vê-la ali — Os meus pais pensaram que seria uma boa ideia eu... Passear por aí. Ainda acho isso tudo muito estranho... Não estou acostumada a sair de casa.

— Não? — pergunta Alarice, confusa.

Juily procura-a com o olhar, até encontrá-la, sentada em um canto do chão.

— Temos regras bem rígidas — ela ajeita a bolsa no ombro, desconfortável — Como as demonstrações de carinho que vocês tanto fazem...

— Olhe, pelo que eu li sobre os indianos, — começa Alarice, ignorando o olhar desconfiado de Malaya — vocês não podem usar roupas curtas nem nada do tipo. E aqui só vende esse tipo de roupa. No máximo, tem um vestido de saia longa, mas é sem manga...

— Eu só... — ela abaixa a cabeça — Eu não quero largar as minhas tradições, mas também não quero ser “a estranha”.

— Ei! Não podem te julgar! — exclama Malaya, levantando a cabeça dela — Desculpe. É o seu país, a sua religião... Eles tem que respeitar.

— Sabe que as coisas não são assim, — diz, triste — mas enfim! Tchalô! Vamos ver se encontramos alguma coisa...

Depois de minutos procurando algumas roupas, ela já estava nos provadores, para ver se algo lhe agradava, mas nunca saía de lá.

— E o seu irmão? — Alarice pergunta.

— Deve estar por um canto aí! — diz a voz de Juily — Depois nos encontraremos e voltaremos para casa.

— O namoro na Índia é bem diferente, não é?

“Definitivamente, ela está forçando a barra” pensa Malaya, olhando de cara feia para ela, que a ignorou.

— Não tem namoro. É noivado — responde Juily — O amor vem depois.

— É uma teoria bonita... — diz Alarice — Tem menos divórcios lá... Eu queria me casar dessa forma.

— Você tá de brincadeira! — murmura a amiga.

— Eu vi como você olhou para ele! — murmura a outra, levantando-se.

— Você tá viajando! Eu o conheci hoje!

A cortina é arrastada, e Juily sai.

— Como estou? — pergunta, sem se dar conta da discussão delas.

— Linda! — as duas respondem, sorrindo forçadamente.

Assim que a outra dá as costas, elas voltam para a briga de olhares.

XXX

— Agora estamos sozinhas... Diga de uma vez o que planeja — declara Malaya, jogando sua bolsa em cima da cadeira do computador, enquanto a amiga joga-se em sua cama.

— Estive lendo um pouco sobre a cultura indiana, enquanto você estava atendendo os clientes fantasmas — debocha Alarice, rindo ainda mais, ao ver o olhar cortante da amiga — Você tem o nome indiano... Ele pareceu interessado em você... A irmã gostou de você... Por que não finge que é indiana?

— Você enlouqueceu? — pergunta a amiga, incrédula — É claro que não!

— Por que não? Compramos um saree ou salwar kameez... Conheço uma loja indiana no centro — ela dá de ombros.

— Eu não tenho jeito de indiana! — exclama — Eu não sei falar como uma indiana, não sei agir como uma... Eu não vou me fingir de indiana! Para quê isso? Mentir para eles? Juily não é burra, ela sabe bem que eu não sou uma indiana!

— Você não é, mas pode ser filha de um... — ela segue sem se importar.

— Alarice Price, — diz, lentamente — você tem algum retardo mental?

Quando a amiga não muda sua expressão, ela aproxima-se rapidamente dela.

— Se tivermos algum relacionamento, eu terei que casar com ele! — exclama, exasperada — Você disse que queria fazer isso, eu não quero.

— Você quer! Só... Não tem certeza! — diz Alarice, certa do que fala — Amiga, se você quiser, pode cair fora.

— Não! Eu não posso! — retruca Malaya, de volta.

— Sim, você pode! Mesmo na Índia, os homens são mais valorizados. Se acontecesse o contrário, ela não estaria mais apta para casar. No entanto, ele continuará lá, disponível! Ninguém jamais saberá! — diz de volta, sorrindo.

“É, ela pensou muito nesse assunto” pensa Malaya, olhando chocada para ela.

— Vamos lá! Só assim você conseguirá ter certeza de que gosta dele — insiste, levantando-se da cama — Não conseguirá aproximar-se dele de outra maneira.

— E nem dessa! — ela retruca — Até dar as mãos deve ser algo chocante para eles.

— Maly, por favor! — implora, fazendo cara fofa.

— Eu não sei o porquê de você querer tanto isso... — bufa a garota, deixando-se cair na cama.

— Chame de sexto sentido... Instinto... Como preferir — Alarice dá de ombros.

— Certo, mas isso não durará nem dois dias! — revira os olhos, cansada — E como faremos isso?

O sorriso que Alarice dá é capaz de aterrorizar a qualquer pessoa, inclusive a melhor amiga.

— Deixe comigo! — pede, tranquilamente.

XXX

— O que acha desse?

Malaya sente que é impossível prestar atenção na amiga, que tenta mostrar-lhe um saree preto com dourado.

— Lindo — diz, sem prestar total atenção.

— Olhe, o ideal seria comprar um saree e o salwar kameez. Você vê, a Juily não usa saree para ir à faculdade — diz Alarice, irritada, ao perceber que a amiga está distraída.

— Tá, pode ser — diz, dando as costas para os cabides, com várias outras roupas típicas indianas — E como vai explicar a minha mudança repentina?

— Eu já pensei nisso — ela sorri, em resposta.

— E não vai me responder... Claro! Muito legal isso! — ironiza, mal humorada.

— Conversamos em casa — murmura Alarice, não dando chance para ela responder, antes de ir até o caixa — Crédito, por favor.

— É sério isso? — pergunta Malaya, sem receber resposta.

— Vamos — diz a amiga, por fim, arrastando-a para fora da loja — Não podemos conversar sobre isso abertamente. Você vai ligar para a Juily!

— Eu não tenho o número dela — retruca.

— Eu tenho!

Ela para de caminhar, olhando incrédula para a amiga, que continua caminhando.

— Como assim você tem? — pergunta, sentindo que nada mais poderia surpreendê-la — Quando você pegou? Aliás, indianos tem celular?

— São indianos, não homens pré-históricos! — responde Alarice, voltando para puxa-la pelo braço.

— Eu não estou gostando dessa história! Nem um pouco — deixa claro, sendo ignorada.

— Mas vai começar a gostar, quando o plano começar.

XXX

— O que eu tenho que falar com a Juily mesmo? — pergunta Malaya novamente, fechando os olhos, ao prever a bronca que receberia.

Alarice respira fundo, como se tentando não ir para cima da amiga.

— Você vai soar desesperada, dizendo que seus pais chegaram da Índia, que você mora com seus tios... Não sabe o que fazer, precisa agir como uma indiana — explica, outra vez.

— Ela quem vai me ensinar? Isso não é nem um pouco auspicioso... — murmura, olhando perdida para o celular.

— Olhe! Já está falando como uma! — parabeniza Alarice, animada — Ouvi-a dizendo essa palavra hoje, em uma das aulas. Ande logo!

Suspirando, Malaya começa a digitar os números, apertando na tecla verde.

— Não poderia mandar uma mensagem para ela? — sussurra, angustiada.

— Malaya Griffiths! — diz Alarice, seriamente, fazendo a outra suspirar.

— Alô? — Juily diz, do outro lado da linha.

— Juily? Oi! Sou eu, a Malaya — ela começa a treinar o sotaque, tentando ao máximo.

— Está tudo bem? Parece nervosa! — diz Juily, estranhando.

Apesar de não estar no viva voz, Alarice consegue escutar perfeitamente a conversa, inclinando levemente a cabeça na direção do aparelho.

— Lembra quando perguntou do meu nome? — ela começa, torcendo os dedos nervosa.

Tik he! — responde, esperando o começo da explicação.

— É que... Os meus pais são indianos, mas faz muito tempo desde que eu morei com eles, na Índia. Eles viajam muito, deixaram-me com meus tios, e eles pensam que eu segui a tradição, que não estou sendo influenciada pelos... — ela para, olhando de cenho franzido para Alarice, que começa a falar sem som — Firanghis.

— Eu entendo, mas o que isso tem a ver...? — ela deixa a pergunta no ar.

— Eles voltaram... — ela deixa um tom mais desesperado sair — E agora eu não sei mais o que fazer. Você precisa me ajudar! Se eles souberem... Não quero nem pensar no que farão!

Bus! Bus! Acalme-se! Eu... Eu vou até aí! Me mande o endereço por mensagem — diz, antes de desligar.

Alarice joga o cabelo para o lado, sorriso maleficamente.

— Não vai funcionar! — declara Malaya, negando com a cabeça.

— Envia a droga do endereço de uma vez! — retruca.


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