A Metade Que Nunca Irei Conhecer escrita por TaniNoru


Capítulo 4
Confusa




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Quando entrei neste colégio ano passado, fui vítima de bullying pelas garotas pelo meu jeito um tanto "masculino" de ser. Do jeito que eu agia, acabei fazendo amizades com os garotos bonitos que não estavam a fim de aturar aquelas patricinhas marrentas que sempre davam encima deles. Até que um desses garotos começou a flertar comigo. Este sujeito era ninguém menos que Kayo. Na verdade, nunca quis fazer amizade com aqueles garotos, tanto que eu mesma não via amizade alguma naquilo. Eles apenas procuravam em mim uma garota que não os ficasse bajulando o tempo inteiro, mas assim que eu rejeitei Kayo, tanto as garotas como os garotos passaram a me ignorar, até que tive que inventar a desculpa de que eu era lésbica e comecei a agir de tal forma, para que eles parassem de me deixar sozinha. Queria que eles pensassem que eu o rejeitei por gostar de meninas, pois foi à única forma que eu tive de fugir das indagações das meninas do colégio. Elas acharam que eu era uma menina arrogante e que não tinha direito de escolha. Era o Kayo ou o Kayo. Que maneira mais absurda de se pensar em pleno século 21! Aos poucos fui sendo isolada pelas garotas da turma, o que me deixou um pouco depressiva, e olha para eu ficar depressiva ou triste com algo, tem que ser bem pesado. Os meninos também evitavam falar comigo, por influência das garotas. Como são idiotas! Pessoas que se importam com as aparências não merecem nem o meu desprazer, e aquelas meninas eram um bom exemplo disso. Tudo o que eu queria era poder encontrar minha metade de uma vez nessa porcaria de planeta! Apesar de tudo, de todas as pessoas que se afastaram de mim, a única que permaneceu falando comigo foi justamente o Kayo. Não sei o motivo, mas mesmo todas as garotas e seus amigos dizendo que estavam me evitando por eu tê-lo xingado e feito outras coisas com meu ataque de fúria, ele não se importava. No fundo, era aquele o jeito dele de aceitar minhas desculpas e evitar que eu ficasse sozinha naquele ano. Mesmo eu odiando ele, no fundo sou muito grata. Enquanto ainda sentia o leve gosto do sanduíche de Hina, continuo a remoer meus anseios devido ao que sofri no passado. Mesmo que Kayo continuasse a falar comigo, em nenhum momento ele pediu para que seus amigos parassem de me ignorar. Até hoje eu me pergunto o porquê, e quando tento tocar neste assunto com ele, Kayo simplesmente desconversa. Antes de viajar de vez na maionese, sou levemente cutucada pelo pequenino dedo indicador de Hina, que se mostrava preocupada comigo. Eu olho em sua direção e pergunto sem pensar:

— Promete que não vai me deixar? - Ela recua surpresa e logo ergue seus pequenos braços pedindo um abraço.

— É uma promessa, veterana Misa. Também não aceito que me deixe só. - Eu abraço ela, enquanto a mesma acariciava meu cabelo.

— Como vou deixar uma coisa fofa como você sozinha?- Brinco, mas ela fica bastante vermelha e enfia a cara na lancheira, literalmente falando! Ouço passos vindos em minha direção e era ninguém menos que uma das amiguinhas do Kayo, Karine. Ela era alta, negra, cabelo encaracolado e castanho escuro que batia apenas nos ombros. Bustos enormes e um belo porte. Estava de salto alto, o que não era permitido no colégio, mas ninguém ligava para as regras. Usava uma saia branca e uma camisa vermelha com um decote super discreto. Ela exclama que o professor de natação estava me chamando para ajuda- ló a carregar algumas caixas. Começou a chover muito forte naquele instante. Meu deus, como eu amo a chuva! Fui saltitando feito uma retardada até o depósito onde estava a caixa e o professor não estava por lá. Quando me viro, a porta do depósito foi fechada pela força do vento. Eu fique bastante nervosa, pois sofro de claustrofobia. Enquanto tentava me acalmar, ouço uma risada ao lado. Era Kayo me observando, sentado no chão enquanto secava o cabelo.

— O que está fazendo aqui? - Grito, com uma mescla de irritação e nervosismo na voz.

— Eu que te pergunto! O professor de natação me chamou pra ajuda- ló a pegar algumas caixas e eu vim.

— Como é? Eu vim pra fazer o mesmo! -Digo bastante confusa com tudo aquilo.

— Hahaha, já está na cara o que está havendo aqui. - Diz Kayo, escondendo seu rosto com a franja ainda molhada e pingando algumas gotas no chão.

— Ué? Não entendi nada.

—Você é muito idiota mesmo. Trancaram a gente aqui de propósito. Devem ter sido aquelas garotas, para testar se você realmente não gosta de homens.

— Vadias! Quando saí daqui vou surrar a cara delas! - Kayo continua rindo enquanto eu as xingava, até que antes de eu perceber, ele já havia se aproximado de mim e encostou-se à parede. Ele olha fixamente para mim e segura a minha mão esquerda enquanto agarra o meu braço direito com sua outra mão. Sua respiração parecia cada vez mais ofegante, ou talvez fosse a minha que estava atingindo níveis inimagináveis. Levemente, ele aproximava sua mão em meu rosto e ergueu meu olhar nos seus. Os olhos verdes pareciam ter me hipnotizado de tal forma que eu não conseguia escapar de suas mãos. Antes que ele pudesse pensar em dizer algo eu o empurro para longe. Kayo se desiquilibra e acaba caindo no chão. Em vez de mostrar uma feição irritada pelo meu gesto, ele apenas sorri e se levanta pondo a mão na nuca e se aproxima novamente de mim.

— Se acalma, Misa. Não quero te fazer mal algum.

— Então se afasta de mim!

— Não consigo, Misa! O que eu sinto por você é diferente!

— Mentiroso! Diz isso pra qualquer uma!

— Não é como você pensa Misa. Não sou este monstro que você acha que sou. Se eu fosse assim, já teria te agarrado agora mesmo, mas quero o seu respeito. -Ele se aproxima novamente e põe o dedo indicador em meus lábios e diz "Ninguém irá te ouvir aqui" enquanto se aproximava novamente. Eu estava prestes a me entregar, mas recupero o meu caráter e dou um soco no rosto dele, que o faz cair no chão. Acabei machucando a mão e ela começou a inchar. Eu estava com medo da expressão que Kayo faria ao se levantar, mas ele continuava sorrindo. Por que ele é assim comigo? Isto não é justo! Ele se levanta e apenas diz

— Parei por hoje... - Se dirige até o final do depósito onde tinha alguns pedaços de madeira podre e decide pegar um deles. Ele testa algumas rebatidas e reflete consigo mesmo. Eu estava preparada para que ele tentasse me atingir com aquilo, mas não foi isso que aconteceu. Ele pôs sua mão em meu cabelo molhado e começou a acaricia- ló, depois pediu para que eu me afastasse. Parecia que ele estava sussurando alguma coisa e dá uma pancada na porta, arrombando-a. O toco de madeira ficou destruído, mas nem se compara com o prejuízo de uma porta nova para o depósito. Kayo joga o que sobrou do toco no chão e se virou em minha direção. Eu podia ver sua boca sangrando devido ao soco que eu dei, mas ele parecia não se importar. Veio em minha direção e retirou o seu casaco e me cobriu.

— Vai se resfriar... - Disse em tom melancólico e por fim termina - Vou embora. Nos vemos amanhã. - Pondo sua mochila nas costas e se virando até o portão da saída que era alguns metros à frente . Eu me senti incomodada e o chamo.

— Temos aula agora! E você vai ser suspenso se descobrirem o que fez com a porta!

— Eu não ligo pra isso. Aproveite e fala que eu te tranquei ai dentro e tentei te molestar. Não vai fazer diferença pra mim.

— Por que você é assim? Realmente não se importa em ser suspenso? - Ele tenta esconder seu semblante sério e vira o rosto para mim com um olhar triste.

—Você sentiria minha falta?

— Não mesmo! - Respondi automaticamente sem pensar nas consequências. Talvez tivesse sido melhor eu ter dito que "sim"...

— He, eu já havia imaginado. -Era a primeira vez que eu senti pena dele. Ele se foi junto com a chuva que caía sobre mim. Como eu consigo ser tão fria? O Kayo já estava agindo estranho há algum tempo. Faltando os treinos do basquete e tudo mais. Eu estava vendo Kayo virando a rua em direção à estação e não fiz nada para impedir. Será que eu o julguei mal? Uma hora ele tenta me agarrar como um tarado, mas no fundo meu corpo queria se entregar a ele. Talvez esteja nascendo um sentimento por Kayo dentro de mim.

Eu não quero isso! Não quero de jeito nenhum! Ele tem praticamente todas as meninas em seus pés. Pode escolher a dedo por qual ele deseja ficar no dia, então porque ele me escolheria? Será que ele me enxerga como sua primeira derrota, alguém que o tenha rejeitado pela primeira vez, ou ele realmente me olha de um jeito "diferente" como havia dito? Ah, meu Deus! Estou muito confusa, mas não sei se o verei novamente. Não de depois do que fiz. A silhueta dele havia sumido em meio às gotas da chuva daquela manhã. Será que eu o verei novamente?


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Notas finais do capítulo

Obrigado por ler!!



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