A Metade Que Nunca Irei Conhecer escrita por TaniNoru


Capítulo 3
Sozinho


Notas iniciais do capítulo

Ainda não decidi se estar história será muito grande.



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Alguma vez enquanto você caminhava pela rua, já imaginastes quantas pessoas que estão à sua volta, ao chegar em suas casas começam a chorar por se sentirem sozinhas em meia à imensa multidão que lhe cerca? Eu me sinto assim. Todos os dias eu choro sem parar quando chego em casa. Me tranco no banheiro para que meus pais não ouçam meus soluços de angústia e solidão. Quando foi que eu comecei a me sentir tão só? Não me lembro. Realmente não me lembro. Desde pequeno nunca tive muitos amigos e sempre vivia isolado, mas quando via um garoto chorando por ter caído do balanço, eu ia rapidamente em sua direção para ajudar. O que eu via era uma menina. Uma menina em prantos caída no chão, esperando alguém ajuda- lá a se levantar, mas todos a ignoravam. Todos se faziam de adultos, somente pelo fato de já estarem bebendo, fumando e se divertindo por aí como um bando de moleques. Eu realmente não suportava vê- lá só daquela forma. A dor de sua solidão me sufoca de tal forma que eu esquecia até mesmo de respirar. Enquanto eu estava pensativo, vejo um grupo de alunos do terceiro ano do clube de basquete se aproximando da caloura que estava sentada na pilastra, lendo calmamente seu romance. De onde estou, consigo ouvir partes da conversa. Eles a chamam para que ela os acompanhe até a sala de aula. Eu já imaginava no que aquilo iria resultar. Se fosse um clube qualquer, eu já teria intervindo, mas agora era diferente. Era o meu antigo clube, no qual me envolvi em um incidente que fez com que minha fama no colégio não fosse uma das melhores. Estava me segurando para não ir ajuda- lá até que paro e reflito:

"Por que ainda estou aqui observando?"

Um deles arrancou o livro de suas mãos enquanto ameaçava rasga-lo. Os alunos que se encontravam no pátio desviam o olhar como se não fosse nada com eles e decido intervir. Quando um dos alunos do segundo ano percebe que eu estava indo em direção aos alunos do terceiro ano, ameaçou chamar os professores. Eu apenas o ameaço com o olhar e digo

— Nem pense nisso! - Ele se senta novamente no banco do lado da pilastra e apenas observa. Eu puxo a caloura pelo braço e pergunto:

— O que pensa que esta fazendo com minha namorada? - Antes que meu rosto começasse a corar, encosto meus lábios perto do ouvido da caloura que a deixa levemente arrepiada, e digo bem baixinho para que ela contribua com o teatrinho.

— Caralho, Roy! Desculpa aí cara! Sinceridade mesmo. Nem sabia que era tua mina.

— Tudo bem, Lima. Esquece esse assunto.

— Mau ai mesmo, mas quando você vai voltar pro clube? Tu és o melhor arremessador do time. -Minha garganta fica seca ao ouvir suas palavras e tento esconder a frustação enquanto respondo. Lima não sabia nada sobre o incidente.

— Eu fui expulso do time. Nunca mais poderei voltar a jogar basquete. - O silêncio invade a conversa, quando antes que Lima pensasse em perguntar o motivo, eu puxo a caloura dali e levo-a até umas escadarias próximas ao bebedouro em frente ao banheiro masculino. Naquele horário, por incrível que pareça não havia ninguém por lá. Era o momento propício para eu começar uma conversa com a menina, quando vejo que eu havia entrelaçado meus dedos nos dela. Eu puxei minha mão por impulso e acabei assustando-a. Não fiz por mal, juro! Eu nunca estive tão próximo assim de uma garota antes, então não sabia como reagir. Ela estava olhando desesperada para o chão, quando percebo que eu arrebentei a pulseira dela com o movimento brusco que eu fiz. Algumas bolinhas da pulseira foram parar dentro de um depósito e eu vou até lá pega- lós. Pedi para que ela deixasse a pulseira comigo que eu arrumaria durante a aula. Ela acena com a cabeça sem dizer uma palavra sequer e vai embora. Vou até o pátio pegar minha mochila e digiro-me a sala de aula. O resto da aula foi completamente inútil. Sentei-me no fundo da classe para que não me vissem consertando a pulseira da caloura. A aula termina e chega o momento de finalmente ir embora. Parecia que iria chover intensamente hoje. Lógico, pois depois daquele calor infernal pela manhã, já era um tanto que esperado. Com sorte, estava com meu guarda-chuva na mochila, então vou à procura da caloura para lhe entregar sua pulseira. Ela estava sentada na pilastra, lendo seu livro então me aproximo cautelosamente e lhe chamo. Ela se vira e deixa escapar um leve sorriso.

— Aqui está! - Eu estendo minha mão mostrando a pulseira consertada. Ela segura as minhas mãos e diz com uma voz bem baixinha.

— Pode ficar pra você...

— Sério? Sendo assim, vou usar agora mesmo! - Acho que a pulseira era uma forma de agradecimento pôr ter- lá ajudado. A chuva começa a cair e tenho que me apresar, mas antes disso.

— Você não vai embora?

— Vou esperar a chuva passar, pois estou sem guarda-chuva. - Disse ainda esbanjando um envergonhado sorriso.

— Você vai em qual direção?

— Vou pela direção do shopping, por quê?

— Sendo assim... - Digo enquanto abro minha mochila e entrego meu guarda-chuva. - Fique com o meu!

— Eh? Você vai ficar na chuva se me der. Não precisa.

— É pela pulseira, sabe? Amanhã você me devolve. E ainda é um pretexto para eu poder falar com você. O que acha? - Ela abaixa a cabeça e tenta esconder o sorriso entre seus cabelos. Ela apenas acena timidamente e pega o guarda-chuva. Depois, levanta o olhar em minha direção e sorri novamente.

— Obrigada! - Fiquei sem reação alguma e apenas escondo meu rosto vermelho e me despedi. A chuva estava intensa e eu parecia um pinto molhado quando cheguei na fila da estação. Por sorte, ela estava pequena, então peguei a passagem e saí correndo para pegar o trem. Quase escorreguei na escada, mas isso é detalhe. O ar condicionado estava glacial. Minhas roupas molhadas somados ao frio me fizeram me sentir terrivelmente desconfortável. Desço duas estações antes da minha e ando em direção a uma quadra de basquete abandonada para jogar um pouco, mesmo no meio desta chuva. Eu sempre venho aqui quando saio mais cedo do colégio e fico jogando aqui até anoitecer. Quando estou me aproximando da quadra, me deparo com um garoto jogando sozinho em meio à chuva. Ele era estupidamente alto, tinha um cabelo que estava bastante encharcado, então não consigo explicar seu penteado. Ele tinha uma marca de um soco no rosto e sua boca estava escorrendo um pouco de sangue, mas ele não parecia se importar com isso. Eu me aproximo calmamente, e sem ele perceber minha presença, me inclino em posição defensiva há uma distância de cinco metros dele esperando que o rapaz se virasse e me visse. Quando ele se vira, eu percebo que ele estava tentando esconder suas lágrimas com seu cabelo escorrido e com a chuva. Ele era como eu, pois eu venho para essa quadra fazer exatamente o mesmo. Este era o local perfeito para chorar. O fato de alguém além de mim estar utilizando esta quadra, já nos torna interligados.


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Notas finais do capítulo

Obrigado por ler. Esperem pelos próximos capítulos



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