Já se fazia um ano e meio desde o suicídio de Sherlock Holmes . 545 dias de sofrimento e angustia para mim , John Hamish Watson . Eu ainda me perguntava : por que ? Por que me abandonou ? Me deixou sozinho nesse mundo ? Sem amigos , vazio . Como era antes de conhecer a pessoa mais importante de minha vida .

Os Yards perderam a sua estrela da sorte , o mundo perdeu seu único detetive consultor , Mycroft perdeu um irmão e eu ... Eu perdi um amigo . 

Não , ele era mais que um amigo para mim . Era minha ancora que me mantinha nesse mundo . Minha razão de viver . Eu não sou nada sem meu sociopata altamente funcional .

A Sra Hudson foi muito compreensiva quando me mudei do 221b . Ela sabia que aqueles quartos me trariam lembranças dolorosas .  Greg era legal comigo , me convidava para visitar algumas cenas e beber nos dias de folga . Em todos os lugares que visitava , eu podia sentir Mycroft me observando por suas cameras , parecendo zelar por mim . Mas ainda havia aquele buraco em meu coração .

A cada dia perdia as esperanças de que receberia uma mensagem dele me chamando para um caso ou o encontraria coberto de sangue após uma experiencia , reclamando que estava entediado . Como aquele idiota me fazia falta !

Não aguento mais minha sem ele , então , não quero mais viver !

Reuni a coragem que me restava e voltei para nosso antigo flat . Ainda conservava minhas chaves e aproveitei que minha adorável  ex-senhoria estava visitando sua irmã no interior e em pouco tempo me encontrava em nossa antiga sala .

Tudo estava na mais perfeita desordem , exatamente como Sherlock deixou . O jogo de química espalhado pela cozinha , papéis , sem valor para mim mas inestimáveis para ele , estavam por toda a sala . Apenas a geladeira não possuía mais a sua presença , os dedos e outras partes do corpo humano tinham sido jogados fora pois infectavam o lugar . Seu violino jazia em seu canto preferido do sofá .

Desanimado , fui até seu quarto e não me surpreendi ao encontrar sua cama repleta de experiencias . Isso explica o fato dele dormir no sofá ! Vasculhei suas coisas em busca de uma explicação para sua morte . Nada .

Apenas quando abri o guarda-roupa pude encontrar algo interessante  . Um baú . Era feito de pau-brasil e decorado por desenhos rudimentares esculpidos na madeira : luas , arcos e flechas e animais quadrupedes . Na tampa , se via as iniciais SH gravadas de modo caprichoso .

Oque será que Sherlock guardou aqui ? Abri o baú e encontrei diários , livros infantis e um belo relógio de bolso de prata com uma lua enfeitando sua tampa . Peguei um diário e vi que estava preenchido  com a letra caprichosa de meu amigo .  Comecei a ler , com apenas um pouco de culpa por bisbilhotar os pertences alheios , mas finalmente teria uma chance de de compreender alguém tão enigmático . A primeira página tinha uma foto de meu amigo com um garotinho risonho em seu colo . Nunca vi o detetive mais feliz em minha vida . Parecia tão em paz como naquela foto , sem nenhum caso em mente , apenas mantendo o menininho em seu braços . Ele parecia mais jovem e menos misterioso . Embaixo da imagem lia-se  :

Querida Sarayu ,