No caos, encontrei você. escrita por sadali3n


Capítulo 3
Novo ponto de partida


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura ~



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Depois de um tempo perplexa com tudo que havia se passado, Alicia percebe que é hora de agir. A iluminação dentro do trailer estava ficando pior, a busca por fósforos começa mais uma vez e finalmente eles resolvem dar as caras. Ela pega alguns lençóis que haviam no quarto e enche um recipiente com água. Leva tudo para a sala e chega chutando algumas porcarias que estão espalhadas pelo chão antes de ajeitar a Elyza, que é arrastada para cima de um tapete. Seu rosto estava pálido.

“Eu vou te ajudar, você vai ficar bem...” Fala Alicia enquanto tira os coturnos da loira e a sua calça para verificar a gravidade do machucado. Não havia marcas de mordidas em sua perna, o que era um bom sinal. Seu pé estava inchado e o corte era um pouco abaixo do joelho, grande, mas não parecia tão profundo. Com o pedaço de um dos lençóis, a morena garroteia a coxa da outra com força para parar o fluxo de sangue. Após limpar o ferimento com água, ela faz um curativo. Por fim, Alicia a cobre com um outro lençol e fica sentada próximo, esperando ela acordar.

 A espera lhe faz lembrar de Nick, que até aquela hora não havia aparecido. Seria uma noite longa. Ouvir música seria uma boa distração, porém a bateria de seu celular estava zerada. Uma certa curiosidade de checar a playlist da Elyza lhe passa pela mente, porém a presença dela ali, mesmo que desacordada, a faria sentir-se cometendo um crime, e dos graves. Não ia rolar. Já bastava o medo de como seria a reação da mesma quando acordasse, torcia para que fosse a mais pacífica possível.

POV Elyza Lex

Quando abri meus olhos foi estranho, eu não sabia onde estava. Coloquei minha mão na cabeça, doía pra caralho. Tentei me levantar, só tentei, por que fui interrompida.

— Não se mova, se fizer esforço o corte vai voltar a sangrar, seu pé também não está muito legal, acho que você o torceu...repouso deve resolver – A garota falou e se aproximou de mim depressa  

Tirei o lençol que me cobria e percebi que ela havia cuidado da minha perna.

— Vem, eu posso te ajudar a sentar no sofá se quiser, essa posição não deve ser das melhores e você está a bastante tempo assim no chão – Ela colocou uma mão no meu ombro e ofereceu a outra para mim segurar

Não sabia como reagir, fazia muito tempo que ninguém me tratava daquela maneira e aquele jeito doce me levou a aceitar a ajuda sem pensar duas vezes.

— Beba um pouco – ela encostou um copo de água em meus lábios e eu tomei um gole, minha garganta estava seca  

— Você está com raiva de mim? Ou costuma ser sempre calada? – Ela parecia nervosa e deu um sorrisinho tímido se sentando ao meu lado

— Por que eu iria odiar alguém que eu nem sei sequer o nome? – Respondi arqueando uma de minhas sobrancelhas

— Me chamo Alicia Clark...

— Prazer, Elyza Lex. – Falei e esperei saber o que mais ela tinha a revelar

— ...eu joguei uma cadeira na sua cabeça, achava que fosse um zumbi. Eu só queria me defender, só isso. – Ela falou tão rápido essas palavras que levei uns segundos a mais para processá-las

— Nossa, eu não lembro disso. Você é mais perigosa e tem mais força do que eu imaginava, minha cabeça parece que foi atingida por um cometa – Não controlei o riso e fiz uma checagem visual nela

Era magrinha, usava uma calça jeans skinny rasgada, tênis, camiseta e moletom. Seu cabelo, ondulado, estava preso, mas com algumas mechas soltas. Tinha ar de intelectual. Uma boca bem desenhada e olhos verdes, definitivamente, linda.  

— Me desculpa, sério... – Ela olhou nos meus olhos pela primeira vez cortando minha linha de raciocínio

Parecia estar realmente arrependida.

— Relaxa, eu teria feito o mesmo diante de toda essa loucura que tá acontecendo. Sem falar que você cuidou de mim e leva jeito pra coisa – sorri mais uma vez – Obrigada.

— Era o mínimo que eu podia fazer depois daquela recepção, confesso que estava morta de medo de como reagiria e mesmo você encarando de boa, continuo me sentindo idiota. – Ela colocou as mãos em seu rosto e eu só conseguia admirar a capacidade dela de ser fofa sem o menor esforço.

— Alicia... – Puxei sua mão do rosto para que me olhasse – Posso fazer uma pergunta?

— Claro, pode falar.

— Se não for te incomodar, gostaria de fumar um cigarro, to precisando depois do dia horrível que passei...

— Vai em frente, eu posso imaginar, tive um dia horrível também. Mas a noite poderia estar bem pior se você não estivesse aqui... estou esperando meu irmão a horas

— Irmão? 

Ela começou a explicar tudo que se passava e como foi parar ali enquanto eu estiquei meu braço para pegar os cigarros e meu isqueiro que guardara na minha mochila, a ofereci, ela recusou e continuou a falar.

Ouvi atentamente.

            (...)

Depois de algumas horas de papo, quando o sol já começava a nascer, Nick finalmente aparece, em um carro. Ele não se importava com a sua aparência. Vivia de cabelos bagunçados e roupas largadas, a prioridade era estar confortável e ponto. Ao entrar no trailer, ele encontra sua irmã e a loira tombadas. Estavam adormecidas, vencidas pelo cansaço. Cada uma para um lado, naquele pequeno sofá velho. Alicia encolhida. Elyza meio torta, de camisa e calcinha. Ele sacode a irmã, que acorda assustada. 

— Quem é ela? Acho que me deve explicações, não devia confiar em qualquer um... 

— Calma, eu vou te explicar tudo. Não exagera. – Alicia se levanta puxando o irmão para o quarto, não estava curtindo uns olhares de canto de olho que ele lançava para as pernas da loira

Entraram no quarto e a conversa continuou. 

— [...] e foi isso que aconteceu. - Ali resume a história da forma mais resumida possível, odiava dar explicações

— Cuidou dela? Só te vi toda preocupada assim com alguém poucas vezes na vida e uma delas foi quando aquele seu namoradinho foi atropelado e ficou dias preso em casa com a perna quebrada

— Ex-namorado. E cala a boca, eu só estava me sentindo culpada pelo que fiz com a moça, só isso. – As bochechas da Alicia ficaram mais rosadas que o natural e o irmão a lançava um olhar desconfiado, ela revirou os olhos – Enfim, por que toda a demora? Onde você estava?

— Eu não estava me sentindo muito bem, você sabe como fico quando passo um tempo sem tocar nas drogas...então invadi uma farmácia e procurei alguns comprimidos. Alguns infectados apareceram quando eu ia embora, então, me escondi no depósito daquele lugar, fiquei a noite toda por ali mesmo e descansei...

— Que horror Nick!

— Sim, não tive a mesma sorte que você, enquanto eu fazia companhia aos ratos, você estava dormindo com a Taylor Momsen.

— Meu Deus você não se cansa mesmo hein – Alicia dá um tapa no braço do irmão e manda ele falar sério

— AUU, Ali! – Ele retrai seu corpo

— Na próxima eu acerto sua cabeça. Agora me diz, como conseguiu sair do depósito?

— Os zumbis saíram de lá primeiro, quando acordei já não os ouvia. Conferi e saí apressado, foi aí que dei de cara com um automóvel abandonado, as portas estavam abertas e a chave ainda estava na ignição, parecia que estava à minha espera.

— Você roubou o carro...

— Não foi um roubo, ele tava lá abandonado, como diversos outros. Talvez o dono já estivesse morto enquanto eu estou vivo e precisava de um carro. 

— A que ponto viemos parar, nossa... – Alicia cruza os braços e olha para o lado – E a mamãe? Algum sinal dela? – Seu olhar se volta para o irmão novamente

— Ah, sim! Da última vez que consegui me comunicar com ela a ligação não foi das melhores, mas pude entender que estava bem e com um grupo de pessoas, inclusive uns colegas de trabalho. Eles se viram obrigados a se afastar da cidade quando as merdas começaram. Uma das pessoas do grupo tem uma fazenda, e ela está lá.    

— Isso é uma ótima notícia! – Alicia se sentia mais aliviada pela mãe - Ela disse onde ficava essa tal fazenda?

— Ela me passou algumas coordenadas antes da ligação cair, acho que são suficientes. – Nick sorriu       

O sol começava a tocar o rosto da Elyza, ela faz uma careta abrindo os olhos e ouve umas vozes que indicavam a presença de um homem, já imaginava de quem se tratava. Olhou em volta para ver se encontrava sua calça. Estava pendurada em uma janela mais a frente, abaixo estavam seus calçados e seu canivete, que deveria ter caído quando Alicia a despiu. Deu uns pulinhos tentando manter o equilíbrio com uma perna só. Conseguiu alcançar e se equipou. Sentou-se novamente no sofá e ficou tentando entender a conversa dos irmãos. Não demora muito e Nick aparece.

— Veja só, sua amiguinha acordou – Nick fala para Alicia que vem logo atrás dele

— Oi...Nick, Alicia falou de você. – Elyza fala se levantando e ele acena com a palma de sua mão aberta acompanhado de um sorrisinho

POV Alicia Clark

“Vou esperar lá no carro...”

Foram as últimas palavras que o Nick falou antes de sair do trailer, deixando eu e a Elyza a sós.

— Como se sente? – Perguntei a observando

— Me sinto melhor...estão indo embora?

— Sim, vamos para longe, minha mãe está em uma fazenda. Deve ser seguro lá, e você o que vai fazer? Procura por alguém? – Não era exatamente as perguntas que eu queria fazer, mas fui com calma

— Sinceramente, estou sem rumo. Não tenho parentes aqui em LA...   

— Não tem ninguém especial também? – Não consegui controlar a minha curiosidade

— Especial? – Ela fez uma cara de confusa nada convincente, parecia gostar de me deixar sem jeito

Tentei explicar, mas comecei a gaguejar a ponto de se irritar comigo mesma e isso a fez sorrir, era oficial agora, aquela loira se divertia a custos dos meus embaraços.

— Eu saia com muitas pessoas as vezes, umas boas amigas, mas era aquela coisa de só curtição, sem falar que eu conhecia mais elas do que elas me conheciam. Enfim, não há ninguém especial... – Ela deu uma pausa e fiquei surpresa, não esperava essa resposta;

— ...já que tocamos nesse assunto, eu gostei bastante de te conhecer Alicia, você é diferente de todo mundo que já conheci. A noite ao seu lado foi muito agradável, pode ter certeza que se a gente não estivesse nessa situação eu iria te convidar para sair. – Ela falou e dessa vez meu coração foi parar na boca

Eram as palavras que faltavam para me encorajar a dizer o que eu já queria antes.

— Vem comigo, por favor... – Continuei - ...não podemos sair, mas podemos nos unir e lidar com tudo isso juntas. Olha, agora eu não vou conseguir sair daqui desse trailer como se nada tivesse acontecido, sabendo que você vai ficar sozinha por aí, ainda por cima, ferida. Nunca senti uma ligação tão forte com alguém em tão pouco tempo, desde que bati meus olhos naquela sua foto, eu sabia que tinha algo especial em você...

— Foto? De que foto você tá falando? – Fui interrompida pela Elyza

Arregalei meus olhos. Eu acabei falando demais.

— Que foto, Alicia? – Ela repetiu mais uma vez e esperou eu me pronunciar

Caminhei até minha mochila e pude sentir seus olhos azuis me acompanharem. Peguei o celular, entreguei sem jeito a ela.

— Oh meu Deus, ele estava esse tempo todo com você? – Ela parecia não acreditar no que via

— Estava, encontrei perto daqui.

— Em um beco, suponho... – Ao falar aquilo o semblante dela mudou, ficou mais séria e guardou o celular no bolso da sua calça

— Isso... ei, o que foi? Quer falar sobre o que aconteceu lá? – Me preocupei

— Não, não foi nada de mais, só levei um choque de realidade e lembrei que temos que ir embora... – Ela falava enquanto pegava seus pertences, de costas para mim

Paralisei.

— Sua cara de espanto já está me assustando, sério... anda, pega suas coisas também e vamos dar o fora daqui. Seu irmão já deve estar cansado de esperar.

Ela estava realmente disposta a ir comigo. Assim, do nada. 

A medida que a ficha caia eu ia fazendo o que ela havia dito. Saímos juntas em direção ao carro. Era uma picape e Elyza preferiu ir na parte traseira, jogou sua mochila e apesar de subir com dificuldade não aceitou minha ajuda. Pensei comigo mesma: "Quanta rebeldia".

Sentei no banco da frente ao lado do Nick e lhe disse a novidade. Ele não se importou dela ir conosco; desde que não encostasse em seus comprimidos estava tudo certo. Meu humor estava tão bom que até dei um beijo na bochecha daquele idiota, ele fez cara de nojo e me empurrou para ficar quieta no banco. Demos risada.

O motor é ligado e...partimos.


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