Déjà vu escrita por Paulinha Almeida


Capítulo 42
Capítulo 42




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A primeira hora se arrastou silenciosa, a não ser pelo bipe ritmado do monitor cardíaco ao lado da cama. e eu permaneci com os olhos vidrados nele, como se qualquer movimento além disso fosse atrapalhar de alguma forma sua recuperação.

Meu lado lógico dizia que não havia a menor possibilidade de que Harry acordasse antes das oito da manhã, pelo menos, que seria quando ele não estaria mais sob os efeitos do sedativo usado na cirurgia, mas eu não conseguia deixar de desejar que ele abrisse os olhos por um segundinho apenas, podia até voltar a dormir depois.

Uma e meia da manhã senti o celular dele tocando e atendi quando vi o nome da mãe brilhar na tela.

—Oi, Lily.

—Gin, está tudo bem? - Perguntou cautelosa.

—Sim, estou aqui com ele agora e está tudo muito bem. Ele ainda está sob efeito dos remédios e não acordou, mas respira sozinho e não tem nenhum sinal de que algo esteja errado. - Respondi com todos os detalhes que eu achava que deveria dar a ela.

—Graças a Deus! - Exclamou outra vez. - Querida, conseguimos nos encaixar em um voo às seis da manhã, devemos chegar aí no hospital por volta das três da tarde. Você acha que ele já vai estar acordado?

Essa pergunta fez meu estômago despencar, porque se não estivesse ainda eu certamente estaria entrando em um colapso nervoso.

—Claro que sim! - Falei da forma mais convincente que consegui.

—Tomara. - Desejou como uma prece. - Nos vemos amanhã, querida. Obrigada.

—Façam uma boa viagem, estarei esperando vocês aqui.

Nos despedimos e eu encerrei a ligação, deixando o telefone repousado no colchão ao lado da perna do Harry, onde meu braço estava encostado.

—Eu disse à sua mãe que você estará acordado amanhã quando ela chegar, então é bom você estar mesmo porque eu não quero ter mentido para ela. - Falei olhando para ele, tomando o cuidado de fazer minha voz soar bem clara.

A tela se acendeu com o recebimento de uma nova mensagem e eu me apressei a ler quando vi que era do Michael:

"Como está por aí?"

Sem soltar a mão do meu namorado, levei um pouco mais de tempo para responder:

"Posso te ligar?"

Sua resposta afirmativa foi substituída pela chamada que ele mesmo fez.

—Oi, Mike.

—Ei, Gin, e aí, como estão as coisas?

—Ele está mesmo bem, na medida do possível, agora é só esperar. - Falei subitamente cansada, como se dizer aquilo fizesse as coisas pesarem mais.

A ideia de apenas esperar era aterradora.

—O que ela quis dizer com aquilo de vinte e quatro horas? - Perguntou preocupado, como se não soubesse ao certo se queria mesmo saber a resposta.

—Eu vi que ele perdeu muito sangue, Mike, e isso não é bom. - Comecei o mais calmamente que consegui me forçar a dizer. - Esse é o tempo em que ele deve acordar naturalmente sem nos preocuparmos, e ainda assim é muito maior do que a média para que o efeito dos remédios cessem, se não acontecer é porque o corpo dele não está se recuperando como deve. - Terminei com o tom mais baixo do que comecei. - Mas isso não vai acontecer. - Garanti, apertando a mão dele e olhando esperançosa.

—Claro que não. - Confirmou também. - Você me liga caso tenha alguma novidade? Eu estou aqui do lado...

—Ligo, prometo.

—Tente descansar um pouco, está bem? - Recomendou.

—Vou fazer o possível. - Falei vagamente, nem considerando a hipótese de tentar dormir. - E Mike, muito obrigada, mesmo!

—Que isso, lindinha. - Dispensou meu agradecimento com um quase sorriso. - Se precisar de alguma coisa sabe onde eu estou. Tente ter uma boa noite.

Coloquei novamente o telefone onde estava e olhei séria para o Harry:

—Você ouviu que o Mike também está preocupado, não ouviu? Trate de não prolongar isso, Ursinho, queremos você de volta logo.

Antes de me aconchegar melhor no assento, lembrei que eu deveria ligar para o meu irmão, porque eu não sabia onde ele estava nesse momento. Selecionei seu nome na lista de contatos e confirmei a chamada, que se completou rapidamente.

—Ei, Gin, alguma novidade? - Atendeu já perguntando.

—Ele está dormindo. Onde vocês estão?

—Indo para casa, passamos no Ced para buscar a Rose e ele nos encheu de perguntas. Precisa de alguma coisa?

—Não, só ia dizer para vocês irem descansar porque eu vou passar a noite por aqui.

—Quer que eu leve alguma coisa para você? - Ofereceu solícito, sem questionar minha decisão de não ir embora.

—Não precisa, obrigada.

—Me avise quando tiver novidades. - Seu tom não negava que ele estava preocupado.

—Pode deixar. Da um beijo na minha florzinha. - Me referi à minha sobrinha, que provavelmente dormia no banco de trás.

—Dou. Até amanhã.

—Até. Beijo pra Mione também.

Me inclinei e deitei a cabeça na coxa do  homem profundamente adormecido do meu lado antes de expressar meu próximo argumento para convencê-lo de que seria uma ótima ideia acordar o quanto antes:

—É bom você ficar bem logo, porque não dou mais dois meses para a Rose estar enorme e eu não conseguir mais jogá-la para cima, ela vai precisar do Tio Harry pra fazer isso.

Continuei deitada sobre sua perna e empenhei os próximos infinitos minutos em um carinho suave do lado da sua barriga que eu sabia não estar machucado. Olhar seu peito subir e descer com o ritmo normal e calmo da respiração já era tão suficiente para mim que eu nem conseguia pensar em nada.

O barulho da porta se abrindo me sobressaltou, olhei para trás a tempo de ver os cabelos loiros de Luna se virarem esvoaçantes quando ela a fechou, se juntando a mim. Depois de me lançar um sorriso que eu retribuí, minha amiga caminhou até o outro lado da cama e pegou o pulso do Harry por alguns segundos entre os dedos com um toque clínico enquanto olhava os números nos monitores à nossa frente.

—Tudo perfeito. - Falou mais para si mesma do que para mim. - Trouxe uma coisa para você. - Falou conspiratória e imediatamente eu soube que não era algo exatamente permitido.

Esperei curiosa enquanto ela mexia na pilha de prontuários em sua mão e me entregava um específico. Antes mesmo de abrir eu já sabia do que se tratava e olhei para ela agradecida. Soltei a mão do Harry, ainda presa entre a minha, e abri a pasta sobre o meu colo, pulando todas as páginas de dados pessoais e o histórico que ainda constava sobre a fratura que ele teve no braço, e cheguei à página inicial do seu atendimento mais recente.

—Meu Deus, que letra horrível. - Reclamei, me forçando a entender o que estava escrito, e ouvi Luna rir.

As anotações da Anne me mostravam que correu tudo muito bem na cirurgia dele, nenhum problema, nenhum agravante, o projétil foi retirado e os sangramentos contidos com medidas simples, porque sua coagulação era muito boa. Ele precisou de transfusão, como suspeitei, mas o procedimento não foi muito invasivo.

—Viu? Foi tudo muito bem. - Luna constatou, provavelmente diante da minha expressão de alívio.

—Foi aterrorizante, Lu, isso sim. - Corrigi e fechei os olhos com força, me encostando no assento da poltrona e prendendo minha mão na dele de novo, sentindo seu calor reconfortante. - Pensando agora, nem sei como estou inteira ainda.

—Eu não consigo nem imaginar, Gin. - Falou sincera, recolhendo a pasta do meu colo e se encostando na parede ao meu lado. - Colin me contou apavorado, eu estava no centro cirúrgico.

—A Anne fez um bom trabalho, mas foi uma vaca.

—Até aí nenhuma novidade. - Falou como se esse fosse o padrão de comportamento da nossa colega de profissão. - Mas você sabe como é quando é com alguém ligado a um da equipe, todo mundo fica louco, e o Colin fez questão de deixar bem claro para eles quem estava chegando.

—Eu já desejei tanto não ter saído daqui ontem para vê-lo. - Desabafei, afagando com o polegar o dorso da mão dele.

—Pare com isso, Gin, as coisas acontecem quando tem que acontecer, não podemos fazer nada para mudar. - Afirmou com segurança.

—Eu sei. - Murmurei, quase sem emitir som algum.

—Eu preciso checar esses pós operatórios ainda antes de sair, então já vou. Só achei que você fosse ficar mais tranquila lendo as informações confidenciais. - Falou recolhendo novamente as pastas de cima da mesa ao lado e arrumando-as nos braços.

—Obrigada, Luna.

—Não por isso. - Lançou um beijo em minha direção e saiu, nos deixando sozinhos novamente.

O relógio na parede atrás de mim indicava que faltavam poucos minutos para as cinco da manhã. Me virei para frente de novo e voltei a posição inicial, encostada na perna dele e fazendo carinho.

—Deu tudo certo até agora, só falta você acordar. Essa é a hora de fazer minha vontade, Harry. - Falei com a mão parada sobre seu peito.

Por hábito, levei a mão ao meu pingente, mas tateei às cegas meu pescoço vazio, onde a joia estava até algumas horas atrás. A falta dele ali me deixou chateada outra vez, foi o primeiro presente de aniversário que ganhei dele e nunca tinha saído de mim por mais do que o tempo necessário para a joalheria fazê-lo brilhar outra vez, e agora eu não o veria nunca mais.

Pouco antes das seis da manhã, Lily me ligou de novo para saber se estava tudo na mesma e avisou que já estavam embarcando. Conversamos tempo suficiente para eu dizer a ela que nada havia mudado e desejar novamente que a viagem fosse boa.

Alguns minutos depois, a porta se abriu de novo e Colin passou por ela já sem a roupa característica dos enfermeiros, vestido elegantemente em seus trajes casuais escolhidos pelo Ced, porque não imagino meu amigo sabendo combinar sozinho um jeans skinny cor de tijolo. Ele se acomodou no braço da poltrona onde eu estava e passou o braço pelos meus ombros antes de plantar um beijo no topo da minha cabeça.

—Como você está, gata?

—Preocupada, quero que ele acorde logo. - Respondi voltando a me encostar onde estava antes.

—Daqui a pouquinho ele vai estar aí com esses olhos verdes arregalados pra você continuar olhando para eles com cara de besta, não se preocupe. - Afirmou com ênfase em me chamar de besta, e eu acabei rindo.

—Não olho para eles com cara de besta.

—Olha sim. - Insistiu, sem me dar a chance de contestar. - Mas pelo menos você só olha para os olhos, Harry te olha inteira com cara de besta.

—Nós não temos cara de besta. - Teimei, mas a risada tirava toda a credibilidade da minha frase.

—Enquanto não estão juntos, não têm mesmo. - Falou, me fazendo olhar desconfiada para ele. -  Você comeu alguma coisa?

—Não estou com fome.

—Está sim, vamos tomar café comigo e depois você volta. - O tom de voz usado já indicava que ele sabia ser uma tentativa vã.

—Não vou sair daqui antes dele acordar, Colin.

—Então me fala o que você quer, eu trago para você.

Olhei agradecida e pedi um lanche natural e um suco, Colin sabia meus sabores preferidos. Menos de dez minutos depois, ele estava sentado sobre o armário ao meu lado e me distraindo com assuntos aleatórios enquanto tomávamos nosso café da manhã. Eu sabia que seu turno já havia acabado há pelo menos uma hora, mas ele não pareceu se importar em me fazer companhia por um tempo.

—Gata, eu vou para casa, ta bom? - Anunciou um tempo depois. - Já são quase oito da manhã e eu estou quebrado.

A menção do horário fez minha ansiedade, até então controlada, voltar com tudo. Me virei para dizer a ele que tudo bem e agradecer sua companhia, mas o telefone ao meu lado tocou antes disso e eu pedi a ele que esperasse um minutinho quando vi o nome do meu irmão na tela.

—Oi, Ron.

—Desce aqui na recepção rapidinho, por favor? - Pediu com tranquilidade suficiente para eu saber que não precisava me alarmar.

Eu não queria sair antes que o Harry acordasse, então pensei numa solução rápida e pedi que ele esperasse. Encerrei a ligação e me virei para o meu amigo, já preparado para sair.

—Você pode buscar o Ron e trazê-lo aqui?

—Claro, ele está na recepção? - Assenti e ele se aproximou. - Se você precisar de alguma coisa me ligue, viu?

—Obrigada, gato, ontem você foi incrível. - Agradeci, retribuindo seu abraço e o deixando me apertar por um tempo.

—Normalmente eu sou mesmo.

Rolei os olhos para sua afirmação, mas não neguei. Ele me deu um beijo no rosto e saiu.

—Já são quase oito da manhã. - Falei para o rosto bonito e adormecido deitado ao meu lado, como se isso fosse a palavra mágica para alguma coisa.

Quando a porta se abriu pela terceira vez, não me espantei e virei o rosto para que o Ron pudesse dar um beijo. Ele olhou brevemente para o Harry, se deteve um minuto nas telas dos monitores em volta, com a expressão já esperada de quem não estava entendendo nada, e se acomodou onde Colin estava até pouco tempo atrás.

—Eu posso entrar aqui?

—Com autorização médica, sim. - Respondi com uma piscadela, só então reparando que ele estava segurando uma embalagem típica de padaria e um copo de alguma bebida quente.

—Isso é abuso de autoridade. - Me repreendeu com o dedo em riste, mas a postura relaxada não demonstrava que ele estava preocupado com isso. - Está mais calma?

—Estou.

—Eu trouxe seu café da manhã, porque duvido que você tenha saído daqui. - Indicou a embalagem e a colocou ao seu lado sobre o móvel.

—Obrigada, Ron, daqui a pouco eu como. - Agradeci sem ver necessidade de dizer que o Colin já tinha feito isso, afinal eu estaria com fome de novo em algumas poucas horas.

—Acharam seu carro. - Informou sem rodeios, me deixando saber o objetivo da visita. - O que restou dele, na verdade.

—Eu não liguei para o seguro. - Falei alarmada, só agora me lembrando desse detalhe.

—Eu liguei para você, foram eles que entraram em contato. - Esclareceu, me arrancando um sorriso grato. - Eles vão te pagar, não compensa repôr tudo o que foi tirado dele.

Dei de ombros sem me importar. No momento isso era uma coisa que eu nem estava me lembrando, na verdade.

—Tudo bem, eu compro outro.

—E esse moleque preguiçoso, não vai acordar não? - Perguntou em sua característica forma de se mostrar preocupado sem perder a pose.

—Acho bom que acorde, e logo. - Respondi no mesmo tom, desviando um olhar rápido para Harry e intensificando o aperto em sua mão por um momento.

—E os pais dele?

—Chegam de tarde, conseguiram um voo de volta para seis da manhã.

—Eles devem estar loucos no avião essa hora. - Comentou com o cenho franzido.

—Nem me fale.

Conversamos por alguns minutos até que uma batida na porta nos interrompeu. Olhamos juntos a tempo de ver a médica residente entrar e nos olhar desconfiada antes de se dirigir ao leito e avaliar o paciente.

—Só um acompanhante é permitido nessa área, Dra. Weasley. - Alertou com um pouco de receio.

—Eu sei, mas precisava falar com ele um minuto. - Me desculpei sem realmente me importar.

—Ele já deu sinais de que está acordando? - Perguntou, medindo sua temperatura.

—Ainda não.

Ela olhou no relógio em seu pulso e checou no prontuário o que eu sabia ser o horário em que a cirurgia terminou, depois se virou para mim com um sorriso ensaiado para ser tranquilizador.

—Temos muito tempo para isso ainda. - Falou vagamente enquanto anotava alguma coisa. - Você pode informar quando ele acordar, por favor?

—Sim.

—Obrigada. - Agradeceu e deu mais uma olhada de canto para o Ron antes de sair.

Quando ficamos totalmente sozinhos de novo, ele chamou minha atenção para si com um comentário muito espirituoso:

—Pelo menos não era a vaca desgraçada filha da puta. - Finalizou dando de ombros e me arrancando uma gargalhada.

Balancei a cabeça para sua expressão divertida, me lembrando daquela cena que eu não acreditaria ter protagonizado se não estivesse lá.

—Você ficou orgulhoso, não ficou?

—Quase te dei um abraço, mas você parecia meio perigosa na hora. Sendo amável você é boa, mas xingando você é ótima. - Respondeu irônico. - Gin, eu já vou.

—Você pode resolver com o seguro para mim, por favor? - Pedi me levantando.

—O que eu puder, pode deixar comigo. - Garantiu me dando um abraço e um beijo no rosto. - Onde eu posso dar um soco nele por te deixar preocupada, mas sem atrapalhar a recuperação?

Sua pergunta me fez rir com vontade novamente.

—Vamos esperar ele acordar antes de começar as agressões, tudo bem? - Falei conciliadora. - Obrigada, Ron.

—De nada.

Me virei para vê-lo sair e com uma olhadela rápida percebi que já passava alguns minutos das nove da manhã. Empurrei para baixo a ansiedade que ameaçava crescer, lembrando a mim mesma que eu sabia perfeitamente que o tempo mínimo não era um bom indicativo.

—O Ron vai te matar se você continuar me preocupando, Ursinho, e eu não vou fazer nada para impedir. Acho bom você acordar logo. - Ameacei, olhando firme para o seu rosto ainda muito tranquilo e impassível.

O tempo se arrastou depois disso, fazendo cada minuto parecer eterno naquela espera que parecia que nunca teria fim. Mudei de posição na cadeira algumas vezes, levantei, me sentei de novo, conversei com ele para ter o que fazer e para alimentar a esperança de que meu falatório o faria despertar, comi o lanche que o Ron me trouxe e agradeci internamente por ele ter lembrado de incluir um monte de doces no pacote, porque eu realmente estava precisando disso nesse momento.

Em determinado momento, o pensamento de que eu não deveria ter ido vê-lo no dia anterior me acometeu novamente, e quando vi já estava dizendo:

—Desculpa, Ursinho, eu só queria te ver um pouquinho ontem, não queria que isso acontecesse.

Ouvi minha voz sair como um lamento, então fiquei em silêncio por algum tempo, apenas mantendo sua mão presa entre as minhas duas e o olhando como se isso fazê-lo me olhar de volta.

Quando o relógio marcava pouco mais de onze da manhã, eu já me sentia levemente desesperada. Tentei andar de um lado para o outro, mas descobri que ficar do lado dele era mais reconfortante que isso e voltei para lá, batendo o pé impaciente e lutando contra todo e qualquer pensamento ruim que ousasse chegar perto de mim.

Os pais dele chegariam em poucas horas, e só a mera possibilidade de ter que informá-los que Harry ainda não tinha acordado e continuar nessa aflição fez meus olhos se encherem de lágrimas novamente. Me forcei a engolir o choro, porque como eu me sentia era o de menos nesse momento, eu só precisava que ele estivesse bem.

Me aproximei da cabeceira da cama e prendi seu rosto entre as mãos, acariciando com o polegar suas bochechas.

—Por favor, amor, fique bem. Abra os olhos e me deixe saber que você está bem, por favor, por favor. - Supliquei.

Mordi o lábio quando meus olhos pinicaram novamente e voltei a me sentar, concentrada em espantar aquelas lágrimas inoportunas. Desejei profundamente que o Ron estivesse comigo agora, ele pelo menos diria a coisa certa para me distrair dos meus próprios pensamentos.

Apoiei a testa sobre mão dele, levando a minha própria de volta para cima da sua barriga em um carinho que eu esperava ser gostoso o suficiente para ele querer acordar e me agradecer. Fechei os olhos me sentindo também reconfortada pelo contato, achando mais fácil assim controlar o turbilhão de pensamentos que já começavam a se mostrar desconexos.

Respirei fundo algumas vezes, espantando a vontade de chorar que tinha sentido e decidida a continuar nessa posição por um tempo, mas levantei a cabeça de súbito quando o ouvi dizer:

—Aquele atendimento sob pressão foi impressionante, doutora. - Sua voz estava um pouco rouca pelo tempo em silêncio, mas o sorriso de canto estava presente no tom divertido de sempre. - Pelo menos do ponto de vista do paciente. - Completou sua frase diante dos meus olhos arregalados. - Estou me sentindo muito bem, Ratinha, você já pode parar de chorar. - Falou quando percebeu que eu não diria nada.

A sensação que eu senti foi a de ter imergido à superfície depois de muito tempo embaixo da água, meus ombros relaxaram completamente pela primeira vez em muitas horas e respirei o que me pareceu um ar muito mais limpo e fresco. Contradizendo sua recomendação, no entanto, minha única frase já saiu em meio aos soluços que nem com toda a força de vontade do mundo eu conseguiria conter:

—Você está bem, Ursinho. - Minha voz foi apenas mais alta que um sussurro, mas repetir aquilo me deixou ainda mais aliviada, se é que era possível.

Me surpreendeu a quantidade de lágrimas que eu podia derramar em um período tão curto de tempo, mas a sensação de finalmente deixá-las sair por um motivo que não o desespero e o medo era muito boa.

—Vem aqui. - Harry me chamou, levantando o braço e me dando espaço para sentar no colchão ao seu lado.

Me acomodei ali e afundei meu rosto no travesseiro ao lado da cabeça dele. Senti sua respiração na minha bochecha quando ele virou e me deu um beijo ali, o braço em volta de mim afagando minhas costas suavemente. A única coisa que pensei é que eu não queria sair dali nunca mais, o tempo poderia congelar nesse momento e eu estaria feliz.

Forcei minha respiração entrecortada a voltar ao ritmo normal e me levantei para encará-lo. Harry interrompeu seu carinho e limpou meu rosto molhado antes de afastar meu cabelo e jogar os fios para trás. Eu só conseguia olhar para ele, me certificando de que eu não piscaria e a imagem se perderia de novo.

Me lembrei do Colin dizendo que eu o olhava com cara de besta e ri, porque eu deveria estar exatamente como ele afirmou.

—Acho que não vou conseguir fazer o espaguete que te prometi. - Lamentou em tom de piada e eu ri de novo, porque tudo estava anormalmente engraçado à minha volta agora.

—Eu também não fui para a sua casa hoje cedo, como te prometi, então dessa vez está desculpado. - Respondi antes de prender seu rosto entre as mãos e não refrear minha vontade de enchê-lo de beijos.

—Quanto tempo eu dormi?

—Umas treze horas, depois eu que sou a preguiçosa.

—Isso explica por que não me sinto cansado, então. - Falou despreocupado. - Explica sua cara inchada também, me desculpe. - Mostrou seu ressentimento nessa última frase.

—Só nas últimas horas você esgotou a cota inteira de lágrimas que eu podia derramar por você durante uma vida.

—Chorar não combina com você. - Deslizou o dedo pela minha bochecha enquanto dizia.

—E você está proibido de me fazer chorar pelo resto da vida, entendeu? - Exigi com o dedo em riste.

—Sim, senhora.

Não ofereci nenhuma resistência quando ele me puxou para mais um abraço. Harry não disse e provavelmente não diria, mas eu sabia que estava tão aliviado quanto eu de tudo estar bem afinal.

—Preciso avisar que você acordou. - Anunciei, me lembrando do que a residente havia pedido. - Volto já. - Trocamos mais um selinho demorado e eu sai correndo em direção ao balcão de enfermeiros que ficava em frente ao quarto.

—Olá, doutora. - Um deles, que eu já havia encontrado inúmeras vezes, me cumprimentou com um sorriso que eu nem precisei me esforçar para responder.

—Olá! Você pode informar à médica responsável que o Sr. Potter acordou, por favor? - Pedi, me sentindo muito simpática e ele assentiu já com o telefone em mãos. - Obrigada.

Voltei ao quarto apressada e fechei a cara quando o vi tentando se sentar.

—O que você está fazendo? - Perguntei alarmada, empurrando-o de volta para se deitar.

—Me sentando. - Explicou como se fosse óbvio.

—Você não pode fazer esforço agora. - Repreendi, me acomodando de novo ao lado dele e impedindo que tentasse novamente.

Ele revirou os olhos para mim entediado, mas não dei atenção a isso.

—Eu posso comer? Estou com fome. - Pediu olhando em volta, avaliando o quarto em que estava.

—Só quando a médica liberar.

—Você é médica.

—Não a sua médica.

—É minha médica, sim. - Me lançou uma piscadela e arrancou outro sorriso.

—Não sou responsável pelo seu caso, isso que quero dizer. - Expliquei, mesmo tendo certeza que ele havia entendido desde a primeira vez.

—E eu posso tirar isso aqui? - Apontou para o tubo fino de oxigênio encaixado dentro do nariz.

—Está com falta de ar ou dificuldade para respirar?

—Não.

—Então deixa ela sair que eu tiro. - Prometi e ele sorriu agradecido.

Harry colocou uma mecha do meu cabelo atrás da orelha e pareceu se lembrar de algo importante.

—Eu te machuquei ontem?

—Sim.

—Desculpe. - Pediu, fazendo carinho na minha cabeça.

Com o gesto, me lembrei que ele tinha me puxado pelo cabelo no dia anterior, e provavelmente estava se referindo a isso.

—O seu puxão de cabelo eu nem senti, Ursinho. - Esclareci e ele entendeu sobre o que eu estava falando.

Ele me encarou por um tempo sem dizer nada, parecendo tão satisfeito por eu estar perto que nem parecia que estava em um hospital. O olhar dele desviou para o meu pescoço e ele passou a mão ali, me fazendo sentir um leve ardor onde a corrente arranhou ao ser arrancada de mim.

—Aquele filho da puta ainda te machucou.

—Não foi nada, não estou nem sentindo. - O tranquilizei. - Você precisa ficar muito bem logo, porque tem que comprar outro colar para mim.

—Você está pedindo presente? Achei que esse hábito era só meu. - Provocou, mantendo o carinho no meu pescoço.

—Acabei adquirindo, espero que você também tenha adquirido o meu de sempre dar o que você pede.

—Acho que esse eu já tinha antes de você. Você que um igual aquele?

—Não, agora eu quero um que me lembre mais de você e menos da minha profissão.

—Mas você ama sua profissão.

—Exatamente, espero que tenha ficado claro.

Ele me olhou profundamente por um tempo, nenhum de nós dois desviou o olhar.

—Eu preciso te dizer uma coisa.

—E o que seria? - Incentivei, concentrada em deslizar os dedos por seus cabelos.

—Tenho que te dizer o que significa ich liebe dich.

—Você quer me ensinar a falar sacanagem em alemão agora? - Perguntei, sorrindo sugestiva para ele, que riu alto e se interrompeu com um diminuto "ai".

—Me parece um ótimo momento para te ensinar sacanagens em alemão, já que você só promete há um ano que vai se matricular num cursinho rápido. - Confirmou alegre.

—Tenho andado meio sem tempo. - Me justifiquei. - E você é um egoísta, nem quer me ensinar.

—Estou querendo agora, mas você não para de falar.

Ele riu quando fechei a cara pra ele, mas acabei rindo também.

—E o que significa?

Ele abriu a boca para responder, mas fomos interrompidos por uma batida na porta e a voz irritante de Anne pedindo licença e entrando. Se até o dia anterior eu tentava ser cordial com ela, agora não via mais nenhum motivo para esse esforço, então fechei a cara e me levantei. Fui até a pequena mesa ao lado e fingi me distrair com alguma coisa, propositalmente de costas para ela.

Isso, no entanto, não me impediu de prestar atenção em suas perguntas e nas informações que ela o passava. Os dois conversaram por alguns minutos, ela falou sobre o andamento da cirurgia, disse que foi tudo bem, informou que ele já poderia e deveria comer alguma coisa e alguém da copa viria trazer em breve, e finalizou perguntando se ele tinha alguma dúvida.

—Não, obrigado. - Respondeu educado.

Mas eu tinha e me virei já perguntando, interrompendo quando ela tomou fôlego para dizer mais alguma coisa.

—Ele já pode descer, não? Acho que ele não precisa mais ficar aqui.

—Você acha? - Perguntou petulante, me encarando com desagrado.

—Acho. - Respondi da mesma forma.

Ela me encarou por um segundo antes de se virar para ele novamente e me ignorar.

—Como eu ia dizer, depois de se alimentar você será levado para um quarto normal, porque está tudo bem com sua recuperação e a UTI não é mais necessária.

Harry estava olhando de mim para ela sem entender o tom da conversa, mas agradeceu mesmo assim e ela se despediu apenas dele antes de sair e nos deixar sozinhos novamente.

—Eu perdi alguma coisa nesse meio tempo? - Perguntou hesitante.

—Perdeu a maior demonstração de vaquice do mundo. - Respondi emburrada, sentindo raiva só de lembrar.

—Depois você me conta isso, algo me diz que é uma história e tanto. - Pediu curioso.

—Bem longe dela, para garantir que eu não vou descer lá e dar naquela cara irritante. - Falei, me sentando novamente ao seu lado e puxando com cuidado os tubos que eu prometi retirar. - Levanta a cabeça um pouquinho. - O ajudei a se sustentar enquanto puxava os objetos debaixo dele para deixar sobre um dos monitores ao lado.

—Obrigado. - Agradeceu, coçando o nariz. - E eu nem vou conseguir te segurar agora. - Lamentou rindo.

—Melhor deixar para depois. - Determinei, me acomodando melhor e debruçando sobre ele de novo. - Mas não me distraia, você ia me ensinar a falar sacanagens em alemão.

—Ah, verdade. - Retomou o assunto anterior. - Primeiro repete comigo: ich liebe dich. - Eu já reconhecia o som das vezes que Harry repetiu para mim aleatoriamente nos últimos anos.

—Ich liebe dich? - Fiz o que ele pediu, meio incerta quanto à pronuncia e sem a sua naturalidade.

—Isso, certinho. - Confirmou com um sorriso satisfeito.

—E o que significa?

—Eu amo você. -Afirmou me encarando.

Não era a primeira vez que o ouvia dizer aquilo para mim, Harry dizia com muito mais frequência do que eu, mas meus lábios insistiam em se abrir num sorriso bobo todas as vezes. Nos lábios dele aquelas palavras encaixavam, sobretudo se dirigidas a mim daquela forma.

—Eu amo você. - Repeti.

—Isso. - Confirmou, como se eu tivesse feito uma pergunta.

—Eu achei que tivesse sido a primeira a dizer, mas você me falou isso pela primeira vez há tanto tempo.

—Você lembra?

—Claro que lembro, como você espera que eu esqueça as curiosidades que você me faz passar? - Falei como se fosse óbvio, o sorriso ainda tão grande quanto eu conseguia.

—Faz muito tempo que eu não tenho dúvidas disso, Ratinha.

—Como eu digo que amo você também? - Perguntei com um sorriso que tomava meu rosto todo.

—Ich liebe dich auch. - Disse pausadamente, me ensinando.

—Ich liebe dich auch. - Repeti convicta.

—Você já sabe se declarar em alemão. - Elogiou, sorrindo tanto quanto eu.

—Essa é a primeira aula? - Pontuei minha frase com um selinho.

—E você é uma ótima aluna.

—Quando posso aprender as sacanagens?

—Em casa. - Prometeu. - Prefiro que essa seja uma aula prática.

—Bem pensado. - Concordei e nós rimos como dois bobos.

Trocamos um beijo lento e profundo, daqueles sem pressa de acabar, mas que foi interrompido pelo toque do celular dele sobre a mesa ao lado.

—Ah, meu Deus! - Resmunguei, me deparando com o nome do Mike na tela. - Esqueci de avisar que você acordou. - Falei me sentindo um pouco culpada. - Oi, Mike.

—Nada ainda? - Perguntou preocupado.

—Já, faz uma meia hora. - Respondi e o ouvi respirar aliviado. - Me desculpe, esqueci de avisar.

—Não tem problema. - Dispensou como se entendesse meu lapso. - Ele pode falar?

—Sim, só um minuto.

Entreguei o celular para o Harry e me sentei novamente ao seu lado, esperando que ele terminasse de dizer ao amigo que estava se sentindo muito bem, que não estava com dor e que ainda não sabia quando poderia ir para casa. No meio da ligação, uma batida na porta nos interrompeu e uma mulher de meia idade entrou trazendo uma bandeja de comida.

—Pode dar aqui, depois eu levo para ele, obrigada. - Coloquei sobre a pequena mesa ao lado e ela saiu novamente.

—Mike, eu vou comer agora, estou morrendo de fome. - Confirmou alguma coisa antes de se despedir, desligar e me estender o aparelho. - Posso me sentar agora, doutora?

Usei o controle remoto para mudar a posição da cama e deixá-lo sentado sem precisar se esforçar, depois entreguei a ele o que provavelmente seria sua refeição menos saborosa dos últimos anos.

Voltei para minha poltrona enquanto ele comia e mandei uma mensagem para o Ron dizendo as novidades. Sua resposta feliz, finalizada com abraços dele e beijos da Mione e da Rose, chegou apenas segundos antes do que as mensagens de todos os amigos que eu conhecia e alguns que não conhecia também.

—Essa sua vida social, viu. - Resmunguei, rolando a tela e vendo as notificações pipocarem.

Antes que eu conseguisse ver todas, o aparelho vibrou na minha mão e o nome Ka apareceu, anunciando uma ligação. Virei o aparelho para o Harry conseguir ver quem era, ele levantou os olhos brevemente enquanto tomava um pouco do seu suco antes de dizer:

—Atende pra mim e fala que eu ligo depois, está meio difícil aqui.

—Quer ajuda? - Ofereci, me atentando ao fato de que provavelmente mexer o braço esteja doendo.

—Não precisa, mas não da para mexer muito o outro braço. - Falou indicando o braço do lado ferido.

—Oi, Kate. - Cumprimentei, levando o celular ao ouvido e olhando-o continuar as caretas que estava fazendo para a comida.

—Oi, Gin. Como estão as coisas por aí? - Seu tom não escondia a preocupação.

—Agora está tudo bem, o Harry está comendo e disse que te liga depois.

—Esse filho da mãe vai parar de dar sustos na gente?

—Se ele inventar de fazer isso de novo eu mesma mato ele, pode deixar. - Prometi, encarando o sorriso de canto à minha frente.

—Se precisar de ajuda. - Kate ofereceu divertida.

—Eu consigo sozinha, obrigada. - Neguei, levemente possessiva.

—Diga a ele que mandei um beijo e que quando for para casa eu passo para vê-lo.

—Eu digo, pode deixar.

—Obrigada, Gin. Beijos.

—Beijos. - Falei encerrando a ligação. - Ela te mandou um beijo e disse que passa para te ver quando você for para casa. - Informei com o resquício de ironia que eu nunca consegui deixar de usar ao falar dessa amiga.

—Outro para ela. - Retribuiu no mesmo tom. - Terminei.

Me inclinei o suficiente para olhar dentro da sua tigela de sopa pela metade.

—Não terminou, não, come tudo. - Ordenei sem me intimidar pelo seu olhar de desgosto e me encostei novamente para esperar.

Quando ele realmente terminou, coloquei as coisas em cima da mesa novamente e informei à equipe de enfermagem que estava tudo pronto para que ele descesse ao quarto menos intimidador que esse em que estava. Acompanhei quando dois enfermeiros levavam ele e todos os equipamentos necessários pelos corredores até dois andares abaixo, e fiquei feliz em ver que ali pelo menos havia um sofá de dois lugares e aparência mais confortável.

—Obrigada, Chris. - Agradeci ao último deles, que já tinha me acompanhado em uma quantidade considerável de cirurgias.

Fechei a porta atrás dele, deixei as coisas do Harry de qualquer jeito em cima do sofá e não demorei a me acomodar novamente ao seu lado.

Depois de todo o silêncio, ele parecia estar mais falante do que nunca e quis saber tudo o que aconteceu no dia anterior, porque ele não esteve presente em grande parte dos acontecimentos. Falar disso agora que ele estava bem e ao alcance das minhas mãos, era mais fácil e eu respondi a tudo o que me perguntou.

—Sabe qual é a última coisa que me lembro antes de apagar? - Neguei com um aceno, sem interromper o caminho que meus dedos estavam traçando por seu rosto. - De você me falando que três anos não são o suficiente.

—Não são mesmo.

—Nenhum período de tempo nunca será.

—Já estou convencida de que você tem toda razão.

Harry sorriu de volta e continuou sua sucessão infinita de perguntas e comentários. É claro que ele não aguentou esperar e insistiu para saber o que havia acontecido com a médica que o atendeu e eu contei isso também.

—Eu tive vontade de bater nela. - Finalizei com os olhos semicerrados.

—Eu teria batido. - Afirmou, me dando razão.

Antes que eu tivesse tempo de dizer qualquer outra coisa, a porta se abriu sem aviso e o quarto foi invadido por duas pessoas de olhos arregalados, sendo um deles exatamente iguais aos do meu namorado.

—Ah, meu Deus, Harry. - Lily exclamou com um alívio palpável.

Me afastei e sentei no sofá atrás de mim, vendo-os parar cada um de lado da cama e olharem para o filho atentamente, como se quisessem ter certeza de que ele estava mesmo inteiro.

—Ai, mãe! - Reclamou quando ela se abaixou e tocou a lateral ferida do seu peito.

—Desculpe, Fofuxo, desculpe. - Apressou em se retratar, fazendo cara de quem tinha sentido em si mesma a dor dele. -Você está bem mesmo?

—Estou, mãe. - Ele respondeu apertando a mão dela e se virando para o pai. - Vocês não deveriam estar na Austrália agora?

James não tinha conseguido falar nada até então, e eu pensei que nunca o tinha visto tão sentimental como naquele momento. Nenhum dos dois respondeu, então Harry se inclinou e me olhou por trás dele.

—Por que você ligou para eles? - Perguntou ressentido.

Ele sabia que os pais estavam planejando há meses essa viagem e certamente se sentiu mal por tê-los feito perdê-la.

—Porque eu a mataria se não tivesse nos avisado. - Lily respondeu por mim, sem o tom ameaçador que a frase indicava.

—Viu? - Respondi, indicando-a com a mão. - Porque sua mãe me mataria se eu não tivesse avisado. - Confirmei sua teoria e ela me lançou um sorriso agradecido.

Nos encaramos por um momento em que a vi refletir todo o alívio que eu também sentia, nem precisamos dizer nada para eu saber que ela era a pessoa que mais chegava perto de sentir o mesmo que eu, assim como eu era a pessoa cujo sentimento de leveza mais se aproximava do dela no momento. Os três se embrenharam em uma conversa cheia de preocupação por parte deles e tranquilizações por parte do Harry, na qual eu nem ousei me meter.

Quando Lily parou de falar um minuto e James conseguiu atrair a atenção do filho, ela saiu de onde estava e sentou do meu lado, o corpo virado para mim.

—Como você está? - Perguntou para que só eu ouvisse.

—Agora estou bem. - Respondi e ela apoiou a mão na minha perna em um gesto de apoio. - É horrível ficar do lado de fora sem poder fazer nada, Lily. Eu não pude fazer nada.

—O que é isso, Gin? Você foi maravilhosa e fez o melhor possível. - Me tranquilizou.

—Tudo o que eu pude não seria o suficiente. - Confessei, sentindo medo apenas com a possibilidade do que teria acontecido.

—Foi suficiente para trazê-lo até onde você sabia que ele precisaria estar. Você foi maravilhosa, querida. - Garantiu novamente, fazendo carinho no meu rosto e me arrancando um sorriso agradecido. - Nós amamos você, nós três.

Talvez fosse o momento, as palavras, o tempo que eu já estava sem dormir, ou então havia mesmo algo errado comigo, porque ouvir isso fez meus olhos se encherem de lágrimas novamente. Ganhei um abraço aconchegante da minha sogra e com os olhos fechados e o rosto encostado no peito dela me permiti sentir o cansaço acumulado, Harry não estaria mais sozinho.


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Notas finais do capítulo

Ele acordooou!!! Finalmente. Não consigo deixar o Harry de fora por muito tempo.
Agora como vocês acham que vai ser a dinâmica do relacionamento deles?
Não deixem de comentar.
Beijos e até o próximo!