Déjà vu escrita por Paulinha Almeida


Capítulo 24
Capítulo 24




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Comecei a semana ligando para a Lisa e parabenizando pela menininha que eles teriam. Aproveitei o contato também para agradecer o convite para o chá de bebê e perguntar se ela tinha preferência por algum tipo de presente, porque comprar coisas para bebês não era exatamente minha especialidade. Depois de me dizer que eu não precisaria me preocupar e deveria levar o que quisesse, encerrei a ligação para atender a um chamado e com a difícil missão de comprar sozinha o que quer que fosse.

Aproveitei a quarta feira, dia em que o Colin sairia do trabalho mais cedo, e escapei alguns minutos com ele até o shopping da rua de trás para fazer isso com alguma ajuda e um pouco de diversão. Almoçamos em um fast food que ele adorava e nos embrenhamos pelos corredores repleto de roupas rosas e minúsculas, que pareciam não caber em ninguém.

—Por que tudo aqui dentro é encantador? - Perguntei ao meu amigo enquanto cada um de nós segurava um vestido e olhava para a peça com um sorriso bobo.

—Lojas de bebês são feitas para nos induzir a querer um também, melhor a gente sair logo daqui. - Recomendou com sabedoria, pendurando a peça na arara novamente. - A menos que você queira um. - Acrescentou debochando.

—Não está nos planos, gato. - Neguei rindo.

Devolvi também o que eu segurava e continuamos nossa expedição. Foi impossível me decidir por apenas um, então quando cheguei ao caixa eu estava segurando um macacão lilás, um vestido rosa, um sapatinho que era certamente a coisa mais fofa que eu já tinha visto na vida e um daqueles ursinhos que toda criança gosta de dormir agarrada.

—Gata, achei que fosse uma criança só. - Colin comentou enquanto eu pedia para a moça que me atendeu embrulhar tudo para presente.

—Mas é uma criança só.

—E por que tanto presente?

—Porque não consegui me decidir por um só. Como eu poderia deixar uma daquelas peças para trás? Não da. - Peguei a sacola branca e rosa de cima do balcão. - Obrigada.

—E quem são os pais mesmo? - Perguntou curioso, me acompanhando para fora da loja.

—O melhor amigo do Harry.

—E você se dá bem com eles também? - Perguntou curioso, sabendo que eu não era muito adepta a fazer novos amigos com muita frequência.

—Sim, eles são muito legais. A Lisa, principalmente, é um amor.

—E já conheceu os sogros?

—Que sogros, gato? Quem aqui tem sogros? - Perguntei rolando os olhos e rindo da pergunta.

—Você! - Falou como se fosse óbvio.

—Não conheço os pais dele. - Dei ênfase ao parentesco correto, que não me incluía. - Mas falei com a mãe dele uma vez pelo telefone, o que foi uma catástrofe, aliás. - Terminei  a frase já rindo ao me lembrar da ocasião e contei a ele o que tinha acontecido.

—Meu Deus, Gin, você é péssima! - Comentou em meio a uma risada. - Ela já sabia de você pelo menos?

—Já, ela veio visitá-lo umas semanas atrás e encontrou meu robe embolado junto com o edredom bagunçado dele.

—Corrigindo, vocês dois são péssimos. - Falou meneando a cabeça. - Mas ela gosta de você, então?

—Ela me parece ser tão amável quanto o Harry, então acho difícil que ela não goste de alguém. - Dei minha opinião sincera a respeito do muito pouco que eu sabia de Lily Potter. - Você me deixa no hospital?

—Claro. - Confirmou destravando as portas do carro e eu me acomodei no banco do passageiro.

—Mas de qualquer forma e apesar da minha recepção muito direta, ela foi muito simpática comigo. - Continuei o assunto enquanto ele ligava o carro para me deixar no trabalho de novo.

—Também, Harry deve ter só elogios pra você. - Falou rolando os olhos, como se não houvesse outra coisa a se esperar dele.

—Eu sou a doutora dele, né gato? Claro que ele só tem elogios para mim. - Pisquei em sua direção enquanto ele parava na área reservada ao desembarque e recebi um olhar de desdém que me fez rir. - Obrigada pela companhia.

—Sempre que quiser. - Respondeu me dando um beijo no rosto.

Harry estava tendo uma semana complicada no trabalho, algum problema que ele não explicou direito sobre um dos maiores clientes que tinham, e isso queria dizer infinitas reuniões até tarde, um jantar com o cliente em questão e nenhuma noite livre. Assim, só conseguimos nos ver no sábado a tarde depois que eu acordei.

Ele tinha saído para resolver alguma coisa, então quando ligou me acordando era também para avisar que estava chegando na minha casa. Não estávamos acostumados a passar a semana toda sem nos vermos, então abri a porta para ele com saudade do abraço que eu sabia que receberia. Depois de fechar a porta me virei e o encontrei abrindo a sacola que eu tinha deixado sobre a mesa.

—Não abre, não. - Consegui impedi-lo antes de desfazer o laço que a vendedora tinha feito e que eu nunca conseguiria imitar.

—Queria ver, o que é? - Tentou olhar pelas bordas da sacola.

—O presente da Meg, quando eu entregar você vê. - Determinei tirando da mão dele e arrumando tudo como estava.

—Quem é Meg?

—A filha do Mike e da Lisa.

—Já tem nome? - Perguntou confuso, me puxando para outro abraço.

—Já. Você não sabia, papai? - Debochei, retribuindo com os braços ao redor do seu pescoço e ele riu do meu tom.

—Não sabia, tia Gin. - Falou da mesma forma. - Aparentemente a Lisa se atentou mais a esse detalhe, o Mike só ficou lá com cara de idiota repetindo que era menina. - Contou e eu ri com vontade.

—O que você tinha que resolver hoje? - Perguntei mudando o foco da conversa.

—Só um detalhezinho. - Respondeu vagamente. - Quer sair hoje a noite?

Olhei desconfiada para ele por alguns segundos, mas não insisti. Eu não insistiria de qualquer forma, mas sendo o Harry e meu aniversário estando tão próximo, eu tinha um forte palpite de que descobriria em poucos dias.

—Para onde?

—Não sei, estou com vontade de fazer alguma coisa diferente. - Deu de ombros, indicando que não tinha nada específico em mente.

—Vamos, também quero sair hoje. - Confirmei indo em direção à cozinha para comer alguma coisa. - Mas não chama todo mundo, não, só nós dois.

—Você que manda, Ratinha. - Concordou satisfeito.

Terminamos a noite em um barzinho com o ambiente mais intimista do que os que frequentamos quando estamos em turma, a música ambiente e a iluminação mais baixa deixando o lugar confortável o suficiente para eu estreitar nossa distância no sofá de canto atrás da pequena mesa e jogar minhas pernas sobre as dele. Era a vez do Harry dirigir na volta, então aceitei a sugestão do garçom e provei alguns dos drinks mais leves que estavam disponíveis no cardápio. O resultado foi que passei pela porta do apartamento dele, horas depois, me sentindo mais leve do que o normal, mas muio longe do estado em que ele me deixou na minha estreia no mundo dos embriagados.

Na terça-feira, dia do meu aniversário, a campainha tocou enquanto eu terminava de abotoar minha calça, pouco depois das cinco da manhã, e eu tive um palpite muito bom de quem seria do outro lado. Anunciei que estava indo e vesti rapidamente uma regata por cima do sutiã enquanto atravessava a sala.

—Bom dia, Gin! - Mione me saudou sorridente e já completamente vestida com suas roupas estilosas demais para as pessoas normais. - Feliz aniversário! - Desejou se antecipando e me dando um abraço apertado.

—Obrigada, Mione. - Agradeci e dei espaço para ela entrar assim que nos separamos.

—Desculpe a hora, mas achei que a noite você poderia ter visitas mais interessantes que a vizinha. - Falou sugestiva e eu rolei os olhos para ela. - Comprei uma lembrancinha para você.

—Obrigada! - Peguei o embrulho bonito que ela estava me estendendo.

Nos sentamos no sofá enquanto eu abria a embalagem e tirava de dentro dela um vestido que me lembro de ter visto no desfile da nova coleção e que era realmente lindo, com algumas estampas geométricas e um corte bonito que ia até o meio das coxas.

—Esse ainda nem está lançado! - Falou orgulhosa e eu ri enquanto ainda admirava meu presente.

—É lindo!

—Foi o mais bem criticado do desfile e vai ficar lindo em você. Sabe aquele colar grande que você comprou uns meses atrás e aquela sandália verde que você não quis me dar? - Perguntou e eu assenti. - Foram feitos para serem usados com essa peça.

Eu sempre tinha vontade de rir quando a Hermione montava looks inteiros para mim, mas eu não podia negar que ela acertava em cheio todas as vezes.

—Vou guardar para uma ocasião especial, então. - Prometi e dobrei a peça com cuidado para caber na sacola de novo. - E você está bem? Faz uns dias que não te vejo.

—Estou bem, sim. - Falou vagamente, como se quisesse desconversar. - Me conte, como foi o jantar? O Ced acertou o lugar?

—Em cheio! - Contei empolgada, me lembrando de como Harry havia gostado de tudo. - A comida era ótima e o ambiente muito acolhedor. Diga ao Ced que eu agradeço, por favor, principalmente a parte de ter pedido por uma mesa discreta.

—Ele pediu uma mesa discreta? - Perguntou confusa.

—Eu acho que sim, porque a discrição era tanta que por um segundo eu pensei que ela fosse nos levar pra comer na cozinha.

A minha amiga gargalhou com isso e eu acabei acompanhando.

—Vou dizer a ele, pode deixar, ele vai ficar radiante. - Falou revirando os olhos. - Aquele ali não precisa de ninguém o elogiando, ele já faz isso sozinho, imagina quando vem dos outros.

—Você já tomou café?

—Ainda não, acabei de me vestir e já vim para cá.

—Então vamos tomar café juntas hoje. - Determinei já de pé.

Ela me acompanhou até a cozinha e ficamos conversando enquanto eu preparava nosso desjejum. O assunto e as risadas se estenderam um pouco e eu acabei saindo de casa quando já deveria estar no hospital. Hermione também se atrasou para seu objetivo de chegar na empresa duas horas antes do horário normal, mas não pareceu se importar. Troquei mais um abraço com ela no hall e agradeci novamente o presente, depois entrei no elevador que já me aguardava e fui para o trabalho.

No vestiário, enquanto eu terminava de prender os cabelos, meu celular tocou no bolso da calça e só pelo horário eu já sabia quem seria. Aquele sorriso estampando a tela do meu telefone enquanto o aparelho vibrava confirmou minhas suspeitas.

—Bom dia, Ursinho. - Cumprimentei me sentando no banco atrás de mim para colocar o tênis.

—Bom dia, minha linda. - Respondeu animado. - Fui o primeiro?

A pergunta me fez rir, porque eu já sabia qual era a intenção.

—Não, a Mione foi tomar café da manhã comigo hoje.

—Droga! - Lamentou como se tivesse perdido uma batalha.

—E nem tente, você nunca vai acordar mais cedo que ela.

—Que inconveniente! - Resmungou rindo. - Parabéns, minha médica.

—Obrigada, meu paciente. - Agradeci um tom mais baixo e muitos mais manhoso, da mesma forma que ele desejou.

Olhei em volta para me certificar de que realmente não havia mais ninguém ali, apoiei os cotovelos nos joelhos com o celular no ouvido e um sorriso estampando minha cara.

—O resto eu te desejo a noite. - Falou no momento em que ouvi de fundo o barulho do elevador.

—Só a noite?

—Eu te desejo o dia inteiro, mas a noite eu te conto. - Prometeu e me arrancou outro sorriso.

—Vou fazer de tudo para não me atrasar pra sair daqui hoje, é um ótimo dia para aquelas suas orações darem certo.

—Então vou me empenhar, minha mãe ficaria orgulhosa de como estou religioso. - Terminou rindo e eu o acompanhei. - Vou dirigir agora, Gin.

—Tudo bem, depois nos falamos.

—Beijos e bom dia no trabalho.

—Para você também, beijos.

Encerrei a chamada já sentada na minha cadeira, pronta para começar o dia. Perto da hora do almoço, num momento muito providencial em que eu suspeito que Colin tenha monitorado para ter certeza de que eu estava sozinha, ele e Luna irromperam pela porta fechada com um grito de parabéns totalmente impróprio para o local de trabalho, principalmente o nosso.

Não tive tempo de levantar de livre e espontânea vontade, porque o Colin me puxou pela mão e me colocou de pé já em meio a um abraço muito apertado. Luna também me abraçou com um sorriso enorme e por fim eu estava rindo com eles.

—O aniversário é meu, como é que vocês estão mais felizes que eu? - Perguntei rolando os olhos para eles.

—Somos menos rabugentos. - Colin retrucou se aproximando de mim. - Deixa eu ver se com trinta anos você ainda está toda durinha.

—Tira a mão da minha bunda, Colin! - Ralhei com ele e me afastei rindo, voltando o jaleco para o lugar.

Luna gargalhou e eu me sentei na lateral da minha mesa ao lado dela, nosso amigo de pé à nossa frente. Antes que eu falasse alguma coisa ela colocou na minha frente uma sacola roxa e ordenou empurrando para minhas mãos:

—Abre o meu presente!

Visto o padrão dos anos anteriores eu já sabia o que encontraria, mesmo assim olhei todos os lados da camiseta branca muito bonita.

—Camiseta branca de novo, Lu? - Colin comentou com desdém.

—Somos médicas, não temos tempo de escolher presente. - Deu a mesma desculpa de sempre, nos fazendo rir.

—Obrigada, Lu, eu ainda não tinha nenhuma desse modelo. - Agradeci e dei um beijo no seu rosto.

—Agora o meu, que desculpe, é muito mais legal. - Afirmou ele, me entregando uma sacola preta.

Tirei de dentro um frasco que lembrava o de shampoo, em cuja embalagem se lia: Gel comestível para massagem sabor brigadeiro.

—E use sem moderação! - Acrescentou malicioso.

Nós duas rimos e eu me atentei a ler mais um pouco da embalagem, porque aquilo era o tipo de coisa que só meu amigo conseguia encontrar.

—Obrigada, gato, mas não é mais fácil fazer o brigadeiro? - Perguntei em meio a um abraço de agradecimento.

—Não, boba, porque esse não gruda na pele, a mão desliza fácil por cima dele.

—Oh, toda a diferença, hein?! - Falei irônica, mas internamente pensando que seria realmente legal.

—E onde vai ser a comemoração?

—Não sei, o Harry não disse. - Contei me virando e colocando o frasco junto com o presente da Luna. - Mas vai ser no sábado, no meio da semana é cansativo para nós dois e nem conseguimos aproveitar direito.

—Vamos tentar jantar juntos na sexta? - Luna sugeriu, olhando o aparelho de comunicação interna que tinha acabado de soar.

—Vamos! - Confirmei dando um abraço rápido nela e me virando para me despedir também do Colin. - Esteja lá também, viu?!

—Claro! - Confirmou como se fosse óbvio e fechou a porta assim que os dois saíram.

Com a agenda livre e um dia calmo, não tive muio o que fazer até o meio da tarde, quando o Ron me ligou perguntando se eu tinha alguns minutinhos para encontrá-lo na recepção. O encontrei encostado no balcão da emergência, rindo de alguma coisa que o Colin havia dito. Me debrucei ao lado dele e perguntei ao meu amigo:

—Gato, como está a emergência?

—Super tranquilo.

—Quer almoçar? - Perguntei ao meu irmão e o vi assentir. - Vou dar uma saidinha então, me liga se precisar de mim, tudo bem?

—Divirtam-se. Tchau, Ron.

Os dois se despediram e eu saí com ele em direção ao estacionamento.

—Você nem sabe se eu quero almoçar com você. - Debochou enquanto abria a porta do carro.

—É óbvio que você quer. - Falei sem me intimidar, ligando o som assim que me acomodei.

—Onde? - Perguntou, dando partida no motor.

—Pode escolher.

Minutos depois estacionamos em frente a uma cantina italiana que nós dois gostávamos.

—Achei que você fosse me ver só de noite. - Falei depois que o garçom anotou nossos pedidos.

—Eu queria, mas vou ter que jantar com um cliente. - Se desculpou.

—Não tem problema, já estamos nos vendo.

—A gente pode sair no sábado, o que acha?

Eu achava uma ótima ideia, mas queria sair com o Harry também no final de semana. Por outro lado, eu não poderia desmarcar com o Ron porque a gente sempre comemora os aniversários juntos.

—Ótimo, mas... - Hesitei e ele me olhou com a sobrancelha erguida, embora eu tivesse certeza que ele já sabia o que era, terminei mesmo assim. - Posso levar uma pessoa dessa vez?

Ele me encarou sem dizer nada e eu abri um sorriso sem graça.

—Pode, claro. - Respondeu por fim, dando de ombros. - Imagino também que nem preciso me sentir culpado por te deixar sozinha na noite do seu aniversário, porque sozinha é a última coisa que você vai estar hoje a noite.

O tom conformado que o Ron usou me fez rir e por fim ele fez o mesmo. Nossos pratos chegaram antes que eu respondesse a constatação dele e esperamos o garçom se afastar.

—Você não precisa se preocupar mesmo. - Continuei o assunto, mas ele adotou uma expressão um tanto saudosista e não falou nada por um tempo.

Me atentei ao meu macarrão enquanto isso e ele fez o mesmo, até que algumas garfadas depois começou a rir e isso me chamou atenção.

—Sabe o que estava me lembrando? - Começou e eu chacoalhei a cabeça negando. - Quando você fez oito anos e achou que já podia fazer seu bolo de aniversário sozinha.

A imagem que me veio à cabeça me arrancou uma risada alta.

—Você lembra cada coisa, Ron! - Exclamei ainda rindo. - Acho que tinha farinha até no banheiro, a mamãe ficou louca.

—Quando desci a escada você estava toda branca, a cozinha destruída, lógico que ela ia ficar louca. - Rolou os olhos como se fosse óbvio. - E quem levou a bronca fui eu!

Terminou a frase me olhando bravo, mas o sorriso ainda aberto.

—Claro! Você deveria estar cuidando de mim, seu sem alma.

—A prioridade da vida de todo adolescente é cuidar da irmã pentelha, com certeza. - Ironizou.

—Não me chame assim, eu era única.

—Devia ser mesmo, não conheço mais nenhuma história de gente que tentou cortar o dedo do irmão pra ver como era por dentro.

—Foi com uma tesoura sem ponta, nem valeu a tentativa. - Dei de ombros, ainda rindo.

—Doeu do mesmo jeito.

—Os tapas que você me deu depois também. - Acusei e nós dois caímos na risada.

—E agora você quer levar um moleque pro nosso jantar de aniversário, meu Deus! - Apoiou a testa nas mãos ao dizer em tom de piada.

Rolei os olhos para o exagero dele.

—Sem drama, Ron.

—Vocês já tinham combinado alguma coisa?

—Sobre o jantar não, você tem algo em mente?

—Pensei naquele restaurante tailandês que você adora, mas você pode escolher outro se quiser.

—Adorei a sugestão, por mim confirmado. - Afirmei, pousando os meus talheres sobre o prato vazio.

—Pergunta para o Harry se por ele tudo bem e me avisa. - Pediu, fazendo o mesmo e deixando o guardanapo sobre a mesa.

—Por ele tudo bem, sim, nem preciso perguntar. O Harry adora comida tailandesa.

Ele me olhou avaliador por um momento, mas não disse nada.

—Preciso voltar, Ron. - Quebrei o silêncio enquanto olhava as horas no relógio de pulso em seu braço.

Ele acenou para que o garçom trouxesse a conta e me impediu quando tentei pagar a metade, como presente de irmão a gente nunca recusa, guardei meu cartão e não insisti mais. As ruas estavam tranquilas e a falta de trânsito nos ajudou a chegar no hospital em poucos minutos. Assim que ele estacionou o carro em frente à emergência soltei meu cinto e ele fez o mesmo, depois se virou para mim e me puxou para um abraço.

—Parabéns, pentelha. - Desejou e deu um beijo demorado na minha bochecha. - Mesmo que você tivesse conseguido cortar meu dedo eu não desejaria outra irmã.

Ri da sua tentativa de ser carinhoso e retribuí o beijo.

—Eu sei que não. - Afirmei com superioridade.

Ele rolou os olhos para mim e se inclinou para o porta luvas.

—Minha intenção era te dar no jantar, mas até então eu achava que seríamos só nós dois e prefiro não fazer isso com plateia. - Justificou, puxando de dentro do compartimento uma sacola pequena com o logotipo de uma joalheria famosa. - Espero que você goste, eu achei a sua cara.

—Deve ser lindo, então. - Falei convencida e ele riu.

Desfiz o laço bonito ao redor da caixinha preta que guardava um anel dourado com uma pedra verde em formato de coração.

—Que lindo! - Exclamei, puxando a joia para olhar de perto. - Que lindo, Ron! - Repeti depois de colocá-lo no dedo e ver que se encaixava perfeitamente.

—Não tinha nenhum do seu tamanho com a Hello Kitty. - Lamentou me fazendo rir. - Que bom que gostou, você merece muito mais do que eu posso dar.

—Não preciso de nada além de tudo que você já me deu. - Afirmei puxando-o para mais um abraço demorado. - Obrigada, Ron, é lindo.

—De nada. - Pegou minha mão para olhar também. - Ficou bonito mesmo.

—Agora preciso ir. - Avisei me inclinando para dar um beijo de despedida. - Nos vemos sábado?

—Claro, até lá.

—Bom jantar hoje. - Desejei abrindo a porta.

—Bom aniversário hoje. - Falou contrariado e eu fechei a porta atrás de mim enquanto ria.

Enquanto atravessava o estacionamento uma ambulância também chegou e eu tive tempo apenas de correr até o vestiário para guardar a minha bolsa e vestir novamente o jaleco antes de voltar ao pronto socorro, e até a hora que consegui sair, poucos minutos depois do meu horário normal, não tive nenhum outro tempo livre.

Avisei ao Harry que já estava indo embora e cheguei em casa poucos minutos antes da campainha tocar. Terminei de fechar o botão do short jeans que estava vestindo e abri a porta para dar de cara com ele, escondido atrás de uma pilha com cinco caixas empilhadas.

—Um para cada aniversário que já fiz na vida? - Perguntei rindo enquanto ele entrava, mas a curiosidade já me dominava.

Nem tinha sido uma piada tão boa, mas ele riu mesmo assim enquanto deixava tudo no sofá e voltava para me dar um abraço e um selinho demorado.

—Feliz aniversário. - Falou com os olhos brilhando para mim.

—Obrigada, Ursinho.

—Espero que as pessoas que passaram o dia com você, tenham te proporcionado um ótimo dia.

—Ah, eles foram ótimos em tudo, inclusive em fazer eu me sentir bem. O Colin até me apalpou pra ver se eu continuo toda durinha. - Ri ao me lembrar da cena, mas o Harry me olhou meio confuso.

—Só pelo que você fala eu não consigo me decidir se o Colin é muito legal ou muito doido. - Confessou com uma careta. - Acho que preciso conhecê-lo melhor.

—Eu não me decidi até hoje, mas isso não importa porque eu gosto dele do mesmo jeito. - Deixei o assunto de lado e ele acabou rindo. - E o Ron foi almoçar comigo.

—E você tem mais alguma visita marcada para hoje? - Encostou na parte de trás do sofá e me puxou para outro abraço.

—Não, por hoje acabaram as visitas. O Ron vai jantar com um cliente. - Informei e me afastei para olhar para ele. - Mas tenho um convite.

—Diga.

—O que vamos fazer sábado envolve jantar? - Ele olhou desconfiado para a minha pergunta, porque já tinha me falado que não diria nada. - Porque eu sempre saio para jantar com o Ron, e como ele não está disponível hoje vai ficar para sábado, aí pensei que você quisesse ir conosco.

—Sério? - Perguntou com os olhos arregalados de surpresa.

—Só se você quiser. Vamos em um restaurante tailandês, eu sei que você gosta.

—Claro que eu quero. - Confirmou empolgado. - Mas o que eu tinha pensado envolvia um jantar antes, sim.

—A gente pode jantar com o Ron e pular para o depois?

—Pode, e a gente pode jantar amanhã, só nós dois, o que você acha? - Sugeriu pensativo. - Acho que consigo mudar minha reserva.

—Perfeito. - Confirmei e hesitei um pouco antes de completar. - Agora posso abrir meus presentes?

Harry riu do pedido, mas me puxou para o sofá e nos acomodamos um de frente para o outro com a pilha de caixas entre nós. Antes de matar minha curiosidade, ele avistou as duas sacolas sobre a mesa de centro e se inclinou sobre elas.

—O que é isso? - Perguntou, trazendo para o sofá com ele.

—O que eu ganhei da Mione, do Colin e da Luna. -Informei enquanto ele já tirava meu vestido de dentro de uma delas.

—Esse é o da Mione, né? - Confirmei com um aceno. - Da pra ver, não acho que você tenha mais amigos que encontrem essas coisas diferentes e bonitas.

A definição me fez rir e ele olhou os outros dois, se atendo mais ao do Colin.

—Nem preciso perguntar de quem é esse. - Comentou lendo a embalagem. - Nesse momento estou achando ele muito legal.

—Harry, já posso? - Perguntei impaciente.

—Ah, sim. - Devolveu os outros embrulhos para a mesa de centro e se acomodou novamente no assento. - Esse primeiro. - Determinou me entregando a menor caixinha de todas.

Dentro havia um chaveiro que consistia em um daqueles esqueletos que se mexem todo, usando um chapéu bonitinho e sorrindo de um jeito engraçado.

—Onde você encontra essas coisas? - Perguntei rindo e me levantei para buscar minha chave.

—É só procurar, Ratinha.

—Coloca para mim, por favor. - Pedi e entreguei a ele. - É uma gracinha.

—Eu achei a sua cara. - Falou rindo. - Aqui.

—Obrigada. - Olhei mais uma vez para a minha caveirinha e deixei sobre a mesa de centro.

—Abre esse. - Me entregou o próximo embrulho.

—Você está querendo me agradar, né? - Perguntei com os olhos brilhando para a sequência de brigadeiros mais lindos que já vi, todos enfileirados dentro da caixa.

Não resisti e comi um, apenas para comprovar que eram tão gostosos quanto bonitos.

—Me avisa se estiver funcionando. - Falou brincalhão e negou quando ofereci um a ele.

—Com certeza está. - Respondi colocando o resto com cuidado ao lado da minha chave e estendendo as mãos para o próximo.

Ele me entregou a maior caixa de todas, e também a mais pesada, e eu a acomodei no colo antes de tirar a tampa. Dentro havia a caixa de um jogo onde se lia War, e eu olhei em dúvida para ele.

—Estou te dando a chance de ter a sua revanche do Poker, eu sou muito bom nisso aí. - Afirmou desafiador.

—Olha, que gentil. - Comentei irônica e abri a embalagem do jogo, dando de cara com peças infinitas de diversas cores, cartas e um tabuleiro gigante. O folheto de regras tinha inúmeras páginas. - Acho melhor ler isso outra hora. - Deixei no chão ao meu lado e me virei para ele de novo.

—Esse é o meu preferido. - Informou enquanto eu pegava o próximo embrulho. - A começar pela cor. - Acrescentou quando puxei as duas peças de renda azul marinho.

—Esse é presente pra mim ou pra você? - Perguntei desconfiada, olhando todos os lados do conjunto de lingerie com tecido suficiente talvez para fazer uma faixa de cabelo.

—Eu avisei que é meu preferido. - Deu de ombros enquanto eu colocava tudo com cuidado de novo na embalagem e deixava sobre o jogo.

—Alguma razão pra esse ser o último ou é só coincidência? - Perguntei me voltando para a caixa que restava entre nós.

—Esse eu acho que é o que você mais vai gostar. - Respondeu puxando a tampa e me deixando ver um estojo muito semelhante ao que ganhei do meu irmão, mas maior.

Dentro havia uma corrente de ouro e um pingente delicado, também dourado, com o símbolo característico da minha profissão. E ele estava certo, eu adorei. Desvencilhei com cuidado do estojo e segurei mais perto do rosto por um momento, olhando os dois lados da peça bem acabada.

—Você gosta tanto do que faz que eu podia jurar que tivesse uma tatuagem com esse símbolo, até olhei procurando naquele primeiro dia, quando você saiu do meu colo e andou toda cheia de pose até o quarto.

Olhei pra ele com a sobrancelha erguida.

—Não andei toda cheia de pose.

—Você anda toda cheia de pose, Ratinha. - Teimou e eu rolei os olhos.

—Você e o Ron combinaram para me dar joias? - Mudei de assunto, voltando a atenção ao meu presente.

—O que ele te deu?

Estendi minha mão com o anel e ele a segurou para olhar de perto a peça que agora a enfeitava.

—Que bonito. - Elogiou, olhando com muito mais atenção do que quando viu o que ganhei das outras pessoas.

—Eu adorei o coração. - Comentei me debruçando e olhando também. - Mesmo que ele não fale, eu sei que sou o amor da vida dele. - Afirmei com um sorriso convencido.

—Só dele? - Harry deixou escapar num tom bem irônico, e imediatamente mordeu o lábio como se tivesse falado demais.

As bochechas dele se tingiram de vermelho imediatamente e eu optei por nem responder, porque eu adorava o que a gente tinha e todos os nossos encontros ao longo desses meses, mas em qualquer sentido que não o fraternal eu não queria ser o amor de ninguém.

—Vira, deixa eu colocar em você. - Mudou de assunto quase imediatamente e eu nem precisei pensar muito para obedecer, me apressei a sentar de costas para ele, quase encostada em seu peito, e estendi a peça para que ele prendesse ao redor do meu pescoço.

Assim que prendeu o fecho, Harry me puxou para trás e prendeu um dos braços ao meu redor enquanto arrumava o pingente um pouco acima do decote da minha camiseta.

—Ficou lindo em você. - Elogiou, já sem as bochechas vermelhas.

—Obrigada, adorei tudo. - Agradeci, fazendo carinho em seu rosto e ganhei um beijo carinhoso.

—É verdade o que dizem sobre a crise dos trinta? - Perguntou em tom de piada e eu acabei rindo.

—Acho que não é verdade, não, porque o dia já está quase terminando e a minha ainda não chegou.

—Ou você ainda não sentiu. - Sugeriu sarcástico.

—Falam que é quando a mulher está mais bonita também, por que você só pergunta da crise? - Falei olhando desconfiada para sua expressão muito alegre.

—Porque a beleza eu consigo ver, a crise você precisa me contar. - Esclareceu e eu não consegui reprimir o sorriso.

—Daqui a pouco a sua chega e você fica sabendo sozinho.

—Será que eu vou ficar mais bonito também?

—Tomara que não! - Falei como uma prece, juntando as mãos.

—Ou você vai ficar com mais ciúmes ainda de mim? - Perguntou convencido.

—Ou o mundo vai ficar pequeno para o seu ego. - Corrigi rolando os olhos e ele gargalhou com vontade.

—Credo, quanto exagero. - Desdenhou.

Ele ficou um tempo brincando com meu pingente num silêncio confortável, depois me deu um beijo demorado no rosto antes de perguntar:

—O que vamos comer hoje?

—O máximo a que meu cardápio chega sem ter que sair é lasanha congelada, e confesso que não estou com vontade nem de levantar daqui, imagina sair de casa. - Respondi preguiçosa, com os olhos fechados e o rosto encostado na curva do pescoço dele.

—Para mim parece ótimo, pode preparar. - Afirmou se ajeitando no assento.

—É meu aniversário, sua vez de fazer tudo que eu quiser.

—Mas a casa é sua. - Tentou argumentar, mas o sorriso já indicava que ele sabia ser em vão.

—Não se incomode, pode ficar a vontade mesmo assim. - Falei me afastando para que ele se levantasse.

—Tudo bem, mocinha, aproveite seu dia de madame.

—Dia? Minha semana. - Corrigi e pisquei para seu olhar desconfiado.

—Essa folga toda não é uma característica sua, Ratinha.

—Deve ser a crise dos trinta. - Dei de ombros antes de continuar. - Vai logo, Ursinho, estou com fome.

Eu ainda conseguia ouvir sua risada quando ele sumiu pela porta da cozinha, e isso era suficiente para eu não deixar de sorrir também.


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Notas finais do capítulo

Olá, pessoal!
Cheguei ainda mais cedo essa semana!
Claro que ele não seria menos do que muito fofo no aniversário dela, né? Não esperamos menos desse Harry lindinho.
Ansiosa para saber o que acharam!
Beijos e até o próximo!

Crossover: Essa semana também tem capítulo em dobro de Backstage, não deixem de acompanhar!
https://fanfiction.com.br/historia/692675/Backstage/