Que Atire a Primeira Pedra escrita por Pocahontas


Capítulo 1
Que atire a primeira pedra quem entender Scorpius


Notas iniciais do capítulo

I wish you like it



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Rose andava distraída como sempre.
Acabara de deixar a sala de poções e agora ia caminhando lentamente em direção á aula de transfiguração ao lado de suas duas melhores amigas, envolvida apenas parcialmente na conversa, tendo em vista que metade de sua atenção estava tomada pelos próprios pensamentos, afinal, como todos já diziam, vivia no mundo da Lua. Quando as amigas interromperam o caminhar, Rose parou bruscamente ao lado delas, inclinando o corpo para o lado para que não esbarrasse em um aluno. Encostou-se na parede ao lado de suas colegas, que haviam se envolvido em uma conversa animada com um grupo de sonserinos nos corredores, Rose cumprimentou-os com seu mais sincero sorriso, porém, manteve-se quieta em um canto, por mais que nutrisse amizade, sempre tinha medo de que fizesse algo idiota, ou fizesse coisas sem sentido, estragando tudo.
No final, ela sempre estragava tudo, não era?
Com esse pensamento em mente, ficava timidamente em silêncio enquanto suas melhores amigas tagarelavam, embora risse de vez em quando para se manter presente, tinha milhares de pensamentos correndo a mil na mente inquieta. E a única voz capaz de manda-la instantaneamente de volta ao mundo da Terra, era o tom autoritário da diretora McGonagal, que ameaçava os alunos de perderem pontos caso não voltassem logo a seus afazeres.
As palavras foram suficientes, o grupo se dispersou, e ansiosa como só ela, a ruiva agarrou seus livros com força e saiu correndo na direção que tinha de seguir, porém, a descoordenação e o modo desastrado lhe eram características já tão próprias que a garota só teve tempo de balançar a cabeça para afastar suas madeixas ruivas dos olhos, e então brecou bruscamente, parando antes que batesse com força em algum aluno. Ele deu alguns passos para trás, e ela imitou o gesto. Mas então, seu rosto se ergueu. E ela o viu.
Quando os olhos cor de safira de Rose detiveram-se no rosto pálido de Scorpius Malfoy, ele já a havia visto. Ela deixou que seu próprio olhar focasse-se no fundo das orbes acizentadas do outro, e se viu parar no tempo, para que assim pudesse mergulhar nos próprios pensamentos.
Era impressionante o misto de emoções que olhar para aquele garoto lhe traziam.
Mais precisamente, memórias.
Memórias a invadiam a cada vez que o via, e ela não podia evitar. Olhar para aquele rosto a fazia se lembrar da primeira vez em que o vira, quando estava apressada, como sempre, e nem prestara atenção no garoto que alguns anos depois seria tão significativo em sua vida. E então junto a essa lembrança, vinham várias outras como que em uma enxurrada. Lembrava-se das primeiras conversas de forma meio vaga, as memórias antigas eram um pouco abstratas, recordava-se de que tinham bons momentos de confidencia, eram excelentes quando fazendo trabalhos juntos, sentaram-se próximos por algumas aulas, e aí vinham as lembranças da amizade que nascera.
De tudo, aquilo era o mais dolorido. Se lembrar de como costumavam zoar um do outro e rirem juntos Se davam bem, se entendiam, eram excelentes amigos.
Mas as lembranças de que isso se tornara algo mais eram as próximas a surgirem. Vinham apenas alguns fragmentos, pois na realidade nem ela mesma se lembrava de como tudo começara. Conseguia se recordar apenas de ter ouvido falarem por aí que ele nutria sentimentos por ela, e então a situação ficou diferente. Pânico? Sim, pânico. Ela se lembrava tão claramente de como estava confusa, de como o evitara até não poder mais, enquanto ao mesmo tempo mantinha-se presente para ter a certeza de que ele não a esqueceria. Os dois lados pendiam, e teve que escolher, escolher entre o amigo que tanto gostava e conhecia, ou aquele estranho que se dispunha a bem mais do que só amizade. E ela escolheu. Olá, estranho.
E por muito tempo, aquilo foi bom. Olhar para ele a fazia se lembrar de como o sonserino sempre tão frio parecia nutrir um carinho especial pela sua frágil rosa, ele a tratava bem e a fazia se sentir querida, ao mesmo tempo em que conseguia manter o senso de humor e zoações que a divertiam em seu amigo. As memórias de conversas, beijos, encontros e carinhos lhe eram tão boas, e aqueciam-na por dentro, pois recordava-se daqueles momentos com uma sensação nostálgica e aconchegante. Quase mágica.
Entretanto, os olhos de Rose piscaram por um longo período de segundos, e quando se abriram sua testa tinha poucas rugas preocupadas. Pensou na contradição, a tão doce rosa Rose, que conseguia transmitir fofura e afeto para todos que a agradassem, se via presa, pois apesar de tudo, o espírito era livre e festeiro, simplesmente não conseguia se imaginar amarrada, comprometida, pois junto a isso vinham os deveres, as necessidades, as cobranças, as brigas e as responsabilidades. Não estava disposta a lidar com isso. Não queria, não podia, fugia. Fugia? Fugiu. Engraçado, não? A garota que nunca negara carinho a quem quer que fosse não sabia amar. Na realidade, o amor a apavorava.
Uma nova cena invadiu sua mente. Via a si própria conversando com o garoto que quase chamara de namorado, ela dizia com cautela que eles dois tinham que acabar. Ele não questionava, fingia não demonstrar emoção, mas ela o conhecia, sabia, estava abalado. Enquanto ela? Nossa. Tinha ficado tão, mas tão feliz que não conseguia nem sentir-se mal por tê-los magoado… Pobre é ingênua Rose do passado, que aproveite esse sentimento libertador de se ver livre daquela relação, pois você não sabe o que a espera.
E não sabia mesmo. Não, ela nunca iria imaginar que poucas semanas após o término ele já teria outra. Ou que isso a magoaria de modo tão profundo. Ou que ela se arrependeria do momento em que terminou aquela relação. e o desejaria de volta. Como a Rose de alguns meses atrás poderia prever que o tempo mostraria que ela esteve enganada aquele tempo todo quando afirmou não nutrir sentimentos pelo loiro? Ah, aquela era uma contradição imensa para a mente calculista de Rose. Como algo que a fez se sentir tão feliz e livre naquela época, podia agora lhe trazer tanta dor?
Os milhares de sentimentos a abraçaram enquanto muitas lembranças passavam como um trailer de filme pela cabeça. Tinha até trilha sonora, aquela música que insistia em passar na radio bruxa e a lembrava dos dois, dizia algo sobre um relacionamento inesperado que acabou rápido como começou, deixando só as saudades. Eles até poderiam se encaixar nisso, isso é, se Rose abandonasse o orgulho de lado e demonstrasse os sentimentos dos quais era tão rica.
Mas ela não ia. Não fazia. E não faria.
Balançou a cabeça sobressaltada afastando aqueles pensamentos quando sentiu o toque de sua amiga na cintura, a chamando para que voltassem a correr pelos corredores. Rose Weasley ajeitou uma mecha de seus cabelos avermelhados atrás da orelha e se permitiu olhar para Scorpius Malfoy. Era estranho olhá-lo após tanto tempo sem um diálogo decente entre os dois… Seu coração apertou ao perceber a frieza contida na expressão dele, mas na realidade, não tinha por que se surpreender, vinham recebendo esse mesmo tratamento a muito tempo, e certamente não conseguia entender o motivo. Por um segundo, teve vontade de ir até ele é o perguntar. Queria fazer isso. Queria o questionar para então entender o que estava acontecendo. Por qual motivo ele a ignorava? Por que não conseguia nem ao menos sustentar seu olhar? Queria uma resposta. Ou ao menos, que seja, um “olá Rose, tudo bem?” qualquer coisa. Se contentaria com qualquer coisa vindo dele. Ah, ela estava tão curiosa para ouvir os motivos que o levaram a se afastar. Cogitava por vezes abrir-se e expor seus sentimentos, só que o orgulho era maior do que tal vontade. Mas ela ia perguntar. E ela ia, ia, ia… Não foi. Um dia, ainda faria.
Não, não. Para que? Óbvio que não, afinal, ela não ligava para ele, ligava? Não! Ao menos, isso era o que dizia para quem quisesse ouvir, repetia tanto que se tornara um mantra diário em sua cabeça. Ela não dava a mínima para Scorpius. Ela não precisava dele. Ela não o queria de volta. Ele poderia ficar com qualquer outra garota. Por que ela se importaria? Afinal, ela ja o tinha esquecido. Ou ao menos, continuaria repetindo aquilo até que sua mente tomasse como verdade…
Por que, podia negar para todos e qualquer um, afinal, a intromissão alheia sempre a tirou do sério, mas para si própria Rose Weasley não podia negar que sentia a falta do garoto que trajava vestes verdes prateadas. No fundo de seu ser, sabia que não o esqueceria toa fácil. Sabia que seu coração batia acelerado ao o ver, e que a dor surgia em seu rosto quando era ignorada. Ah, Rose, pode negar para quem quiser, afinal, você realmente teme que as pessoas pensem que alguém te têm nas mãos, não é? Mas para si mesma não tem como mentir. Você ainda não o esqueceu…
Será que ele sabe? Isso é o que assombra a mente da ruiva por uns instantes. Será que ele sabe o quão secreta e perdidamente apaixonada ela é? Ah, deve saber… É bom que saiba, assim, quem sabe não tem uma chance juntos de novo? Hum, pensando bem, espero que não saiba. E se ele souber? Ah, merda. Aí vem ele de novo, bagunçando sua mente. A ruiva estava quase acreditando que aquele era o superpoder do loiro, a trazer muitos momentos memoráveis, e também, lhe mostrar o que significava sofrer, afinal, não podia negar que nos últimos meses ele povoara seus pensamentos mais vezes do que desejava.
A quem estava tentando enganar? Não havia um dia em que aqueles olhos cinzentos não surgissem em sua mente.
Percebeu que ainda sustentava o olhar daquelas orbes que se remetiam a diamantes, e portanto, fez questão de dirigir ao garoto o sorriso mais caloroso que conseguiu, sua mão até mesmo se ergueu, pronta para esboçar um aceno, porém, no instante seguinte em que viu aquela ação, Scorpius virou o rosto apressadamente, e desviou seu caminho, desaparecendo pelo corredor.
O sorriso de Rose murchou instantaneamente. Era assim, não era? Ele simplesmente fingia que ela não existia. Sim, era assim, desde o dia em que o relacionamento que tinham fora acabado, vinha sendo assim. Isso a deixava irritada de um modo irracional. Como ele podia ser tão imaturo a esse ponto? Não tinha respeito por ela, por eles, pela sua história juntos? Eles poderiam tanto ter um futuro, isso é, se ele permitisse. A culpa era total e plenamente dele! Porém esse pensamento perderou na cabeça da bruxa por instantes apenas, afinal, no fundo sabia que não podia culpa-lo, pois embora de fato o fizesse, atrás de sua camada de orgulho existia a consciência de que ela própria nunca fora uma boa namorada, de que menosprezara os sentimentos do loiro, e que se tivesse sido diferente, não carregaria tanta parcela da culpa que jogava no garoto.
A ruiva suspirou e então seguiu vagarosamente pelo caminho por onde suas amigas haviam passado a passos rápidos. Porém, já não estava mais correndo. Na verdade, não tinha energias, tudo o que sentia era algo diferente. Estranho…
Seu coração apertava e o estômago encontrava-se embrulhado. A cabeça estava baixa e suas bochechas ardiam. Ele a ignorava. Sentiu os olhos arderem. Fingia que ela não existia. As orbes azuladas encheram-se de lágrimas. Não dava a mínima para ela. Tais lágrimas rolaram pelas bochechas rosadas. Ele estava cagando para ela. Enquanto ela, precisava se segurar para não correr atrás de quem não iria nem até a esquina por ela, como a própria diria. Sentiu tanta dor… Porém, a dor logo foi substituída por algo diferente, uma tristeza esquisita ao pensar que ele simplesmente vinha fingindo que toda a história que construíram nunca ocorrera. Isso a machucava de um jeito que nem a tão inteligente e dona da razão ruiva conseguiria entender.
O que ela sentia?
Não sabia.
Era um aperto no peito, uma fração de segundo de falta de ar. E então as memórias voltavam, e em sua cabeça recapitulava tudo, vendo onde errara, onde faria diferente. Ah, ela suspirou outra vez. Só queria poder voltar no tempo. Não entendia como era possível uma pessoa com que já trocará tantos beijos, intimidades e segredos simplesmente lhe dar as costas. Como era possível que ele tivesse esquecido tão rápido tudo pelo que passaram? Como conseguia seguir em frente sem nem por um segundo se questionar se não poderia dar uma nova chance aos dois? Está certo que ele saíra magoado inúmeras vezes, mas ah, ela sentia tanta falta do garoto desconhecido que encontrara certo dia pelo castelo, do menino engraçadinho que sentava perto dela na sala de aula, do amigo que zoava de sua cara e a fazia rir, do Scorpius que a beijava e até amava, qualquer um deles servia, qualquer um que não aquele estranho que acabara de cruzar o corredor…
Ela entendeu o que sentia.
Era o amor…
Mas é claro, ninguém poderia saber.
Os cabelos ruivos por fim desapareceram no corredor. A porta da sala de aula se fechou com um clic.
“Tudo bem”, repetia para si mesma fingindo que não ligava. “Que atire a primeira pedra aquele que entender Scorpius Malfoy.”


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam?
Caso não tenha ficado claro, Rose e Scorpius tiveram um relacionamento algum tempo atrás, foi a garota que colocou fim áquilo, e desde então eles praticamente não se falavam mais
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