Do outro lado da mesa escrita por Margo Roth Spiegelman


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Talvez eu faça alguma continuação um dia. Agora é só isso, por enquanto...

Se chegou até aqui, boa leitura! :3



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Chego em casa e me sento na fria cadeira afrouxando o nó da gravata. Não sei ao certo quando minha admiração por ela apareceu, mas era tão intensa que não podia pensar.
Relembrei o dia de hoje no interrogatório, nenhum detalhe saía da minha cabeça. Os seus passos rentes, sua unha pintada com um esmalte preto descascado e seus olhos fixos em mim. Em meio aos devaneios, percebi um papel na lateral da porta que não estava ali antes, seria aquele o meu passaporte para um reencontro?
Caminhei apressadamente para apanhar o papel, uma letra caída mostrava um endereço, as palavras do meio tinham as letras maiúsculas também. Era engraçado aquilo tudo.
Parei por um momento pensando se aquilo era realmente dela. Com certeza era, quem mais faria uma coisa dessa comigo? Eu não esperava mais ninguém.
Tomei um banho frio com a mente vazia. Antes de sair, pego minha arma, uma suposta precaução.

A rua em que me encontrava era escura, apenas um poste realizava o trabalho da iluminação, coincidentemente ele ficava em frente a casa com o número escrito no papel. Antes de bater, percebo que a porta já está aberta, apenas encostada, o vão mostrava um ambiente escuro. Sem relutância, adentrei.


"Você demorou."
Meu coração disparou levemente, escutei a voz, era a voz dela, mas não a via na escuridão. Não até ela dar alguns passos e acender uma luz branca e fraca, que só me possibilitava ver a sua distância até mim.
"Então estava esperando ansiosamente?"
Pergunto, tentando disfarçar o trêmulo da minha voz. Ela solta um risinho em seguida.
"Talvez. Acho que eu deveria fazer essa pergunta."
"Acha? Por quê?"
"Você é que está louco para me ver."
Não era mentira, não iria negar, não precisava negar. Ela parecia saber cada palavra que eu planejava falar.
"Além do seu dom em fazer o bem comum, ainda lê pensamentos?"
Disparo com um sarcasmo delicado.
"Os seus? Creio que eu não precise ler, está estampado em seus olhos. Mas se quiser, posso tentar."
"Não tem nada estampado em meus olhos."
"Sua impaciência diz que estou certa."
Suspiro.
"O que você quer de mim, Sophie?"
"Pode repetir meu nome?"
"Então gosta que eu diga seu nome, Sophie?"
Imaginei que ela sorria.
"Eu quero você."
Não, eu quero você.
"O que você quer é jogar comigo. Você mal me conhece."
"Eu te conheço sim e muito bem. Você também me conhece."
"Eu só sei o básico sobre você."
"É tudo o que precisa saber."
Ficamos em silêncio.
"Acho que você tem medo"
Ela completou.
"Medo de você?"
"Medo do que eu posso fazer com você."
Engoli em seco.
"Não tenho medo."
"Então porque não se aproxima?"
Então me aproximei. Ela estava encostada em uma parede. Usava um vestido preto acima dos joelhos. Seus olhos ainda eram seus olhos. Sua boca, vermelha.
"O que você realmente quer?"
Pergunto novamente, mas dessa vez sem tirar meus olhos de sua boca. Vermelha, desenhada, vermelha. Qual seria a sensação de tocar nela?
"Já disse, eu quero você. Sem jogos."
Ouvir e ver ela dizer isso de perto me fez arrepiar, um frio no estômago me atormentou. Fechei meus punhos. Lutei.
"E por quê?"
A minha pergunta saiu como um sussurro.
"Por que? Olha só para você... Másculo, essa sua voz, detetive e esse seus olhos... você é minha fantasia de adolescente. Eu não costumo querer muitas coisas, Det. Flack. Mas quando quero, consigo."
Sua voz soou extremamente sedutora. Se aquilo era um jogo, eu estava adorando.
"Você implantou o mesmo desejo em mim."
Sussurrei relutando. Ela sorriu.
"Eu o quê?"
"Você... implantou..."
Ela mordeu o próprio lábio inferior. Se queria me fazer perder o controle, foi bem sucedida.
Minhas mãos agarraram sua cintura com força enquanto a prendia entre a parede e meu corpo, sua respiração era frenética como a minha, nossos corpos se tocavam em sincronia. Eu não a queria só agora, queria sempre.
Então a beijei, suas mãos que estavam em meu pescoço me arranharam quando mordi o seu lábio como ela mesmo tinha feito, gemi baixinho com o ardor.
"Desculpe"
Ela sussurrou enquanto lhe dei uma trégua rápida para depois a beijar novamente com vontade. Minhas mãos deslizavam por todo seu tronco, pescoço, quadril enquanto minha língua adentrava sua boca, dançava por ela, sentia a dela, sentia seu gosto todo para mim. Colei nossos corpos enfim, nenhum espaço entre nós, a segurava pela cintura como se ela pudesse cair e quebrar. Eu não queria só aquilo, mas depois de tirar suas mãos do meu pescoço e levar até meu tórax, ela me empurrou.
Seus lábios se mexeram e imaginei qualquer outra palavra além daquelas que ela disse.
"Não posso ficar aqui."
"O-o quê?"
Eu não entendia.
"Eu não posso ficar aqui. Não posso viver nessa cidade."
"Então você brincou com..."
"Não! Você é a única coisa real- ela soltava as suas palavras ainda com a respiração acelerada- Preciso de você."
"Só não suma da minha vida, me faça saber que está bem."
"Eu faço. Prometo."
Algo nos seus olhos me fazia crer que era verdade.
Ela me deu um último beijo rápido. Sua mão escorregou da minha enquanto a distância aparecia. Ela adentrou o quarto da casa e eu fiquei parado por instantes até entrar também.
O quarto vazio.
A janela aberta.
O escuro.
E eu.


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