Dou uma mordida no cachorro quente grande que estou segurando. Kyle está pagando pelos dois por mais que eu tenha insistido em pagar o meu. Estou do lado do carrinho pequeno onde o senhor de idade preparou o cachorro quente mais caprichado e delicioso que eu já comera na vida. Kyle tinha razão, era um cachorro quente maravilhoso!
—E aí, o que achou? - ele pergunta olhando para mim e dando uma mordida grande no seu cachorro quente.
—Incrível! - falo de boca cheia.
Ele sorri sem mostrar os dentes enquanto mastiga e eu acabo sorrindo também.
—Eu sempre venho aqui quando estou por Manhattan. É meu lugar favorito pra comer. - ele dá outra mordida.
Apenas concordo com a cabeça porque estou com a boca cheia. Andamos mais um pouco e então me deparo com o Central Park. É enorme!
—Acho que vai chover. - Kyle diz olhando para o céu.
Olho para cima e vejo as nuvens se aglomerando acinzentadas. Ele tem razão de novo.
—É, acho que sim.
Atravessamos a rua e pisamos no extenso gramado verde claro cheio de pessoas com cachorros de raça jogando frisbey, fazendo pequiniques em família etc.
—Agora já sei para onde levar meu irmão para comer. - digo enquanto me sento na grama e dou a última mordida naquela dádiva dos deuses.
Kyle joga sua mochila no chão e se senta ao meu lado.
—Você tem irmão?
—Sim. Ele é quatro anos mais velho. Estuda História na Universidade de Chicago.
Kyle assente e dá uma outra mordida grande no cachorro quente.
Ficamos em silêncio olhando para as pessoas que passavam com os cachorros. Um casal andando abraçados e de mãos dadas ms chama atenção. O rapaz fala algo no ouvido da garota, que ri e lhe dá um tapinha no ombro.
—Provavelmente ele disse que quer comer ela atrás de algum arbusto do parque.
Olho para Kyle com os olhos arregalados. Ele dá de ombros.
—Ah me desculpe, esqueci que você não é acostumada com boca suja.
Reviro os olhos.
—Eu até mandaria você se foder, mas estou com fome.
Ele ergue as sobrancelhas e reprime um sorriso por causa do meu palavreado. Kyle entrega o último pedaço do seu cachorro quente para mim.
Olho para ele surpresa.
—Não! Pode comer.
—Não, come aí.
—Não, Kyle.
—Pega logo! - ele diz revirando os olhos.
—Não, eu...
Sou interrompida quando sinto o pão sendo forçado em minha boca, contra os meus dentes. Olho para o garoto de cabelos vermelho ao meu lado.
Levo minha mão até a boca, para pegar o pão da sua. Tento ignorar o fato do arrepio que sinto subir pelo meu braço quando minha mão encosta na sua.
—Idiota. - digo e enfio o pedaço de pão com salsicha deformado na boca.
—De nada.
Olho para ele enquanto mastigo. O que diabos está acontecendo? - pergunto a mim mesma mentalmente. Ele também está me olhando.
—Ah... Acho que eu já tenho que ir embora. - falo.
Kyle se deita com as mãos cruzadas atrás da cabeça e fecha os olhos. Fico olhando para ele, analisando-o. Odeio o fato de ele ser bonito e tão... Esquisito ao mesmo tempo. Ele me confunde.
Abrindo os olhos, ele me olha com os olhos apertados por causa do sol.
—Então tchau. - digo. - Obrigada pelo cachorro quente.
Se sentando, ele olha para mim.
—Olha, vai ser melhor assim, entende?
Franzo o cenho.
—Você de afastar. - ele completa o raciocínio para mim.
—Ah. - digo e concordo com a cabeça. - É, eu sei. - dou uma risadinha e balanço a cabeça sem acreditar na bizarrice daquela situação toda. - Tchau Kyle. - viro-me e lhe deixo ali sentado na grama.
Em toda minha vida, nunca vivi um momento tão esquisito e agora parecia que o cachorro quente estava entalado na minha garganta. Queria saber o porquê de eu não conseguir arrumar amigos bons. Por que Kyle tinha que aparecer na minha vida? Por que Chloé tivera que me levar naquele maldito bar no Brooklyn? Por que eu tivera que conhecer todas aquelas pessoas? Por que tudo aquilo aconteceu? Eram tantas perguntas...
E por que eu estava tão chateada por ir embora? Kyle me confundira desde o primeiro momento em que bati os olhos nele. Eu temia por mim pelo sentimento que eu estava tentando ignorar. Eu não podia permitir que ele aumentasse. Afinal ele mesmo me dissera que ele não era bom para mim. Ele o conhecia melhor do que eu - como Sean e ele próprio me disseram.
Enquanto eu andava pelo calçada de volta em frente ao campus da NYU, os pingos grossos de chuva começavam a cair sobre mim. Eu não me importaria de pegar chuva; nunca me importei.
O céu já está todo fechado, as nuvens aglomeradas formando um algodão grosso e grande carregado de água. Os pingos começam a aumentar, o cheiro de terra molhada começa a subir e o asfalto ficar molhado.
Não posso nutrir esse sentimento de jeito nenhum. Não posso. Isso vai acabar comigo.