Paciente 99 escrita por Elliot White


Capítulo 2
A Outra Eu


Notas iniciais do capítulo

Era pra ter saído antes, o capítulo, mas primeiro eu fiquei sem computador pq o bendito do dia pra noite decidiu não conectar mais a internet, acho que estava de tpm, ou o horóscopo dele dizia pra evitar a web, depois de voltar do conserto fiquei um pouco sem tempo e só agora postei mas pelo menos postei né!Boa leitura!



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Nenhuma novidade até agora que teriam racistas neste lugar, eles estão por toda parte. A doutora dissera que as pessoas loucas ficavam em outra área da clínica, quem sabe lá eu seria tratada melhor. Me levantei e encarei a mulher, não iria me rebaixar ao nível dela, mas também não iria ficar quieta sendo ofendida.

— Olha aqui, sua vadia louca... – comecei, sem saber se ela era louca, porém atestando que é uma vadia.

Fui interrompida por outra pessoa, um rapaz que surgiu entre os três, ao contrário da mulher e de seus amigos, que tinham aparência abatida como se fossem pacientes com um quadro agravado, ele parecia limpo e arrumado, e ficava mais bonito do que eu naquela roupa de hospital. Uma multidão de curiosos já se formava ao nosso redor.

— Deixem ela em paz. – Sua voz grave soou autoritária – deviam se envergonhar. Estamos no século XXI e uma faísca atrasada ainda é racista. Somos duas pessoas de outra cultura, vai encarar? Se não aguenta é melhor voltar para a Alemanha!

Seu discurso fez os três pensarem em uma resposta, enquanto lançavam as piores caras que tinham. Para mim pareceu preparado e muito resistente ao preconceito deles, talvez bem mais do que eu.

— Olha aqui japa, ninguém te chamou aqui. O seu pau inteiro não dá o tamanho do meu saco! – Um sujeito grande e barbudo, que acompanhava a racista, falou de forma ofensiva; se fosse em outra situação eu acharia engraçado, mas isso era sério.

A mulher de longos cabelos malcuidados estava quieta, no entanto parecia pronta para soltar mais veneno. O outro cara, branco como um papel e igualmente alto e barbudo, o interrompeu:

— Ei, os guardas estão aqui – disse, quando alguns seguranças da clínica surgiram, observando tudo de longe pelo amplo refeitório. Realmente isso aqui parecia a área social de uma prisão.

— Tiveram sorte hoje, mas isso não termina aqui – a voz feminina ameaçou, finalmente abrindo a boca de novo. Por fim os três se retiraram e foram embora, e eu suspirei aliviada.

— Você está bem? – O rapaz perguntou, mais alto que eu, madeixas negras, os olhos puxados entregavam sua origem oriental, como foi chamado. No entanto, sua pele era bronzeada, diferente de qualquer oriental que eu já vira. Quando falava também tinha o sotaque carregado.

— Sim, isso acontece o tempo todo, não se preocupe. – Respondi, sorrindo.

— É uma pena, mas comigo também é sempre assim. Me chamam de olhinho puxado, pastel de flango, e olha que eu não sou japonês, sou tailandês. É sério, eu não tenho pau de japonês— o moreno se pôs a falar sem parar, o que me fez rir sem jeito, principalmente ao ouvir a última coisa que ele disse – desculpe, estou tagarelando demais. Eu tenho certeza de que você não merecia ter ouvido aquilo.

— Meu nome é Victory— estendi a mão para um cumprimento, tentando ser gentil, assim que ele terminou, e o mesmo a apertou.

— Muito prazer, o meu é Tagrus. Mas pode me chamar de Tag. – O nome devia ser tailandês, de tão estranho.

Ok, Tag. – Respondi, se eu lembrasse de hashtag quando o visse, poderia lembrar mais fácil do seu nome. Nossa conversa foi interrompida pela doutora, que chegou cobrando:

Victory, está na hora. Precisamos ir até o seu quarto. – Exigiu a médica, em tom doce e esboçando um sorriso; e Tag se adiantou antes que eu saísse:

— O meu quarto é o 51! – Exclamou, um pouco ansioso. Ele falou como se estivesse dizendo seu número, porém estávamos em uma clínica e não podíamos usar celulares.

— Ah, o meu é... – Respondi.

15. – Margarete, a doutora, terminou por mim. Então, o número do meu quarto representava a idade de debutante, cuja festa eu nunca tive. Beleza.

*

— Quem era aquele garoto? Gatinho, não é? – Ela começou deixando sua planilha em uma mesa e fechando as cortinas da janela.

— O nome dele é Tag— respondi a minha médica, já deitada na maca.

— Parece nome de cachorro. – Provocou, desligando as luzes e se preparando para me deixar – Descanse agora, amanhã terá uma terapia, mas nada demais.

Logo eu adormeci, no entanto não foi um sono tranquilo, eu tive um sonho. Eu estava no mesmo lugar, o meu quarto de hospital, as quatro paredes pintadas de branco e o resto dos móveis e tecidos da mesma cor. Estava escuro por ser de noite, porém algumas faixas de luz conseguiam se inserir e iluminar um pouco para que eu visse que alguém estava parado na minha frente, um vulto, mas pela silhueta se tratava de uma mulher. A altura era a mesma que a minha.

— Você precisa pegar uma coisa no terapeuta amanhã. – A voz saiu feminina, confirmando minha suspeita, mas do que ela estava falando? Me ajeitei na cama para vê-la melhor, entretanto estava escuro demais. – Uma coisa que vai parecer estranha, deslocada do local onde você estará, mas vai estar lá, e você precisa pegar e guardar, Victory. – Ela continuou. Como sabia o meu nome, que sonho é esse?

— Quem é você? – Perguntei.

A moça se aproximou e eu pude ver o seu rosto, era igualzinho ao meu, e o cabelo batendo no ombro, em cachos compridos e escuros, tudo nela era idêntico a mim, até a roupa verde da clínica; ela seria um clone perfeito.

— Eu sou você. – Respondeu, séria e eu então acordei, ofegante.


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Notas finais do capítulo

Bom, vou falar sobre racismo. É coisa séria mesmo, pouco tempo depois de postar esta história eu presenciei um ataque a uma amiga minha, só que ela nem é negra, é moreninha, mulata, e a menina que fez isso, além de racista fez tudo virtualmente, as ofensas e se escondendo atrás de um perfil fake, e claro um monitor. O Brasil parece ser um país diversificado mas esse tipo de coisa ainda acontece não? Reflitam! Haha, e comentem, abraços.