Lar escrita por Miss Addams


Capítulo 3
Três




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Ela sabia que estava numa situação completamente ridícula, sentia as lágrimas escorrendo e devido a sua maquiagem forte, essas lágrimas deveriam estar numa cor preta e isso não devia fazer nada bem para a sua aparência, só que como poucas vezes na vida ela não se importava com sua aparência. Nem com os olhares das pessoas aterrorizadas ao vê-la passando. Parecia que lágrimas como aquelas estavam voltando a fazer parte de sua rotina, como a dor.

Conseguir se encontrar, implicava com que ela voltasse a si e isso era sinônimo de chorar por absolutamente tudo o que guardava por tanto tempo. O luto. A traição. A ausência. Ainda que depois de todo o efeito que a droga de ontem tenha passado e ter se sentindo fraca por ter que recorrer a isso, Megan não estava arrependida já que por fim, conseguia sentir uma pequena pontada de esperança surgir em seu interior. Nem tudo estava perdido.

O baque que sofreu por estar distraída e com a visão embaçada pelas lágrimas, foi forte e a fez desequilibrar em seu salto, olhou para trás pelo caminho que veio e viu um homem falar qualquer grosseria sobre ela estar no caminho dele. Olhou ao seu arredor, e viu uma viela entre alguns prédios baixos, andando até ali se encostou na parede.

:- Posso te ajudar, princesa? – Megan teve um sobressalto com a voz repentina e masculina. Levantou a cabeça e tirou as mãos do rosto para se abraçar num primeiro momento de proteção.

A julgar pela aparência do garoto e pelo sorriso maldoso nos lábios suas intenções eram péssimas. Todo o seu corpo estava em alerta e olhando para a viela não passava ninguém, parecia encurralada já que ele estava perto o suficiente para alcançá-la rápido se corresse. Respirou fundo e tentou manter a calma.

:- No. Thanks. – Ela disse mostrando nervosismo já que estava sem seus pertences, havia deixado tudo no hotel onde estava hospedada, se ele quisesse roubá-la, não teria nada para entregar.

:- O quê? – Ele ficou confuso e se aproximou mais dela.

:- Eu não preciso de ajuda, so sorry. – Ela falou agora se esquecendo de como tinha estudado para perder o seu sotaque americano, mas com o nervosismo não estava concentrada.

:- Gringa?! – ele alargou um sorriso que fez Megan começar a suar frio. – São as minhas favoritas. Da onde você é? Estados Unidos? Inglaterra? – Ele chegou mais perto curioso e pensando justamente em se divertir.

Megan negou com a cabeça não queria entrar no jogo dele, isso só a faria ser uma vítima mais fácil. Poderia tentar se defender, mas ele era claramente mais forte e tinha uma pequena faca na mão que só agora tinha reparado. Olhou para os dois lados, ninguém que estivesse perto o suficiente, estava justamente no meio da viela então se corresse até chegar no fim de qualquer lado ele já teria a alcançado, fora a desvantagem de que ele certamente conhecia o Centro do Rio melhor do que ela. Tinha que pensar. Mas, parecia ter a mente bloqueada pelo medo.

Megan negou novamente com a cabeça tentando pensar numa saída para aquela tensa situação.

:- Não o que? Eu sei que é gringa não só pela forma de falar como as suas roupas denunciam isso. – Ele agora estava tão perto pegou um colar que ela tinha e a encarou de baixo pra cima, com aquele olhar que a fazia se sentir um pedaço de carne e tinha o sabor do nojo na boca. – Você é patricinha também. Eu tenho uma relação de amor e ódio com meninas filhas de papai como você!

:- Olha não nos conhecemos. O que você quer? – Talvez negociação seja a melhor solução.

:- Depende. O que você tem para me oferecer? – ele riu.

:- Dinheiro. – Megan ficou séria e ele olhou nos olhos dela e viu que o medo que antes ela tinha estava menor, fora que o rosto dela estava sujo com rastro de maquiagem. Ela deveria ser muito rica, tinha uma sensação de reconhecimento familiar. Quem era aquela garota? – Posso te dar muito dinheiro.

:- Gosto muito dessa ideia. Eu quero tudo o que você tem aí.

:- Como pode ver não tenho nada comigo. – ela levantou as mãos para mostrar que não tinha bolsa. E ele imediatamente apertou a mão que tinha uma pequena faca esperando alguma reação dela, por menor que fosse. – Por enquanto. – Megan disse olhando a mão que estava armada respirando fundo tinha que ser racional ou não conseguiria sair dessa.

:- Podemos voltar para o hotel onde estou hospedada e pego todo o dinheiro que tenho e lhe entrego.

:- Eu tenho cara de otário? – Ele mudou de expressão. – Esta me falando um caô. Primeiro que eu não conseguiria entrar no hotel com você, segundo nesse meio-tempo poderia pedir ajuda e quem se daria mal sou eu. Agora, isso me da uma ideia melhor, uma boa opção. Sequestro!

Inevitavelmente os olhos de Megan se arregalaram com a possibilidade, já tinha sido sequestrada antes, nos Estados Unidos, lá o ato não durou nem horas porque seu pai a localizou antes mesmo da polícia e os sequestradores pegaram uma punição grave. Por mais que estivessem a procurando, ela não deixou com que a encontrassem, poderia ficar na mão desse bandido por dias e além do mais a polícia brasileira não se comparava com a americana mesmo se tratando de alguém como ela.

:- Você vem comigo. – Ele a puxou pelo pescoço, como supunha ele era mais forte que ela, nem que tentasse se defender conseguiria. A faca estava em suas costas apontada rente a pele dela branca. O nervosismo estava voltando a dominá-la, talvez tivesse mais chances se andasse mais um pouco e visse qualquer pessoa que poderia lhe ajudar.

Com mais alguns passos deles em frente à viela apareceu alguns operários de alguma obra. Antes que pudesse ter qualquer reação seu pescoço foi apertado, e agora estava a machucando, os homens em frente a eles estranharam a situação. Olhando de lado viu que o bandido, agora demonstrava sinais de nervosismo mesmo armado. Tinha que chegar mais perto assim teria mais chances.

Mais a fundo surgiu uma garota vindo pela viela estava sozinha e vinha na direção dela, por mais que estivesse distraída assim que seus olhos focaram na cena que tinha adiante ela parou de andar e encarou duramente tudo, imediatamente o bandido parou a imitando, ela olhou de novo e ele xingou baixo.

:- Jacaré? – A garota ruiva falou de longe, mas o suficiente para que elas escutassem. – O que você está fazendo? – Ela veio se aproximando e alertando o grupo de homens que estavam mais a frente.

Em alerta e o tal Jacaré soltou não só o pescoço de Megan era sua maior chance agora. Aproveitando que estavam parados, ela levantou a perna e pisou com o seu salto com toda a força que pode no pé do bandido, ele urrou de dor e acabou soltando ela por completo, num movimento rápido Megan se afastou como pode da mão onde estava a faca, ele tentou sem sucesso rasga-la.

Atrás de si Megan escutavam passos, mas tinha que lidar como o que tinha em frente tirou um dos saltos e colocando os dedos da mão no lugar que deveria estar os seus dedos do pé, e então usando como uma defesa acertou próximo a nuca de Jacaré, e ao ver que ele estava desnorteado deu mais algumas pancadas no rosto dele.

Com esses segundos foi o tempo do grupo de homens se aproximarem, esse também foi o tempo de Jacaré se afastar dando um empurrão em Megan para então correr na outra direção antes que ficasse encurralado. Dois dos operários correram tentando o alcançar, mas ele foi mais rápido.

Outros dois operários ficaram com Megan a ajudando a levantar e ver se estava tudo bem. Assim Eliza alcançou onde eles estavam.

:- Como você está? Ele te machucou? – Ela estava preocupada e olhou para Megan de cima a baixo.

:- Eu preciso de um tempo para respirar. – Megan disse olhando para todos a sua volta.

:- Perdemos ele de vista. – Um dos operários voltou. – Você está bem moça, ele te roubou ou te feriu?

:- Não ele não teve tempo de fazer nada. Eu não tinha nada para que ele roubasse e então ele queria me sequestrar.

:- Como ele conseguiu escapar da cadeia. – Eliza falou mais para si mesma. Negando com a cabeça. – Você precisa de cuidado.

:- Não se preocupe comigo.

:- Temos que chamar a polícia ele não deve estar longe. – Outro operário disse.

:- Não. – Megan recusou com a cabeça. – Não tenho nenhum tipo de documento agora comigo e preciso me acalmar. – Ela tentou fazer um coque com o seu longo cabelo loiro com isso Eliza olhou mais atentamente a ela.

:- Você não é a garota que encontrei outro dia na boate? – Teve que perguntar sem conter a curiosidade.

:- E você a garota perdida. – Megan tinha recuperado parte do seu humor, mesmo com toda a situação isso deixou Eliza completamente surpresa. Era ela mesma, a garota do banheiro.

 


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