Para Ter Você escrita por Giovannabrigidofic


Capítulo 6
Capítulo 5 - A calmaria que preciso




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Aquela semana estava sendo tensa para mim. Em todos os sentidos.

Eu começara os exames pré-inseminação, Sienna estava ocupada demais com suas solicitações cada vez maiores para catálogos e outros afins com sua carreira finalmente decolando; tanto que ela viajaria no dia seguinte para a França. Minha melhor amiga posaria com a Torre Eiffel e outra porção de lugares belíssimos.

De todo modo, minha rotina estava do avesso. Pelo menos, eu tinha conseguido conversar com os principais chefes da Reich, embora aquele trabalho não fosse meu. O que não fazemos para manter o emprego, a ironia da frase era nítida na minha mente. O que não fazemos por amar alguém.

Olhei mais uma vez para a vista da janela e senti um frio na barriga quando Sebastian estacionou na frente da clínica. Era a terceira ou quarta vez que eu ia lá, ele, a segunda. Eu havia ido na primeira vez acompanhada para vermos se eu estava saudável o suficiente para ter uma gestação segura. Os exames e recomendações se seguiram pelos dias seguintes até aquele, o da inseminação.

Sentados na sala de espera, falou:

— Você está nervosa.

— Não estou não.

— Ah, claro, posso ver.

Ele segurou minha mão - que a propósito, tremia mais que um liquidificador. Dei de ombros e a recolhi, escondendo-a dentro do casaco.

— Sr. e Sra. Dahmen?

A enfermeira, uma senhora já de idade, segurava uma prancheta, um sorriso largo no rosto cansado. Assentimos e rumamos até o escritório do doutor Robert, o médico que estava me auxiliando. Olhei para Sebastian pedindo uma explicação para o "Senhora Dahmen" e como resposta recebi um dar de ombros. Eu jurava ter passado as informações corretas, inclusive meu sobrenome. Mais tarde soubera que o plano da clínica estava sendo custeada por ele e sendo assim alguém não tinha se preocupado realmente em acrescentar o sobrenome dele.

Levantei e apertei a bolsa junto ao peito.

— Estão ansiosos? - indagou a enfermeira novamente.

Fiquei confusa.

— Sobre...?

— O bebê, ora essa! - ela riu. - Não é para isso que estão aqui jovens? A propósito, fazem um belo casal. Quantos anos de casados?

Aquele foi apenas o início. Algumas poucas perguntas saíram da minha boca e quase uma hora depois, eu estava dentro do meu casaco, livre de qualquer roupa e cheiro hospitalar. Na porta da recepção, a velha enfermeira nos parabenizou e disse que estava ansiosa para me ver ali novamente. Com um barrigão, óbvio.

(...)

Eu já tinha ouvido e lido várias coisas falando a respeito de ansiedade, da forma que ela podia te levar para o comum á depressão, reclusão e comer uma montanha de comida no almoço sem razão.

A questão era: Dapne Conley estava beirando ao pânico.

Faltava muito pouco para eu esgotar o tempo permitido e enfim fazer qualquer outra coisa senão olhar a minha barriga pelo espelho minúsculo do pó compacto, embora ainda não tivesse nada além de uma pequena protuberância exibindo que um ser abrigava-se em meu ventre. Ou podia ser gordura, vai saber.

Abaixei com pressa a blusa como se nada houvesse acontecido.

Não me apegar.

Não me apegar.

Não me apegar.

Não que essa fosse a questão - minha vida transbordava delas. Minha barriga estava doendo fazia um bom tempo e isso era preocupante, certo? Deveria ser. Mas eu já tinha pesquisado e era possível uma grávida sentir cólicas na gestação, mesmo sem estar em seu período.

O doutor Robert tinha me dado todas as recomendações desde os primeiros exames pré-inseminação ás primeiras semanas da gestação. Ele era muito gentil, tinha uma paciência de ouro para ouvir todas as minhas perguntas enquanto Sebastian mexia no celular, concordando as vezes com um "u-hum" ou "é, isso ai." Era nítido o quanto o pai do bebê estava envolvido. Duvidava sobre o destino que a criança teria com um cara tão ocupado com o trabalho e displicente em quesitos fundamentais. Ah!, claro, Não poderia me esquecer de acrescentar que ele ou ela teria uma mãe invisível, e Sebastian dizia que ela sabia do bebê e de mim. E a careta no rosto dele ao mencionar isso demonstrava que a namorada estava furiosa - ou perto disso.

Tudo bem, eu estava exagerando. Apenas sobre Sebastian, claro.

Ele parecia se importar, mesmo! Mas o trabalho o consumia tanto que a cada minuto da consulta precisava pedir licença e desculpa e atender o telefone. Eu precisava reprimir o ímpeto de abraçá-lo quando ele fazia isso; um sorriso triste preenchia seu rosto e a empolgação contida desaparecia num instante, dando lugar ao nervosismo.

O que era um alívio que me ajudava a suportar tudo era que a metade do dinheiro eu já tinha recebido. Tia Nick estava segura no hospital, passara pela cirurgia e estava se recuperando, lentamente, porém. E meu irmão podia procurar nossa prima Abigail pelos becos que ela se enfiava e a internar de vez num centro de reabilitação, trancá-la naquele lugar por tempo suficiente para voltar a ser a garota radiante e cheia de vida que demonstrava ser. O dinheiro já estava nas mãos de Mateo, que ainda parecia receoso sobre aceitar uma quantia tão alta; eu tinha dado uma desculpa e ele estava - ou parecia, ter aceitado - só faltava encontrar nossa prima.

Sentei na cadeira e voltei minha atenção para os papeis sobre a mesa. Apoiei minha cabeça na mão, o cotovelo sobre a mesa e expirei devagarinho, analisando cada número, cada possibilidade.

— Vai almoçar comigo hoje, boneca.

Freya escancarou a porta.

— Só quem pode chamá-la assim sou eu, projeto de gente. E a senhorita Conley vai almoçar comigo - disse Eric logo atrás dela.

— Não vai não.

— Vai sim.

— Não!

— Sim!

— Não!

— Sim!

— Sim!

— Não!

— Òtimo - ela sorriu vitoriosa. - Bobão. A Dapne terá o prazer de desfrutar de um belo hambúrguer na minha companhia.

— Parem de discutir como se eu não estivesse aqui - ralhei.

— Estávamos decidindo quem era o melhor. Mas não é preciso, todos sabem que sou eu - Eric alinhou o terno.

Revirei os olhos.

— Estou morrendo de fome. Vamos os três, juntos.

Eles se entreolharam e riram em seguida, concordando.

Juntei os papeis num canto e joguei meu celular dentro da bolsa, levantei num raio e por um segundo interminável tudo ficou preto, minha vista embaçou e precisei me apoiar em qualquer coisa para não ir ao chão. A cadeira de rodinhas não suportou a força que joguei nela e virou, batendo na mesa e me levando junto, não fosse alguém me segurar. Encoberto pelo mal estar latente e repentino, meu coração parecia dar cambalhotas e pulsar como nunca pelo susto.

Fechei os olhos com medo de ver que tudo ainda girava ao meu redor.

— Daff? Você está bem?

Engoli em seco e balancei a cabeça mas isso só fez a situação ficar pior. Apertei minhas pálpebras e levei minha mão até a cabeça.

— Quantas você bebeu hoje? No expediente! Que feio!

— Por favor, fala comigo, meine. Aconteceu alguma coisa?

É claro que aconteceu!! Eu estou grávida e acabei de ter uma vertigem no meu ambiente de trabalho!

— Freya, traga um copo de água e chame...

— Eu estou bem - balbuciei. - Não precisa chamar ninguém aqui, sério.

Segurando meus cotovelos, Eric me guiou até a cadeira e debrucei-me no braço dela até voltar a respirar normalmente e parar de sentir minha cabeça girando e girando, como se eu tivesse acabado de sair de uma montanha russa.

Peguei o copo d'agua estendido e dei um gole, o líquido escorrendo com maciez pela garganta.

— Nunca mais nos dê um susto desses! Quer ir ao médico? - Eric estava agachado ao meu lado, aflito.

— Já disse que estou melhor. Podemos almoçar agora?

Levantei sem pressa alguma e fomos almoçar numa lanchonete, por escolha minha. Eu não estava afim de ir comer num lugar requintado e não saberia lidar com outro mal estar num local de nível elevado, onde toda a alta sociedade me veria correndo que nem uma louca para o toalete. Ou expelir tudo no meio do restaurante. Fiquei dez minutos tentando me adaptar ao cheiro enjoativo dos lanches e optei por tomar um suco e um sanduíche, ouvindo o diálogo caloroso dos meus amigos.

(...)

O sol já invadia meu quarto quando eu estava sentada sobre a cama, ainda sonolenta. O gosto de bile subiu pela minha garganta e corri até o banheiro, jogando tudo o que eu tinha e não tinha no estômago dentro do vaso. Era a pior sensação do mundo. Parecia que tudo o que eu comera em toda a minha vida estava querendo sair.

Percebendo que já não sairia mais nada de mim, sentei-me no chão frio e recostei minha cabeça na parede, procurando apartar a forte dor na barriga colocando minha mão sobre ela.

Logo eu estava vomitando de novo e as cólicas se tornaram mais fortes. Com um mês completo de gravidez eu podia jurar que a pior parte do processo eram os enjoos matinais adicionados ás cólicas que vinham vezes ou outra a qualquer hora do dia.

Pendi meu rosto para o lado, trouxe minhas pernas ao peito e as abracei. Quando fitei meu reflexo no espelho vi uma Beatrice pálida e meio cadavérica, mas eu era suspeita para dizer, com certeza estava pior.

Deitei na cama e puxei os lençóis até o pescoço, abracei meus ventre, me mexendo o mínimo possível. A dor precisava passar.

Instintivamente levei as mãos á barriga e comecei a acariciá-la, murmurando palavras carinhosas e pedidos suplicantes para que o bebê fizesse sua parte e desse um jeito de aquietar-se ou fazer com que a dor diminuísse. E como se ele me tivesse ouvido, a dor foi gradativamente desaparecendo.

O telefone tocou duas vezes. Na terceira, pus-me de pé vagarosamente e apanhei o aparelho na bolsa do outro lado do quarto e atendi.

— Oi.

— Onde você está DAPNE CONLEY?! - era o berro inconfundível de Freya. - Tínhamos combinado de chegar mais cedo hoje, lembra?

— Tá.

— Tá? Eu vou até ai, e trazê-la pela orelha!

— Ok.

Suspirei e me aconcheguei na cama, meus olhos pensando.

— Sua irresponsável!

— É.

Ela bufou.

— Se você não chegar aqui em uma hora...

— Eu vou.

E desligou.

Não preciso dizer que me troquei, comi uma tigela de cereal e voei até a Reich. Freya batia os pés na entrada do prédio, ao lado de um dos armários engravatados. Conversamos um pouco, pegamos o elevador e discutimos pequenos detalhes sobre uma empresa de publicidade que seria responsável pelo novo produto que lançaríamos.

— Humm - ela murmurou, segurando o relatório. - Eles são bons.

— Pois é, Susan e Joe e sua equipe foram fazer uma vistoria na empresa. Se eles conseguirem montar uma propaganda boa, esgotar o chocolate será apenas uma questão de tempo.

Freya acompanhou Eric e passei o dia sozinha dentro do escritório. Tive sorte e precisei ir apenas uma vez ao banheiro vomitar meu almoço - salada de frutas e sanduíche de atum, coisas que me faziam lembrar de Sienna do outro lado do mundo, posando para uma revista, ganhando uma comissão maravilhosa e o rosto estampado num catálogo de perfumes - e sentir-me estranha por longos períodos.

No meio da tarde, Eric entrou na minha pequenina sala, fechou a porta e me encarou seriamente, me analisando. Voltei a digitar.

— Não está se alimentando direito, por quê? Parece que viu um fantasma. Na verdade, parece que você é a fantasma.

— Se quer saber, eu almocei.

— Mas não corretamente. Não quero perder uma funcionária e amiga para a anorexia.

Mordi o lábio.

— Não vai.

O alerta dele servira para que eu lembrasse do bebê. Não apenas isso, mas um desconforto também.

— O que foi? - Eric perguntou, sentando-se na cadeira na frente da minha.

Talvez tivesse percebido o meu franzir.

— Não foi nada. - tirei-me do foco da conversa. - Como foi com os australianos?

— Sebastian vai fechar contrato com eles. Finalmente estamos um passo á frente da ToppAkao. Suíços ridículos.

Ri.

— Mas garantir uma boa propaganda não quer dizer que o nosso chocolate é o melhor.

— Já comeu algum chocolate suíço?

— Não, mas...

— Então fecha a matraca. Até por que, você deveria estar nos apoiando, foi você quem deu a ideia do novo produto e conseguiu sozinha um tempo com a equipe de criação - sorriu sarcástico.

Dei de ombros.

— Foi apenas uma observação.

Ele se pôs de pé, passou a mão no terno amarrotado e desistiu de alinhá-lo ao perceber que não voltaria ao normal.

— Não se esqueça de comer, certo? - assenti. - Ainda não esqueci daquele desmaio. A reunião está agendada para quinta feira, á tarde.

Piscou e saiu.


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