Until the very great end escrita por SheWantsDraco


Capítulo 6
In this stupid war we play hard with our plastic guns


Notas iniciais do capítulo

Músicas: Years & Years - King
Hailee Steinfeld - Rock Bottom



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O coração de Henrique batia descontrolado dentro do peito. Ele olhava para a porta da casa dos sogros com medo do que a vinda dele até ali resultaria.  Tinha só passado no hotel que havia feito a reserva para deixar suas coisas e depois foi direto para lá. Também aproveitou para conferir se a reserva para o restaurante italiano estava de pé para as nove horas. 

Não demorou muito mais tempo e saiu, não tinha todo o tempo do mundo. Todo minuto do seu tempo era valioso. Mas foi surpreendido ao ser atendido pelo sogro. 

— Izabelly saiu. - Foi a primeira coisa desagradável que escutou do sogro desde que pousará em Miami e saber que Izabelly não estava em casa naquela hora da noite fez o coração de Henrique pular dentro do peito. Onde ela estava? Se isso fosse algumas semanas atrás ela certamente estaria definhando na cama. 

— Onde?

— E lá é do seu interesse? - Henrique nunca havia se dado muito bem com seu sogro, mas agora parecia que o homem a sua frente estava realmente mesmo forçando para que a situação ficasse longe de agradável. 

— Eu sou o marido dela. - Henrique falou firme frisando a palavra marido. Não que achasse que por ter esse cargo, teria alguma autoridade em cima da esposa. Isso nunca. Nem pensar. Mas ainda assim, era a verdade, ele deveria saber como as coisas estavam. Izabelly era sua família.

Era a única que lhe restará. O único pedaço de Leo que havia sobrado. Ele não permitiria pensar que o relacionamento dos dois havia sido construído unicamente por causa do pequeno Panda. Tudo bem que era grande coisa, um bebê, mas ainda assim, acreditava que o amor dos dois era uma grande coisa também. O suficiente para não deixar aquela situação assim.

Nunca abaixaria a cabeça pra ninguém e não seria a primeira vez que isso aconteceria com seu sogro, mesmo que ele olhasse como se fosse matá-lo. Por um momento lhe ocorreu que talvez Izabelly tivesse contado todos os acontecimentos para os pais.  E só por um mísero segundo - até se lembrar de que havia feito isso para o próprio bem da esposa - compreendeu o pai da esposa e pensou que talvez ele estivesse certo em agir daquela forma. 

De repente o homem parou e pediu dois minutos. Entrou na casa e voltou de lá de dentro com um envelope branco. Estendeu o envelope para Henrique que olhou confuso. 

— O que é isso? - Perguntou sem entender enquanto olhava para o sogro. Mas mesmo assim, aceitando o envelope. 

— Ainda bem que veio - O sogro sorriu quase que cínico - Me poupou de gastar com o correio. 

Sem demorar mais, o pai de Izabelly entregou o envelope para Henrique que tirou seu conteúdo. Olhou para os papéis sem querer acreditar. Aquilo era mesmo um pedido de divórcio? Já assinado pela parte dela? 

Era engraçado em ver como as coisas gradativamente desabaram sob seus ombros. Primeiro Leo. Depois Izabelly. E agora esse maldito papel de divórcio. Era como se ele fosse um rei, mas de repente, granizos caíssem do céu e destruíssem todo seu reino. Deixando-o sem nada. 

— Isso é um absurdo - Henrique disse tentando manter a calma, mas era óbvio que ele estava tremendo. - Tenho certeza que Izabelly não estava pensando direito. Onde ela está?

— Saiu. Mas você pode esperar aí se quiser. Não sei a horas que ela volta - Seu sogro não o convidaria para entrar. Claro que não. Com mais um suspiro, o pai de Izabelly se voltou para dentro da casa, fechando a porta na cara do genro que colocou o envelope em seu colo, ao se sentar na cadeira de veraneio. 

Henrique então esperou. E depois da espera das respostas de Leo no hospital, aquela tinha sido uma das mais longas de toda sua vida. Um temporal horrível caiu por toda Miami e apesar de ser protegido pela telha da varanda, ele sentia frio. E também, não demorou muito a ficar mais triste por olhar no relógio as nove em ponto e conferir que sua reserva no restaurante Italiano já não existiria mais. 

Tentou ligar milhares de vezes para Izabelly, para quem sabe, conseguissem chegar a tempo o suficiente para que eles não dessem a mesa para outro casal, mas pelo que havia parecido, ela havia trocado o número, deixando Henrique sem ter como se comunicar com ela. 

Nove e meia e Henrique pensou em chorar. Dez horas, pensou em voltar para o hotel. As dez e meia, refez a ideia e continuou a esperar e a chuva caia cada vez mais forte. Raios eram frequentes e mesmo tendo pavor de tempestades, Henrique continuava ali sem se importar com um futuro resfriado.

Então, quando o relógio bateu uma hora da manhã e a chuva finalmente parado, para o seu terror, Izabelly voltou. Mas não voltou sozinha. Um carro estacionou na frente da casa dela, e os vidros eram insulfilme, e  se não fosse pelo rapaz ter saído do carro para abrir a porta do carro para Izabelly, Henrique não teria se dado conta do rapaz querendo tomar seu lugar. 

De repente o envelope em seu colo pareceu pesar três vezes mais. 

***

Depois que o carro foi embora, Izabelly olhava aturdida para Henrique, querendo explicações do porque ele estava ali. Não imaginou que ele apareceria. Já tinha se passado tanto tempo que jurou que talvez ele tivesse realmente seguido de acordo com seus pensamentos. De que não havia significado nada. Mas agora ele estava ali, de pé, na sua frente, mostrando um envelope, e pedindo explicações.

Não era um envelope. Era o envelope. O papel que continha ali poderia mudar a vida dos dois para sempre. Poderiam por um fim no seu nome de casada. Izabelly Clark Sanchez não existiria mais. Tornando-se apenas Izabelly Clark. E pra ser sincera - ela nem se lembrava em como era ser Izabelly Clark.  A qual não amava o homem em sua frente com todo seu ser - a qual não amava o homem que havia lhe dado os melhores momentos de sua vida e que havia suportado todas as crises. Bom, pelo menos, até essa. 

— O que significa isso? - A chuva havia retornado, combinando com o estado de espírito dos dois adultos. Henrique estava tremendo por dentro. Não queria demonstrar fraquezas e talvez esse fosse seu pior defeito. Ele tinha que sentir. Demonstrar que sentia era o mais importante. Porque se você não demonstra, como a outra pessoa pode reagir em relação a tudo o que você faz? 

— Eu quero terminar - Não parecia um real querer. Tinha algo ali na voz dela, em que Henrique conseguia identificar um pingo de esperança.  Ele só precisava saber do motivo da esperança estar ali, e talvez, se descobrisse, poderia expandi-lo até que os dois estivessem bem novamente. 

— Izabelly - Ele mordeu os lábios. - Eu trabalho com fatos. Porque? 

E então ela não chorou, e falou firme,  forte. Pela primeira vez desde que Leo se fora, Izabelly conseguiu se impor contra seus próprios medos pelo simples fato de Henrique não merecer o seu silêncio. Ele merecia palavras, reais e concretas. Assim como ela própria merecia. Eram merecedores de verdades. De palavras completas. De sentimentos completos. 

— Você não diz! - Izabelly começou, um pouco atrapalhada no começo, mas conseguiu manter a situação sob controle. - Você não conversa comigo. Eu passei dias sem saber como você se sentia em relação a Leo. E eu não via você chorar. Eu tive tanto medo de que Leo não pudesse significar nada para você que por Deus, quando minha mãe e meu pai começaram a conversar comigo eu realmente achei que algo estava errado e aí aparece a minha colega da filarmônica e eu realmente achei que sabia o que você sentia. Eu preciso saber. Palavras, Rique. Consegue? 

Henrique rapidamente entendeu qual era o problema e agradeceu mentalmente por Izabelly ter identificado. Sabia que teria muito o que conversar com uma psicóloga e que talvez ter sabido desse problema com a ajuda de Izabelly apenas lhe faria economizar umas boas sessões de terapia. 

— Eu sinto como se meu coração tivesse sido arrancado a força do meu peito. E enquanto esteve fora o passaram a ferro. E depois, poucos aos poucos, colocaram-o novamente no lugar. - As lágrimas agora escorriam livremente pela suas bochechas. O tatuado tentou segurá-las em vão. Não se importou mais: Era sua esposa. Sua família.

O tempo todo sentiam como se estivessem brigando de armas de plástico. Quando a coisa realmente explodisse - fosse onde fosse, mas agora, em baixo de um temporal que caia sob Miami - eles apenas seriam quem sempre foram: A família um do outro. 

— Me sinto da mesma forma - Izabelly disse - Não sei definir qual o nível dos nossos sentimentos, mas é como se tivessem tirado Leo de mim de baixo dos meus olhos. Um dia eu estava lá, dando banho nele. E no outro, simplesmente foi embora. 

Os dois se aproximaram bastante. As respirações ganharam o mesmo metro quadrado. Henrique sentia-se que aquele envelope em cima da cadeira de veraneio não significava mais nada. Nunca havia se quer significado algo. Como poderia? Família não é algo que um pedaço de papel consegue separar. 

— Vamos fazer funcionar? - Era quase como uma súplica. - Eu fico aqui em Miami. Você terá seus pais por perto. Viajo para NYC apenas para verificar a empresa. - Era uma mentira, mas era uma mentira necessária. Ele precisava ver Augus, não podia falhar com o garoto. Sentia que se falhasse com ele, falharia consigo mesmo. - A gente consegue uma profissional pra ajudar a gente. Nós vamos conseguir.

E então ela o beijou para também dizer: "sim, nós vamos conseguir." O beijo começou calmo. E Izabelly lamentou pela quantidade de tempo em que ficou sem sentir o toque do marido. Se ambos estivessem ainda chorando, com certeza seria de alívio. Mas não havia mais espaço para lágrimas. Não podiam se render a ela, pelo menos aquela noite. Tinham uma vida inteira pela frente até o grande final. 

Aquele era o momento em que cumpriam uma promessa. E o beijo havia selando-a da melhor forma possível. 

Agora a chuva lá fora não representava mais nada que não fosse esperança, esperança e desejo de recomeçar. 

 


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