Until the very great end escrita por SheWantsDraco


Capítulo 5
You don't mess with love, you mess with the truth


Notas iniciais do capítulo

Música: On my mind - Ellie Goulding
Purprose - Justin Bieber



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Dizer que Henrique estava perturbado era pouca coisa para o que ele realmente sentia. Deixar Izabelly ir embora havia sido difícil. Difícil pra caralho se fossemos colocar a situação em palavras de baixo calão. 

O taxista tinha se tornado sua companhia nas caronas de volta pra casa. Seu carro? Ele tinha vendido. Com a cadeirinha do Leo e tudo. Não suportava mais olhar para o espelho retrovisor e ver a cadeirinha infantil ali sem ter nenhuma criança para fazer farra enquanto dirigia. 

E todo dia antes de voltar para a casa, o taxista o levava no mesmo lugar. Num orfanato de Nova Iorque. Nas primeiras vezes que foi até lá, jurava que estava traindo seu filho. Especialmente pela forma em que ele se sentia com as outras crianças ao redor. Olhando todas as suas tatuagens e perguntando sobre elas.

O taxista, tinha se tornado um bom velho amigo. 

— Quando conheceu esse lugar? - Henrique perguntou com uma criança em seu colo. O pequeno cochilava em um sono gostoso no colo do adulto tatuado. Tinham acabado de contar uma história para eles e algumas crianças tinham ido brincar, enquanto outras, resolveram ficar na sala mesmo desenhando. 

— Eu venho com minha mulher aqui sempre - Contou animado - Queremos adotar, mas eles nos acham velhos demais. 

Tudo bem que ele realmente tinha a idade para ser avô de uma daquelas crianças. Mas não era como se isso devesse importar. Henrique ficou em silêncio. Falar de mulher e filhos ainda era complicado. Seu coração tinha uma ferida que não via data para ser cicatrizada. Izabelly tinha ido embora há duas semanas. Leo há quase três semanas e meia.  Mas pelo o que havia ficado sabendo, tinha tomado a decisão certa. Izabelly estava se distraindo com o trabalho e aquilo era bom. 

Henrique estava realmente mal. Ele conseguia se distrair com o taxista, orfanato e odiava admitir que estava gostando do lugar, e especialmente da criança que havia adormecido em seu colo, mas ele sentia tanta falta de Leo e de Belly que parecia que seu peito acabaria explodindo.  Ele ainda amava Izabelly. Amava pra caralho. 

Talvez tivesse errado ter mandado-a para longe, e se sentia ainda pior por não ter conseguido se arrepender visto que ela agora fazia as coisas fora de casa e não vegetava mais. Henrique tinha brincado com a verdade que os cercava. E agora estava pagando pelo pato sozinho. Tudo bem que a culpa havia sido dele mesmo, a de tentar mentir, mascarar a verdade, mas ainda assim, era como se ele apenas estivesse.. Sobrevivendo. Sobrevivendo sozinho, mal sabendo que no mesmo instante, em outro lugar dos Estados Unidos - Em Miami - Izabelly apenas tinha se tornado uma pessoa conformada. Conformada que seu filho não voltaria e que o amor de seu relacionamento tinha acabado. Mal sabia ela que Henrique não tinha tocado um dedo para mudar seus sentimentos. A verdade sim. Mas o seu amor por ela?

Como poderia? Se era de longe a melhor coisa que ele poderia sentir? 

Na noite daquele mesmo dia, Henrique e Aaron marcaram uma saída para beber. Talvez porque Aaron soubesse do estado do melhor amigo e queria lhe dar esporro por ter tomado uma atitude tão imbecil. Aaron sempre sabia do que realmente acontecia com o melhor amigo.    

— Eu odeio isso - Henrique falou quando bebeu o segundo copo de cerveja. O bar tocava uma musica razoavelmente alta, por isso teve que elevar o tom de voz. -  Eu sou um imbecil. 

— Ah, eu sei disso!  - Aaron riu. Ele adorava saber das coisas. Tomou mais um gole de vinho e olhou para o melhor amigo que realmente parecia acabado, apesar de seus olhos terem ganhado um pouco mais de vida quando começou a visitar o orfanato. Aaron quase ficou tentado em perguntar o que era que havia feito com que ele parecesse melhor, quase perguntou se estava saindo com uma mulher, mas saberia se ia apanhar se sugerisse uma coisa absurda dessas.

Mesmo afastado, ele ainda não era divorciado.. 

— Você sabe? - Henrique riu baixo e perguntou realmente interessado. - O que você sabe? O que você pensa? Vamos, está de fora da situação. O que eu devo fazer? 

Se Henrique estava perguntando justamente pra ele o que deveria fazer era porque a situação estava mesmo ruim. Mal sabia que Henrique sentia uma falta absurda de sua esposa. E aquela falta - inclusive a de Leo - refletia em tudo o que ele fazia, falava, e pensava em futuramente fazer. 

 - Você sempre se irrita com o que eu penso - Aaron deu de ombros. - Sou seu melhor amigo, sei que ficou puto por eu ter te arrastado para o bar mesmo sem ter falado nada.

— Fala logo - Henrique sabia que Aaron acabaria falando de qualquer jeito.

— Casamento é a porra de uma instituição falida.  - Henrique olhou para Aaron como se ele estivesse ficando louco. Mas logo depois agradeceu por ele não ter falado sobre Leo. Falar sobre Izabelly já era ruim o suficiente e um bar não era o lugar certo para trazer o nome do garoto inocente a tona. - Quase pedi para minha prima contar a verdade pra Belly, mas daí me coloquei no seu lugar e vi que você fez com boa intenção. 

— E?

— E?

— E com isso é mais do que claro para qualquer um ver que você a ama e ela ama você apesar de no momento não parecer, porque vamos ser sinceros: nada pode ser comparado ao que ela sentia por Leo, portanto que se foda a porra de um contrato. Papel assinado nenhum pode medir o esforço que você faz pra manter ambos sãos desde que Leo se foi. Conquiste a sua mulher de novo não para salvar o teu casamento, conquiste porque você ama.

— Cara, - Henrique riu -Essa foi a coisa mais sem sentido que já falou.

E realmente tinha sido. Ele só tinha se apegado tanto com o orfanato que não sabia o que faria para conciliar duas coisas - continuar indo no orfanato  e reconquistar a mulher que ele amava mais do que tudo no mundo.  Fosse em Miami, fosse em Nova Iorque, fosse no Rio de Janeiro.

Fosse onde fosse.

Ele a teria de volta. 

***

Henrique comprou a passagem com o coração na mão. Comprou para voltar na quarta-feira, porque assim conseguiria visitar o orfanato sem deixar o pequeno Augusto na mão, o menino que havia se apegado. Augus era um menino que tinha medo de ser deixado sozinho por já ter passado por cinco lares adotivos com pouca idade e Henrique tremia só de pensar na possibilidade do garoto achar que o tatuado não gostava mais dele.

No entanto, comprou para voltar na quinta para Miami. Se tudo desse certo, ele precisaria mesmo dessa passagem de ida. Tudo na sua cabeça era um plano maravilhoso sobre refazer todos os seus primeiros encontros. Se ela havia se apaixonado por ele uma vez assim, porque seria diferente na segunda vez? Tudo bem que a maioria dos encontros havia acontecido no Brasil e a sorte era que Miami tinha as praias para que ele pudesse seguir de acordo com o roteiro, mas ainda assim, seria uma missão difícil. mas não impossível. Ele tinha um propósito e lutaria por ele.  

E o voo que deveria durar 3h30 parecia que havia durado o dobro. Parecia que seus planejamentos poderiam todos arruarem um jeito para irem a falhar a qualquer minuto. 

Foi difícil achar um restaurante italiano para marcar um jantar. Tinha sido o primeiro lugar que ele havia levado Izabelly para um encontro depois de terem saído da pedra do arpoador. Tinha sido um dos melhores lugares que Izabelly já havia ido. Talvez apenas pela companhia fantástica.  Izabelly estava no Rio de Janeiro para um concerto. Havia ficado um mês inteiro lá. E aquele mês havia sido o suficiente para que se apaixonassem. 

Os ouvidos de Henrique se encheram com a melodia maravilhosa que era ouvir Izabelly tocar um piano. Estavam sozinhos no auditório que a filarmônica praticava. Era um local gigante.  A pianista abriu os olhos e reparou que não estava mais só como achava que estava. Parou de tocar e se levantou do banquinho que estava sentada. 

— Quer sair comigo? - As palavras saíram de sua boca com firmeza. Era isso o que ele queria. Então, se era, porque pestanejar? Ele era direto. E por ter gostado disso, Izabelly aceitou seu convite. Henrique tinha conseguido entrar no auditório por causa de um conhecido que havia conversado no bar na noite anterior.  Ele tinha conseguido a pista de que ela ficava sempre ensaiando até mais tarde. 

Izabelly estava surpresa. Ela não havia pensado que o homem que havia conversado o tempo todo na noite anterior gostaria de repetir a dose. Normalmente ela achava que as pessoas achavam que sua voz era enjoativa demais. 

Marcaram de se encontrar na frente de um restaurante em Ipanema. E como era sempre bom estar ao lado de Izabelly, Henrique não viu o tempo passar. E o destino para o próximo lugar estava certo. Eles foram para a pedra do arpoador ver o pôr do sol. E enquanto o sol sumia no horizonte algo novo nascia ali: um propósito que Henrique jamais achou que poderia ter.

O cheiro do mar, e a praia, todo aquele clima fazia com que os dois tivessem a sensação de algo nascendo. Era como se estivessem sentindo o gosto da vida pela primeira vez. As mãos de Henrique na cintura de Izabelly, as mãos dela em seu couro cabeludo, trazendo o rapaz mais para perto de si, como se tivesse medo que ele pudesse escapar e subitamente ir embora. Henrique até poderia rir se ouvisse os medos da garota em voz alta: a ideia de ir embora daquele abraço tão reconfortante apenas parecia insana. 

Foi a partir daquele beijo, daquele encostar de lábios ardente e cheio de desejo, que tudo começou. 

Henrique conheceu-a por ter amigos em comum com um dos muscitas do concerto. Bastou uma noite em um barzinho em copacabana para que a sementinha da mágica estivesse plantada. A atração que os dois sentiram um pelo outro foi quase imediata e o amor, veio logo depois. Depois de um mês intenso. 

Seria basicamente impossível recriar o cenário da Pedra do Arpoador. Mas ele tinha uma outra missão para o segundo encontro, que seria quase o mesmo sentimento. Recriar o melhor pôr do sol que já passaram juntos. 

Saindo do aeroporto de Miami com um aparto no peito, torcendo para que tudo desse certo, Henrique pegou sua mochila de costas e encaixou em um de seus braços, saindo confiante do aeroporto.

Ele tinha um propósito e lutaria por ele. 

De novo.

E por mais quantas vezes fosse necessário.

 


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