Manual de Uma Adolescente Grávida escrita por Baby Boomer


Capítulo 12
Dica 12 - Privacidade


Notas iniciais do capítulo

E AÍ? Alguém sente cheiro de casamento? Hum...
Espero que gostem.



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POV Katniss

— Você não tá achando seu trabalho? – Peeta sussurrou.

— Não! Eu… eu pensei que tinha botado aqui e…

Peeta fazia aula de Biologia comigo e era a única aula em que nós tínhamos pegado o mesmo horário.

A professora olhou fixamente pra mim, porque eu era a única que ainda não havia entregado a porcaria, e não demorou para todos fazerem o mesmo, me azucrinarem com os olhares curiosos. Era tão humilhante a situação toda que desatei a chorar contra as mãos.

— Katniss, está tudo bem – Peeta tentava me reconfortar.

— Senhorita Everdeen, venha comigo até o corredor, por favor – a professora pediu, fria como sempre.

Eu assenti e fui, passando pelas pessoas que me julgavam dos pés à cabeça. Assim que cheguei no corredor caí no chão com as costas apoiadas na parede e os cotovelos no joelho, chorando com soluços. A professora, mesmo tendo seus cinquenta anos, se sentou ao meu lado brandamente e tirou minhas mãos do rosto para segurá-las.

— Desculpa, professora, eu… eu jurava que tinha colocado na mochila, eu…

— Desculpar-se? Por ser mãe? Você não devia pedir desculpas por isso, Katniss.

Eu nem sabia que ela sabia meu primeiro nome e o gesto me espantou. Por que ela estava sendo tão compreensiva?

— Os homens, eles… eles não entendem às vezes como é estar no nosso lugar. Sentimos a obrigação de cuidarmos totalmente dos nossos pequenos porque passamos 9 meses com eles dentro de nós, e por isso pensamos que eles são apenas nossos. Mas não tem nada de errado em deixar os homens fazerem um pouco do nosso trabalho.

— Mas eu deixo Peeta ser pai, eu deixo! Só que Noah passa mais tempo comigo, eu sou a mãe dele, eu que passei noites e noites procurando posição pra dormir, eu que fiquei parecendo um planeta, chorei quando meu filho chorava, tentei dar de mamar…

— Viu só? Tudo você. Não deixe Peeta fazer apenas as coisas do segundo plano, não é saudável. Agora se levante, vamos.

Eu assenti, concordando, e me levantei fungando.

— Você é uma moça linda e tem muito futuro pela frente, mesmo detestando minha matéria.

Corei imediatamente e ela riu.

— Não dá pra ser ótima aluna e ótima mãe. A gente precisa escolher um dos dois.

— Ótima mãe, é claro – respondi de imediato.

— Então pronto, não se preocupe com o trabalho.

— Vai baixar minha nota? – perguntei receosa.

— Vou supor que você fez o trabalho com Peeta. – E sorriu.

A creche de Noah me ligava, mas eu não podia atender dentro do refeitório por causa da barulheira, então tive que sair pelos fundos, onde tinha uns banquinhos  e um jardinzinho que ninguém se importava em usar.

— Ele mordeu um coleguinha de classe? Ele levou pontos? Meu Deus! Não, tudo bem, eu falo com ele quando eu sair da escola. Olha, liga pro pai dele, é ele quem vai buscar. Eu não sei se verei Peeta antes de chegar em casa, temos aulas diferentes e… nem sei porque eu tô te contando isso, na verdade. Tá bom, tchau.

Foi isso que Cashmere ouviu da minha boca. Eu só percebi que ela estava ali quando ela fungou.

— O quanto você não está bem? Porque definitivamente não está bem – falei, sentando no banco ao seu lado. – E não adianta me mandar embora.

Ela apenas me entregou um teste de gravidez que dizia positivo.

Eu suspirei.

— Tá tudo bem – falei com tranquilidade. – Isso é uma coisa que tem jeito. Só não há jeito pra morte e pro fedor do cocô de um recém-nascido, mas fica calma. Respira devagar, você está ficando azul! Respira comigo.

Ela respirou comigo por mais ou menos dois minutos e conseguiu parar de chorar.

— Eu não sei o que eu faço – ela disse.

— Você tem três opções: ficar com esse bebê, abortar e dar para adoção; mas não precisa decidir isso agora.

— É que… – ela riu toda irônica. – Você vai me achar uma tremenda vadia, uma puta nojenta e sem noção.

— Foi exatamente assim que eu me senti quando descobriram que transei com meu primo, então vai em frente que eu aguento. Incesto já é fichinha pra mim.

Ela pôs os cabelos loiros para trás das orelhas e olhou pro chão envergonhada.

— Esse bebê pode ter cinco pais, Katniss, e dois deles, os que eu acho mais prováveis por causa da data da fabricação, são Gale e…

Eu já estava gelada.

— Ai meu Deus! Gale e meu irmão, Gloss. Pronto, falei.

Senti um enjoo tão forte nesse momento que ou em engolia o vômito ou eu botava pra fora, mas o jato veio tão repentino que preferi a segunda opção.

— Viu só? Nojento, né?

Realmente… eu nem queria encostar naquela garota, só de pensar que ela havia transado com meu ex-namorado…

— Olha, Cashmere – minha voz era trêmula e incerta. –, a tua situação deve ser bem pior que a minha, mas o que eu posso te dizer é que pense bem antes de fazer qualquer coisa. Antes de tudo, faz um teste de DNA com Gale, pra ninguém desconfiar que você transou com seu irmão.

— Se esse bebê for do meu irmão, eu juro por Deus que mato essa criança, tiro ela daqui com minhas próprias mãos, se necessário. Eu não queria fazer aquilo com ele, mas ele me ameaçou, disse que ia dedurar pro meu pai que eu roubava dinheiro de casa pra comprar drogas e, ai meu Deus, tenho nojo de mim mesma.

Eu apenas suspirei.

— Então vamos torcer pra esse bebê ser do Gale ou de algum dos outros.

— Se for do Gale eu vou ser mãe solteira, Katniss, eu vi ele beijando Madge hoje de manhã. Ele nem se lembra mais de mim.

Eu ri. Safada, não me falou nada.

— Você está enganada, Cashmere. Gale é uma boa pessoa, ele mudou muito e até é padrinho do Noah, eu confio muito nele com meu filho, ele sabe cuidar de crianças e as adora. Ele adoraria ser pai. Ele pode não ficar com você, mas dá pra ser pai desse jeito.

— E deixar a criança ser objeto de disputa. Cresci assim minha vida inteira e não quero que meu filho cresça assim também. Meus braços só faltavam quebrar, de tanto puxa-puxa. No sentido figurado, é claro. Minha mãe de um lado, meu pai de outro… acabou que meu pai foi mais forte e eu fui pro lado dele, mas meus braços ficaram quebrados.

Segurei sua mão gelada com a minha enluvada.

— Então cabe a vocês criar um bebê com braços flexíveis. Vocês podem fazer funcionar, Cashmere.

Ela me olhou temerosa e suspirou.

— Você pode falar com Gale por mim?

— Cashm…

— Olha – ela me cortou. – Eu sei que você não me deve nada, sei inclusive que eu tenho saldo negativo com você e eu sinto muito, mas eu já estou pagando na mesma moeda. Por favor, Katniss, me ajuda.

— Tá, tudo bem, vou convencer ele a fazer o teste de DNA.

— Obrigada – ela disse e eu tirei as luvas.

— Mas por enquanto, cuide desse bebê e não faça nada imprudente, tipo correr o risco de perder os dedos das mãos por causa desse frio. Toma.

E dei minhas luvas a ela, rapidamente entrando no refeitório quentinho e indo achar Gale para uma conversa de gabinete de limpeza. Era ali que entrávamos para namorar na escola, mas agora era só pra conversar.

Apesar do choque, Gale aceitou bem o lance do DNA, afirmando que eles dois não estavam prometendo exclusividade, mas ainda assim questionei a escolha de garota que ele fez. Dizia ele que foi só por diversão.

— Aham… e com Madge foi só diversão também? – perguntei, fuzilando seus olhos também cinzentos.

— Tá com raiva? – ele riu.

— Claro que eu estou com raiva! Minha melhor amiga foi beijada por um cara que transou com Cashmere e sem proteção. Sabe que a gaiola dela não é aberta, né? É escancarada!

Meu celular começou a tocar.

— Parece que seus novos amigos querem falar com você – ele disse todo engraçadinho.

— Ah, gracinha! – sorri. – Cala a boca, ok? Diz, Cato.

— Mulher do céu, Katniss, diva dos paranauê, tu não adivinha! – era Clove, na verdade.

— Você ligou só pra gastar os créditos do Cato porque acha de novo que ele deu em cima da funcionária do Walmart? Já não espionamos o bastante por trás das prateleiras não? Acho que nossa conclusão foi translúcida de tão clara. Ele não tá te traindo, A Orfã.

— Não, sua besta, presta atenção! Conseguimos assinar o último papel de legalização da sorveteria! Agora é só comprar tudo e praticar!

— Ai meu Deus! Não acredito!

Comecei a dar tapinhas em Gale, de tão animada que eu estava.

— Riquíssimas, querida, riquíssimas! Já contei pra Madge e espero que conte pro Peeta, se o encontrar.

— Gale beijou Madge hoje!

Meu ex quase toma o telefone da minha mão.

— E ela não contou pra gente? O que sugere de vingança? Gelo na calcinha ou susto durante o banho?

— Susto durante o banho com gelo. Tu grava por mim, porque eu não vou poder ir, tenho um jantar executivo hoje à noite.

— Minha neta linda, está tão grande! Olha só isso! E Peeta… nossa, como você está charmoso? Onde está o meu bisneto? Vocês mal falaram dele pra mim, só sei que nasceu.

— Noah? – chamei e ele largou a mão da minha mãe para correr até mim, amarrotando o smoking. – Venha dar oi pra sua bisavó.

— Oi – ele disse sorridente.

Vovó ficou conversando com ele enquanto Peeta e eu cumprimentávamos os nossos tios, que olhavam feio para nós dois. Já sabiam que éramos um casal porque nos viram na TV e descobriram dos nossos vídeos, e aqueles fuzilamentos me irritavam, porque eles eram da família e deviam entender, não repreender e julgar.

O jantar começou e Noah foi colocado em uma cadeirinha de criança, com direito a babador gigante e tudo. Felizmente, eu e Peeta nos lembramos de colocar seus talheres de criança dentro da sua bolsa e… ai meu Deus!

— Oi, negada! – Clove chegou falando.

— Não convidaram a gente, mas a gente soube do jantar e vamos ficar por aqui mesmo, só que em outra mesa pra não atrapalhar vocês – disse Finnick.

Nossos tios e primos mesquinhos olharam estranho.

— Vocês estão fazendo o que no restaurante mais chique de Denver? – Peeta murmurou, quase em um sussurro.

— Aniversário mensal de criação do H&M, macho – Cato comentou. – Tínhamos que comemorar com vocês, não importa onde estivessem.

Peeta e eu nos entreolhamos receosos mas depois começamos a rir que nem loucos. Aquela noite seria uma tremenda bagunça.

— Katniss – um tio meu pigarreou. – Por que não nos conta como cria Noah?

— Bem, eu deixo ele dormindo na varanda enquanto neva, dou leite estragado… deixo ele bater nos coleguinhas de sala… boto a fralda ao contrário e, ah, boto a cueca na cabeça. – Franzi o cenho, deixando-o irritado e envergonhado. O resto dos meus tios riram da minha ironia.

Então foi a vez da mulher dele falar.

— Claro que sabemos que vocês cuidam das necessidades básicas dele, mas… é difícil ser boa mãe quando se tem o bebê aos quinze anos. Digo… não se está madura e preparada o suficiente, muitas vezes adolescentes nessa idade não sabem nem que profissão querem seguir. Acho que foi esse o sentido que seu tio quis impor ao perguntar como cria seu filho.

Meus pais me olharam em advertência, mas eu deixei a raiva subir à cabeça até sentir minhas orelhas queimarem. Eu provavelmente estava ficando vermelha.

— Aos dezessete, eu com certeza crio meu filho de um jeito muito melhor que vocês, aos duzentos, criam seus filhos, porque eu tenho certeza de que se vocês os criassem bem eles não estariam com essa cara de nojo para mim e Peeta. Olhar para mim não vai me fazer ter sexo (sussurro) com vocês também não, podem ficar tranquilos.

Peeta me deu um beliscão, mas continuei a deixar minha tia boquiaberta.

— Eu sou uma boa mãe porque ensino o meu filho a falar pelo menos um bom dia e boa noite para as pessoas que falam mal dele e dos pais dele pelas costas, então eu mantenho meu comentário a respeito de vocês. Podem me achar uma vadia — tive que sussurrar a palavra para que Noah não ouvisse. –, mas se convivessem comigo veriam que não é bem assim. Então, antes de falarem e cochicharem sobre nós, nos conheçam.

Me levantei abruptamente e vi que meus amigos, já na outra mesa, aplaudiam com os dedos para mim. Ignorei eles, tamanha a minha irritação, e fui correndo até o banheiro. Minha mãe me alcançou poucos segundos depois e agarrou meu braço com força.

— Me solta! – reclamei.

— Você vai ficar de castigo por duas semanas, mocinha! Que papelão foi aquele, hein? Merecido? Talvez, mas você foi muito mal-educada.

— Castigo? Não pode me castigar!

— Por quê? Porque agora é mãe? Ainda age como criança, Katniss, então merece punição de criança. Passa o celular.

Bufei e joguei o celular na mão dela com toda a força, porque minha raiva já estava a mil.

— Katniss! – ela repreendeu de novo por causa do meu gesto abrupto. – Quer castigo maior?

— Mãe, isso nem é castigo. Eu não tenho tempo de mexer em celular a não ser que seja pra filmar pro H&M, só vejo Peeta na escola e quando é pra ficar com Noah, nunca saio de casa para festejar, não consigo assistir mais televisão… a não ser que seja Peppa Piggy, mas isso não conta. Quando eu digo que não pode me castigar, é porque realmente não há como me castigar, minha vida é um saco, sem sal…

Ela suspirou.

— Tudo bem, vai ficar com seus amigos um tempo, vai… não quero seu mau-humor na mesa. Quero que fique feliz para o ano-novo, apesar de eu achar que você vai ficar bem feliz nesse dia…

— Hein?

— Nada não, vai…

E eu fui, fui ver Finnick colocar duas batatas fritas na boca como se fingisse ser uma morsa, além de bater palmas que nem foca. Glimmer riu tanto que vomitou na mesa e Annie bebeu suco com vômito sem nem perceber. Marvel sujou a cara e o olho de Clove com molho de pimenta malagueta e a coitada ficou esperneando com dor… E claro… Madge filmava.

— Mad, me dá isso! – pedi a câmera e virei para ela. – Me conta por que beijou Gale?

— Sabe que eu posso editar isso, né? – ela disse e eu apenas assenti. – Bem, se eu posso editar posso falar sem medo… Ele tem sido um fofo comigo, atencioso e respeitoso. Eu acho que estou apaixonada e ele me surpreendeu com aquele beijo e… ai, foi legal…

— Quer que eu durma com você hoje? – ele perguntou para mim, tirando o smoking e colocando o pijama na mão com uma cara maliciosa.

— Peeta, eu acho que Noah já é grandinho o suficiente para lembrar dessa cena. Se quiser dormir aqui tudo bem, mas nós não vamos… enfim, acho que você entendeu.

— Não, você tem razão. – Ele se aproximou de mim e me puxou pela cintura. – Foi por isso que eu já pesquisei uns imóveis e já contratei uma corretora para nos ajudar. Precisamos colocar Noah num quarto só dele pra gente poder ter o nosso. 

Lição do dia: lute contra as probabilidades.


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Notas finais do capítulo

Quem tá sentindo cheiro de casamento comenta isto --> o/
COMENTEM, VIU? Quero saber do olfato de vocês!



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