Depois de sairmos de casa a Rhoku me levou até uma de suas passagens secretas e me entregou uma armadura de Whiter para vestir. Depois de colocar a armadura nós subimos por um túnel estreito até sairmos atrás de um velho quadro pendurado na parede.

—Não é arriscado ter uma passagem dessas aqui? –Pergunto.

—Ninguém mexe nesses quadros há séculos. –Ela coloca o quadro de volta no lugar. –Precisamos ir antes que as pessoas comecem a acordar.

Ela começa a me guiar pelos corredores. A estrutura de fora pode até ser feita de obsidiana, mas o interior é feito de tijolos negros que deixam o ambiente bem mais escuro do que realmente é.

Um soldado aparece na curva do corredor e começa a vir em nossa direção.

—Oque nós vamos fazer? –Pergunto meio aflito.

—Aja naturalmente. –O soldado passa tranquilamente e nós continuamos o caminho até um quarto vazio no dormitório dos soldados. –Entre e feche a porta.

—Esse é o seu quarto? Chique.

—Como assim? Nunca viu o quarto de uma garota?

—Não é isso, eu esperava que fosse um quarto enorme com uma cama enorme e cheio de coisas enormes.

—Você é estranho. –Ela se joga em sua cama. –Oque você planeja fazer?

—A besta do Skel deve estar no arsenal, vamos começar por lá.

—Já é um inicio. –Ela se levanta e ajeita o seu vestido. –Vamos aproveitar e ir lá.

Ela caminha até a porta e a abre. –Peguei!

—Ahh! –Uma garota pula encima da Rhoku. –Para, Hiffe! Isso faz cócegas!

—Esse é o troco por você ter sumido ontem. –Ela olha para mim. –Quem é esse?

—E-Esse é o...

—Steve! Me chamo Steve.

—Steve, é...? Você não estava me traindo, estava?

—Que?! Pare de dizer besteiras e saia de cima de mim!

Depois de esclarecer o mal entendido a garota se apresenta a mim. –Desculpa pela bagunça. Me chamo Hiffe, Terceira tenente, membro do quinto pelotão e noiva dessa gracinha aqui. –Disse ela passando o braço por detrás da Rhoku e a puxando para perto de si.

—A-Agora que vocês se conhecem eu poderia respirar um pouco? –Pergunta Rhoku sarcasticamente.

Hiffe solta a Rhoku, mas continua a implicar com ela com algumas brincadeiras. Não posso julgá-la só pela aparência, mesmo com esse jeito bobo e brincalhão ela ainda emana uma aura de puro poder.

—Eu sei que o momento é divertido, mas nós já estávamos de saída. –Digo pra tentar afastá-la da situação.

—E aonde vocês vão? –Pergunta Hiffe.

—C-Comer! Nós íamos ao refeitório! –Disse Rhoku no desespero.

—Que coincidência, eu ia chamar você justamente pra tomarmos café juntas. –Ela vai até a porta. –Vamos logo!

Rhoku e eu nos entreolhamos e saímos do quarto em direção ao refeitório. Chegamos lá, pegamos a comida e nos sentamos em uma das mesas vazias. A comida da Rhoku é tão superior a que a Hiffe e eu ganhamos que me deixa com vontade de ser da família dela só pra poder comer.

—Então... Como vocês se conheceram? Parecem bem íntimos. –Perguntou Hiffe fazendo a Rhoku engasgar.

—N-Nós nos conhecemos quando crianças, mas ai ele se mudou para o setor três e nunca mais nos vimos. –Inventou Rhoku.

—Amigos de infância? Uh... Aposto que naquela época você não imaginaria que ela gostava de garotas. –Disse Hiffe me provocando.

—Se você não aparecesse naquela hora eu provavelmente nunca saberia. –Digo pra continuar com o disfarce.

—Não diga coisas estranhas ao Steve, Hiffe! –Gritou Rhoku que já estava vermelha como um tomate.

—Foi você que nunca havia me dito que tinha um amigo de infância. A propósito, Steve, por que você não tira o seu capacete? Deve ser difícil comer usando ele.

—É que... Eu meio que... Pode rolar um ataque a qualquer hora e é melhor já ficar preparado desde já.

—Então você é um soldado dedicado? Isso é bom de ouvir. –Ela pega seu copo de leite e bebe tudo de uma vez só. –Se houvesse um ataque agora eu sairia pra lutar de camisola e tudo. –Ela disse rindo, mas deu pra sentir uma ponta de verdade nessa declaração.

—Só você é maluca o bastante para isso. –Disse Rhoku.

—Eu só faço o meu dever. –Ela arranca um pedaço de pão. –Se você havia se mudado pro distrito três oque o trouxe aqui? Não me diga que você veio se declarar pra minha Rhoku!

—Nem longe. Eu... Eu fui transferido pra esse setor e começo a trabalhar em alguns dias.

—Sério? E pra qual pelotão você foi transferido?

—Ainda não me disseram.

—Espero que seja no meu, assim eu poderia te contar umas coisinhas sobre a Rhoku que te deixariam de queixo caído.

—Que tipo de coisas? –Pergunto pela curiosidade.

—Tipo jeito que ela geme quando eu faço...

—Não diga essas coisas a ele!!! –Gritou Rhoku pulando por cima da mesa e derrubando a Hiffe no chão.

—Desculpa ha ha ha... –Hiffe ria como se o mundo fosse acabar. Nós terminamos de comer e entregamos os pratos de volta à cozinha.

—Nós não queremos atrapalhar o seu trabalho então nós já vamos. –Disse Rhoku.

—Que papo é esse? Hoje é meu dia de folga e eu queria passá-lo com você.

—Eu tinha me esquecido... Mas é que... Eu havia prometido ao Steve que mostraria esse setor a ele.

—Não tem problema, eu vou com vocês e quando acabarmos a gente vai para o quarto e...

—Certo! Certo! Não precisa ficar dizendo essas coisas aqui. –Disse Rhoku tapando a boca da Hiffe com as mãos.

Nós passamos o resto do dia andando e conhecendo aquele setor da fortaleza. Visitamos novamente os dormitórios, vimos a bagunça que era o quarto da Hiffe, fomos aos postos de vigia, até a sala de mapas, observamos o treinamento de alguns soldados e por fim fomos ao arsenal. Depois de procurar, disfarçadamente, a besta do Skel, Rhoku e eu chegamos à conclusão de que ela havia sido levada pra outro lugar.

Eu me aproximo da Rhoku e cochicho em seu ouvido. –Eu vou ter que dormir aqui? Já está anoitecendo. –Digo.

—Calma, tem um quarto que você pode usar. Vá até o final do corredor do dormitório e escolha uma das portas sem numeração. Eu escolheria a terceira porta a direita, mas você pode escolher qualquer uma.

—Certo.

—Oque vocês estão cochichando ai atrás? –Perguntou Hiffe desconfiada.

—Nada não, Steve disse que está ficando com sono e me perguntou se ele poderia ir à frente.

—É claro que ele pode. Quanto mais cedo ele for mais cedo nós ficaremos sozinhas.

—Você pode parar de fazer piadas sexuais com todo tipo de situação? –Digo.

—E daí? Sexo é bom e eu gosto. –Ela coloca o braço no ombro da Rhoku. –Principalmente se ela estiver envolvida.

Rhoku olha envergonhada para o chão enquanto Hiffe ri da reação dela. Eu vou saindo aos poucos até que finalmente nos separamos.

—Se não me engano o quarto era o... Um, dois, três! Achei. –Eu adentro o quarto que a Rhoku me indicou e fecho a porta calmamente pra não chamar atenção. No quarto havia vários edredons estendidos no chão como uma cama, além de algumas roupas que pareciam ser da Rhoku. –Que bagunça! Oque elas fazem nesse quarto? –Uma imagem das duas me vem à mente e logo a bagunça para de ser um mistério. –Eu estou muito cansado pra me importar.

Eu retiro a armadura, me deito sobre os edredons e me cubro com um deles. Não parece que a Rhoku dorme aqui com muita frequência já que o cheiro dela nos edredons não é tão forte. –Curtindo a missão de espionagem?

—Brine! –Eu levanto com o susto e bato com a cabeça na parede. –Ai!

—É oque dá ser descuidado. –Ele vai até um canto do quarto, pega uma cadeira de madeira e se senta a minha frente. –Precisamos conversar.