às vezes a gente se larga
com medo de agarrar
os problemas 
e paranoias
que insistimos em alimentar

sempre confusa
reclusa
prefiro me excluir
mesmo que só queira um carinho
ou um abraço
fugir
fluir
deixar o ano seguir

é que na verdade não importa

expectativa
esperança
preenchem nossas almas
nossos corações
mas o tropeço machuca mais
quando elas escorrem pelas mãos

pelo córrego vão dissolvendo
e pelos olhos escorrem
perdemos a fé que depositamos
e a tristeza nos consome

fico quieta 
tentando ignorar a gritaria
que dentro de mim habita
e lentamente 
fez moradia

só travo
me guardo
me irrito
me estrago

não atendo ligações
só me atraso
diminuo meu passo
perdida em destroços
de um longo passado

o que importa afinal?
sempre tentei descobrir

buscando dentro de mim
um propósito
desde o momento que acordo 
até a hora de dormir

não há
me vou
não vá

sempre fui um mistério
é assim que me definem
ao tentar entrar

na minha rua
no meu mundo
na minha sala de estar

no meu porão
mais obscuro
se assustam
absurdo

instável
difícil de ler
meio estranha
porém gentil
só queria se esconder

dizem isso de mim
e eu só sei duvidar
nunca quis mascarar
nem ao menos encenar

só queria me ser mais
sem medo de me queimar
e derreter
até sangrar