Cristal escrita por Mia


Capítulo 26
Capítulo 25 - Exilados


Notas iniciais do capítulo

Olá Gasparzinhos!

Foi por um tris que não exclui a fic, mas cá estou eu trazendo mais um capítulo eletrizante pra vocês, ou assim espero.

Para as leitoras que deixaram o E-mail, bem, depois de repensar percebi que Cristal já está se encaminhando para o fim, por isso vou postar os últimos capítulos e, se ainda quiserem, envio o pdf para o email de vocês, e de mais alguém, se pedirem, mas me deixem saber ok

Agora divirtam-se



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Já era noite quando Lana acordou e sentiu os dedos de Thor passear pelo seu rosto, em algum momento eles tinham voltado pra cama e acabado quase na mesma posição de quando tinham acordado de manha, só que dessa vez Thor a puxava pra si e apertava sua cintura com mais força, ela não queria abrir os olhos e ter que lidar com a realidade de que estavam trancados há horas dentro de um quarto escuro em uma pensão velha, queria permanecer ali, sentindo o cheiro dele e seus lábios.

— Você está bem? – ele perguntou, Lana sorriu, ela sabia a que ele se referia.

— Um pouco dolorida, mas vou sobreviver.

Foi Thor quem levantou primeiro, jogando suas pernas para o lado e sentando de costas pra ela. Lana queria perguntar, mas não sabia como fazê-lo, a respeito das cicatrizes que sentira nas pontas dos dedos, e agora as estava vendo e apesar da pouca luz a visão a assustou, Thor tinha dito que não podia ser machucado, e o ferimento da noite anterior havia sumido por completo, mas suas costas eram marcadas por inúmeras cicatrizes, algumas maiores, outras ainda pareciam vivas.

— Elas doem? – murmurou, tocando-as sutilmente, como havia feito mais cedo.

Thor pareceu retroceder sob seu toque e virou de frente pra ela.

— Não.

— O que aconteceu com você?

Ele ficou de pé e caminhou até uma das mochilas que tinham trago consigo, Thor pegou uma calça escura e uma camiseta branca e as vestiu em silencio, quando terminou ligou o interruptor e Lana pode ver mais claramente seu rosto, ele estava sério.

— Alguns nefilins conseguem ser cruéis – murmurou, e Lana não teve certeza se o tinha entendido, mas não estava à vontade pra refazer sua pergunta, Thor parecia desconfortável. Ele foi até a mochila dela abandonada no canto e a entregou. – Você está linda nua enrolada nesse lençol, mas nós realmente temos que ir.

Seu comentário conseguiu envergonhá-la e fazer seu rosto esquentar, o que era ridículo dado o que eles tinham feito, Lana nunca estivera tão intima de alguém antes, e isso trazia seu relacionamento com Thor um patamar a mais, um nível que ela nunca estivera antes. Ela desceu da cama ainda enrolada no lençol e praticamente correu pro banheiro.

— Pra onde nós vamos? – gritou, ouviu um barulho e em seguida a voz de Thor.

— Eu tenho uma casa, vamos ficar bem lá.

Lana pegou um short jeans e o vestiu, em seguida uma blusa de alças e um moletom, não tinha nada mais sofisticado na sua mochila que isso, mas pelo menos Jasmim tivera a bondade de colocar alguns grampos e uma escova de cabelo.

— Alguém mora lá? – perguntou enquanto penteava o cabelo pra cima, prendendo-o com grampos no alto.

— Não. Ninguém sabe dessa casa.

— Thor, você não me disse o que aconteceu com meu medalhão, ele não está na minha mochila.

O silencio tenso que surgiu do outro lado da porta a preocupou, Lana vestiu o moletom que tinha pegado por cima da blusa e saiu do banheiro, encontrou Thor sentado na cama, com sua mochila ao lado e terminando de calçar seus tênis.

— Está com Sophia – ele murmurou, ainda sem olhar pra ela – Não consegui pegar.

— Mas você disse que ele...

— Minha prioridade agora é chegar a casa, depois dou um jeito de recuperar o medalhão, ele é inútil se você estiver... – ele se interrompeu, ficando de pé e levando a mochila consigo.

— Se eu estiver o que? O que você quer dizer com isso?

Thor estava sério quando foi até Lana e pegou sua mochila, ela quase podia ouvir seus pensamentos gritarem, se você estiver viva, era isso o que ele iria dizer. Suas mãos tremeram.

— Vamos. – Thor resmungou caminhando pra fora.

Quando eles chegaram ao primeiro piso Lana aproveitou pra consultar as horas no relógio de parede, fazia pouco mais de 24 horas desde que Alec a tinha deixado no internato, pensar nisso deixava-a ansiosa, a essa altura a direção do Lorenzo já devia ter entrado em contato com seus pais e John acionado todos os telefones que conseguiria lembrar, uma força tarefa devia está atrás de Lana.

Ela segurou no braço de Thor e ele olhou pra ela. – Tenho que ligar pra minha casa, meus pais devem está preocupados.

Ele hesitou, parecia está considerando todas suas opções e as consequências dela, até que assentiu por fim e enfiou a mão em seu bolso.

— Pega meu telefone, não vai muito longe, só vou fechar a conta e vamos embora.

Lana sorriu, assentindo, e se afastando. Enquanto discava o numero de casa ainda conseguia ouvir Thor tocando a campainha chamando a senhora que os atendera na noite anterior.

Alô?

— Alec? Sou eu Lana, por favor, me escuta antes de surtar.

Surtar? Do que você está falando? O que você aprontou por aí?

Lana franziu o cenho, Alec estava calmo demais. – Ahm. Nada. Ninguém do Lorenzo ligou pra casa?

Dois segundos se passaram e ela soube que Alec estava trocando o telefone de orelha e olhando ao redor, procurando pelos pais.

Por que eles ligariam Lana?

E-eu... – ela afastou o telefone e olhou pra Thor, impaciente com os cotovelos apoiados em cima do balcão. A senhora ainda não havia aparecido.

Lana estava a um dia sumida do internato, e fora Jasmim, ninguém mais sabia do seu paradeiro, a menos que eles tenham decidido manter segredo dos seus pais, ainda sim era tudo estranho e improvável demais.

— Eu fui pra uma festa clandestina ontem – ela murmurou por fim, silenciando os protestos de Alec – Achei que os diretores tinham descoberto.

Certo. Isso não é o fim do mundo, eu acho. Aconteceu alguma coisa por lá?

O que Alec faria se Lana decidisse contar? Ele não acreditaria, tinha certeza nisso, até mesmo ela não conseguia entender como conseguia acreditar, talvez ter visto o ferimento aberto e sangrando no peito de Thor em um dia e no outro uma pele lisa e perfeita tenha ajudado nisso.

— Não. Nada.

Do outro lado da linha Alec riu, provavelmente não acreditando nela, sua voz tinha saído instável e a afirmação mais parecera uma duvida. Lana encostou o ombro na parede e suspirou, mas a parede estava suja e pegajosa, ela se afastou e olhou ao redor com mais atenção, estava tudo silencioso demais, como um mausoléu abandonado. Quando Lana andou pra trás, virando-se e voltando pra onde Thor ainda estava ela sentiu algo agarrar sua perna.

Eeeeei, você ainda está aí? Você não pode mentir assim pra mim Lana, aconteceu algo nessa festa?

Sentiu uma coisa gosmenta e forte prender seu tornozelo, mordeu a língua para não gritar e causar confusão no irmão que ainda estava na linha, mas Lana chutou o que quer que fosse pra longe.

— Aconteceu nada. Eu tenho que ir. Mais tarde te ligo. Beijo te amo. – desligou antes que ele pudesse responder e olhou com mais atenção pro chão, tudo parecia normal ali, mas quando tocou na parede onde tinha se encostado Lana sentiu os dedos ficarem sujos, levou-os pra perto do rosto e viu a coloração vermelha e aguada – Thor!

As coisas aconteceram como num rompante rápido demais para ser acompanhado, Thor virou o rosto pra ela, e ela viu pânico nos seus olhos ao mesmo tempo em que Lana sentia-se pega, coisas finas e esqueléticas apertaram seus braços e a suspenderam no ar, como galhos de arvores, só que muito mais fortes e antes que conseguisse gritar ela estava sendo arremessada contra a parede.

Ela os viu surgirem um a um, como se atravessassem as paredes ou plantassem do chão, de inicio pareciam coisas etéreas, mas à medida que todo o corpo surgia eles ganhavam consistência e força, suas cabeças eram grandes e achatadas sem nenhum pelo, os olhos duas esferas negras sem pupila e o corpo esquelético era coberto por farrapos podres e fétidos. Lana viu aquele que a tinha arremessado se aproximar, os lábios como duas linhas finas exibiam um sorriso mordaz sem dentes. Ela gritou.

E como em um passe de magica o corpo tenso de Thor surgira entre ela e a criatura, ele estava meio agachado, como se fosse atacar todos, mas aos seus olhos parecia impossível, eram muitos e os cercavam de todos os lados.

— Você está bem? – ele perguntou em um fio de voz.

Lana levantou aos trôpegos, ela não sentia dor, pelo menos por enquanto, o medo que estava começando a sentir parecia amortecer seu corpo.

— Estou – ela respondeu ainda mais baixo, suas mãos tremiam enquanto olhavam pras coisas errantes, elas estavam paradas, ao ponto de atacarem, e o silencio que produziam a deixava ainda mais nervosa – Thor, o que vamos fazer?

— Você vai ficar atrás de mim – ele disse, e como pra confirmar Thor, ainda sem olhá-la, segurou seu braço e a trouxe pra mais perto, o desejo de Lana era de se fundir a ele, se esconder dentro da armadura que Thor parecia ser. – Eles não são demônios, são espíritos enjaulados, nos os chamamos de Exilados, eles não veem apenas sente o cheiro, se você ficar perto de mim eles não vão conseguir te encontrar.

— Eles mataram as pessoas daqui?

Thor olhou ao redor por um segundo, como se só agora pensasse nessa possibilidade.

— Aparentemente sim, eles precisam de carne humana para viver.

A criatura que a arremessou foi o primeiro a se mexer, jogando-se até eles como se fosse mais leve que uma pena, Lana desvencilhou-se de Thor e se chocou contra a parede, mas seu esforço parecera em vão, assim que o Exilado ficou ao seu alcance Thor o arremessou longe, ele voou pra desaparecer logo em seguida. Todos os outros mexeram-se como que comandados por uma corda, jogando-se pra eles, e sons animalescos eram ouvidos, Lana estava prensada entre Thor e a parede, sentindo o sangue sujar seu moletom  e não conseguia se importar menos com isso, tudo que conseguia ver eram Exilados sendo arremessados ao passo que outros surgiam.

— Nós temos que sair daqui – ela gritou quando um deles chegou perto o bastante pra nota-la e agarrar seu braço com dedos finos e cortantes, Thor o chutou com o pé e a criatura evaporou como uma fumaça.

— Eu preciso fazer uma coisa, mas você tem que ficar calma – ele disse, e sua voz estava tensa e os olhos alertas, Lana assentiu.

Thor a puxou pelo braço, tirando-a de trás de suas costas e colocando-a a sua frente, seu movimento causou um frenesi nos Exilados, eles murmuraram sons grotescos e em um só movimento pularam até eles, mas uma cortina preta cobriu o corpo de Lana, e no instante seguinte ela não estava mais no chão, seus pés estavam suspensos e ela gritou, pareceu cair, mas os braços de Thor seguravam sua cintura com força como grades, quando olhou pra cima, pro seu rosto, entendeu.

A cortina preta era na verdade um par de asas grandes e esplêndidas, elas bateram mais uma vez e eles sobrevoaram sobre os Exilados até alcançarem as portas escancaradas e saírem. Thor aterrissou no chão próximo ao carro com Lana ainda presa nos seus braços.

— Entra. Rápido. Eles vão seguir meu cheiro – Thor disse enquanto abria a porta do carro e a empurrava pra dentro.

— Você... O que foi aquilo? Você pode voar? Por que não me disse?

Thor deu um ultimo empurro e Lana entrou, ele surgiu logo depois ao seu lado, com a chave na ignição e ligando o carro.

— Eu disse que te contaria as coisas aos poucos.

— Por que não fugimos daqui voando então?

— Porque chamaríamos atenção – ele resmungou, pondo o carro em movimento, mas antes que avançassem um metro sequer, Exilados pularam no para-brisa e suas unhas pontudas arranharam o vidro, Lana gritou, mas Thor acelerou, fazendo ziguezagues pela pista e derrubando alguns no caminho, embora eles sumissem antes de caírem no chão.

— Eles não param de surgir!

— Eles vão parar quando pararem de sentir o nosso cheiro. – os dedos de Thor apertaram o volante e ele acelerou de novo, deixando a pensão e os Exilados para trás. – Você está bem?

Lana olhou pra janela e as cabeças achatadas sumiram, ou desapareceram na fumaça, com a escuridão e a distancia que Thor criava ficava difícil saber. Ela gritou quando sentiu dedos apertando seu ombro, Lana jogou-se contra a porta, mas tudo que tinha ali era ela e Thor.

— Você está sangrando – ele disse, retirando sua mão.

— O sangue não é meu. – Lana tirou o moletom pela cabeça e o jogou no banco de trás, sem as criaturas para distraí-la a peça suja começou a incomodá-la – Ver, estou inteira.

Thor voltou a apertar seu ombro, dessa vez seus dedos passeando por sua pele a procura do ferimento que ela não tinha.

— Como eles nos encontraram?

— Por mim, eles são caçadores.

— Thor... Quem são essas pessoas e porque eu? Por que eu tenho que morrer pro medalhão ser ativado?

— Eu não disse que você tinha que morrer.

— Não, mas isso é obvio! Eu não sou burra Thor.

Ele apertou o volante com mais força e acelerou, mas era um Pálio, não uma Ferrari, Thor socou o painel em frustração.

— Você não é burra, mas nesse exato momento to tentando pensar em um jeito de deixar de ser um GPS para Exilados e você não está ajudando.

— Talvez se você me contasse eu poderia te ajudar.

Thor grunhiu e a encarou. – Você não pode, nem se eu entregasse a você uma enciclopédia a respeito dos nefilins e criaturas sobrenaturais, ou um diário meu, mas você pode ficar quieta e me deixar pensar.

— Você é um idiota! – Lana sentou de frente e cruzou os braços. Ela não estava irritada só com Thor, mas consigo mesma, com sua inutilidade de mais cedo em ficar apenas tremendo enquanto ele fazia todo o trabalho sujo, e mais ainda com ele, em insistir deixa-la no escuro.

— Coloca o cinto – ele disse depois de um tempo.

Lana suspirou e cedeu, ciente que se o carro virasse uma lataria amassada ela era a que tinha menos chances de viver, não queria diminui-las ainda mais. Quando prendeu o cinto e olhou pra cima, encontrou os olhos cinza de Thor ainda sob ela.

— Você devia pelo menos olhar pra estrada.

Ela o viu abrir a boca, mas ele não disse nada, porque ao mesmo tempo o carro parou abruptamente, a traseira fora erguida e Lana sentiu o corpo tombar pra frente, sendo amparada pelo cinto. Do outro lado, com as mãos enterradas no capô, tinha um homem vestido de preto, parado, com o cabelo branco desalinhado e os olhos extremamente claros estreitos, Lana os sentiu cair sobre si, e quando eles se olharam, ele desenterrou seus punhos e o carro voltou ao seu lugar.

— Thor? – ela murmurou, sentindo o medo rastejar sob seu corpo novamente e as mãos tremerem.

Thor tentou ligar o carro novamente, mas um barulho esganiçado foi tudo o que ouviram.

O homem ainda olhava pra Lana quando começou andar em sua direção, ele vinha calmo e lento, como se não estivessem parados em uma estrada escura e deserta, quando ele parou ao lado da sua porta, Thor surgiu a suas costas, o empurrando pra longe, os dois viraram um borrão até que Thor o empurrou contra o capô do carro, fazendo a traseira levantar novamente. O homem o chutou pra longe e ambos sumiram do seu campo de visão.

Lana tirou o cinto e saiu do carro, o vento frio a atingiu com força no lado de fora, mas não havia nada ali além dela e de um carro semidestruído, mas antes que começasse a se desesperar, um zunindo ganhou espaço, cada vez mais alto, até que um corpo aterrissasse com força contra o teto do carro, ela reconheceu o cabelo negro de Thor e um medo quase irracional cresceu em seu peito. Lana pulou no capô e o alcançou ao mesmo tempo em que Thor abria os olhos com dificuldade.

— Você está bem? Pelo amor de Deus responde.

— Sai daqui – ele resmungou, tentando empurrá-la.

— E eu vou pra onde gênio? Deve está bem, já está sendo idiota de novo.

A sombra de um sorriso cruzou seu rosto machucado, mas na mesma velocidade que veio se foi quando Lana sentiu braços a arrastarem pra longe, viu Thor levantar com dificuldade, abrindo suas asas e sobrevoando ate eles, quando já estavam no alto Thor agarrou as pernas do homem, puxando-os pra baixo e Lana se sentiu cair e alcançar o chão com força, agora tinha certeza que estava machucada. Ela rolou pra longe quando o estranho cedeu seu aperto e engatinhou pra fora, mas ele a segurou pelo tornozelo e Lana caiu de novo, ralando seus cotovelos.

— Me. Solta – grunhiu chutando sua mão, Thor estava sobre ele de novo, e ele a libertou, usando as duas mãos para jogá-lo longe, mas Thor sobrevoou outra vez e o arrastou pra longe de Lana.

Aquilo não acabaria tão cedo, não era como a luta com os Exilados, aquele homem era forte, tão ou mais quanto Thor, e ele tinha asas, só que elas eram uma mistura fascinante de branco e cinza, escurecendo nas pontas, seria magnifico se não fosse assustador também.

O homem de cabelo branco pegou Thor pelo pescoço com facilidade e o aterrissou no chão, Lana correu até eles, ignorando todos seus instintos que a mandavam ficar longe.

— Por favor pare – implorou, alcançando-os. Thor tentava respirar, mas a mão grande e branca do homem o sufocava. – Por favor!

E ele cedeu, pelo menos o suficiente pra Thor recuperar a cor do rosto, o homem levantou os olhos pra ela e Lana parou no lugar, incerta do que deveria fazer. Deveria tentar acertá-lo? Correr? Libertar Thor? Todas suas alternativas pareciam improváveis e impossíveis.

— Você é Lana? – ele perguntou, sua voz era rouca, jovem, bem diferente da imagem que seu rosto retangular e sério passava.

— O que você quer?

— Eu sou Cairo, sou seu Protetor.

Thor grunhiu alguma coisa, talvez um aviso pra ela correr ou não acreditar nele, mas tudo que Lana conseguia fazer era permanecer ali, parada, sentindo as dores começarem a ganhar força no seu corpo enquanto encarava aqueles olhos quase brancos e tentava entender o que ele dizia.

— Protetor?

— Minha missão é proteger a você e seu medalhão – ele disse – Evitar que qualquer mal caia sobre você.

Lana levantou o braço que agora sangrava da queda. – Você começou errado então.

Cairo encarou seu braço estendido, seus olhos voltaram quase imediatamente pra ela. – Você está viva.

Ele não tem senso de humor.

— Por favor Cairo, se você é realmente meu protetor, solte o Thor.

Ele pareceu considerar enquanto a encarava, Lana não gostava daquela seriedade, mas por fim ele cedeu, voltando seus olhos brancos pra Thor.

— Vou soltá-lo, mas não me ataque Nefilim.

Thor levantou com cuidado e foi pro seu lado, ela sentiu seus olhos avaliarem seu corpo, e eles não eram gentis.

— O que você quer comigo? – Lana perguntou.

Cairo ficou de pé, suas roupas, apesar da briga, estavam em ordem, e seu cabelo branco caia descuidado sob sua testa, ele era tão estranho e exótico ao mesmo tempo, Lana tinha que fazer força para não encará-lo demais.

— Protegê-la, soube que estava em perigo.

— Depois de dezessete anos você de repente soube que estava em perigo e precisava de proteção?

— Depois de dezessete anos eu soube onde você enfim estava.

— O que?

— Você foi raptada e escondida, estivemos procurando por você desde então.

Raptada? Ela não tinha sido raptada. Ela tinha sido adotada depois dos pais tê-la encontrado na porta de casa, Lana tinha visto os papeis quando ainda era uma criança, sua adoção era 100% legal.

— Isso é impossível. Sou a garota errada então.

Cairo avançou até ela e puxou a alça da sua blusa pra baixo, o movimento fora tão rápido que Lana só o sentiu quando Thor o interceptou, segurando sua mão.

— O que você pensa que está fazendo? – ele grunhiu.

— Você tem a mesma marca que sua mãe tinha – Cairo continuou, ignorando Thor, enquanto descia seu braço pra junto do corpo novamente.

Lana sabia do que ele estava falando, a marca em forma de Lua que tinha no peito.

— Você conheceu minha mãe?

— Helena era o nome dela, o seu era Cristal.

Lana sentiu como se o ar de repente lhe faltasse, tudo pareceu instável e ela se sentia tonta, e terrivelmente faminta e cansada.

— Você não conheceu Helena, está mentindo – Thor disse, e ela o encarou.

— Não. Não conheci. Mas há um lugar e lá você vai poder ter todas as informações que deseja Lana, a respeito de si e dos seus pais.

— E onde eles estão? – ela perguntou, tentando ir até Cairo, mas Thor a segurava junto a si, e ela percebeu que se não fosse por ele, suas pernas já teriam cedido.

— Eles estão mortos – foi Thor, que sem olhá-la, respondeu.

— Como sabe? Você os conheceu? Por que não me disse nada Thor?

— Porque não era a hora – ele grunhiu e seus dedos apertaram com força seu braço, era o braço machucado.

— Me solta, você está me machucando.

— Se eu te soltar você cai, mau esta dando conta do próprio peso.

— Lana – Cairo chamou, e ambos olharam pra ele. – Você terá que vir comigo.

— Sem chance – Thor respondeu.

— Todas as respostas que procura, elas estão lá, e eu a protegerei.

— Eu não estou mais com o medalhão eu... Eu o perdi. Não sou mais útil pra vocês.

O queixo de Cairo travou, e foi o máximo de expressão que ela viu em seu rosto, seus olhos brancos voaram pro rosto de Thor, e Lana podia jurar que ele podia ler seus pensamentos, e saber que a culpa, ao menos em parte, tinha sido de Thor.

— Nos vamos recuperá-lo – ele disse, voltando a encará-la. – Mas você precisará vir conosco.

— E Thor vai poder ir também?

Ele apertou ainda mais seu braço.

— Não – Thor respondeu. – Não vou pro Instituto, e você não pode ir com ele Lana, não sabemos que o que ele diz é verdade.

— Porém você sabe que é – Cairo falou, e quando Lana o encarou percebeu que olhava pra Thor com curiosidade – Você parece conhecer bem o Instituto.

— Isso não é da sua conta.

— Thor, o quanto você sabe? – Lana perguntou em uma voz baixa.

— Muito – ele murmurou de volta, e ela não gostou como sua voz saiu fria e distante. Havia muito ali, de fato.

— Temos informações sobre seus pais Lana, sobre seu nascimento, informações que Thor e nenhum outro possa lhe dá, e mais precisamente temos proteção, essa que um Nefilim sozinho jamais poderia garantir.

Ela negou com a cabeça, tentando ir pra trás, mas Thor a segurava com tanta força, e suas pernas pareciam que falhariam a qualquer instante, que Lana permaneceu em seu lugar, mesmo que ainda com custo.

— Vamos embora Thor – ela sussurrou pra ele, segurando seu braço com força, e viu os olhos brancos de Cairo endurecerem, ao mesmo tempo em que ele abria suas asas de novo, os sons animalescos voltaram e Lana olhou pra trás, vendo os Exilados surgirem de novo, alguns rastejando-se e outros saltando em direção a eles.

Thor libertou suas asas e as usou como escudo quando um deles pulou em direção a Lana, ainda sim, ele chegou perto o bastante para aranhar seu braço, a ferida aberta sangrou e doeu, como se estivesse sendo queimada e sua pele caindo. Thor a empurrou pra trás de si e virou de frente pra eles, mas eles estavam em todos os lugares, como se multiplicassem, saltando em direção a eles e quando Thor tentara sobrevoar, Exilados saltaram até suas asas, derrubando-o em um ângulo estranho.

Lana apertou a mão em seu braço e cambaleou pra trás, havia de repente dois Thor largados no chão e sendo atacado por Exilados, enquanto outros se davam conta da sua presença, chegando até ela com unhas longas em mãos esqueléticas, prontas para enterrá-las em sua pele. Ela tentou correr pra trás quando suas pernas fraquejaram, Lana foi amparada por Cairo, ele a circulou e a levou pro alto, ela não vira muito depois disso, seus olhos pesaram e finalmente todo o peso dos acontecimentos recentes caíram sobre ela.


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Notas finais do capítulo

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