Prologo

Ele estava tenso e sentia que suas pernas se moviam de maneira automática e impessoal, parecia pertencer á outra pessoa de fato, a vegetação ao seu redor também estava quieta, um silencio tenso que parecia pertencer a outro lugar, que não aquelas árvores altas. Ele olhou por sobre seu ombro de novo, a menina continuava quieta, desviava seus olhos sempre que ele a encarava e abraçava seu corpo fingindo prestar atenção em qualquer outra coisa que não fosse ele, como se ele, de fato, não estivesse ali.

Era uma perfeita mentirosa, como imaginou que seria.

Por um doloroso instante imaginou como seria se ele gritasse, mas o quê gritar? Era essa a questão afinal. Deveria dizer corra? Corra, eu sou um monstro e pretendo te matar. Parecia improvável e um tanto louco que ela fosse acreditar. Ela era louca, mas não imprevisível, e ele era um mentiroso. Ela não acreditaria.

Não seja tão nobre, apenas faça seu pequeno imbecil. Era o que os olhos castanhos dela pareciam dizer, de uma maneira menos hostil e mais inocente do que a voz traiçoeira na sua cabeça. Ela queria saber por que havia sido arrastada até ali, seus olhos imploravam por respostas, sedentos na verdade. Ele gostava desse olhar de gata domada que às vezes ela lançava, era uma maneira silenciosa de dizer estou aqui, estou aqui pra você, ele amava essa submissão mutua e inconsciente, amava a facilidade com que lia seus olhos. Havia poucas coisas que ele amava, mas aquela garota pequena e com olhos grandes era uma delas.

Era uma verdadeira pena que suas mãos fossem tão cruéis e insistissem em querer machucar coisas bonitas e amáveis.

— Por aqui – ele disse por fim, fechou sua mão ao redor do braço dela e a puxou com delicadeza em direção a uma trilha escura e escondida. Se ela olhasse pra ele daquela forma de novo, se seus olhos castanhos estiverem mirados pra ele, ele seria rápido e indolor, prometeu a si mesmo. Afinal, pras coisas e pessoas que se ama, o melhor deveria ser oferecido, certo?