Encontro Marcado escrita por Jessica Calazans


Capítulo 15
Capítulo 15




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Emília acordou, já tinha anoitecido. Confusa, não  sabia o que fazia naquele lugar, e nem porque estava ali. Sentiu algo esquentando a canhota, e era a mão de Vitória, que dormia sem jeito na poltrona ao lado da cama. Mais lúcida, Emília sorriu comovida pelo carinho… Carinho que foi um bálsamo para a dor que também foi despertada.

 

Não queria ter acordado, não queria lembrar de toda a humilhação que sofria. Não queria lembrar.. Não queria lembrar que aquele homem que a deixava em brasa com um mero olhar, homem que sugava tudo de si quando faziam amor….  Não a amava mais…

 

— Vitória? – Ela tentou afugentar a melancolia, e segurou um pouco mais forte a mão que tinha entrelaçado a sua.

 

Vitoria despertou aos poucos, e nao pode evitar sorrir ao ve-la acordada

 

— Ora, veja! A bela adormecida acordou – Brincou, alargando o sorriso, recebendo o dela, tão belo em troca.

 

— Dormi por muito tempo? O que aconteceu? – Vitória achou graça na pequena ruguinha que se formou sobre o cenho de Emilia.. Isso lhe lembrou Luis... Sim, o primeiro amor de sua vida, pai de sua menina. Filha que ele nem sabia que existia.

 

— O suficiente. E acho que é você que tem que responder não é? O que aconteceu, Emília? – Rebateu, chegando mais perto, as mãos ainda entrelaçadas.

 

— Eu não sei.. Eu acho que...Eu não tinha comido nada, só tomei um chá.. Deve der isso. Eu estou bem, não estou? – Era notável o nervosismo em sua voz ao responder com uma pequena mentira.

 

— Sim, claro que está, não se angustie – Vitória voltou a sorrir, apenas para tranquilizar Emília.

 

— É .. Hum… Perfeitamente bem não é mesmo? – Queria saber do seu bebê, precisava saber como ele estava. Mas como perguntar? A vergonha a impediu de ser mais direta.

 

— Está perguntando sobre seu filho, não é mesmo? – Retrucou, focando bem na palavra filho.

 

— Você já sabe, não é? – O tom de Vitória  em leve reprovação  não lhe passou despercebido... Teve que confirmar

 

— Você sofreu uma ameaça de aborto,  e eu estava como sua responsável. E antes que pergunte, não, não é nada grave. É comum nas primeiras semanas  – Apesar de qualquer reprovação, os olhos cansados a fitavam em extremado carinho

 

— Vitória, eu só não contei nada porque eu não tinha cer… –

 

— Por favor, não minta, não me magoe assim. Eu conversei com Gema, ela me contou seus planos. Não fique chateada com ela, eu já sabia do principal.  –

 

— Eu deveria, mas não consigo. Confio tanto em você, apesar de termos nos conhecido há tão pouco tempo. Eu queria desabafar, contar tudo, mas é tao bonito o conceito que tem de mim. Tive que medo que me olhasse com outros olhos – Sensível, hormônios a flor da pele, as lágrimas escorreram pelo seus olhos sem aviso prévio.



— Não, não chore. Conversaremos sobre isso depois está bem? – Os dedos livres, numa suavidade comovente, lhe enxugou as lágrimas que teimavam em cair – Mas fique sabendo que você ganhou um carrapato, nada pode mudar o carinho que tenho por você – Brincou, para receber seu sorriso em resposta.

 

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Elas ainda conservaram um pouco mais. Vitória  relatou o corre-corre no Ministério deixando Emília alarmada… Contou da visita de Gema, apesarde ter omitido o fato de Pedro estar com febre…. Inclusive, informou que Emília teria que ficar no hospital por mais um dia no Hospital.

 

Emília não contou nada sobre a mensagem, ligação….. Não queria mais chorar, não valia a pena. E a companhia de Vitória era tao reconfortante, ela quase esqueceu desse dilema. A visita durou até Emília convencer Vitória a ir embora para descansar… Ela ainda ia trabalhar no dia seguinte….

 

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Enquanto isso, Bernardo já aflito, em pleno desespero, pois Emília não atendia sua ligações. E cansado das desculpas de Rosa que ficava ainda mais quando nervosa a casa nova ligação, decide ligar pra irmã, sem saber o porquê não ter feito antes.

 

Bernardo quis pegar o voo na na mesma hora  e voltar para o Rio de Janeiro quando soube que a esposa estava internada. Gema  teve que ser paciente para convencê-lo, tranquilizando-o um pouco, informando que Emília apesar de ainda estar no Hospital, estava bem, saudável, apenas em observação. Teve que mentir sobre a causa, evidentemente.

 

Sobre Emília não ter atendido as ligações de Bernardo desde manhã cedo, fato que muito a intrigou, Gema não soube o que responder. Então apenas opinou dizendo que Rosa deve ter apenas obedecido as ordens de Emília, já que a cunhada conhecia o marido muito preocupado e dado a exageros que tinha…

 

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Na manhã seguinte, Emília mal tinha acabado de acordar quando Vitória adentrou ao quarto com uma bandeja de um farto café da manhã. Bom, é claro que nada muito estupendo.. nível hospitalar. E nem era função da Ventura, mas ela fez questão de levar o café.

 

— Booom dia! – Ela sorria tão abertamente que chegava a enrugar o cantinho dos olhos cansados, hoje ainda mais, marcados pelo pouco sono.

 

— Boom dia, Dona Vitória. Por Deus, não precisava! - Emília teve que sorrir ao receber um sorriso tão bonito em cumprimento

 

— Ora, e eu lá ia perder essa chance? Não esqueça que você precisa comer por dois! E nada de Senhora, por favor – Ela ainda sorria ao lhe entregar a bandeja

 

— Tá certo! Vovó coruja – Brincou. Era íncrivel como a presença da Ventura melhorava sua paz de espírito. Em resposta, o sorriso de Vitória se alargou ainda mais.. sentindo aquelas simples palavras aquecer o coração. – Já saiu os novos exames? – Mesmo sem fome, Emília beliscou um pouco da gelatina que parecia apetitosa

 

— Uhum, está tudo na mais perfeita ordem. Só está um pouco anêmica, precisa rever sua alimentação – Vitória chegou a se sentar sobre a beirada da cama, lhe oferecendo um sorriso cheio de afeto – Ainda é uma sementinha, mas já exige muito da mamãe – Vitória guiou a canhota para a pequena ondulação, que era a barriga da  Beraldini, deslizando os dedos numa carícia suave e terna.



Emília moveu os lábios, num sorriso emocionado ao ouvir tais palavras. Era primeira vez referiam-se a ela á maternidade. Abandonou a gelatina por um momento, e posou a destra sobre  a delicada mão que afagava sua barriguinha, acompanhando a caricia  

 

— Sabe que tive medo? – Confessou, os olhinhos já brilhando pelas lágrimas.. estava tão sensível

 

—  Isso é porque você já o ama. Acredite, você seria uma excelente mãe  –

 

— Queria tanto minha mãe aqui, sabe? –

 

— Fala de Maria? –

 

— Por Deus, não. Ela não me considerava como filha, talvez nem o considerasse como neto – Confidenciou, entre as últimas colheradas da gelatina

 

— Neto? – Vitória riu

 

— Sim, acho que é um menino! – Emília foi obrigada a sorrir também, sentindo-se um tanto boba

 

—  Verdade, a gente sempre sabe - Vitória deixou escapar

 

— A gente? Achei que não tivesse tido filho – Era notável a confusão na expressão da promotora

 

— É uma história longa, prometo contar outro dia. Está bem? -

 

— Uhum! – Ela assentiu, ocupando-se da torrada. Mais por preocupação com o bebê do que por fome

 

— Mas desculpe, não queria lhe interromper,  falava de sua  mãe.. –

 

— Nada não. É que esses hormônios me deixam confusa. Sinto falta daquela que me abandonou. E é engraçado… sentir falta de algo que nunca tive - Quando Emília deu por si, Vitória já enxugava as lágrimas que rolaram pelo seu rosto, sem que ela sentisse.

 

Vitória nada disse, talvez com medo de que fosse traída pelas próprias emoções. Não tinha castigo pior do que ser a causa do sofrimento da filha.

 

— E ainda tem Bernardo.. Ele…. – Emília se calou, talvez sentindo que já se expunha demais, ou pelo choro que queria romper só de falar no marido.

 

— Por favor, me conte. O que aconteceu que a deixou tão nervosa? - Segurou-lhe a mão, como dando apoio.

 

— Eu.. Ta tudo tão confuso entre nós. E agora eu descobri que ele me traiu . Ele me traiu, Vitória - Um soluço escapou dos seus lábios. E sem resistir, ela aceitou o colo que lhe foi oferecido, e aconchegada nos ombros da mãe, deixou que o choro rompesse – Eu o amo tanto, tanto.. Ele me jurou, jurou que... – 

 

Vitória deu o tempo necessário, deixando que Emília colocasse pra fora toda dor. Por mais que cada soluço apertava seu coração numa agonia sem tamanho.

 

— Você tem certeza? É por isso que não fala com ele? – Perguntou ao senti-la mais calma. E Vitória não pode impedir xingar Bernardo em pensamento.

 

— . Certeza.. certeza... eu não tenho. Eu só vi uma mensagem dele para a Lucrécia, a filha do Dr. Luis, e fiquei louca - Confessou sem jeito, recriminando-se a si mesma – Eu queria conversar com ele, mas simplesmente não consigo. Sei que vou acreditar em qualquer coisa que ele diga. – Mais calma, tentou voltar a sua atenção para o café  –

 

— Não quero me meter, eu até ia te avisar.. Mas ele ligou umas trocentas vezes para mim. Acho que deveria ao menos ligar para ele, dizer que está bem! Ele tá pensando em largar Espanha para vir pra cá… – Riu da mera bobagem. Como um homem tão apaixonado cometeria ato tao vil? Algo estava errado – Por experiência própria, não deixe que a erva daninha do mau entendido acompanhada do orgulho, destrua um casamento tão bonito. Sei que as vezes a gente olha numa primeira vez, e acha que nenhuma outra explicação vai ter lógica. Mas acredite, ás vezes tem, por mais absurda que seja. Acredita em mim... –



— Está bem! Eu vou ligar… –  Vitória parecia tão aflita, que foi a vez de Emília segurar sua mão, tentando tranquiliza-la – Sabe, Don.. Vitória... – Interrompeu o dona, antes que fosse repreendida – Bento tem tanta sorte em ter encontrado uma mãedrasta como você. Eu me sinto tão bem ao seu lado –

 

— Sinto que alguém aqui quer mais colo – Brincou, tentando disfarçar a emoção pelas palavras ouvidas

 

— Eu quero. Você me dá? – Entrou na brincadeira. E mais do que rapidamente, ambas inverteram a posição. E Emília abandonou a bandeja, deitando sobre o colo de Vitória, sentindo-se aconchegada…

 

— Que tal jantarmos juntas hoje? Romeo deve lhe dar alta no final da tarde. Posso tentar desmarcar meus últimos pacientes e sair um pouco mais cedo. O que acha?  –

 

— Se não for atrapalhar, gostaria muito! Gosto de sua companhia… – Ela se aninhou ainda mais sobre o colo de Vitória, comovendo-a com jeito carente quase infantil – Você ligou pra Rosa? Seria muito abuso você ligar pra ela? Ela deve estar uma pilha de nervos, e preciso do meu celular –



— Uhum, já liguei sim, e ela está tranquila. E nada de trabalho, mocinha! Você está se recuperando

 

— Não é isso, quero falar com Bernardo – Confessou, um tanto sem jeito

 

— Se for apenas pra isso, eu mesma vou lhe emprestar o meu, assim que  tomar seu desjejum. Achou que ia me enrolar, é? – Ambas riram..

 

E é claro que o colo não pode durar por muito tempo.  Vitória estava a trabalho e já tinha passado muito tempo com Emília, deveria voltar. Mas ela ainda ficou por ali. Até que a Beraldini terminasse o desjejum.


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