Encontro Marcado escrita por Jessica Calazans


Capítulo 11
Capítulo 11




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Seus olhos caíram sobre a gaveta aberta, e ela não resistiu a curiosidade. Rapidamente sentou-se sobre a poltrona da Beraldini. A pasta estava ali, de modo impecável e cuidadoso. Lucrécia teve que lutar contra os próprios institos para não sumir com aquele documento. Quem sabe assim,  a admiração que seu pai sentia por aquela tola não passasse?  Ela quase pode ouvir alguém sussurrando as falas do pai rente a ouvido — “Não vê Emília? Ela é tão esforçada, dedicada, estudiosa. Quem me dera você fosse 01 % como ela, eu não precisaria pegar uma fortuna todo mês de faculdade”— Era sempre a mesma ladainha quando a mensalidade vencia – “Vadia, como se não bastasse ter me roubado Bernardo” –  A gaveta ao lado, ainda trancada, foi alvo de sua atenção. Rápida, pois logo Emília voltaria, utilizou a chave… A principio os papeis  não faziam sentido.. Mas um deles, lá no último… um exame de sangue que quase fez seu mudo ruir “Gonadotrofina Cariônica… Resulado…. Positivo” Emília estava grávida….


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Quando Emília voltou, Lucrécia ainda estava a sua espera, e ela nem reparou nos olhos que a comiam com uma raiva assassina, uma raiva quase doentia.

 

— Desculpe, comi algo de manhã que não me fez bem – Justificou-se, um tanto sem graça, sentando-se novamente sobre a confortável poltrona que lhe era devida

 

— Acontece!  – Lucrécia retrucou, levemente irônica, e teve que esfazer um esforço descomunal para tirar os olhos da pequena protuberância que era a barriga da Emília. Tão minima que se ela não tivesse visto, jamais acreditaria ter uma coisa lá dentro.

 

— Veio buscar o contrato, não é mesmo? – Perguntou, querendo despacha-la o mais rápido possível, estava começando a sentir desconfortável com o olhar da rival sobre si.

 

— Sim, Como estava por aqui mesmo, papai me pediu esse favor, antes que eu partisse –

 

— Entendo.. – A contra gosto, Emília apanhou a pasta de dentro da gaveta, e a entregou, sem o menor interesse em saber pra onde a filhinha de papai ia – Diga a ele que só corrigi algumas cláusulas sobre a responsabilidade do Hospital, ele vai entender.

 

— Perfeitamente que sim – Emília não entendeu aquele tom sarcástico, chegando a a franzir o cenho, intrigada – Bom, eu não vou mais te atrapalhar. Boa tarde, Beraldini – Lucrécia se levantou, prestes a sair, e de modo proposital, “esqueceu” o celular sobre a mesa de Emília, que nem reparou... os olhos já atentos no processo que estava sobre a mesa.

 

— Sartorini, Lucrécia, não esqueça, Sartorini – Comentou quando a mulher já estava perto da porta, fitando-a apenas de esguela.  Lucrécia apenas respondeu com um sorriso forçado, e fechou a porta. A Carmosino ainda por ouvir a risada que a rival soltou de tão deliciada…

 

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Emília estava entretida em mais um processo quando ouviu o som de um celular a tocar, e pelo toque não era seu. Estranhando, acabou por achar o celular em cima de sua mesa. Só podia ser de Lucrécia já que hoje ela não era dia de atendimento. Estava prestes e a ligar pro Dr. Carmosino e avisar, porém, o nome  que aparecia na tela lhe chamou a atenção. O que Bernardo queria com Lucrécia?  Curiosa, e muito desconfiada,  ela pegou o celular, e esperou que Bernardo desistisse. Ela confirmou, e era o numero de seu marido, sentiu-se até  um pouco tonta.  Nada satisfeita, vasculhou as mensagens de Lucrécia

 

“Ok,  não demora, estou aqui no hotel a sua espera”

 

Ela teve que reler mais de uma vez a mensagem e de quem se tratava.. Não podia ser de Bernado.  Afoita, procurou entre as pastas enviados, recebidos, até mesmo rascunhos.. Não achou nada. Mas ficou óbvio pela última mensagem que ela tinha apagado as anteriores.

 

Sentia-se enojada. Humilhação corria em suas veias. O ciúme apertava sua garganta. Sua visão escureceu, e ela fechou os olhos avermelhados pela raiva, a vertigem cada vez mais intensa. Ela teve que se apoiar na mesa para não ir ao chão.

 

Emília sentou-se novamente, não estava mais se aguentando de pé. As fisgadas que sentia em seu ventre, lhe tiravam o norte.

 

Ela se sentou novamente, massageando a pequena ondulação de sua barriguinha. Era óbvio que o nervosismo que sentia estava fazendo mal para aquela pequena sementinha que ainda germinava

 

— Calme, bebê, calma – Dizia entre lágrimas, deixando o choro finalmente romper. Lágrimas que tentava segurar, mas era impossível.

 

Aquela mensagem..  despertara um ódio tão grande em seu interior que não pudera conter. Aquelas palavras….

 

Talvez fosse qualquer outra coisa, talvez não significasse nada, mesmo assim a raiva a consumia, e a imagem dos amantes sujava sua mente já bastante fértil .

 

Não era mulher de chorar disse a si mesma, limpando as faces. Mas não conseguia parar.

 

Como ele pode?

 

Lembrou-se do carinho entre eles. Da forma como estavam se entendendo nos últimos dias…

 

Com era tola… Logo se cansaria e iria embora! Ser abandonada era sua sina.

 

E quem sabe Bernardo não sentia saudade da outra? Afinal eles foram namorados, tiveram uma história

 

Esse pensamento a fez derramar lágrimas, lágrimas solitárias e silenciosas.

 

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Uma pena ela não saber do óbvio, de que Lucrécia apenas aproveitou para aprontar mais uma das suas. Emília não sabia que enquanto Bernardo estava no seu almoço de negócios para implantar uma rede do hospital na Espanha, Dorotéia usou a “chave-cartão” reserva do quarto em que ele estava hospedado no Hotel, chave que ele lhe confiou, caso perdesse o primeiro cartão, e adentrou.  E como planejado anteriormente com Lucrécia, fez a ligação, e mandou a mensagem, excluindo em seguida….



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Já era quase 13h00 e Rosa já não aguentava mais inventar desculpas para Bernado, que ansioso, ligava de 30 a 30 minutos para falar com Emília, começando a desconfiar que algo estava errado! Dessa vez, tinha sido um sufoco fazer com que Bernardo desligasse.

 

— Meu Deus, que desculpa darei na proxima? – Já pensava em algo, receosa de que ligasse de novo

 

Rosa até se assustou quando ouviu algumas batidinhas na porta. Tolice, mas por pouco não pensou que Bernardo desligou  só para se materializar ali no Ministério.

 

— Boa tarde, Rosa – Vitória a cumprimentou, sorrindo simpática

 

— Boa tarde, Dona Vitória, por favor…. – Rosa então deu passagem para a senhora entrar, voltando a fechar a porta.

 

Não era a primeira vez que Vitória entrava ali. Mas era difícil não admirar a sala ampla, muito bem estruturada, e que a  filha tinha dado um jeitinho de decorar ao seu modo. Coisa mínima já que era patrimônio público.

 

— Obrigada! Pode dizer a Emília que já cheguei?

 

— Hum.. Não quer se sentar, Senhora? Eu vou verificar se ela pode recebê-la –

 

Vitória assentiu, ansiosa para mais uma tarde agradável, cheia de risos, piadas sem graça e discursos feministas com a filha. Mas quando ouviu o grito alarmado de Rosa, e a mesma correr ao seu encontro, pálida como fantasma, ela sentiu a agonia lhe apertar o coração, e ela soube que algo estava errado... Sua Milly…..



— A Dona Emília, a Dona Emília! Meu Deus! Ela.. Ela.. Ela está caída lá no chão –

 


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