O que foi isso que acabou de acontecer?

O sinal tocou e os alunos começaram a entrar na sala de aula e tomarem seus lugares, exceto por Lysandre que a pouco havia saído. Eu ainda estava de pé olhando para o livro e aquele chaveiro de coelho tentando entender o que aconteceu. Só me dei conta de que ainda estava de pé no meio da sala quando Faraize chamou minha atenção. Sob algumas risadinhas tomei meu lugar também ainda um pouco confusa.

Guardei o Refém da Obsessão na minha bolsa e coloquei meu livro de historia sobre a mesa. Queria muito saber o que Faraize tinha discutido naquela aula porque só o que eu queria naquele momento era entender aquilo que aconteceu e, só depois que o sinal soou que eu consegui ouvir a voz do professor dizendo que aquilo cairia na prova semana que vem. Que ótimo.

Kentin entrou na sala quase junto com o professora Delanay. Ele me cumprimentou com um selinho e se sentou atrás de mim.

— Você está melhor, meu amor? – ele me perguntou quase sussurrando para o professor não notar.

— Eh... sim... estou sim. – sorri tentando me livrar daquela cara de quem passou a última aula tentando adivinhar as peripécias de Lysandre.

— Desculpe por ter furado com você ontem, tive que ir novamente no quartel com meu pai.

*Furado comigo?*

Foi então que me lembrei que tínhamos combinado de jantarmos juntos ontem.

— Tudo bem, eu acabei dormindo por causa da enxaqueca. Acho que é por causa da pancada... talvez eu deva ir ao médico para ver isso e...

— Não! – Kentin me interrompeu com voz exaltada o que acabou chamando a atenção de toda a sala e, principalmente, da professora Delanay.

— O quê significa isso, Kentin?! – Delanay esguelou fuzilando ele com os olhos. – Então o senhor chega na hora que bem entende e ainda se sente no direito de atrapalhar a aula?!

— N-Não, senhora, é que eu estava falando com a Lynn e...

— Ah, que bonito! Ainda por cima batendo papo na sala de aula... -  ela dizia em tom irônico. Não acredito que ele me entregou também – Pois já que é assim podem se retirar você e ela para continuarem a conversa lá fora!

— C-Calma, senhora, é que... – tentei argumentar mas não deu tempo antes que ela me interrompesse.

— É ‘SENHORITA’! E eu estou calma, aliás, nunca estive tão calma. Estou tão calma que darei a chance de vocês sumirem da minha frente sem que eu precise acionar a diretora dessa inconveniência!

Kentin e eu ficamos calados, assim como o resto da sala que nos olhava.

— E então? Estão esperando o quê?! – Delanay bateu o pé e nos pusemos para fora como soldadinhos de cabeça baixa.

Ficamos sentados na escadaria, longe o suficiente da diretoria.

— É serio isso, Kentin? Precisava me colocar nessa? – questionei desacreditada. Eu estava começando a pegar as matérias, as provas estavam chegando e não podia perder nenhuma matéria sequer, ainda mais por bobagem, quero dizer, a aula de historia já tinha ido pro beleléu.

— Me desculpa, Lynn, foi sem querer.

— Bom, tudo bem, agora já foi...

— Pelo menos poderemos conversar direito, não nos falamos direito  desde sexta, depois daquele lance com as carteiras rabiscadas.

— Já disse que não fui eu, Kentin, eu estava no vestiário e...

— Tudo bem, Lynn, eu acredito em você. Depois que você saiu Rosalya deu um tabefe na cara da Ambre, e eu duvido que tenha sido de graça.

— É, Rosalya me contou no shopping... – disse rindo.

— Mas quando você foi ao shopping? Não passou o dia com enxaqueca? – ele questionou com cenho franzido.

*Que ótimo, Lynn, como sair dessa agora?*

— E-Eu quis dizer que ela me falou de lá do shopping... e-ela me ligou pra saber como eu estava da enxaqueca e acabou comentando que também estava suspensa...

*Colou?*

— Ah, sim... entendi... – ele aliviou a expressão

*Yes! Colou!*

Não queria mentir pra ele mas também não queria chatea-lo e dizer que não quis ver ele no domingo porque preferia ler sozinha.

— Bom, enfim... – ele prosseguiu- Como você sabe tenho ido com bastante frequência no quartel do meu pai...

— Sim. – assenti. – Ele está com algum problema?

— Não, na verdade eu recebi uma proposta.

— Que proposta?

— Meu pai conseguiu um tipo de ‘estagio’ para mim no quartel.

— Como assim?

— Meu pai logo tem a intenção de se aposentar, Lynn, vou passar dois meses no QG com ele e, com esse estágio, vou poder aprender muita coisa e quem sabe até assumir o cargo dele futuramente...

— Mas esse negócio de subir de cargo não é por mérito? – indaguei.

— É... mais ou menos... Meu pai é um homem muito influente no seu QG. Quase nunca contrariado.

— Ah sim, entendi... Mas não acha um tanto errado se aproveitar da posição do seu pai pra subir nesse tipo de hierarquia?

— Não é bem assim, Lynn. Tenho mais chances sim de alcançar essa posição, mas isso não quer dizer que eu não vá fazer por merecer. É como se você tivesse aulas particulares com o melhor professor da cidade antes do vestibular, ele pode te passar tudo o que ele sabe mas se você não se esforçar e fazer por merecer nunca irá tirar uma nota boa. – Kentin tentou comparar mas ainda sim aquilo não me parecia muito certo.

— E a escola? – insisti

— O quartel do meu pai é muito grande e com uma ótima estrutura, tem até um lugar, como se fosse uma escola mesmo, para quem quer desde cedo engrenar na vida militar.

— Se assim então por que você não estuda lá? – questionei curiosa.

— B-Bem... é que... ham... – Kentin parecia nervoso – E-Eu estudava lá, mas me transferi pra Sweet Amoris depois que você chegou em minha casa chorando e dizendo que nunca mais voltaria pra lá.

— E por que eu disse isso? – Perguntei por mais uma memória que não me lembrava mais.

— Por causa da Ambre e suas amigas. Desde que você pisou em Sweet Amoris elas te atormentam. Já na primeira semana elas roubaram seu dinheiro espalharam fotos suas pela escola...

— É, acho que isso faz sentido sim... – quero dizer, elas me fizeram levar a culpa por rabiscarem todas as carteiras da sala de aula. Elas deveriam implicar a mais tempo comigo sim...

— Fiquei muito preocupado com você na época então resolvi vir para essa escola pra que você se sentisse melhor e mais confiante.

De repente me veio um sentimento se remorso sobre tudo isso. Kentin deixou sua antiga escola pra me proteger de algumas meninas idiotas. Eu deveria ser mais corajosa.

Ainda não achava legal esse negócio de usar a posição do pai dele como um atalho para subir na hierarquia militar mas... talvez fosse um modo justo de recuperar esse tempo que ele teve que perder aqui na Sweet Amoris por causa da minha covardia.

— Quanto tempo vai durar esse estágio? – perguntei de cabeça baixa, já reconhecendo que não conseguiria e nem tinha o direito de fazê-lo ficar.

— Dois meses. – ele respondeu. – Durante esse tempo, meu dia será dedicado a vida militar e a noite frequentarei a escola. Além das provas de lá também terei que fazer as provas daqui para poder me formar com você e resto da turma.

— E quando você começa?

— Amanhã mesmo. Aliás, cheguei atrasado hoje porque estava cuidando da transferência com meus pais.

Suspirei.

— Eu sei que é egoísmo dizer isso, mas eu também não vou me sentir segura aqui sem você me ajudando com essa historia da amnésia...

— Ei, ei, ei... – ele segurou me rosto delicadamente – É só por um tempinho, Lynn. Eu não vou te abandonar, depois de duas semanas vou poder usar o celular e vou poder ser liberado nos finais de semana.

— E como eu vou fazer pra me virar durante essas duas semanas sem você? Eu vou precisar da ajuda de alguém, talvez seu eu contar pra Rosalya ela possa...

— Não, Lynn! – ele me interrompeu com voz firme e me olhando diretamente nos meus olhos. – Já conversamos sobre isso. Você vai ficar bem, meu amor. Basta continuar agindo como tem feito e ficar bem longe do Castiel e do Lysandre, principalmente do Lysandre, você tem que me prometer! Não estarei aqui pra te proteger, Lynn, eu não me perdoaria se algo de ruim te acontecesse... – ao final de suas palavras suas mãos estavam mais firmes sobre meu rosto.

— Tudo bem, eu prometo. - assenti.

— Certo. Eu também prometo que esse tempo vai passar rápido, meu amor. Eu te amo. – ele sorriu pra mim mas eu só consegui sorrir de volta e então ele me beijou.

Ouvimos o sinal tocar, o que significava que a aula da Delanay tinha acabado e que poderíamos voltar para a sala. Quando entramos Lysandre já havia voltado mas não o olhei direito, embora aquele lance do livro ainda estar na minha cabeça, tinha feito a promessa ao Kentin de me permanecer longe desse garoto e iria cumpri-la. Nos sentamos em nossas carteiras novamente e a aula de geografia ocorreu normalmente até o sinal soar novamente, dessa vez indicando que era hora do intervalo.

Kentin me deu um beijo e saiu com Nathaniel. Como Rosalya não estava me juntei com as meninas já perguntando sobre a história que Kim queria me contar mais cedo e Alexy, como sempre, na mesma mesa que a gente mas com a cara amarrada. Decidi ignorá-lo e tentar aproveitar o máximo possível aquele tempo com as meninas pois precisava relaxar a minha mente. Quero dizer, a história do livro do Lysandre, o estágio do Kentin... era muita coisa até aquela hora da manhã e, parece que ainda não tinha acabado...

Peggy se aproximou com uma pilha de jornais que distribuía para todos os alunos pela escola toda.

— Por que ela está fazendo isso? – pensei alto, alto demais

— Dãã? Porque é segunda-feira. – Iris me respondeu- ela sempre faz isso na segunda-feira, esqueceu?

— Ah, é... claro... que bobagem me esquecer disso... – tentei rir como se aquilo fosse realmente uma bobagem

*É claro que tinha que ter a mancada do dia*

— Como é que pode né? Peggy passa a semana inteira pelos cantos da escola tentando conseguir matérias pro jornaleco da escola e o fim de semana todo escrevendo, editando cuidando da impressão... Vida social ZERO! – Kim comentou.

— Ela está tentando uma bolsa em jornalismo na Universidade de Sweet Ville. Não acho legal ela ficar espionando todo mundo pra conseguir um furo mas acho interessante o esforço dela pra conseguir isso. – Melody a defendeu.

— Nossa, Mel, falando assim você parece até o Nathaniel. – Violette riu tímida e simpaticamente o que fez Melody corar.

— Isso é por quê ela não desgruda um segundo do nosso querido representante, e passa todo o tempo que pode ao lado dele. Estou de olho em você, gatinha. – Peggy surgiu do nada distribuindo seus exemplares para as garotas e no final dando uma piscadela para Melody que ficou bem chateada com o que Peggy tinha dito.

— Isso não foi muito gentil de se dizer, Peggy... – Iris se manifestou

— Não é novidade pra ninguém que a Melody é apaixonada pelo Nath. Algum dia ela pode até ocupar a coluna social do meu jornal, mas hoje esse privilégio é da Lynn. – ela respondeu com um sorriso.

— Oi? Como assim?- indaguei

— Página oito, minha jovem. Agora tenho que entregar o resto dos exemplares para os outros alunos. Até mais, meninas! – Peggy saiu com um sorriso satisfeito.

— O que ela quis dizer com... ah, não! Fala serio... – comecei a folhear o jornal e encontrei a coluna social a qual Peggy se referia.

Ela tinha escrito uma matéria sobre o meu namoro com Kentin. “O novo casal de Sweet Amoris” com direito a foto que ela tirou quando Kentin me beijou de supetão e fotos das carteiras supostamente assinadas por mim e contando que aquela foto era o registro do meu primeiro beijo.

— Como ela ficou sabendo que aquele foi meu primeiro beijo? Alguém contou pra ela? – perguntei olhando para cada uma das meninas.

— Claro que não, né Lynn! É a Peggy! Ela sempre está escondida espiando todo mundo. – Kim me respondeu um tanto irritada

— É, Lynn, - Violette se manifestou um pouco tímida como sempre – Se lembra quando ela publicou nessa mesma coluna social que o Alexy gostava de meninos? Até então só eu e você sabíamos disso, não é mesmo Alexy?

— Não sei, Vio, hoje desconfio que alguém possa ter ido até Peggy e facilitado seu trabalho em descobrir isso. – Alexy respondia Violette mas olhava para mim, até que se levantou e foi embora.

— Iiih, gente, o que deu nele? – Kim se manifestou

O sinal soou indicando para que voltássemos para sala de aula. Não aguentava mais esse comportamento do Alexy e ainda tinha mais três aulas pela frente...