"O Cara" com O maiúsculo escrita por Dora Alice


Capítulo 5
Jaz aqui um anjo


Notas iniciais do capítulo

Amanhã é dia das mães então resolvi colocar essa parte na história logo
pra entrar no clima :")
Encontro vocês logo a baixo
Obrigada Juliana pelos comentários amorzinho *3*



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Faltava exatamente um mês para o aniversário de seis anos das gêmeas e Lucy sabia o que isso significava, levar as duas até o túmulo da mãe. Talvez não tenha sido a melhor escolha, mas Lucy as criou deixando-as saber que ela era a Tia e que mamãe estava no céu ajudando os anjos. Apesar de querer deixar as garotinhas saberem da verdade desde cedo nunca pensou numa maneira de contar que Jenny havia morrido trazendo-as ao mundo, então sempre um mês antes do aniversário das pequenas ela as levava até lá, era crueldade demais deixar isso para o dia do aniversário de Michelle e Mavis, não queria que as duas crescessem com o sentimento de culpa, seu plano era que quando tivessem idade o suficiente e começassem a perguntar como sua mãe havia morrido ela contaria.

                Lucy sabia que não era a dona da razão, que nem sempre fazia as escolhas certas para todo mundo e que nem sempre conseguia dar as sobrinhas e ao irmão aquilo que queriam. Mas aquilo era o que podia fazer, se não fosse ela quem tomaria as decisões?

                ―Prontas? –Perguntou ajeitando a blusa de frio, em Magnólia era sempre assim clima fechado e temperatura baixa.

                ―Sim senhora capitã! –Responderam juntas a fazendo rir.

                ―Tem certeza que não vai, Eve? –Lucy perguntou pela terceira vez naquele dia.

                O irmão mais novo soltou um suspiro negando com a cabeça, odiava cemitérios, em sua concepção uma vez que alguém partia ele simplesmente partia e tudo o que você podia fazer é seguir com a vida, ir no cemitério para ele era como tentar reviver algo que já não tinha presença ali, sua irmã Jenny.

                Michelle vestia um sobretudo amarelo infantil e uma touca laranja, suas pequenas mãos estavam cobertas por um par de luvinhas também alaranjadas. Mavis vestia uma meia-calça preta de algodão e um vestidinho azul de mangas cumpridas de um pano grosso, sua cabeça repleta de cabelos louros era coberta por uma touca de tricô preta e um par de luvas brancas nas mãos. Nenhuma das roupas haviam sido compradas em uma loja de grife e algumas peças vieram de um brechó, mas estavam em um bom estado graças ao cuidado de Lucy por elas.

                A loira vestia uma roupa comum, uma calça jeans antiga, um suéter vinho com uma jaqueta preta que havia ganho no aniversário de dezoito anos dada por Jenny e um cachecol quadriculado da cor preta e vermelha. Não era um ótimo look e nem muito bonito, mas aquecia.

                Mesmo que não estivesse chovendo no momento a loira levou o grande guarda-chuva preto fechado em suas mãos. Levava também uma pequena bolsa atravessada em seu corpo com o dinheiro da passagem e o seu celular. As mãos estavam ocupadas segurando Mavis e Michelle para que não saíssem saltitantes no meio da rua.

                ―Titia quando a mamãe vai parar de ajudar os anjos? –Michelle perguntou enquanto atravessavam a rua.

                ―Não sei. –Lucy respondeu após um longo suspiro. ―Porque?

                ―Eu queria ver ela logo, titia. –Respondeu normalmente como se aquilo fosse mais que o normal.

                ―Verdade titia, todo ano você diz que a gente vai ver a mamãe, mas a gente nunca vê a mamãe só aquela cama de pedra. –Mavis disse de forma agitada, a pequena parecia uma boneca ligada no 220.

                Como ela explicaria aquilo?

                ―A mamãe não pode voltar, quando você vai ajudar os anjos tem que ajudar eles para sempre. – Lucy tentava explicar de forma branda e Mavis e Michelle ganharam um grande bico.

―Então a mamãe deixou a gente? ―Michelle perguntou dengosa.

                ―Se a mamãe vai ajudar os anjos para sempre então porque a gente sempre vai ver a cama de mármore dela? –Maldita curiosidade infantil.

                Lucy subiu no ônibus e as colocou dentro também, Michelle se sentou em seu colo e Mavis no banco ao lado da janela.

                ―A mamãe era uma mulher que gostava muito de vocês, mas para que vocês continuassem em um mundo bom ela teve que ajudar os anjos. – Por mais que Lucy tentasse não conseguia dizer a verdade então sua única escolha era tentar deixar na cabeça das pequenas a imagem de uma mãe forte e bondosa, que era o que Jenny já foi. E não estava mentindo. ― Ela foi ajudar os anjos, mas me deixou aqui para cuidar de vocês duas.

                Michelle pensou um pouco e assentiu tentando assimilar a história dentro da sua cabecinha.

                ―Ainda não entendi porque a gente tem que visitar a cama de mármore da mamãe se ela não tá lá, se ela tá ajudando os anjos. –Mavis murmurou escorando a cabeça no peito da tia.

                ―É que quando alguém que a gente ama muito vai ajudar os anjos a gente visita sua cama de mármore para lembrar que mesmo que a pessoa esteja lá ajudando eles ela já esteve aqui, já fez coisas boas aqui também. A gente vai sempre para lembrar que agora mesmo que não esteja aqui com a gente está em lugar melhor. –E aquilo era a coisa mais real que havia dito nos últimos minutos.

                Jenny não era santa, mas havia sido a família de Lucy por muito tempo, desde sempre. Lucy nunca acreditou que quem morria podia ver o que acontecia ali, mas acreditava em algum lugar melhor para ir depois daqui. Lucy acreditava que sempre que levava Mavis e Michelle até o túmulo da mãe estava mantendo a memória de que Jenny era uma boa pessoa acesa, que estava lembrando o quanto ela havia sido importante e o quanto ainda era, lembrando que nunca deveriam esquece-la.

                Mavis e Michelle começaram a brincar de “essa casa é minha”, algo que haviam inventado para se distraírem durante os passeios de ônibus pela cidade.

                Lucy havia tido uma semana cheia, como todas as outras, o movimento no restaurante aumentava cada vez mais e ela pensava em contratar alguém, mas contratar significava pagar e pagar significava menos dinheiro para as despesas. Com essas preocupações sentiu suas pálpebras pesarem, mas antes que pudesse tirar um cochilo seu celular tocou.

                ―Oi, Lucy. ―Era Natsu. Sorriu.

                ―Oi, Natsu. ― Só pelo seu tom de voz já dava para saber que estava sorrindo.

                ―Queria saber se você...quer dizer, se você e as crianças querem ver um filme amanhã...é uma animação e eu pensei que, sabe se você quiser ir a gente podia ir junto.

                O coração da loira chegava a se atrapalhar na batida, céus cinema... Eve com certeza não iria, havia sobrado um pouco do dinheiro do mês que ela pretendia gastar com uma nova batedeira, mas pensando bem aquela batedeira ainda podia aguentar um pouco, não podia?

                ―Claro! Sim, quer dizer, meu Deus pareci animada demais? ―Perguntou rindo.

                ―Não. ―Ele riu, havia parecido animada demais sim, mas ele gostava daquilo.  ―Te mando uma mensagem com a hora da sessão, pode ser?

                As meninas vão adorar. ―Comentou, queria falar mais, mas o seu ponto se aproximava. ―Hey, Natsu vou ter que desligar, até mais tarde.

                ―Até mais tarde. –Ele respondeu e ela desligou.

                Qualquer um que visse Lucy com suas sobrinhas pensaria que fossem mãe e filhas, os cabelos loiros e os traços eram muito semelhantes, até mesmo a forma de Michelle sorrir se assemelhava a da loira, talvez fosse por realmente as criarem como filhas.

                Ao chegar frente a lápide de mármore a loira sibilou como fazia todas as vezes que ia até lá:

                “Jenny Thierry

                Sua alegria contagiou a todos nós, partiu por uma causa nobre.

                Irmã amada, mãe heroína e uma pessoa incrível.

                Jaz aqui um anjo. ”

                A foto na lápide mostrava uma mulher jovem com um sorriso de canto, cabelos louros encaracolados e um olhar que trazia paz.

                Era inevitável não sentir os olhos transbordarem, Lucy sentia tanto sua falta, durante toda a sua vida as duas fizeram planos juntas, planejavam se casar juntas, um casamento duplo, planejavam serem as melhores tias do mundo para seus futuros sobrinhos, planejavam comprar uma fazenda quando ficassem velhas ou viajar o mundo depois dos quarenta. Mas agora tudo se resumia em uma lápide, todos os sonhos que nunca seriam realizados, todas as risadas, aquele brilho em seus olhos azuis nunca mais seria visto, o sorriso a sua gargalhada. Lucy nunca mais brigou por causa de uma escova de cabelo com a irmã, nunca mais riu das suas desventuras amorosas, nunca mais contou segredos a ela, nunca mais...nunca e nunca o faria de novo, porque quando uma pessoa se vai, morre também o cotidiano em que ela fez parte, porque nunca mesmo que Lucy tentasse nunca mais teria sua rotina igual.

                Ao verem a tia chorar Michelle e Mavis se agarraram ainda mais nas pernas da loira mais velha, não entendiam muita coisa, mas aos poucos aprendiam que ajudar os anjos não era bom para quem ficava.

                Jenny não era o tipo de garota certinha que andava sempre na linha, mas mesmo assim tinha um coração gigante. Tinha um abraço que poderia fechar todos os seus quebrados por dentro, tinha uma risada silenciosa, usava um shampoo que qualquer um reconheceria em qualquer lugar, era exagerada, gritava e fazia escândalos por coisas bobas como um sapato estragado. E Lucy se lembrava de tudo aquilo e por isso doía. Sempre soube que a morte da irmã foi por uma causa nobre, nunca contestou isso, mas porque ela tinha que ir? Porque não podiam ter ficado as três ali, sãs e salvas? Deus, destino fosse o que existisse, Lucy não entendia. Mas continuava a acreditar que em algum lugar alguém ou alguma coisa cuidava de todo mundo ali embaixo, ela tinha esperanças de um dia entender, mas naquele momento só conseguia ser grata a sua irmã por ter lhe deixado com duas pequenas joias preciosas, dois anjinhos loiros de olhos esperançosos. Ela era grata porque era tudo o que sabia fazer, tudo o que podia fazer, era ser grata.


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Notas finais do capítulo

Eu sei que alguns leitores não curtem muito quando a história não foca só no ship NALU
Mas é que algumas coisas são importantes, Jenny é a mãe das sobrinhas que Lucy ama tanto, não podia deixar passar.
Espero que tenham gostado



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