Partners escrita por Fe Damin


Capítulo 9
Capítulo 08


Notas iniciais do capítulo

Olá queridos, chegamos numa parte muuuuuito importante da história. Algumas respostas começam a aparecer e novas perguntas também.
Espero que vocês gostem :)



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Ron Pov

Tudo doía, até lugares que eu nem sabia que existiam estavam doendo, efeito colateral de despencar de um barranco. Eu realmente tinha sido idiota, mas ela ia cair e acabei agindo por impulso, era melhor eu evitar isso no futuro, já era a segunda besteira do gênero que eu fazia.  Eu a escutei chamando meu nome, mas não fui capaz responder, minha barriga estava me incomodando muito e eu não conseguia me virar de costas. Fiquei ali estatelado no chão até que escutei o som dos passos dela se aproximando.

—Ai meu Deus! Weasley, você está bem? – ela se ajoelhou do meu lado, preocupação fluindo por sua voz.

Hermione Granger preocupada comigo, tinha que ter algo positivo em se acidentar. Depois daquela cena na caverna eu achei que ela ia querer a minha morte, mas fui surpreendido com olhares e bochechas rosadas. Não conseguia esconder minha satisfação, eu tinha adorado aquele beijo, mas o melhor foi perceber que ela não tinha ficado indiferente, por mais que ela tentasse disfarçar.

Respondi sua pergunta com um grunhido e ela se inclinou para me ajudar a virar de costas. Assim que pude focar minha visão nela, encontrei um par de olhos arregalados me olhando, sua boca entreaberta em sinal de espanto e suas mãos trêmulas que afastavam meus cabelos da minha testa.

—Está tudo bem, só me de um minuto pra gente poder continuar – tentei passar a maior confiança possível.

—Bem? Você está todo machucado! Tem um corte feio na testa e provavelmente mais um monte deles – ela retrucou sem desviar nenhum momento sua atenção da minha ferida – Vou te ajudar a sentar para eu poder olhar melhor.

Eu juro que tentei me concentrar no que ela estava falando, mas com as mãos dela acariciando meu cabelo eu acabei me distraindo e não percebendo que ela estava prestes a me puxar para cima. Assim que ela me movimentou, eu soltei uma exclamação de dor.

—O que foi? Onde está doendo? – ela levantou as mãos para longe como se tivesse acabo de me causar mais feridas, eu estava adorando aquela versão preocupada dela.

—Seria mais fácil dizer onde não está doendo – respondi com um riso do qual eu me arrependi instantaneamente pela dor que causou em minha barriga.

—Vejo que seu senso de humor sobreviveu à queda – seu tom exasperado me deu mais vontade de rir, mas me contive dessa vez.

—Lá fui eu te salvar de novo, preciso parar com isso, não está fazendo bem pra minha saúde – não resisti em cutucá-la eu sabia que ela não ia gostar da insinuação de que precisava ser salva.

—Se for pra ficar jogando o fato na minha cara, me deixe cair da próxima vez, eu prefiro. – ela respondeu contrariada, da maneira como eu esperava. – Deixe-me ver os outros machucados.

—Acho que machuquei meu braço e tem alguma coisa me incomodando na barriga – falei, indicando os locais.

—Não vou conseguir ver com toda essa roupa... – ela parou a frase no meio do caminho, eu notei que ela estava incomodada com o que obrigatoriamente viria a seguir.

—Me ajude a tirar o casaco – decidi que ia dar um desconto e não implicar com o nervosismo que eu vi em sua expressão, já era o suficiente saber que ele estava lá.

Foi necessária uma boa dose de paciência, mas alguns minutos e muitos grunhidos depois eu estava sem casaco, nem suéter, nem blusa, e para minha sorte com um belo de um corte na barriga.

—Você só ralou de leve o braço, está doendo provavelmente pelo impacto, agora esse corte está mais feio, posso? – ela perguntou antes de se aproximar para ver melhor.

Respondi afirmativamente, vi que ela respirou fundo antes de levar suas mãos em direção ao machucado. Ela ficou alguns instantes analisando a situação e eu percebi que estava segurando minha respiração, não desviei meu olhar nem uma vez daquelas mãos. Quando a vistoria estava finalmente terminada, ela levantou seus olhos para encontrar os meus a encarando, foi um daqueles momentos em que nenhum de nós conseguiu falar nada, todas as gracinhas que eu podia ter dito para quebrar aquele silêncio ficaram perdidas na minha mente. Como eu poderia pensar em qualquer outra coisa com ela tão perto de mim? Suas mãos me tocando e seus olhos agora presos nos meus.

Eu estava a poucos segundos de eliminar a distância que havia entre nós quando ela limpou a garganta, disfarçando como se nada tivesse acontecido, e foi em direção a sua bolsa que estava ao seu lado.

—Eu vou ter que limpar esse machucado na testa, apenas um curativo deve ser suficiente, mas esse corte no abdômen foi mais profundo, não é nada de mais, mas vai precisar de alguns pontos - ela estava usando um tom clínico, com se estivesse me dando a notícia de que eu precisava apenas colocar gelo em um galo na cabeça, o que ela quis dizer com pontos?

—Pontos? Pera ai, isso dói, não é? – todas as sensações que a proximidade dela estava me causando foram substituídas por uma preocupação alarmante, eu nunca tinha me machucado mais do que um joelho ralado, e procedimentos médicos estavam lá no alto da lista de coisas que eu tinha medo, e isso quando tinha magia envolvida, só de pensar em como os trouxas resolviam esse tipo de problema eu senti meu estômago se revirar.

—Não seja frouxo, Weasley, vou terminar em um instante, tenho um kit de primeiros socorros em algum lugar na minha bolsa – ela estava tirando várias coisas de dentro da bolsa até que finalmente achou o que parecia ser uma nécessaire cheia de coisas estranhas que eu nunca tinha visto na vida.

Pronto, eu estava com medo de verdade.

—O que são essas coisas? O que você vai fazer? Quem trás esse tipo de tralha numa missão? – meu nervosismo se manifestou em uma enxurrada de perguntas histéricas, eu podia sentir minhas mãos suando frio.

—São apenas apetrechos de primeiros socorros, vou ter que dar alguns pontos, mas tenho tudo o que preciso aqui, e para sua última pergunta: eu trago esse “tipo de tralha” para uma missão, nunca sabemos quando a magia não vai resolver o problema, e você deveria me agradecer por ser tão precavida, agora fique quieto para eu limpar o corte. – ela pareceu se divertir com o meu nervosismo, mas assim que pegou o algodão e um líquido marrom estranho nas mãos, voltou ao seu modo concentrado.

O corte ainda sangrava um pouco, então ela o pressionou por algum tempo antes de finalmente poder limpá-lo, aquilo já estava doendo mais do que eu gostaria e nem tinha começado nada. Fiquei o mais quieto que pude, mas na hora que a vi retirando uma seringa da bolsinha, não consegui me conter.

—Você ao menos sabe usar isso? – não dava pra negar, eu estava apavorado.

—É só uma agulha, Weasley nunca viu uma na vida? – disse erguendo a sobrancelha.

—Nunca precisei desse treco, temos medibruxos, sabia? – minha mente calculava se não era melhor eu levantar e sair correndo, talvez doesse menos.

—Meus pais eram dentistas, me ensinaram primeiro socorros desde sempre, não se preocupe, já dei pontos antes. – ela falou tentando me acalmar, mas por mais que eu tenha apreciado o gesto, não funcionou.

—Eram? – perguntei, tentando me distrair com qualquer coisa que não fosse o quão próximo aquela agulha estava de mim.

—Eles morreram, acidente de carro. – eu e minha língua grande, vi imediatamente uma névoa de tristeza surgir em seus olhos.

—Me desculpe, eu não devia ter perguntado – respondi, tentando amenizar a minha falta de tato.

—Tudo bem, já faz muito tempo, aconteceu pouco tempo depois que fui admitida em Hogwarts. – ela sorriu, voltando sua atenção para o que tinha em mãos.

Claramente não estava tudo bem, mas eu decidi não insistir, no entanto a tristeza no seu rosto me fez continuar a falar.

—Eles com certeza estariam muito orgulhosos da filha, vendo aonde você chegou e sendo tão bem sucedida. – coloquei minha mão em seu ombro tentando passar conforto.

Aconteceu então algo que eu não esperava: ela sorriu pela primeira vez e agradeceu. Eu achava que ela ficava linda brava, envergonhada ou frustrada, mas nada me preparou para o seu sorriso. Finalmente parecia que eu tinha tido acesso à Hermione que fica guardada lá no fundo de toda a armadura que ela usava, um sorriso tão bonito que chegou aos seus olhos.  “Ronald Weasley, vá com calma!”.

Recolhi minha mão e voltei minha atenção para meu ferimento, eu tinha que me controlar, as mãos dela no meu abdômen, os cabelos fazendo cócegas no meu ombro e aquela expressão de saudade que ainda permanecia, provavelmente por ela estar lembrando dos pais, tudo me fazia ter mais vontade de pegá-la nos braços e beija-la até que ela esquecesse os pensamentos tristes, quem mandou eu ter dado aquele beijo nela? Agora era uma opção que pulava muito rápido na minha mente, e eu estava morrendo de vontade de repetir a dose.

—Não tenho uma anestesia forte aqui comigo, então você provavelmente vai sentir um pouco de dor – declarou já de desculpando.

Eu realmente preferia que ela não tivesse me avisado, meu pânico só cresceu com o comentário. Ela começou a dar o primeiro ponto, e nem preciso dizer que eu não consegui ficar calado e aguentar tudo em silêncio como eu gostaria. Mal ela encostou a agulha em mim eu já estava gemendo, reclamando como uma garotinha, no fim do primeiro ponto eu não tinha mais cor.

—Quer ficar quieto e parar de gemer, assim vou acabar te machucando mais – ela cobriu a boca para tentar abafar uma gargalhada, mas não conseguiu, ela estava realmente rindo da minha desgraça.

—Você ri porque não é em você que estão fazendo uma costura! – declarei mal-humorado, por mais que ela tivesse um riso gostoso de escutar, a situação não me permitia aproveitá-lo.

—Homens, não conseguem aguentar nem uma dorzinha – ela continuou o serviço com humor ainda estampado no rosto.

Depois de uns bons 10 minutos e mais outras tantas broncas para que eu não me mexesse, finalmente a minha tortura terminou. Ela limpou e colocou um curativo na minha testa e se afastou para contemplar o resultado.

—Pronto já está tudo em ordem, só não faça muita força nesse lado para não arruinar meu trabalho, você se saiu bem - ela olhou em meus olhos e eu não deixei de notar a ironia das suas últimas palavras.

—Eu não ganho um beijo pra sarar? Você ganhou um, é o justo. – se ela tinha o direito de ser engraçadinha, eu também não ia deixar passar.

—Largue de bobeiras, isso não tem nem uma comprovação científica e... – ela podia ter se afastado naquele momento, mas não se moveu permanecendo perto de mim.

Era uma chance que eu não iria perder, antes que ela terminasse a frase, eu me aproximei e roubei um beijo rápido.

—Viu, já estou me sentindo bem melhor – exibi meu melhor sorriso, principalmente ao vê-la de novo encabulada.

—Seu... pare de fazer isso! – respondeu com uma irritação fraca demais para eu levar a sério, enquanto levava a mão aos seus lábios.

—Eu não teria feito se você tivesse completado o serviço direito para o seu paciente, faz parte da sua responsabilidade, sabia? – levantei as sobrancelhas em desafio, decididamente a Hermione envergonhada era uma das minhas favoritas.

—Ah, não vou discutir com você, só mantenha essa boca longe de mim - fez um gesto de dispensa em minha direção e se afastou para levantar.

—Pode deixar, seu desejo é uma ordem – continuei, ainda sorrindo - Você ainda vai me pedir um beijo e eu não vou te dar. – aquilo era uma mentira deslavada, se ela me pedisse um beijo eu sabia que nunca seria capaz de recusar, mas ela não precisava saber disso.

—Rá! Já pode acordar agora, Weasley. – respondeu me olhando de cima com seu ar mais arrogante.

Estava ali um desafio que eu adoraria encarar, mas tínhamos coisas mais importantes para pensar naquele momento, principalmente em como sair daquela maldita floresta, se eu nunca mais tivesse que visitar uma até o fim dos meus dias, ainda não seria o bastante, eu já estava mais do que pronto para me ver longe daquele lugar.

Enquanto a Hermione terminava de recolher toda a tralha que ela tinha usado para me torturar, eu tentei me levantar para podermos continuar nossa caminhada, já estava escurecendo depressa e cada minuto de luz era importante, não podíamos mais perder tempo, contudo minha tentativa foi um fracasso, pois ao fazer o movimento necessário para me colocar sobre meus pés eu acabei fazendo força como não devia e senti os meus recém adquiridos pontos se repuxando. Claro que isso resultou num belo de um grunhido de dor e eu me estatelando de novo no chão, muito bom para meu já ferido ego.

Em poucos segundos a Hermione estava ao meu lado, se certificando de que tudo continuava no lugar ainda.

—O que você pensa que está fazendo? Eu te falo pra tomar cuidado com seu machucado e você faz exatamente o contrário.... o que eu vou fazer contigo? - ela me olhava como se tivesse tentando resolver um quebra cabeça muito difícil e eu não pude fazer outra coisa a não ser rir.

—Você pode começar por me passar a minha blusa, não vai ser muito agradável encarar esse frio assim, a não ser que sejam ordens da minha médica – ela pareceu notar só naquele segundo que eu continuava sem roupa e eu tive a felicidade de ver suas bochechas se tingindo de vermelho novamente, eu nunca ia me cansar disso.

Ela atendeu o meu pedido e fez questão de olhar para qualquer lugar que não fosse em minha direção enquanto eu tentava recolocar as peças de roupa. Aquilo não estava divertido o suficiente, então fingi me atrapalhar mais do que deveria.

—Não estou conseguindo colocar a blusa, Hermione, me ajuda aqui? Dói quando eu estico o braço – tentei transmitir toda a inocência do mundo no meu pedido, mas um sorrisinho teimoso acabou aparecendo.

—Você não tem mais cinco anos, Weasley, tenho certeza que consegue se vestir sozinho – ela cruzou os braços e me olhou com suspeita.

—Tudo bem, se você quer ficar ai apreciando meu sofrimento, a vontade, só não reclame se eu levar uma eternidade para me vestir – o drama estava exagerado até para os meus ouvidos, mas era tão divertido implicar com ela, fiz uma boa atuação ao colocar a blusa e melhor ainda tentando colocar meu suéter.

Finalmente a paciência dela se esgotou, ou isso ou ela realmente acreditou que eu estava com dificuldades, o que eu achava pouco provável.

—Ah tudo bem! Vamos logo com isso – ela se aproximou e me ajudou com o restante das peças, tentando ao máximo não encostar em mim. Não importava, lá estava ela a um palmo de distância novamente, objetivo alcançado. Eu não sabia o que estava me levando a agir daquela maneira, sabia apenas que gostava dessa pouca distância entre nós, e se eu não achasse que ela ia querer costurar a minha boca, teria roubado outro beijo ali mesmo.

Eu estava já devidamente vestido e ela foi então me ajudar a levantar, apenas para “não estragar seu trabalho” de acordo com ela. Ela passou seu braço em minhas costas e eu não hesitei em me aproximar ao máximo daquele abraço.

—Já falei uma vez que eu não mordo – sussurrei em seu ouvido ao sentir suas mãos trêmulas.

Ela não se deu ao trabalho nem de reclamar, recebi apenas um olhar feio como resposta e assim que eu consegui ficar de pé ela se afastou como se tivesse levado um choque, mas eu sabia que ela não tinha ficado indiferente, me passou pela cabeça se eu chegaria a ver o dia que ela admitiria isso.... provavelmente não.

—Vamos ter que ir com mais cuidado, está difícil de enxergar e não podemos nos dar ao luxo de acontecer mais algum acidente - ela observou em um tom casual.

—Não vou reclamar disso – todos os meus músculos protestavam quando voltamos a andar, mas tínhamos que tentar avançar o máximo possível.

Minha queda tinha desviado bastante nossa rota, teríamos que fazer um contorno em uma parte da floresta na qual não tínhamos passado antes, e isso me deixou um pouco nervoso, não estávamos indo muito bem nem tentando nos manter no caminho original. Andamos mais uns minutos quando a luminosidade ficou realmente crítica, já estava difícil enxergar três passos a nossa frente, daquele jeito nós iriamos nos separar ou acabar nos machucando de novo. Tomei uma decisão impulsiva, porém totalmente justificável, não dava pra esperar algo sair errado novamente....

—Hermione, me dá a mão – parei de caminhar e estendi a minha em sua direção.

Claro que não ia ser fácil assim, então antes mesmo que ela pudesse negar, prendi sua mão na minha, ela já estava tentando se desvencilhar quando eu falei.

—Não podemos nos separar agora, se não vai ser difícil nos achamos nesse breu, então não seja reclamona. – mesmo na penumbra eu consegui ver sua expressão de desconforto.

—Eu não sou reclamona! – ela rebateu.

—Ok, se é o que você diz – dei de ombros e continuamos a andar, sua mão permanecia na minha.

Nosso avanço estava sendo bem lento, eu já estava todo dolorido da queda e ser atacado constantemente pelos galhos que não conseguíamos ver não estava ajudando nada.

—Como é que você não trouxe uma lanterna? – tentei aliviar um pouco a tensão, pois até a minha respiração estava descompassada, talvez ficar tanto tempo perto dela não tivesse sido uma boa ideia, memórias de tê-la muito mais próxima de mim estavam inundando a minha mente.

—Apenas não me ocorreu que precisaríamos de uma – ela tentou se defender

—Você trouxe até objetos de tortura e não pensou em trazer uma lanterna? – perguntei incrédulo.

—Você por acaso se lembrou de trazer uma? – percebi que a tinha irritado com aquela conversa.

—Não – admiti.

—Então cale a boca! – uma gargalhada escapou dos meus lábios ao ouvir sua reação tão espontânea, Hermione Granger não gostava mesmo de admitir falhas.

Eu tinha certeza de que ela estava me olhando com sua expressão mais azeda, mas não me virei em sua direção para me certificar. Decidi conceder uma pequena trégua e continuar nosso caminho em silêncio, no entanto algum tempo depois um trovão interrompeu a quietude que estava estabelecida.

—Ah ótimo! Só faltava começar a chover agora – parei subitamente e olhei em direção ao céu tentando, mesmo contando com quase nenhuma luz, ver por entre as árvores se havia algum indício de que ficaríamos encharcados em breve.

—Não vai dar pra continuar se cair um temporal, Weasley – ela desprendeu sua mão da minha, até que eu estava admirado por ter durado tanto tempo.

—O trovão pareceu longe, talvez não chova aqui, vamos continuar – decidi, já retornando à caminhada, mas ela parecia não concordar e permaneceu parada.

—Não sei quanto a você, mas eu não estou disposta a morrer de frio encharcada nessa floresta. Precisamos providenciar um abrigo enquanto ainda estamos secos – eu consegui enxergar seus braços na altura da cintura.

—Enquanto você fica parada ai reclamando, nós já podíamos ter andado mais um bom pedaço, não vai chover agora.

—Você é impossível! – mesmo com a reclamação ela decidiu me seguir e continuamos floresta a dentro, minha vontade era de ter sua mão na minha novamente, mas com o humor dela naquele momento, preferi não arriscar, eu já tinha brincado com a sorte muitas vezes nas últimas horas.

Claro que não demorou muito e a chuva começou a cair, até as forças da natureza tinham que concordar com aquela professora!

—Eu disse que ia chover! – ela declarou triunfante como se a prova de que ela estava certa fosse nos deixar secos.

—Ok você estava certa, te deixa feliz escutar isso? – resmunguei enquanto tentávamos nos encolher em baixo de uma árvore mais frondosa.

A chuva estava apertando e a copa da árvore já não era mais suficiente para nos proteger, tínhamos que procurar um plano B.

—Vamos ficar congelados se continuarmos aqui – eu passava as mãos pelos meus braços, mas o vento em conjunto com a roupa já molhada estava diminuindo drasticamente a sensação térmica.

—Eu tenho uma tenda em algum lugar na minha bolsa – ela se abaixou para procurar o objeto.

—E você só diz isso agora? Já podíamos ter montado esse treco – agora eu que estava sendo o reclamão, mas ela podia ter mencionado o fato antes.

—Foi você que não quis parar, fica quieto pra eu achar logo.

Ela levou alguns minutos vasculhando dentro da sua bolsa sem fundo, vez ou outra tirando alguma coisa que estava atrapalhando, até que finalmente ela achou um pacote onde se encontrava a tal tenda.

—Eu monto isso com mágica, vai ser meio difícil fazer isso na mão, ainda mais sem enxergar nada – ela já tinha começado a abrir a barraca, não era como se tivéssemos outra opção.

—Tá vendo, uma lanterna viria a calhar agora, você trás uma barraca e não trás uma lanterna... – eu estava pedindo por uma bronca ali, mas me pareceu tão absurdo que foi impossível segurar a língua.

—Quer fazer o favor de para de falar nessa bendita lanterna e vir me ajudar? – ela já estava se atrapalhando com todas as partes da tenda, eu me aproximei e comecei a ajudar – se eu ouvir mais algum comentário sobre lanternas eu juro que vou conjurar uma quando sairmos daqui e te fazer engolir, entendeu? – me olhou esperando a confirmação.

Ela estava tão adorável com o cabelo molhado e a chuva escorrendo pelas bochechas que ao invés de me importar com a ameaça eu apenas assenti e continuamos nosso projeto. Eu precisava parar com aquilo, não tinha nada que ficar observando como ela ficava linda concentrada, ou como as mãos dela trabalhavam rápido para desempacotar todas as peças que precisaríamos, aquilo estava indo longe demais.... Mas eu nunca fui bom com regras, então porque eu seguiria as minhas? Eu sabia que o certo era não me aproximar mais, mas ela fazia tudo ficar tão irresistível....

Nunca imaginei que montar uma simples cabana fosse um trabalho tão complicado, como os trouxas viviam sem mágica? Claro que a falta de luz, aquela chuva fria e os meus machucados não estavam exatamente ajudando, mas aquilo estava me parecendo muito confuso. A Hermione tomou as rédeas da operação, eu não tinha a menor ideia do que estava fazendo e ela era pelo menos familiarizada com as partes. Levamos uns bons minutos trabalhando e nos ensopando cada vez mais e depois de algumas broncas e outras reclamações tínhamos uma tenda mais ou menos montada na nossa frente.

Não nos demoramos em entrar e fugir de toda aquela água. Assim que fechamos o que seria a porta da barraca, me dei conta que estávamos dentro de um lugar um tanto quanto pequeno e que passaríamos a noite ali, pensamentos nem um pouco inocentes começaram a aparecer na minha mente, mas eu tratei de tirá-los do caminho, eu estava brincando com fogo e só não tinha me queimado ainda por pura sorte.

—Essa tenda é ampliável, mas na atual conjuntura não vai ser possível – ela comentou séria e por um momento eu me perguntei se ela tinha tido os mesmos pensamentos que eu.

—Melhor isso do que ficar na chuva – respondi levantando os ombros fazendo pouco caso da situação – Está frio demais aqui, melhor tirar essas roupas molhadas.

Eu já tinha me livrado do meu casaco e do suéter quando ela finalmente reagiu.

—Weasley, pare com isso! – sua reação me fez rir.

—Não é como se você nunca tivesse me visto sem blusa – provoquei de proposito – E eu não quero congelar, tira a sua roupa logo.

— O que? Não vou fazer isso! – Ela se afastou ao máximo que a tenda permitia, o que não era muito, e apertou ainda mais o casaco molhado sobre si.

—Hermione, não estou falando para você ficar pelada, mas tira pelo menos esse casaco e seu suéter, você vai pegar uma pneumonia assim. Não tem nenhum cobertor nessa sua bolsa milagrosa? – perguntei genuinamente interessado.

—Não me lembro de ter colocado nenhum na bolsa.

—Ah você deve ter esquecido do lado de um outro certo objeto que deveria estar ai – cutuquei rindo.

—Weasley... – ela apertou os olhos e me olhou irritada, eu nunca mais ia pensar em uma lanterna sem lembrar da cara dela de contrariada.

—Só estava brincando – eu já tinha me livrado da blusa e do meu calçado, só estava pensando se ia tirar a calça também, decidi que era melhor não abusar e mantive as calças no lugar.

Estiquei tudo ao meu lado da melhor maneira que pude e percebi que a Hermione estava me observando disfarçadamente, se ela não queria que eu notasse, estava fazendo um péssimo trabalho porque eu não só notei como adorei o fato. Não era justo que eu não ia ter o mesmo privilégio, então resolvi tentar de novo.

—Eu estava falando sério quanto as roupas, você vai estar doente pela manhã se continuar assim – me aproximei e percebi que ela já estava tremendo – viu só? Você já esta morrendo de frio.

Ela pareceu ponderar minhas palavras por alguns instantes e, com um suspiro, finalmente aceitou a lógica nos meus argumentos. Eu bem que tentei, mas não consegui desgrudar meus olhos dela enquanto ela tirava o casaco e depois disso o suéter, a blusa clara que ela usava por baixo estava molhada o suficiente para que eu não tivesse que imaginar muito o que existia por baixo, mas quando meus pensamentos estavam começando a  sair de controle de novo, a corrente que estava pendurada em seu pescoço me chamou atenção. Olhei com mais detalhadamente, intrigado com o pingente, parecia que eu já tinha visto aquilo em algum lugar.

Ela percebeu a direção do meu olhar e com os olhos arregalados escondeu rapidamente o pingente por debaixo da blusa.

—Ei, eu conheço isso! – apontei para o objeto que ela tinha escondido, finalmente eu tinha juntado as peças do quebra cabeça e não acreditava na figura que elas formavam.

—Era meu, eu dei para uma garota que estava chorando no.... Era você! – não dava pra acreditar que aquela menina que eu encontrei chorando de dar dó, trancada em um dos banheiros da escola pudesse ser ela. Como aquela garota, que derramava lágrimas por sempre ser deixada sozinha, pôde se transformar nessa mulher tão rígida que não deixa ninguém se aproximar nem para oferecer ajuda?

—Não sei do que você está falando – ela desviou olhar no que era claramente uma tentativa de mudar de assunto, mas eu sabia que era uma mentira descarada.

—Ah sabe sim! Você estava chorando e eu te dei esse amuleto que a minha mãe tinha me dado, contei até a história pra te alegrar – eu estava com raiva, aquele tempo todo ela estava mentindo pra mim, dizendo que não me conhecia, eu ainda guardava aquela porcaria de carta que ela me mandou na época, tentei de todos os modos procura-la na escola e agora ela estava na minha frente provavelmente rindo todo esse tempo de como eu sou imbecil.

—Não seja intrometido e cuide dos seus próprios assuntos, não tem nada que te diz respeito aqui – seu tom se transformou em uma acusação ácida.

A reação dela foi mais um incentivo para eu continuar, eu realmente estava furioso e aquelas palavras só serviram para fazer o que saiu da minha boca se tornar mais cruel.

—O que aconteceu com aquela garota? Ela tinha um coração, o seu está congelado! – eu só pensava em atacá-la, em conseguir que ela admitisse o que eu sabia ser verdade, por fim ela finalmente quebrou o silêncio.

—A vida aconteceu, Ronald! – ela já não se importava em negar mais, estávamos virados um para o outro com faíscas saltando dos olhos.

— Eu não sou como você – seu tom irônico conseguiu me irritar ainda mais – sua família tem sangue bruxo por todos os lados que se olhem, já eu nasci trouxa, sou sangue ruim! Sabe como é difícil chegar a algum lugar quando as pessoas já pensam que você nem deveria estar lá? – eu percebi que ela lutava para conter as lágrimas, mas nem mesmo isso foi capaz de me acalmar, a raiva atrapalhou a minha resposta e ela continuou a gritar em minha direção.

—Eu tive que estudar mais, me esforçar mais e garantir ser sempre a melhor para ser levada a sério e principalmente a não ligar quando os outros me machucam, então não me venha com sermões – sua expressão deixava transparecer todas as suas acusações o que me fez finalmente reagir.

—Você nunca pensou que, com essa atitude, a culpa é sua por estar sempre sozinha? – quando eu senti a crueldade das minhas palavras, elas já tinham saído da minha boca.

Ela se endireitou como se tivesse levado um tapa, seus olhos embaçados pelas lágrimas se arregalaram em minha direção. Vi naquele momento que eu tinha passado dos limites, eu me inclinei para perto dela pronto para retirar o que disse, mas antes que eu pudesse me retratar ela tirou o colar do pescoço, jogou-o aos meus pés e saiu correndo da tenda.

Eu nunca me senti tão idiota na vida.


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Notas finais do capítulo

E agora o que vai acontecer?? O Ron vai atrás dela? Finalmente a conexão entre esses dois foi mencionada :)
O próximo capítulo será um flashback para a o primeiro ano deles em Hogwarts e vcs ficarão sabendo exatamente o que aconteceu....
Me digam o que vocês estão achando, aguardo os comentários.
Bjus



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