Quem Nós Somos? escrita por AndreZa P S


Capítulo 7
E - Sempre tem alguma coisa pra dar errado.




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"Às vezes eu balanço, às vezes eu caminho. Às vezes o controle não está em minhas mãos. Às vezes tenho que pular antes de saber o que está lá embaixo. Às vezes tenho que largar tudo e ir embora.

Alguns dias foram quentes e outros, frios. Alguns dias carregamos uma carga pesada, alguns dias podemos procurar e o amor pode não aparecer. Mas quero que saiba... Que pode contar comigo (sim, você pode). Pode contar comigo (para se entender), pode contar comigo para qualquer coisa (...)

E quando a vida se baseia em arrependimentos, como quando você faz sua cabeça e depois muda de ideia... Você quer tentar tantas coisas que ainda não tentou... Hmm, te dou o maior apoio em tudo isso (sim, eu dou).

Foi você quem me trouxe de volta quando estava perdida, tudo o que aprendi, você me ensinou. Como ser sábio e prestar mais atenção
E você me mostrou como escutar...
Então escute...

Pode contar comigo (sim, você pode)."

 

You can rely on me - Jason Mraz

 

Por Eadlyn Schreave

 

 – Eu sou Eadlyn Singer Calix Schreave. Eu sou inabalável, tudo o que eu quero, eu posso e consigo, e ninguém consegue me colocar para baixo. Ninguém. - Repeti pela a milésima vez, enquanto me fitava através do espelho de mão em formato de coração que eu segurava. Solto um suspiro e guardo-o dentro da gaveta que fica ao lado da minha cama. Quando acordei meus olhos ainda estavam levemente avermelhados, por isso tive que carregar na maquiagem esta manhã. 

Estou sozinha, domingo era sem duvida, o meu dia preferido. O quarto era só meu, já que Manoela geralmente passava os fins de semana em outro lugar, provavelmente com a sua família. Sozinha. Eu e eu mesma... 

Na verdade, ultimamente tenho me sentindo solitária, mesmo estando, como sempre, rodeada de pessoas. Qual é o problema comigo? Não é essa a vida que eu sempre desejei desde a minha fracassada adolescência? Eu chorei ontem a noite. Chorei na frente do babaca do Kile. E por causa de Julieta, me poupe! Sempre soube que ela não seria minha madrinha de casamento, e muito menos que seria madrinha dos meus filhos, mas... me senti tão mal. E Eikko? Não acredito que tive o desprazer que namorar com aquele imbecil, não acredito que ele beijou Julieta, mesmo falando mal dela pra mim sempre que podia, e não acredito que me senti por baixo naquele momento. 

Odeio me sentir por baixo de qualquer situação. Há algum tempo atrás, prometi a mim mesma que jamais deixaria alguém me fazer sentir inferior, e o que aconteceu? Foi só a vadia e o filho da mãe do Erik se engolirem na minha frente, que eu já me senti como se estivesse em um tenebroso dejavú. Mas tudo bem, Kile arranjou a pessoa certa para se vingar, vou me esforçar ao máximo pra ver Erik humilhado, e, mesmo que a contragosto, pôr o woodwork em seu lugar. Deveria ter escutado as palavras de meus pais, que diziam e repetiam, que ele não era o cara certo pra mim - e no fundo, talvez nem tão no fundo assim, eu sabia. Mas segui mesmo assim, porque eu não estava buscando amor, estava buscando admiração... qualquer outra coisa.

Estou olhando fixamente para a parede clara, planejando um jeito de conseguir colocar um fracassado social dentro do meu círculo de amizades, e, ainda fazê-lo ser mais popular do que Erik. Tá certo que Kile se saiu razoavelmente bem ontem, mas custava sorrir mais? O cara parecia que estava sentindo alguma dor... reviro os olhos. Será que ele não via que estava no lugar que todo mundo queria estar? Bufo e, em seguida, escuto batidas leves na porta. 

Visita? 

Me levanto do sofá e me dirijo à porta, abrindo-a com um estalido. Fico paralisada por um segundo, para logo depois empurrar a madeira para frente, pretendendo passar a chave e evitar que a pessoa entrasse e tivesse a honra de dividir o mesmo ar que eu. 

Mas Julieta, com seu corpo de saracura, conseguiu passar pela a fresta antes que eu pudesse fechá-la completamente. Cruzo os braços e franzo o cenho. Que diabos essa diaba estava fazendo aqui? Seus olhos estão embargados, seu rosto aparentemente cansado, os cabelos escorridos lambidos para trás, presos em um rabo de cavalo. 

Há alguns segundos de silêncio, então arqueio as sobrancelhas. 

— Ead... queria conversar com você sobre o que aconteceu ontem na festa de Suzanna. 

Ergo o dedo indicador.

— Primeiramente, querida, você não tem mais o direito de me chamar pelo o meu apelido. - Ergo meu dedo médio - E em segundo lugar, não estou nem um pouco afim de falar sobre ontem a noite. Porque nada aconteceu. - Dou de ombros. 

Julieta franze a testa, e então abraçou-se, como se quisesse se proteger. Ah tá, como se ela sequer passasse perto de uma garota frágil. 

— Sei que você viu Erik me beijando, mas eu não queria... juro, você é mu...

Começo a gargalhar. Uma risada maligna, igual a da Malévola. 

— Eu vi, mas não entendi porque você está aqui ainda. 

Ela pisca algumas vezes antes de continuar.

— Você não se importou? - Ela quer saber ao fazer uma careta.

Aponto para o meu próprio rosto.

— Olha a minha cara de quem se importou. - Digo, vestindo minha melhor expressão de indiferença. 

Julieta abre um pequeno sorriso de lado. 

— Isso quer dizer que você não está brava comigo e que ainda so...

— Quer dizer que Erik apenas te usou para me afetar, mas que isso não aconteceu. Sinto muito por ter sido tão ingênua, mas Eikko jamais ficaria com você por um interesse real. - Cuspi as palavras, e endireitei os ombros. Julieta fez uma careta.

— Como você sabe? - Quer saber, parecendo ofendida. 

— Olhe para nós duas. É isso, existe um abismo entre nós, quem você acha que tem mais probabilidade de ser usada por um garoto bonito aqui?

Julieta bufa e põe as mãos na cintura, estufando o peito para a frente. 

— Escute aqui Eadlyn, eu aturei você por muito tempo, mas você não passa de uma vadia. - Solta ela, erguendo suas mãos na altura dos ombros e curvando seus lábios a la Angelina Jolie para baixo. 

Franzi as sobrancelhas.

— Repete. - Eu digo. 

— Você é uma aprendiz de vadia, que já deve ter dormido com o campus inteiro, e que ninguém gosta de você de verdade, é isso. Foda-se você. E saiba que Erik me pediu em namoro. 

— Como é que é? Namoro? 

Ela abriu um sorriso orgulhoso. 

— Sim, ele aprendeu a dintinguir as que prestam das que só servem pra transar. 

O QUÊ? Fecho os olhos com força. Bato nela ou não bato? Bato ou não bato, bato ou não bato, bato ou não bato, bato ou não bato...

Abro um sorriso perverso.

— Você é a criatura mais iludida que eu já conheci, Julieta. Ele está com você, porque eu estou com o Kile. Só que ele ainda não sabe, é que Kile tem tudo pra se transformar em alguém mil vezes melhor, e eu serei novamente a primeira dama. Se ele acha que ofende a minha autoestima estando com uma boneca de camelô, está muito enganado. E diga isso pra ele. Estou mandando.

Julieta acaba de cuspir no chão.

Não... ela não fez isso. Olho para a gosma esbranquiçada no piso de madeira e arqueio as duas sobrancelhas. 

— Acabou o seu reinado fajuto, Eadlyn. - Balbucia. 

Solto um suspiro resignado, minha mãe me ensinou a ser uma dama, mas não podia admitir este tipo de ousadia. Julieta está prestes a virar as costas pra mim, quando eu a surpreendo com um tapa alto na lateral de seu rosto, sua cabeça tombou para o lado e seu corpo cambaleou um pouco. Minha mão começou a arder. Ela me encara com os olhos muito arrelagados, surpresa. 

— Abre essa sua boca só mais uma vez pra ver se eu não enfio a sua cabeça dentro de um balde com ácido puro. - Ameacei. Como se fosse possível, seus olhos praticamente soltaram das órbitas, e no segundo seguinte a garota já estava quase correndo quarto a fora. Com um suspiro satisfeito e uma jogada glamurosa de cabelos, fecho a porta com um baque suave. Mas no fundo eu estou morrendo de raiva. Estão NAMORANDO? Isso que eu estou sentindo é ciúmes ou é apenas o meu ego sendo esfaqueado? 

Minha falha tentativa de tentar compreender os meus sentimentos são temporariamente  deixadas de lado quando escuto o meu celular tocando Blank Space da Taylor Swift. Atendo no segundo ou terceiro toque e acabo esquecendo de ver quem era. 

— Quem é? - Pergunto com a voz mal humorada. 

Alguém bufa do outro lado da linha. 

— Sua meiguice me encanta, cherie. - Murmura Kile. Era só o que me faltava. 

— Ah, querido namorado, como você está hoje? Dormiu bem? - Ironizo, ao me jogar na cama. 

— Assim está melhor. Marcus e eu estamos indo aí no seu quarto. - Avisa. Franzo a testa.

— Por quê? - Quero saber, intrigada. - Eu não posso ter folga de você neste acordo? 

— É exatamente sobre isso que quero conversar com você.

— E por que Marcus está vindo junto... ? 

— Ele cursa Direito. 

— E eu com isso? 

Kile suspira do outro lado. 

— Apenas nos aguarde, já estamos chegando. - Retruca e desliga. 

E não deu tempo nem de eu poder criar hipóteses pela a presença de Marcus - acho que se eu pedisse para ele lamber meus dedos dos pés, ele lamberia -, porque em menos de dez segundos, já pude ouvir batidas na porta. 

— Está destrancada. - falo eu, enquanto ergo o meu tronco para ficar sentada na cama, ao invés de deitada. Logo, Marcus e Kile entram em meu campo de visão. Marcus está com as roupas que normalmente o via usando, camisa xadrez hiper larga e calça de moletom, no melhor estilo Kile Woodwork antes de ser abençoado com as minhas dicas de beleza. Meu namorado de mentirinha, está usando uma camisa polo branca e calça jeans vermelha... não está feio, mas poderia estar vestido melhor. 

Ele sorri para mim e sacode uma pasta azul no ar. Estreito os olhos. 

— Olá, Eadlyn. - Balbucia Marcus. Aceno com dois dedos para ele, não estava com disposição para ser muito simpática hoje, ainda mais que não precisava de nenhum favor dele... por enquanto.

— Você está com a cara mais amarrada que o normal hoje. - Observou Kile, enquanto dava uma inspencionada no quarto. 

Suspiro. 

— Julieta veio aqui, tive que dar uns tapas nela e chamá-la de rídicula. 

— Você é má. - Ela fala em tom crítico, mas seus lábios repuxaram-se para cima levemente.

— Não que você tenha alguma coisa a ver com isso. - Digo, entendiada. 

— Depende, depende. Sabe o que é isso? - Pergunta, ao retirar de dentro da pasta uma folha de papel. 

Ergo uma sobrancelha.

— Não sou cega. É uma folha. 

— Parabéns, você me surpreendeu, acertou na mosca. 

Fecho minha expressão e cruzo os braços.

— Woodwork, não estou com paciência pras suas zoações hoje. O que tem escrito aí?

Ele trocou olhares com Marcus, e então coçou a lateral do seu rosto, o som da barba áspera ecoando suavemente, o que me fez lembrar vagamente da sensação de seus pelinhos no meu rosto quando nos beijamos na noite passada. Não foi um sacrificio, mas... não pretendo repetir tão cedo. Na verdade, não quero repetir nunca mais.

— Um contrato. Marcus formulou um pra nós. Você só precisa assinar. 

Faço uma careta.

— Isso é outra piada? - Quero saber, minha testa ficando franzida.

— Não é piada. - Ele estende o papel para mim. - Leia e depois assine. 

Olho do papel para o seu rosto. 

— Não vou assinar nada, cê é louco. 

Kile revira os olhos. 

— Vou ler em voz alta pra você. - Pigarreia e quando está prestes a começar a pronunciar as palavras, me levanto e puxo o contrato de sua mão, e começo a ler imediatamente. 

 

Contrato de namoro fake

Conforme o acordado entre as duas partes envolvidas, ambos terão que manter um relacionamento fícticio durante 6 (seis) meses no mínimo. Para melhor estabelecer o vínculo, há algumas pequenas regras a serem seguidas para que a integridade do acordo sobreviva durante o tempo estimado. 

1. Assumirão para qualquer pessoa no campus que estão namorando um com o outro - se for necessário, informarão pessoas de fora também.

2. Irão sair juntos pelo menos 4 vezes por semana. 

3. Não há necessidade de contato físico íntimo (sexo), porém, o contato de mãos dadas e carinhos será de extrema importância para a imagem do casal quando estiverem em público.

4. Evitarão discutir em público. 

5. A folga de vocês será aos domingos, sem nenhuma exigência de terem que se encontrar ou algo do gênero. 

6. Quando Erik estiver presente, irão demonstrar estar realmente apaixonados. 

7. Mesmo o relacionamento sendo fake, traição não será tolerada. 

8. Kile poderá reduzir o tempo do contrato caso ache necessário.

 

Caso qualquer uma dessas regras seja descomprida por Kile Woodwork, acarretará o liberamento de Eadlyn Schreave permanentemente do contrato sem nenhum tipo de prejuízo para a mesma.

Caso qualquer uma dessas regras seja descomprida por Eadlyn Schreave, acarretará ao vazamento de vídeo íntimo na internet. 

Após o término de no máximo de 6 (seis) meses, ou tempo mínimo em que este acorde estiver vigente, Kile Woodwork se compromete a destruir toda e qualquer prova que, por ventura, possa ter contra Eadlyn Schreave. 

 

Logo abaixo disso tudo, está a assinatura de Kile. Um garrancho mal feito. Ao lado, está uma linha ainda em branco, com uma indicação dizendo que era para minha assinatura estar ali. 

Encaro Kile. 

— Isso aqui tá uma porcaria.

— Ei! - Pronunciou-se Marcus, fazendo um beicinho engraçadinho. - Ainda não me formei, dá uma folga. 

Abro um sorriso amarelo para ele.

— Claro... entendo. - Pego uma caneta de dentro da minha bolsa e assino. Entrego o contrato para Kile, que abriu um sorriso torto.

— Boa menina. - Murmura. 

Eu ia colocar o dedo do meio pra ele, mas meu celular começou a tocar novamente. Era número internacional. Atendo.

— Alô? - Digo, já esperando pela a voz conhecida que viria a seguir.

— Filha, estava com saudade de você. - Murmura mamãe. Posso ouvir ela suspirando do outro lado.

— Oi, mãe... também estava. - Respondo, meio sem jeito. Digamos que de uns anos para cá, a comunicação que tínhamos uma com a outra era mais sobre política, fotos, e coisas que seriam benéficas para a carreira de papai. Perdemos alguma coisa no meio do caminho... talvez intimidade?

— Não vai me contar as novidades? - Diz ela, o sorriso era evidente. 

— Que novidades? - Engulo em seco. Meu olhar parou no rosto de Kile, fuzilando-o. 

— Você está namorando com o sobrinho de Marlee, não está? Ela me ligou ontem para contar, mas confesso que fiquei decepcionada, queria que você tivesse me ligado antes. Seu pai e eu queremos conhecê-lo, vamos enviar passagens para os dois virem nos visitar semana que vem....

 

Ai. Meu. Deus. 

Me matem.

 

 

 

 


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