Eu já estava maquiada e com minha roupa e finalmente chegou a hora de entrarmos no palco. Fomos andando e eu já ouvia o barulho da plateia nos chamando:

— Cúmplices! Cúmplices! Cúmplices!

Entramos no palco animados e pulando, meus olhos se ofuscaram um pouco com as luzes que surgiram. A melodia começou a tocar e eu sabia que essa era minha hora.

“Óculos escuros, viagens e roupas caras.

Quero a vida de uma superstar.

Mordomo, motorista e um guarda costas,

Eu sou a nova estrela que todos adoram.

Muitos autógrafos eu vou ter que dar.... “

O show foi incrível como todos os outros, cantamos várias músicas. Eu adorava quando os holofotes estavam em cima de mim.

Depois do show demos alguns autógrafos e voltamos para o camarim.

No caminho para o camarim o Martín chegou me dando um beijo.

— Você estava linda no show gatinha! – Ele sorriu.

— Não sabia que já tinha voltado de viagem, como foi lá em Roma?

— Foi ótimo, conheci vários lugares legais! Mas fiz questão de pedir para o meu pai para vir aqui hoje, ser filho do dono da gravadora tem suas vantagens.

Sorri para ele, mas logo cruzei meus braços e fiquei séria.

— Você nem me mandou mensagens direito.

— Desculpa Isa, eu estava correndo o tempo todo então não tive muito tempo.

— Tudo bem. Vou ir trocar de roupa agora, nos vemos depois. – Eu ainda não tinha perdoado ele.

— Até depois então gatinha. – Ele sorriu, me deu um selinho e saiu.

Já tinha mais de um ano que eu namorava o Martín. Nos dois éramos um ótimo casal, porque além dele ser lindo, era bom para a minha imagem ficar com alguém do nível social dele. O único problema era que ele sumia de vez em quando, mas eu também gostava de um pouco de distância nos relacionamentos, não sei como as pessoas conseguem ficar juntas um tempão e não se cansam.

Encontrei com o Joaquim e a Priscila quando estava quase chegando no camarim.

— Você estava ótima no show Isa! – Ele sorriu.

— E eu Joaquim? – A Priscila perguntou, essa menina é muito chata, odiava ter que dividir o palco com ela, apesar de ser bem claro que eu sou muito melhor do que ela.

— Você também estava boa. – O Joaquim disse sem graça.

— O Joaquim é educado para falar alguma coisa, mas provavelmente ele pensa o mesmo do que eu, você estava sobrando naquele palco. – Eu disse para ela cruzando meus braços.

— Cala a boca Isabela, eu sou muito melhor do que você! – Ela disse irritada.

— Melhor? Hahaha! – Eu ri. – Se você fosse melhor do que eu você seria a cantora principal. – Eu disse provocando ela.

Ela só me olhou brava e saiu andando, tenho certeza que não tinha o que responder por isso saiu.

— Você não precisava ter falado assim com ela Isa. – O Joaquim me disse.

— Eu só disse a verdade. – Eu disse dando de ombros e saindo também.

No camarim troquei de roupa e ia deixar para tirar a maquiagem em casa, ouvi algumas batidas na porta e fui atender, era o Omar.

— Oi Omar. – Eu disse para ele.

— Oi Bela. – Ele respondeu se referindo a mim pelo meu outro apelido, ele era o único que me chamava assim, acho que gostava por ser diferente. Eu e o Omar éramos amigos há um tempo, ele estudava comigo e quis fazer parte da banda também. Ele já foi entrando e sentando no sofá. – Eu vi aquela ceninha no corredor. – Ele riu.

— Não teve ceninha nenhuma, foi só a Priscila sendo Priscila. – Eu disse cruzando meus braços.

— Não falei dessa cena, falei do Martin, ele voltou, não é?  – Ele sorriu e eu fiquei vermelha.

— Sim, voltou. Mas estou com raiva dele. – Eu disse para ele. – Ele esquece de mim e some de vez em quando, as vezes acho que não vamos dar certo.

— Você gosta dele, não é? – Ele disse e eu sabia que podia confiar nele, erámos amigos.

— Acho que sim. – Eu sorri. – Mas não sei se ele gosta, em um momento ele está carinhoso e de repente ele se afasta. Já estamos namorando há um tempo, já deveríamos ter um relacionamento mais estável.  – Eu disse sentando do lado dele no sofá.

— Tenho certeza que ele gosta de você, você é linda. – Ele disse sorrindo e passando a mão no meu rosto.

— Não sei. – Eu repeti. – Mas vamos mudar de assunto. Eu vi você pegando número de telefone de algumas garotas depois do show, você não tem jeito mesmo!

O Omar era super popular com as garotas e era muito mulherengo, então cada dia ele estava com uma.

— Não podia perder a oportunidade, as garotas me amam. – Ele disse fazendo um sorriso malicioso eu virei meus olhos em desprezo. – Bom, já vou indo, combinei com o Benjamin de irmos em uma corrida. – Ele disse se levantando do sofá.

— Essas corridas suas são muito perigosas, vocês nem tem idade para dirigir e já arriscam a vida.

— Falta pouco para eu fazer 18 e se você fosse algum dia ia ver como eu arraso! – Ele disse se vangloriando.

— Muito obrigada, mas tenho coisas melhores para fazer.

— Ok, você que está perdendo. Te vejo depois! – Ele acenou e foi em direção à porta.

— Até mais. – Eu disse enquanto ele saia do camarim. Nossa amizade era única, sabíamos que podíamos criticar, irritar ou elogiar um ao outro que nada mudava, e essa era a parte divertida.

Terminei de arrumar as minhas coisas e despedi do pessoal. O Damião já estava me esperando no carro, entrei e fui para casa.

Do jardim já pude ouvir os gritos, tenho certeza que era meu pai e minha mãe brigando de novo, nem me surpreendo mais, acho que fico mais surpresa quando está silencioso.

Entrei dentro da casa e eles não perceberam que eu tinha chegado.

— Orlando, nós temos que fazer essa viagem, é importante! – Ela gritou para ele.

— Eu já disse que não posso viajar, tenho muito trabalho lá na empresa! – Ele gritou de volta. Será que os dois não podiam conversar sem gritar igual pessoas normais?

— Boa noite! – Eu tentei falar alto para eles perceberem que eu estava no cômodo e meu pai se virou assustado e envergonhado, já minha mãe revirou os olhos como se o maior inimigo dela tivesse acabado de chegar, mas eu já estava acostumada.

— Me desculpe querida, não sabia que estava aí. – Ele foi em minha direção me abraçando. – Como foi o show?

— Foi ótimo como todos os outros. – Ele sorriu para mim. – Mas cansativo, então vou subir para o meu quarto, boa noite. – Dei um beijo no rosto dele e passei direto pela minha mãe.

Antes de subir ordenei a Laura para levar meu lanche. Quando estava no topo da escada os dois começaram a discutir de novo.

— E então Orlando? Não vai falar mais nada? – Ela disse irritada.

— Não tenho mais o que falar Regina, vou ir para o meu escritório.

Ele saiu da sala para ir no escritório, ele passava todo o tempo que estava em casa lá, acho que era para fugir da minha mãe.

Quando cheguei no meu quarto coloquei meus headphones no volume máximo e comecei a escutar uma música antes de eu dormir.