Em Prata e Ébano: Uma História de Dois Dragões escrita por Jéferson Moraes


Capítulo 2
Chegada


Notas iniciais do capítulo

Saudações leitores! Como sempre, informações extras podem ser encontradas ao fim do capítulo.

Boa leitura!

Capítulo revisado e atualizado (02/06/2016)



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Chegada

Edwin

 

4ª Era 201, 16 de Last Seed

 

— Bom, aqui estamos – disse Edwin para si mesmo. Falar sozinho ajudava a espantar a solidão.

Ele montava uma égua de crina castanha e pelo crespo, num misto de cinza e branco.

Grisalho como o meu pai — Pensou ele com um sorriso de deboche quando viu o animal pela primeira vez.

Temendo os perigos da estrada, Edwin trajava uma couraça lamelar de couro fervido por cima das roupas. Botas e braçadeiras do mesmo material protegiam suas extremidades. Por fim, um cinto de couro decorava sua cintura, de onde uma maça de aço balançava em seu flanco direito.

Sob as braçadeiras, luvas de um tecido escuro mantinham suas mãos aquecidas. O frio apenas piorava a medida que cavalgava mais ao norte, razão pela qual vestia uma capa de linho marrom, junto com um capuz que o protegia do vento e ocultava seu rosto.

Edwin puxou as rédeas e parou a égua, tomando um momento para observar o que estava a sua frente. A fronteira com Skyrim não era o que ele esperava.

A estrada que saía de Jehanna inclinou-se gradativamente ao norte, antes de voltar-se novamente ao leste, indo direto para as Montanhas Druadach, uma grande cordilheira de montanhas que servia como uma muralha natural que separava High Rock de Skyrim.

Edwin esperava por uma falha, ou uma fenda nas montanhas, por onde a estrada continuaria em direção à Skyrim. Talvez um portão, ou uma simples placa, marcasse a fronteira entre os dois países. Mas não era isto que ele tinha à sua frente.

Era um túnel.

As Druadach não possuíam falha alguma. A cordilheira continuava em ambas as direções até onde a visão alcançava. Ali, ao pé das montanhas, elas realmente pareciam uma muralha, um enorme paredão de pedra cinza que separava as duas nações.

Dando continuidade à estrada de pedras calçadas, e passando pelo interior da montanha, havia um túnel.

Era difícil deduzir seu comprimento. O túnel era escuro, podendo-se distinguir apenas as os primeiros metros da estrada que o adentrava. Todo o resto era tomado por escuridão. Do outro lado, a uma longa distância, era possível ver o que apenas poderia ser a saída: uma forte luz branca, iluminando os últimos metros do túnel. Quanto a largura, no máximo três cavalos poderiam cruzá-lo, lado a lado.

Edwin estremeceu enquanto olhava ao seu redor. Estava frio.

Não havia neve, e tímidos raios de sol desciam em direção ao solo, passando por entre as folhas dos pinheiros. Mas Edwin notava a diferença de temperatura, e de paisagem também. Não passava da primeira hora da tarde, mas o ar estava frio e a vegetação ao seu redor assumia uma coloração cada vez mais escura a medida que avançava.

Decidindo que já havia perdido tempo demais, Edwin apertou os flancos da égua. Sombras tomaram sua visão quando o animal adentrou o túnel em um trote lento.

O túnel era escuro, disto não havia dúvida. Se haviam tochas ou qualquer outra fonte de iluminação fixadas às paredes, estas haviam há muito se apagado e agora eram invisíveis em meio a escuridão. As únicas coisas que Edwin podia ver era um esboço da égua abaixo de seu corpo, e de suas mãos segurando as rédeas. Isto, e a luz branca no fim do túnel.

Talvez eu já esteja morto — brincou consigo mesmo – Talvez os forsworn tenham me atacado, e eu esteja cruzando o túnel para Aetherius.

Ele chacoalhou a cabeça, espantando os pensamentos mórbidos.

Assim se seguiu pelo que pareceu quase uma hora. Temendo que a égua tropeçasse na escuridão, Edwin a manteve em trote lento. Por um tempo, o som dos cascos batendo contra as pedras era a única coisa que se ouvia.

Troc. Troc. Troc.

Era difícil dizer, devido à baixa visibilidade, mas Edwin podia jurar que o caminho inclinava-se lentamente à esquerda, novamente ao norte.

Troc. Troc. Troc.

O ar ficava mais frio a medida que avançava. Além disso, outro som invadiu seus ouvidos. Parecia-se com algo raspando contra a montanha, resultando em um assovio abafado.

Troc. Troc. Troc.

É o vento— concluiu por fim. O som ficara mais forte. A luz estava logo a sua frente.

Ao sair do túnel, o nobre exilado baixou sua cabeça, permitindo que o capuz cobrisse seus olhos. Acostumados à escuridão do túnel, estes feriram-se com a súbita claridade. O som do vento, agora forte, tomou sua audição.

Quando sua visão retornou, a vista à sua frente o fez soltar o ar em exclamação.

Neve. Tudo estava branco com neve. Desde as pedras da estrada até os poucos pinheiros que a acompanhavam de ambos os lados.

A sua direita, um paredão de pedra seguia paralelo à estrada. Este não se tratava da Cordilheira Druadach, e sim uma simples formação rochosa, não tão grande como uma montanha, mas tão alto quanto duas casas.

Já à sua esquerda, à alguns metros de distância da estrada, havia um despenhadeiro. Trinta, talvez quarenta metros abaixo, Edwin podia ver uma praia de areia escura e semicongelada, quase coberta de neve. Adiante, o Mar dos Fantasmas seguia até onde a visão alcançava.

Ele não estava apenas em Skyrim. Estava no limite de Tamriel.

Em meio ao mar gélido, algo chamou-lhe a atenção. A mais de um quilômetro da praia, Edwin avistou uma ilha rochosa. Sobre a ilha, encontrava-se um enorme castelo de pedra coberto por neve e gelo. Pássaros de penas negras voavam ao seu redor, mas a distância era longa demais para que Edwin pudesse deduzir que tipo de pássaros eram.

Quem viveria em tal lugar?— pensou ele, imaginando o quão frio o castelo deveria ser.

Um som abafado, como uma corda esticada se soltando, o tirou de seus pensamentos. Edwin olhou para baixo.

E viu uma flecha no pescoço de sua égua.

O animal empinou. Ele pôde ouvir outra flecha sendo disparada, mas não soube dizer seu alvo. Estava caindo.

Tsc. Foi pior do que previ— pensou ele, rindo de sua própria má sorte – Eu julgava ser capaz de durar ao menos algumas horas do outro lado da fronteira.

Mas quando seu corpo encontrou o chão, caindo de lado sobre a neve, sua corrente de pensamentos mudou.

Não. Não aqui. Não agora — ele não morreria de forma tão patética. Não sem se defender.

Um rugido de dor escapou de sua garganta quando uma pressão esmagadora pressionou sua perna esquerda contra o chão. A égua caíra sobre ele.

Edwin praguejou, olhando por cima do corpo do animal. Ele viu um homem na beirada oposta da estrada, vestindo peles de animais e um cinto decorado com crânios humanos. O selvagem tinha uma adaga de osso atada à cintura e brandia um arco adornado com pequenos ossos de animais.

Forsworn.

Mas era apenas um. Poderia seu pai estar certo?

Sobreviva primeiro. Questione depois.

Edwin evocou sua magicka, preparando um feitiço de conjuração. Uma pequena esfera de cor roxa formou-se em sua mão esquerda. Ele então gesticulou na direção do forsworn.

O selvagem encaixava mais uma flecha no arco quando a realidade rasgou-se a sua frente. Em um vortex de luz roxa-escura, um portal para Oblivion se abriu.

E um lobo espectral saltou portal à fora.

Embora tivesse a forma de um lobo comum, a criatura era transparente como um fantasma, e brilhava em um sútil tom azul-claro. O animal corria em direção à sua presa com dentes arreganhados.

O arqueiro trocou de alvo, apontando para o lobo que corria em sua direção e soltando a corda. Mas o animal era rápido. A flecha voou sobre sua cabeça, perdendo-se na neve. O forsworn largou o arco, levando a mão à adaga em sua cintura. O lobo saltou sobre ele.

Enquanto isso, Edwin avaliou sua situação.

Apesar da dor em sua perna, ela não parecia quebrada. Mas o lobo espectral não era uma conjuração poderosa, e não duraria muito tempo. Ele sabia que teria de libertar sua perna e pôr-se pé para se defender.

Fazendo força, o breton empurrou a égua enquanto puxava o próprio corpo na direção contrária, mas sua perna permaneceu presa.

Ele então olhou para a luta que se desenrolava do outro lado da estrada.

O forsworn caíra de costas na neve. O lobo estava sobre ele, tentando morder sua garganta. Mas o selvagem mantinha um braço contra o pescoço do animal, empurrando-o para longe. Com a outra mão, enterrava a adaga no flanco da criatura.

Merda.

Edwin cavou freneticamente a neve debaixo da égua antes de puxar novamente. Após um momento de força, sua perna escorregou para fora do aperto, enquanto o breton soltava uma exclamação de triunfo.

Um pouco dormente — concluiu, fazendo uma rápida auto avaliação – mas posso andar.

O choro de um animal chamou sua atenção. Edwin olhou para sua invocação bem a tempo de vê-la se desintegrando em inúmeras faíscas azuis. O lobo retornara para seu plano de Oblivion.

O forsworn estava de pé, adaga na mão direita. Sangue escorria de seu braço esquerdo onde o lobo o mordera.

— Você escolheu uma péssima hora para vir à Skyrim, breton!

Edwin estava farto daquilo. Um misto de raiva e malícia preenchia seu rosto. Ele gesticulou com o braço esquerdo enquanto levava a mão direita à maça em sua cintura. Calor surgiu entre seus dedos enquanto outro feitiço se formava.

O forsworn avançou em sua direção, cego pela raiva, apenas para ser recebido por uma torrente de chamas.

Fogo brotava da palma esquerda de Edwin, enquanto este avançava sobre o selvagem, lançando chamas arcanas sobre seu inimigo.

Com o peito e o rosto em chamas, o forsworn atirou-se ao chão, rolando e gritando sobre a neve numa tentativa desesperada de apagar o fogo.

Edwin pisou em seu ombro, virando-o de barriga para cima e brandindo a maça acima de sua cabeça.

A maça desceu duas vezes.

Um. Os gritos cessaram.

Dois. O crânio do selvagem cedeu sob o peso do aço.


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Notas finais do capítulo

Uma observação quanto à fronteira de High Rock com Skyrim, para os amantes da lore de plantão. Eu observei cuidadosamente o lado de Skyrim da fronteira para escrever o capítulo, mas admito que não pesquisei muito sobre o lado de High Rock da região. É possível que a descrição do lado breton da fronteira não seja fiel à lore.

Uma curiosidade: você pode encontrar o túnel que Edwin usou para chegar à Skyrim. Abra o jogo e vá para Solitude. De lá, siga pra estrada ao norte da capital que leva para a Embaixada Thalmor ao leste, e siga em direção ao oeste (em direção à High Rock). Na extremidade do mapa a estrada vai dar direto em uma montanha, com o túnel coberto por pedras, indicando um deslizamento. Eu obviamente mudei isso, do contrário o Edwin não teria como cruzar a fronteira.

Glossário:
Aetherius: dimensão habitada pelos deuses (também chamados de aedra) idolatrados pela maioria das culturas de Tamriel.

Forsworn: selvagens que habitam o Reach, incluindo não só o oeste de Skyrim mas uma porção de High Rock também. Conhecidos por seus ataques à viajantes e práticas barbáricas, incluindo o culto à daedras e sacrifícios humanos.

Lamelar: não é bem um termo do jogo, e sim uma armadura que existiu na vida real, já sendo popular no tempo do Império Romano. Era composta por pequenos quadrados de metal ou couro fervido atados uns aos outros, formando um peitoral.

Magicka: energia mística que flui de Aetherius até a dimensão dos mortais através do sol e das estrelas, usada para praticar magia.

Mar dos Fantasmas: mar ártico ao norte de Tamriel, que separa a mesma do antigo continente de Atmora, no extremo norte do planeta Nirn. É fonte de muita superstição, incluindo desde fantasmas do mar até monstros marinhos, além de ser conhecido como um mar difícil de navegar.



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