Em Prata e Ébano: Uma História de Dois Dragões escrita por Jéferson Moraes


Capítulo 10
Revolta


Notas iniciais do capítulo

Saudações leitores!

Demorou um pouco mas saiu. Infelizmente estou com pouco tempo pra escrever ultimamente.

Enfim, boa leitura!



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Revolta

Edgar

 

4ª Era 201, 25 de Last Seed

 

Edgar acordou de sobressalto, sentando-se na cama.

Ainda assustado, o nord afastou as cobertas, olhando assustado ao seu redor.

...outro sonho?— pensou ele, soltando o ar em alívio, apenas para jogar as cobertas ao chão em um gesto de raiva.

— Maldição! – gritou – Quando os sonhos vão acabar?!

Após ser libertado, Edgar fora informado de que passara três meses em cativeiro. Desde então, raras seriam suas noites de sono tranquilo. O torturador constantemente o visitava em seus sonhos, trazendo sempre sua horrenda maça de ébano. Mesmo agora bastava fechar os olhos para vê-lo outra vez: Rulindil curvando-se sobre ele com um sorriso asqueroso nos lábios, seu rosto tingido pelo vermelho da maça.

O nord sentou-se na beira da cama, pondo os pés no chão.

Quando o elfo disse que o libertaria, ele julgou a notícia como um truque, mais um plano distorcido para arrancar-lhe uma verdade que não existia. Mas quando a dúvida tornou-se nítida em seu rosto Rulindil respondeu com trivialidade.

— O seu Imperador— o elfo rosnara – “Não faz parte do acordo”, ele queixou-se, “Vocês têm permissão para caças hereges, não familiares de ex-agentes” – Rulindil falava em tom de deboche – Como se o Domínio precisasse da permissão de um humano para executar suas operações! Mas as pessoas começaram a falar, ao que parece, e a contestar a boa-fé dos Thalmor em manter os termos do Acordo. Então, caro Edgar, eu devo libertá-lo, para preservar a frágil paz entre o Domínio Aldmeri e o seu patético Império.

Já em liberdade, revisando suas memórias do calabouço dos Thalmor, Edgar surpreendeu-se pensando se tudo não passara de um sonho. Parecia tudo tão improvável, ser torturado por três meses apenas para ser libertado com uma justificativa tão trivial, sem que tivesse dito nada.

Mas não foi um sonho — Lembrou-se o nord. Não podia ser. A prova estava com ele naquele momento, pendendo imóvel de seu ombro.

Edgar olhou para baixo. Lá estava seu braço direito, envolto em faixas brancas. Uma delas passando por de trás de seu pescoço, pendurando-o no lugar. Nem mesmo a magia do sacerdote local fora capaz de curá-lo por completo.

— O ferimento é sério demais – dissera o sacerdote – os ossos partiram-se em mais de um lugar, e em fragmentos pequenos. Eu pus cada pedaço em seu lugar, mas duvido que seu braço sare por completo.

Com um grunhido, o nord pôs-se de pé, caminhando com pressa em direção à bacia d'água sobre sua cômoda.

Edgar tinha aparência jovem, com maçãs do rosto largas e queixo quadrado. Mas ao inclinar-se sobre a água, surpreendeu-se com o que viu. Seus olhos castanho-escuros, antes atentos e cheios de vida, agora pareciam cansados, com bolsas escuras que denunciavam sua falta de sono. Também faltava-lhe ânimo para se barbear, portanto seus cabelos tocavam-lhe os ombros, e uma barba rala manchava seu rosto. Completando sua aparência, cicatrizes e pequenos hematomas ainda faziam-se notar, destacando-se dentre elas um corte diagonal em sua face direita.

Preciso de ar fresco.

Estendendo a mão esquerda, o nord jogou água em seu rosto afim de afastar o sono. Em seguida dirigiu-se ao armário, de onde tirou uma calça de tecido cinzento. Pegou também uma camisa de linho vermelho, mas atirou-a de volta ao guarda-roupas quando viu o dragão negro do Império, optando por uma camisa verde-escuro sem estampas.

Vestiu-se com esforço, atrapalhando-se com o braço enfaixado. Em seguida saiu de seu quarto, descendo apressadamente as escadas que levavam à sala de visitas.

Edgar não tinha certeza de que horas eram, mas acreditava ter acordado em meio à madrugada. Portanto, surpreendeu-se quando encontrou a lareira acesa.

— Ainda acordado, Edgar? – perguntou Agne.

— Sim, mãe.

Ele já estava habituado àquela visão, mas ela tornara-se mais frequente desde que fora capturado pelos Thalmor. Sua mãe estava sentada em frente à lareira, uma garrafa de vinho sobre o criado-mudo ao seu lado. A luz das chamas banhava suas feições, dando um tom dourado aos seus olhos e cabelos castanhos. Seu rosto, marcado pela idade, ainda apresentava sinais da tortura que partilhara com o filho.

Desgraçados.

Uma semana antes de ser libertado, os Thalmor trouxeram Agne até sua cela. De início, Edgar acreditou que os elfos pretendiam fazê-la falar através dele, torturando-o em frente à sua mãe. Mas Agne sabia tanto quanto Edgar do paradeiro de seu tio, e a paciência dos Thalmor não demorou a se esvair.

E ainda assim, Agne mantinha uma atitude indiferente. Ela chorara e gritara no calabouço dos Thalmor mas, agora, em liberdade, mantinha a mesma expressão vazia à qual Edgar se acostumara.

— Aonde você vai? – perguntou Agne, vendo seu filho caminhar à passos pesados em direção à porta.

— Sair. Beber é um jeito fácil de esquecer os problemas – disse o nord em tom de deboche – Mas eu não preciso lhe dizer isso, não é?

— ...encher-se de revolta não vai mudar nada.

— Ficar parado e fantasiando com o passado também não vai!

Uma atmosfera de tensão caiu sobre a pequena casa. Edgar permaneceu parado, a maçaneta apertada entre os dedos.

— O Império fez o que pôde – Agne por fim respondeu.

— O Império falhou em proteger seu próprio povo.

Ruidosamente, Agne pôs a taça sobre a mesa, voltando-se para seu filho.

— Seu pai deu a vida protegendo este Império! Não ouse...!

— Você está errada!— Edgar a interrompeu – O Império matou o meu pai! O covarde sentado no Trono de Rubi matou o meu pai!!!

Um momento de silêncio se seguiu. Edgar fitava sua mãe furiosamente, aguardando uma resposta. Por algum tempo, Agne sustentou seu olhar, mas a indiferença não tardou a retornar ao seu rosto, e a nord tornou à voltar-se para as chamas sem dizer uma palavra.

Bufando de raiva, Edgar puxou a maçaneta e deu um passo à fora, batendo com força a porta às suas costas.

Uma noite de céu claro o cumprimentou. Não haviam nuvens, e Masser e Secunda brilhavam com intensidade, perfeitamente visíveis no céu estrelado. O nord pôs-se a caminhar pela rua de tijolos brancos, ainda irritado e respirando entre-dentes.

Edgar vivia no Distrito do Templo da Cidade Imperial. Como o nome indicava, o Templo do Um se encontrava ali, o maior templo aos deuses de toda a capital, tendo como maior atrativo a grande estátua de Akatosh em seu interior. Não somente, o distrito também guardava as residências da maioria da população de classe baixa ou média da capital.

Mas era no Distrito Mercado que Edgar estava mais interessado. Mais precisamente, na estalagem que havia lá. Lhe fora dito que certa vez houvera um bar no Distrito do Templo também, mas seus donos foram apreendidos pouco após o término da Grande Guerra por abertamente idolatrarem Talos.

Malditos elfos.

Com alguns minutos de caminhada, Edgar se viu no Distrito Jardim-Verde, e logo após, no Distrito Mercado. O bairro era bastante simples. Trava-se de uma rua principal, levemente curvada afim de acompanhar a forma esférica da cidade, cortada ao meio por uma rua transversal que levava à prisão imperial, de um lado, e ao Distrito Jardim-Verde, do outro.

Lojas de todos os tipos acompanhavam a rua principal de ambos os lados. Ferreiros, alfaiates, armoreiros, alquimistas, comerciantes, livreiros, entre outros. A esta hora, apenas um estabelecimento encontrava-se aberto. Uma construção de dois andares com uma placa de madeira pendurada ao lado da porta: Estalagem dos Comerciantes.

Quando Edgar abriu a porta, uma doce melodia alcançou seus ouvidos. Um bardo de roupas coloridas e chapéu emplumado tocava sua lira, calmamente puxando as cordas. Mas apesar da música agradável, o lugar estava bastante vazio. Cinco pessoas bebiam na estalagem naquela noite, uma delas no balcão e quatro sentadas junto às mesas, com pão e queijo em seus pratos.

Um homem de meia idade e roupas puídas cumprimentou Edgar quando o viu.

— Boa noite, Edgar! – o comerciante ergueu a caneca – Como vai o braço?

— Já estive pior – respondeu com simpatia.

Já estive melhor também...

Edgar seguiu em direção ao balcão, acomodando-se em um dos bancos de madeira. Após um longo suspiro, pediu uma caneca de cerveja, não sem antes cumprimentar o estalajadeiro: um homem gordo de rosto arredondado e costeletas castanhas.

Também notou o velho sentado ao seu lado. Um imperial de cabelos grisalhos e rosto enrugado, debruçado sobre o balcão.

— Boa noite Cacius – cumprimentou-o. Mas Cacius sequer olhou em sua direção.

— Não se dê ao trabalho, Edgar – disse o estalajadeiro, trazendo sua cerveja – Ele está num daqueles transes outra vez.

— Outra vez? – disse Edgar, levando a caneca aos lábios – Ele não estava assim ontem?

— Está se tornando mais frequente. Esta é a terceira vez essa semana. Ele entra, toma umas três cervejas e... – o homem estalou os dedos – Fica desse jeito. É um pobre coitado, se você quer saber.

Edgar ergueu uma sobrancelha.

— E você ainda vende bebida à ele?

Humph! E você acha que cago ouro, pra me dar ao luxo de escolher fregueses?

O nord voltou o olhar para o velho imperial. Cacius encarava o fundo de sua caneca em silêncio, com um misto de dor e vazio. Ele era um legionário aposentado, e boa parte da cidade conhecia sua história.

Sua esposa e filha eram associadas à Guilda dos Magos. Após a guerra, a Guilda foi desfeita repentinamente. Não houve comunicado oficial explicando o porquê da súbita decisão, mas todos sabiam que os Thalmor foram os responsáveis. Eles enxergavam a política de “magia para todos” da Guilda com desdém e desconfiança.

A influência dos Thalmor tornou-se ainda mais evidente quando ex-membros da Guilda começaram a desaparecer.

Edgar crescera ouvindo histórias como aquela. De pessoas que lutaram bravamente durante a Grande Guerra, apenas para serem vendidas ao Domínio em troca de um fim para o conflito. As pessoas chamavam o Acordo Ouro-Branco de um acordo de paz, mas para Edgar, parecia-lhe mais um acordo de rendição.

Ele também ouvira outras histórias. Histórias de antes da Grande Guerra. Do Império da Terceira Era, governado pela dinastia de imperadores Septim: os lendários Imperadores Dragonborn, que tinham a bênção de Akatosh e o sangue de dragões em suas veias. Esta Era, diziam as histórias, fora considerada a Era de Ouro do Império. Um período de prosperidade e alegria para todos os cidadãos imperiais.

Edgar tinha dificuldade de acreditar em tais histórias. Mas as vezes, mesmo sentindo-se infantil por pensar assim, surpreendia-se desejando ter nascido na Terceira Era. Ele queria conhecer os Imperadores Dragonborn, e saber como era viver sob a proteção de um Império de verdade, e não sob o olhar constante dos Thalmor.

“Eu sempre consigo o que eu quero, Edgar. De um jeito ou de outro”.

Edgar bufou, afastando suas lembranças. O estalajadeiro abriu a boca para lhe falar alguma coisa, mas interrompeu a si mesmo, erguendo o olhar em direção à porta.

Curioso, o nord olhou por sobre o ombro. A dupla mais estranha que ele alguma vez já vira acabava de entrar na estalagem.

O primeiro era um homem. Ele vestia uma armadura de placa completa, ricamente decorada em prata com padrões de correntes. Tinha cabelos curtos, pretos como carvão. A princípio Edgar pensou que fosse um nord, julgando pelas linhas fortes de seu rosto. Mas havia uma certa nobreza em suas feições, denunciando seu sangue bretônico.

E Edgar nunca vira olhos como aqueles, num tom assustadoramente claro de azul.

Já a segunda era a maior mulher que ele alguma vez vira, sendo ao menos meia cabeça mais alta que seu acompanhante. Esta era uma nord, disto não havia dúvida. Tinha o rosto carrancudo de linhas fortes e rústicas do povo de Skyrim, com longos cabelos dourados que lhe caíam às costas, presos num rabo-de-cavalo, e olhos verdes que vasculhavam a estalagem minuciosamente. Mesmo com as rugas denunciando-lhe a idade avançada, ainda tinha um aspecto feroz, acentuado pela pintura de guerra que lhe cobria o rosto: uma pata de urso pintada na cor verde-escuro.

Nenhum dos dois parecia um soldado imperial. O homem carregava uma espada longa em seu cinto que, embora bonita, não apresentava nenhum brasão que Edgar conhecesse. Já a mulher tinha um longo machado de duas mãos atado às costas.

Mercenários, talvez?— pensou ele, mas logo afastou a ideia – Que mercenário usaria uma armadura como aquela?

Ao que parece, o estalajadeiro pensava o mesmo.

— Linda armadura, não? – sussurrou, inclinando-se sobre o balcão – Aquele é William Silverbound, o enviado de High Rock que vem limpando as estradas para o Imperador.

Edgar voltou-se ao estalajadeiro com um olhar surpreso.

— Sir William? O tal Cavaleiro de Prata?

— Este mesmo – respondeu o homem com orgulho – Já é a segunda vez que eles vem aqui. Acho que gostaram do lugar.

Dizendo isto, o estalajadeiro afastou-se de Edgar, gritando ordens ao seu ajudante para que encontrasse uma mesa para os dois fregueses.

Edgar bebeu sua cerveja, observando os recém-chegados sentarem-se à uma mesa não muito longe dele, encostada à parede oeste da estalagem.

O estabelecimento continuava em boa parte vazio. Portanto, em meio à pouca conversa que havia e à suave musica do bardo, Edgar pôde ouvir quando a mulher pediu uma garrafa de cerveja e duas canecas. Também ouviu claramente quando ela sussurrou.

— Sinto falta do hidromel nórdico – disse com um suspiro.

— Há hidromel aqui em Cyrodiil também – respondeu o breton com desinteresse.

A nord estalou a língua.

— Esse mijo com cevada e mel? – ela bufou – Não. Em beberei hidromel de novo quando estiver em Skyrim.

Edgar contorceu-se em seu banco.

Skyrim?

O cavaleiro suspirou ruidosamente antes de responder.

— Eu realmente gostaria que você ficasse.

— Nós já falamos sobre isso. Eu vou com você.

— Svalda, por favor...

A nord rosnou.

— Qual é o problema, William? Osvold não está se saindo bem? Ele já liderou três operações e não ouvi nenhuma crítica sua.

— Sir Osvold não é mal, mas lhe falta experiência – respondeu William – Ele é um cavaleiro rescém sagrado, afinal de contas.

Svalda respondeu com um meio-sorriso.

— E Dunard era uma opção tão melhor assim?

— Dunard era capitão da guarda de Evermor.

— E também era um filho da puta arrogante.

O cavaleiro riu discretamente. O ajudante do estalajadeiro aproximou-se, trazendo a cerveja que haviam pedido.

— Uma personalidade forte não te impede de comandar – disse William – Do contrário, eu não estaria lhe pedindo esse favor.

Sorrindo, Svalda serviu a bebida para ambos antes de responder.

— É verdade. Mas eu recuso. De novo— disse ela – Agora vamos. Beba.

Edgar coçava o queixo com curiosidade.

Ele vai para Skyrim? Mas por que?

Após um longo gole, Svalda bateu com a caneca na mesa.

— E de qualquer forma, nada te impede de aceitar a proposta da Legião. Ponha algum capitão legionário no comando das tropas até você voltar.

O cavaleiro remexeu-se em seu assento, claramente desagradado.

— Eu não sou favorável à esta ideia – disse em tom sério.

Imitando seu companheiro, a nord assumiu um expressão sombria, inclinando-se sobre a mesa antes de responder.

— Então você também notou, não é? – sussurrou – O Império já não é mais o mesmo.

— ...não fale sobre isto aqui.

Tsc! Olhe em volta William! – Svalda falava com revolta – Você acha que alguém aqui nutre amor pelo Império?

William permaneceu em silêncio, mas Edgar pôde ver seus frios olhos azuis percorrerem a estalagem. De sobressalto, o nord voltou-se para o balcão, encarando sua agora-vazia caneca.

Ele a ouvira falar por alguns minutos, mas já simpatizava com a nord. Ela parecia compartilhar sua opinião para com o Império.

Mas o cavaleiro de prata nunca vai concordar— pensou. William era mais uma marionete do Imperador, certamente enviado à Cyrodiil como uma prova de lealdade.

Após um momento de silêncio, William respondeu.

— Na noite em que a Cidade Imperial caiu, Titus Mede II foi confrontado por uma escolha. Permanecer e lutar... Ou fugir. Vivendo para lutar mais um dia, mas abandonando seu povo às atrocidades do Domínio...

“...o Imperador optou pela segunda alternativa, uma escolha que nem todo homem seria capaz de tomar. Muitos diriam que covardia e medo o levaram a tomar essa decisão, mas não fosse por sua fuga, toda a Legião Imperial teria sido exterminada, e o Império jamais teria contra-atacado. A atual situação pode ser difícil mas, não fosse a decisão do Imperador, a Cidade Imperial seria uma pilha de escombros agora.”

Svalda permanecia em silêncio, caneca firme em mãos.

Ainda de costas para a dupla, Edgar não pôde conter um meio-sorriso.

Tsc. Bem como eu pensei.

— No entanto – disse William – Tal decisão jamais teria sido necessária se Titus Mede não houvesse falhado no campo de batalha.

O que?

— É exatamente o que eu penso – disse Svalda – Você viu todos os fortes em ruínas. E pra Oblivion com o que dizem os historiadores. Qualquer idiota com meio cérebro teria reconstruído e guarnecido aqueles fortes. Esse Titus II não é o melhor estrategista que eu já vi.

William bebeu de sua caneca antes de responder.

— De fato. E para piorar, o Império perdeu Hammerfell, e agora arrisca perder Skyrim. Duas perdas que jamais ocorreriam se o Imperador desse mais valor aos seus súditos, e não ao ouro deles.

Esvaziando sua caneca, Svalda tornou a batê-la na mesa.

— Você quer saber o que eu acho? – ela apontou para uma bandeira vermelha pendurada ao lado da porta, carregando o dragão-negro imperial – Os Imperadores Dragonborn. Eles eram o coração do Império – a nord limpou os lábios com as costas da mão – Depois que o último Septim morreu, o Império apenas decaiu.

O cavaleiro suspirou.

— Pode ser. Mas já basta. Ficar choramingando não fará com que Tiber Septim retorne dos mortos. Vamos ter de nos contentar com o que temos – William sorriu, erguendo a caneca – É para isso que estamos aqui, não é? Para ajudar a consertar as coisas.

Erguendo sua caneca em resposta, Svalda retribuiu o sorriso.

Tsc. Que os Nove permitam que seja assim tão fácil.

Edgar permaneceu em silêncio, surpreso com o que ouvira.

Ele realmente acha que pode ajudar o Império?

O nord não era tão otimista, mas não pôde evitar de se contagiar com a confiança do Cavaleiro de Prata. Acostumado como estava à melancolia que cobria Cyrodiil, Edgar sentiu certa satisfação em saber que ainda havia quem lutasse para melhorar as coisas. Também sentiu-se tolo por cobrir-se de revolta, mas não tomar atitude nenhuma.

Talvez minha mãe tenha razão. Apenas reclamar não vai mudar nada.

Uma dor afiada percorreu seu braço direito. Edgar encolheu-se sobre o balcão de madeira, abafando um gemido.

Eu pus cada pedaço em seu lugar, mas duvido que seu braço sare por completo”.

O nord lembrou-se das palavras do sacerdote. Por algum tempo, ele treinara para se juntar à Legião Imperial, quando ainda nutria a mesma esperança do cavaleiro de High Rock. Mas agora, com seu braço da espada quebrado, até isto parecia impossível.

Edgar sentia-se inútil. Ele não podia fazer nada, nem mesmo seguir os passos do pai ou...

...ou meu tio.

Quando a verdade o atingiu, o nord apertou a caneca com força, provocando um olhar curioso do estalajadeiro.

É isso! O meu tio!

Acilius ainda estava vivo, escondido em algum lugar de Skyrim. Ou pelo menos assim pensavam os Thalmor.

Edgar conhecia poucos detalhes da história, mas sabia que o Domínio exigira o fim da Ordem dos Blades no Acordo Ouro-Branco. Ninguém sabia com certeza, mas era evidente de que havia alguma espécie de conflito entre os Thalmor e a Guarda do Dragão.

Se ainda havia alguém lutando contra o Domínio, este alguém era Acilius Bolar.

E ele está procurando por alguém. Aquela breton de olhos azuis...

Acilius fora um membro dedicado dos Blades. Se ele estava procurando por aquela mulher, havia um bom motivo por trás disto. Talvez Edgar pudesse ajudar seu tio, seja lá qual fosse seu objetivo. Ele simplesmente não podia mais suportar a ideia de continuar vivendo um dia após o outro sem fazer nada.

Jogando alguns septims sobre o balcão, o nord pôs-se de pé com decisão em seu olhar.

O estalajadeiro, que até então observava com curiosidade a série de mudanças no olhar de Edgar, surpreendeu-se ao vê-lo se levantar.

— A... Aonde você vai? – perguntou assustado.

— Arrumar algumas coisas – respondeu Edgar, já a meio caminho da porta.

Se estou indo para Skyrim, vou ter de me preparar primeiro.


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