– Que diabos foi isso?- James gritou apavorado.
Ele tinha tocado o urso, não minha mãe, nosso plano tinha falhado.
– Onde eu estou?
Eu sabia que era a única que podia acalmar James, pois ele precisava ver um rosto conhecido.
– James?- me aproximei- Sou eu- sorri.
– Jenny? - ele me abraçou- Você estava desaparecida, estamos procurando você faz dois dias.
– Estou bem- como era bom abracá-lo.
– Então já pode me explicar o que acabou de acontecer? Estávamos todos na casa de Miguel pensando onde você poderia estar, estava indo para o banheiro e vi esse urso brilhando.
– Eu vou te contar tudo, mas antes tenho que te mostrar algumas pessoas- apontei para o garoto de 12 anos- Este é Phil- olhei para a negra- A garota é Suriah.
Suriah acenou com a cabeça em um gesto sério.
– E este é Peter Pan... não surta.
– O Peter Pan?- James levantou uma sobrancelha.
– Sim- sorri torto.
– O mesmo Peter Pan que tínhamos combinado que não existia?
– Isso foi antes- falei.
– Antes de que?
–Acho que ele vai vomitar- Phil disse com a voz infantil.
– Concordo- falou Suriah rindo.
– Falou que eu não existia?- Peter perguntou com a testa franzida.
– Parem!- gritei- Por favor me deixem sozinha com meu irmão.
Phil e Suriah olharam para Peter esperando uma ordem e ele finalmente assentiu saindo da sala e sendo seguido pelos outros.
– Jenny... o que está acontecendo?
– Sinny tinha razão...- queria que ele entendesse de uma maneira melhor do que eu- Tinha razão sobre tudo.
– Sinny? Nossa irmã de dez anos?- ele aumentou o tom na idade de nossa irmã.
– Eu sei que parece loucura James, mas tem que acreditar em mim.
– Acreditar no que?
– Nossa mãe realmente é a Wendy das histórias infantis, ela veio para a terra do nunca quando era menor e viveu várias coisas aqui e...
– Jenny!- James me interrompeu- Você foi sequestrada, ainda está em choque e por isso...
– Não James- isso era difícil- Tem que acreditar em mim, a mamãe foi a primeira pessoa a contar a história do Peter Pan.
– Ok Jen, vamos supor que eu acredite em você- ele passou a mão no rosto- A história de Peter Pan foi contada pela primeira vez a um século atrás, é impossível.
– A terra do nunca é conhecida por parar o envelhecimento, quando Wendy veio aqui e depois voltou isso retardou o envelhecimento dela e dos nossos tios.
–Jenny precisamos sair logo daqui.
James me pegou pelo braço e começou a me arrastar. Aquele gesto me deixou furiosa. Empurrei ele com força, a ponto de ele cair no chão sentado.
– James Darling me escute agora!- gritei- Quando eu cheguei aqui estava tão confusa quanto você, pois fui sequestrada pelo filho do capitão gancho, fiquei presa em um navio, fui salva pelo próprio Peter Pan, dormi em uma cabana, recebi uma bronca da própria Tinker Bell e contei histórias para um menino perdido, então faça o favor de agradecer por você apenas ter sido teletransportado para alguém que pode te explicar exatamente o que está acontecendo!- desabafei tudo de uma só vez.
James ainda estava no chão com os olhos mais que arregalados e a boca mais que aberta.
–Eu...eu...
–Deixa eu ajudar- Peter apareceu do meu lado- Ou você vai matar seu irmão do coração.
– Ninguém ligou para isso quando era eu...- cruzei os braços e Peter revirou os olhos.
James se encostou na parede sentado e colocou as mãos na cabeça.
– James- Peter se aproximou dele- Sou um amigo antigo da sua mãe e posso afirmar que tudo o que Jenny disse é verdade.
– Você está me dizendo que é o Peter Pan?- ele riu debochado.
– Sim- Peter disse com muita calma.
– Está um pouco velho demais para ser o Peter Pan, não acha?
– Eu tive que passar uma temporada na terra, o que me fez envelhecer seis anos.
– Olha cara... eu não sei o que você fez com minha irmã, mas se tiver drogado ela, acabo com você.
Joguei os braços para o alto em um gesto que dizia "lá vamos nós de novo".
– Peter disse a verdade.
– Você está com a síndrome do Estocolmo, acontece quando alguém é sequestrado e depois se apega ao sequestrador e acha que ele está lhe fazendo bem.
– O que?!- Peter e eu dissemos ao mesmo tempo- Não James, Jenny foi sequestrada, é verdade, mas não por mim.
– Foi pelo filho do capitão Gancho, certo?- ele perguntou irônico se lembrando do que eu falei.
– Ele é um idiota- falei finalmente- Quem em sã consciência toca em um urso que brilha?
Peter riu por um tempo e depois me olhou sério.
– Saia- ordenou.
– Desculpe?
– Quero que saia daqui.
– É o meu irmão!
– Com todo respeito Jenny, você não tem paciência para armar uma flecha.
Abri a boca surpresa e com o orgulho ferido, mas sabia que ele tinha razão e que ele era bem mais paciente que eu.
– Só porque James está sendo um panaca- comecei a andar- E ninguém usa essa comparação da flecha- ataquei.
Passei pela única porta que tinha no quarto a tempo de ouvir Peter dizer:
– Pode confiar em mim...
O outro cômodo era bem menor e era algo parecido com uma cozinha e possuía três portas, a que eu entrei e outras duas.
Suriah estava com uma tigela de barro e preparava alguma coisa com muita habilidade.
– Peter acabou me expulsando- falei rindo.
– Ele sabe lidar com essas coisas- ela deu de ombros- Você deve estar com fome.
–Morrendo.
Suriah me entregou uma tigela repleta de folhas e frutas.
– O que é isso?- fiz careta.
Suriah soltou uma risada gostosa.
– Prove antes de reclamar.
Coloquei aquela salada na minha boca e comecei a mastigar. O gosto era incrível! Fiz um cara de surpresa e comi mais.
– Viu só? Você gostou.
– Gostei? Amei! Isso é melhor que qualquer fast food.
– Festi aonde?
– Deixa pra lá- havia me esquecido que ela não era da terra.