Olhei para meu relógio e vi que faltava um minuto para ele tocar. Soltei um suspiro de frustração.
Sabe quanto você acorda sozinho e acha que ainda tem muito tempo para dormir, mas na verdade você acordou essa hora porque já está acostumado? Isso é um droga.
A minha vida é bem simples. Moro em uma daquelas cidades fofas com casas floridas e cafeterias enfeitadas onde as pessoas tomam chá da cinco. Imagina o tédio. Normalmente a minha diversão é perturbar minha irmã Sinny.
Meu nome é Jenny e eu tenho 17 anos. Trabalho no Starbucks e estudo em uma escola pública do bairro. Desci as escadas e vi minha família comendo. Eu tenho um irmão mais velho de 18 anos chamado James. Meu pai se chama a Rick, tenho uma irmã chamada Sinny de 10 anos e minha mãe se chama Wendy.
Fiquei pronta para ir ao colégio. James me chamou para ir ao colégio e eu chamei Sinny. Ela pegou o seu famoso livro de contos de fadas.
Eu sempre estranhei isso. Sinny já devia ter passado da fase de histórias. Na idade dela eu já estava pensando no meu primeiro beijo.
Já dentro do carro, eu e James íamos nos bancos da frente com ele dirigindo e Sinny no banco de trás.
— Você realmente acha coincidência?
— O que? - perguntei confusa.
— Nossa mãe se chamar Wendy e nossos tios João e Miguel.
— Sinny não começa- James falou entediado.
— E você? - ela se empolgou- James é nome verdadeiro do capitão gancho.
— E a mamãe ia me dar o nome do vilão?
— E meu nome é Sinny, em homenagem a sininho.
— E eu?- perguntei- Jenny.
—Você eu não sei, ou é um nome parecido com Wendy ou você é adotada.
Olhei para James com o mesmo olhar de sempre. Tínhamos o dom de falar por olhares.
— Sinny você magoa a Jenny desse jeito-James falou em um tom de desaprovação.
— Me desculpa, mas eu estou muito empolgada.
— Por que? - não pude deixar de perguntar.
— Eu finalmente conheci o Peter.
— Quem?
— Peter Pan, ele é o irmão de um dos meus amigos da escola.
— Você não pode ficar conversando com desconhecidos Sinny. Qual a idade dele?- falou James
— Ele me disse que é 19.
— A-há- me virei para ela fazendo todos no carro se assustarem- Que eu saiba o Peter Pan não envelhece.
— Ele ficou aqui durante uns anos, mas ele vai voltar para neverland.
— E ele que te disse isso?
— Não, foi a sininho.
— Sinny é muito legal você ter uma imaginação fértil- comecei.
— Mas isso aqui é o mundo real e é onde você vive- completou James.
— Não tenho culpa se vocês não acreditam em mim. Eu não ligo.
Falando isso James parou o carro e ela saiu com raiva. Olhei para James com um peso no coração. Não gostava quando ela e eu brigávamos.
— Ela tem que aprender Jenny- ele falou olhando para frente.
— Não quero estagrar a imaginação dela.
— Ela já nem sabe o que é real ou não.
Querendo ou não ele tinha razão. Assenti com a cabeça e desci do carro.
Minhas aulas passaram bem rápido já que eu passei todo o tempo pensando em Sinny. Eu tinha que fazer ela sair e se divertir. Eu tambem tinha culpa em ela ficar o dia todo lendo fantasias.
Decidi ir buscar ela na sala dela. Quando estava dobrando o corredor me esbarrei com o um menino. Ele me olhou com um sorriso. Ele era simplesmente lindo. Cabelos loiros, olhos verdes e pele clara.
— M-me desculpe- gaguejei- Eu não te vi.
— Sem problemas.
—Quem é você?
— Sou Peter.
Ele era o Peter Pan de quem Sinny tinha falado.
— Sinny falou de você- comentei.
— Você é a Jenny, certo?
— Isso.
— Ela fica falando de você, diz que eu sou o Peter Pan.
— Ela tem uma mente fértil- sorri- Mas como sabe meu nome?
— Sinny disse que você é minha namorada.
O que? Meu Deus do céu! Sinny passou dos limites. Minhas bochechas devem ter ficado muito vermelhas porque ele comentou: -
Mas é só imaginação.
— Ela já devia ter parado com essa fase.
— Imaginação não tem fase- ele olhou onde Sinny brincava com o menino- Ela sempre deve permanecer com a gente.
— Mas tem que ter um limite.
— Essa é a parte legal da imaginação- ele se aproximou- Ela não tem limites.
Ele se virou para onde Sinny brincava e chamou o garoto, devia ser o irmão dele. Sinny viu que eu estava lá e veio correndo na nossa direção.
— Você conheceu o Peter- ela falou enquanto ele se aproximava- Ele já te paquerou?- ela disse fazendo ele rir.
— Claro que não Sinny- falei vermelha.
— Ela é bonita não é?- Sinny perguntou para Peter em um sussurro alto.
— Ela é sim- ele falou no mesmo tom- Do jeitinho que você me falou.
Sorri para ele e ele para mim. O garoto apenas observava a gente sorrindo, ele era igual a Peter.
— Algum conselho? - pedi para ele.
— Acredite nela- ele falou piscando como quem dizia "finja que acredita" Peguei o recado e me virei levando minha irmã comigo.
— O que achou dele?- ela perguntou sorrindo.
— Por que você disse pra ele que eu era namorada dele Sinny?
— Você gostou dele.
James esperava nós duas no carro. Como sempre ele me deixava no único Starbucks da cidade. Me troquei e comecei a servirnas mesas.
Eu e Jamestrabalhávamos para conseguir pagar a faculdade e comprar uma casa.
Um grupo de adolescentes um pouco mais velhos que eu entraram na loja e se sentaram na mesa. Eles eram esquisitos e usavam roupas estranhas e escuras. Não quis servir a mesa deles, mas eles não paravam de me olhar, o que começou a me assustar.
Quando meu expediente acabou e troquei de roupa e comecei a andar de volta para minha casa.
Foi quando o grupo de meninos me seguiram em uma rua que não tinha mais ninguém. Apressei o passo assustada e eles fizeram o mesmo. Quando me dei conta estava correndo com eles atrás de mim. A rua acabou e eu olhei para onde os meninos estavam me olhando e rindo.
— Parece que finalmente pegamos a indestrutível Wendy.