—Aqui, onii-chan. Coma tudo. 

[Nome] depositou o bento repleto de comida na mesinha que fora encaixada diante do garoto. 

Deitado na cama, o rapaz idêntico a ela deu uma olhada desanimada para a perna engessada. Estava com dor, chateado por não poder sair da cama e ainda preocupado com a irmã, que visivelmente estava mais triste que ele... e não era por causa dele.

—Arigatô, nee-chan -dizendo isso, [Nome do irmão] segurou os talheres e começou a comer sem ânimo. 

A menina suspirou. Embora lutasse com todas as forças para não pensar no ocorrido daquele dia na mansão, ela não conseguia manter a voz equilibrada e o tom de voz tranquilo para consolar o irmão.

—Anime-se [N-Ir], você vai melhorar logo. Foi só uma perna quebrada, graças a Deus -ela disse, olhando para ele com afeto, embora este parecesse diluído devido ao tremor e ao inchaço dos olhos. 

—É, mas o jogo final da WinterCup contra a Rakuzan é daqui dois dias. Eu preciso jogar. 

—Mas não vai - disse [Nome] rápido demais ao se lembrar do dia anterior. 

Seu irmão encarou a comida tristonho. 

—Seria o nosso último jogo juntos... 

—Como assim? - ela não estava entendendo o ponto do irmão. 

—O Kiyoshi-senpai não poderá jogar no ano que vem. Ele vai operar o joelho, ou seja... a Seirin não estará completa. 

A garota fitou o menino com a testa franzida pela dor que sentiu nas palavras do irmão. Ela não sabia o que dizer.

—Ah...

[N-Ir] olhou para a janela. O vidro refletia boa parte de seu rosto. Depois de alguns minutos fitando os prédios de Tóquio sem realmente vê-los, o garoto voltou a encarar a irmã... E seus olhos se arregalaram. 

—[Nome] - ele disse engasgado. - Eu sei como posso jogar a final da WinterCup. 

—O quê!? 

Ele se curvou para o lado direito da cama, e começou a remexer em sua mochila. Depois de tirar muitas roupas, mangás e um pé de tênis de basquete, ele finalmente encontrou o que queria. Ele puxou a camisa para fora e estendeu na direção da irmã. 

—Nee-chan, jogue no meu lugar contra a Rakuzan. 

—Eu!? - ela não estava acreditando no que o irmão lhe pedia. 

—Se você colocar uma peruca ou cortar o cabelo, ninguém vai perceber que não sou eu! Você tem mais ou menos a minha altura, e joga tão bem quanto eu. 

—Mas os outros não sabem que você quebrou a perna?

—Eu ainda não contei pra ninguém da Seirin.

A menina baixou os olhos trêmulos para suas mãos. 

—[Nome]! - seu irmão berrou apertando sua camisa de uniforme da Seirin - Isso será por mim e por você! Irá me ajudar a concluir meu objetivo de levar a Seirin até o topo do Japão... E você terá a sua revanche. 

"Revanche? Ele sabia do...", o pensamento a desesperou de início, mas logo ela se lembrou que o time que eliminara a Seirin na final do basquete feminino fora a Rakuzan.

— E se eu falhar de novo? - ela perguntou sentindo o choro forçando caminho por sua garganta. 

—Você não vai. Disso eu tenho certeza. 

A confiança com que seu irmão dissera aquilo trouxe um sopro de esperança para o coração estilhaçado da menina. 

"O melhor para mim é apenas a vitória", a voz de Akashi soou em sua mente. "Eu nunca perco".

"Nunca perde, é?"

Ela estendeu a mão e segurou o uniforme do irmão. Os dois se encararam e ela assentiu. 

—Pode deixar comigo! 

A menina sorriu e acrescentou mentalmente:

"Eu não vou perder. Vou mostrar para o Akashi o que é realmente absoluto!"

***

Véspera da final da WinterCup

[Nome] chegou em seu apartamento e trancou-se no quarto. Seu avós tinham ido passar a noite com seu irmão, o que deixava o caminho totalmente livre para ela. Quando finalmente teve certeza que não teria nenhuma visita indesejada, a garota vasculhou seu criado-mudo a procura de uma tesoura. Ao encontrá-la, congelou. 

Era idêntica a que Akashi usara para debochar dela. 

Ela segurou o objeto e encarou-o em desafio. 

Depois de alguns segundos ponderando, ela segurou uma mecha de cabelo e começou a cortar...

***

—SEIRIN, FIGHT! 

O grito de guerra do time encheu [Nome] de energia. Como Izuki ainda sentia fortes dores na perna direita devido à uma lesão que sofrera no último jogo contra a Kaijo, ele ficaria no banco, e "[N-Ir]" assumiria seu lugar. 

—Conto com você - o Olho de Águia deu tapinhas em seu ombro antes que ela entrasse na quadra. 

Ela assentiu e seguiu seus companheiros de time. 

Quando assumiu seu lugar na quadra, ela encarou Akashi, que estava parado à uns seis passos de distância. Ele percebeu seu olhar e o devolveu. Porém, ao fazê-lo, [Nome] percebeu que seus olhos se arregalaram sutilmente. 

Sorrindo de leve, a menina se adiantou até o limite da quadra da Seirin, ficando a apenas um passo do capitão da Rakuzan. 

—Oi, Akashi-Kun - ela chamou imitando a voz do irmão. 

Ele apenas piscou e disse:

—Olá. 

[Nome] alargou o sorriso. 

—Sabe, eu queria muito te dizer uma coisa antes do jogo. 

O jogador de cabelos róseos apenas a encarou, esperando. 

Sem disfarçar a voz, a garota disse baixinho:

—Sabia que eu amo basquete? 

Dessa vez, Akashi realmente arregalou os olhos, olhando-a estarrecido. Ela soltou um risinho e se afastou, retomando sua posição. 

O juíz se aproximou com a bola, e a outra mão ergueu o apito em direção a sua boca. 

A esfera laranja foi lançada no ar...

***

— ENTERRA KAGAMI!!! - o grito da Seirin foi uníssono. 

Um segundo. Era o que faltava para o fim do jogo. 

O ruivo envergou seu braço firmando a bola com sua mão enorme e, sem hesitar, enterrou com toda sua força. 

A bola atravessou a rede, e pareceu cair lentamente em direção ao chão. Quando ela finalmente o alcançou, o baque provocado pelo choque ecoou nos ouvidos dos jogadores. 

—FIM DE JOGO! Por 102 a 101, o Colégio Seirin vence a WinterCup!

—UAAAAAAAAAHHH!!! 

Gritos, exclamações, choros... Tudo isso se misturou na mente de [Nome]. Mas era uma mistura boa. Ela tinha conseguido. Eles venceram. 

Depois de pular e gritar junto com seus colegas de time, a garota olhou ao redor e encontrou Akashi parado quase no centro da quadra, os braços pendendo debilmente ao lado do corpo, e os olhos vazios. Ela se adiantou, andando diretamente até ele, e parou bem ao seu lado, colocando a mão sobre seu ombro. 

—Que cara de fim de mundo é essa? - ela não disfarçou a voz. - Foi só uma derrota!

Seu tom era exageradamente zombeteiro. Akashi permaneceu em silêncio. Recuando um passo, [Nome] encarou os olhos do jogador. 

—Sabe por que nós vencemos, Akashi? 

Ele piscou, finalmente erguendo os olhos para ela. 

—Porque nós da Seirin amamos, acima da vitória, o basquete. 

Ela viu os olhos de Akashi se arregalando de leve. 

—Então, depois de hoje, acho que posso refazer a minha resposta para aquela sua pergunta - ela abriu um sorriso, triste, mas genuíno. - O amor pode sim trazer a vitória. 

O menino de cabelos róseos virou a cabeça para encará-la diretamente nos olhos. [Nome] baixou os dela para o chão, encarando os tênis de Akashi. 

—Eu realmente amava você. Não... na verdade, eu amava aquele Akashi de olhos róseos e quentes, que me inspiravam segurança e confiança. Esse Akashi Seijuro que usou o Ankle Breaker em mim, o que está aqui diante de mim agora não é o menino pelo qual me apaixonei. 

O jogador inspirou numa exclamação muda.

—Então, eu só queria saber: quem é você? 

Ele não respondeu. Um silêncio completamente vazio tomou conta dos dois. [Nome] ergueu os olhos e voltou a encará-lo. 

"Mas o quê...?"

Ao invés de encontrar os olhos heterocromáticos frios e vazios do capitão da Rakuzan, a garota viu os olhos quentes e róseos de Akashi Seijuro. Eles brilhavam mais do que o normal, e algumas lágrimas se acumulavam no canto de seus olhos. 

Ele se lembrou. Lembrou de tudo o que fizera... Tudo o que não deveria ter feito. 

A que ponto a sede de vitória o cegara?

Enquanto a garota o fitava estarrecida, duas lágrimas escaparam e rolaram pelo rosto do garoto. 

—[Nome]... Me desculpe.