Capítulo 1

Peeta POV

Seus cabelos negros voavam sobre suas costas, enquanto alguns fios que escapavam de seu rabo de cavalo estavam grudados em sua testa e nuca, devido ao suor. Ela corria em direção ao ônibus com medo de perdê-lo, pois estava atrasada. Ao entrar no veículo, olhou até encontrar um lugar vago, que no caso, era ao meu lado, então pude ficar olhando-a respirar fundo e tentar se acalmar pela breve corrida.

Seu perfume chegava até mim com o vento que soprava das janelas abertas e ela olhava para suas mãos, que estavam em seu colo, como se fossem as coisas mais interessantes que existiam no mundo. Nunca a tinha visto pelas redondezas e muito menos em qualquer lugar da pequena District-Twelve High School, local onde estávamos indo. Que por sinal, é a escola em que eu estudo.

Uma coisa bem confusa é o primeiro dia de aula de uma pessoa ser na sexta-feira da primeira semana de volta às aulaa. Mas não a julgo, talvez ela seja uma das nerds. Se fosse eu, não teria vindo na aula em uma sexta-feira.

Enquanto o ônibus andava, ainda não tínhamos falado nada um com o outro. A garota nem mesmo tinha olhado pra mim ou pra qualquer pessoa que estivesse dentro do veículo. Ela somente ficou sentada, lendo seu livro, concentrada, sem dar moral a qualquer ser humano que tentasse um contato.

E não faltaram tentativas.

Um garoto, um dos populares - como eu - se aproximou dela e tentou puxar assunto. Mas depois de receber algumas pouquíssimas respostas monossilábicas e sem nem saber o nome dela ainda, ele se afastou e sentou-se em seu lugar, ao lado de sua namorada, reclamando que a novata era muito "anti-social".

Depois disso todos deixaram a garota em paz, voltando a conversar e fazer toda a bagunça normal de cada dia, que por sinal conseguia deixar o Sr. Martin, o motorista, a beira do histerismo.

Joshua Martin era motorista do ônibus escolar desde que me entendo por gente. E olha que eu tenho 17 anos e o conheço desde que comecei a estudar. Alguns garotos costumam apostar sobre a idade do velho senhor, mas nunca conseguiram que ele dissesse, ou seja, ninguém nunca ganhou realmente a aposta.

Quando chegamos ao estacionamento da escola, a garota morena marcou a página que estava lendo de seu livro, fechou-o e o colocou na mochila, levantando-se e descendo do ônibus, sem de novo, olhar para qualquer pessoa dentro do ônibus, somente se despedindo do velho motorista. Era como se ela fosse realmente uma antissocial de marca maior.

Não entendia qual era a dificuldade de talvez só dizer um bom dia a alguém, ou dar um sorriso, ou somente olhar pra alguém. Desse jeito ela não teria nenhum amigo.

Desci do ônibus junto a Cressida, que era a garota que eu estava ficando no momento, e fomos andando até a entrada da escola. Mesmo de longe, podia ver a novata andando de cabeça baixa em direção a um garoto alto e moreno que se encontrava do outro lado do pátio. Fiquei incrédulo porque ao se aproximar mais, a garota abriu um sorriso e o abraçou como se não se vissem há muitos anos. O que não deixaria de ser mentira, já que ela parecia ter chegado à cidade há pouco tempo.

— Já vou pra minha sala, depois nos vemos - Cressida disse ao meu lado, virando meu rosto para o seu e deixando um beijo rápido em meus lábios, logo se afastando. Não pude deixar de olhar que enquanto ela rebolava pra sua sala de aula, passava ao lado do garoto e da garota (que eram tão parecidos que era como se fossem irmãos, tamanha a semelhança), e lançava um olhar de repugnância, como se eles fossem algo bem nojento que ela tinha pisado.

Continuei a andar em direção a minha sala, que por um acaso era pra onde os “quase-gêmeos” estavam indo. Mas ao me aproximar mais, ouvi uma voz que com certeza eu conhecia.

— E está aqui desde quando? – o garoto perguntou.

— Cheguei semana passada, mas só hoje consegui vir para a escola - e enquanto a morena respondia, percebi que eu conhecia a voz do garoto.

Me xinguei de burro internamente até não aguentar mais e antes de entrar na sala, coloquei minha mão no braço dele e puxei, fazendo meu melhor amigo me encarar.

— Obrigada por me avisar que voltou de viagem, Gale - disse a ele, vendo-o se assustar e depois sorrir.

— Peet! - Gale pulou passou um braço pelo meu ombro e me abraçou forte. Passei um braço por sua cintura, já que ele era mais alto que eu, e dei um abraço de lado - Eu só cheguei ontem a noite, vim hoje só pra... – mas quando ele começou a se explicar, alguém nos interrompeu.

— Com licença, mas eu acho que o professor está vindo - a garota que se parecia muito com Gale disse e entrou na sala. Gale e eu olhamos pra trás e demos de cara com a Sra. Collie.

Jane Collie frequentemente era confundida por um homem por seu cabelo quase raspado e sua expressão severa. Mas quem a conhecia, via que ela era uma mulher bem simpática e uma ótima professora de inglês.

Dei um sorriso para a professora, peguei no braço de Gale e entramos na sala, logo indo para o fundo, bem longe da morena que pelo jeito não foi com a minha cara.

— Agora pode falar, por que não me avisou que tinha voltado das férias com seu pai? – perguntei a Gale assim que nos sentamos.

— Porque cheguei ontem a noite – ele se explicou em voz baixa.

— E quem é a garota que parece sua irmã gêmea? – perguntei não aguentando mais esconder minha curiosidade. Mas felizmente, ou infelizmente, a Sra. Collie fez a garota se levantar e se apresentar em frente a sala toda.

A garota se levantou, se encaminhou para um pequeno palanque que havia no meio da sala e percorreu seus olhos por todos os rostos atentos até parar em Gale, dar um tímido sorriso e dizer em uma voz doce e clara:

— Olá, meu nome é Katniss Everdeen e vim transferida de Paris – assim que acabou de falar, seu rosto corou e ela desceu do palanque quase correndo para seu lugar. Percebi que muitos alunos, principalmente os mais populares, olharam pra mim como se eu devesse ter alguma reação ao nome da garota.

— Bom Katniss, seja bem-vinda de volta – Collie começou a falar enquanto escutava os alunos se perguntando “de volta?” e eu mesmo me perguntava isso – Espero que tenha um bom relacionamento com todos e que termine o ano com boas notas, sou Jane Collie, professora de inglês.

Katniss sussurrou um agradecimento rápido e Collie começou sua aula. Virei minha cadeira para Gale, que estava sentada ao meu lado e perguntei:

— Por que tenho a impressão que me lembro dela?

Antes de responder, Gale sorriu sarcástico e disse de um jeito que me senti estúpido:

— Porque ela é a sua ex-namorada e minha melhor amiga desde sempre... – fiquei estático.

— Então você quer dizer que essa é...? – perguntei não querendo acreditar.

— Sim, Peeta Mellark, essa é Katniss Everdeen, mais conhecida como sua ex-namorada Ever.

~~X~~

— Como eu não percebi isso? – me perguntei depois de duas aulas calado e tentando não entrar em pânico.

— Por que você é um idiota? – Gale perguntou rindo, mas eu sabia que ele estava preocupado com meu silêncio.

— Por que está rindo? Você lembra o que ela fez comigo, Gale Hawthorne. Mais do que ninguém, você não devia estar rindo.

Gale parou de rir e me olhou com compaixão.

— Vocês dois têm que parar de ser ridículos e conversar sobre o que aconteceu há dois anos atrás, e não, ficarem correndo um do outro. E apesar de tudo Peet, você também a machucou.

— Eu a machuquei? Então o que ela fez comigo? – falei nervoso - Eu não quero conversar com ela. Quero que ela se ferre – disse e me virei pra frente fechando a cara como uma criança emburrada faltando só cruzar os braços e dar língua pra quem estava me olhando.

~~X~~

Como eu não percebi que era ela? Essa pergunta não saía da minha mente desde que Gale me lembrou de quem era a garota morena. Talvez seja porque eu bloqueei toda a parte da minha vida que eu estive com ela. E agora dentro do ônibus, na volta pra casa, depois de ter ficado todos os horários de aula emburrado, mesmo que só tivesse mais uma aula com a morena maligna, e tendo sentado o mais distante possível da garota que foi minha namorada por quase um ano, eu me perguntava como pude ser tão burro. E não encontrava uma resposta.

Claro que ela estava diferente. Super diferente. E isso talvez fosse um dos motivos.

Seus mesmos cabelos negros estavam bem mais compridos, ela estava mais magra e com certeza seu corpo havia se desenvolvido muito bem para uma garota de 17 anos. Quando namorávamos ambos tínhamos 14 anos e eu era tudo, menos o que sou hoje.

Quando eu completei 14 anos, eu era um garoto magrelo e que andava com a turma dos skatistas, mas não por talento. Eu realmente sabia me equilibrar em um skate e até arriscava algumas manobras, mas não era meu esporte favorito. Eu andava com eles porque simplesmente não queria ser mais um nerd atormentado pelos valentões do time de futebol ou humilhado pelas líderes de torcida. Eu queria ser normal.

E eu fui, até conhecê-la.