Pensamentos de uma Noite Solitária escrita por Gin


Capítulo 3
Uma pequena singularidade no universo - Parte 1


Notas iniciais do capítulo

Seguimos caminhos diferentes
Entre mãos agarradas a correntes
Não é o fim, não é o fim
E isso eu tenho dito o tempo todo para mim
Mas aqueles sonhos que eu possuía antigamente
São apenas um enfeite
Para um universo descontente
E tudo mais é quebrado, na mentira e na verdade
Tudo isso é culpa, sem desculpa
Dessa maldita ansiedade



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Já estava anoitecendo, quando Travis subiu até o terraço de seu prédio para observar as estrelas. Ele vinha fazendo isso constantemente nos últimos dias, principalmente por conta de que a droga da sua ansiedade havia atacado novamente, e a melhor alternativa para ele, era ficar ali, contemplando.

Travis se apoiou sobre a fina barra de ferro, e ficou ali, sentado olhando para os carros que passavam nas movimentadas ruas. Olhou o trânsito, os pedestres, uma briga que provavelmente havia acontecido por um erro de comunicação, pessoas correndo para pegar um ônibus, pensou até mesmo ter visto um colega antigo do ensino médio, que segundo relatos em redes sociais, estava casado e com um filho vindo. Então, Travis se sentou encostando suas costas sobre a fria camada de ferro da parede do local.

Ele imaginou onde estavam todas aquelas pessoas que haviam passado em sua vida, todos os professores, amigos, conhecidos, vizinhos dos locais onde ele havia morado, será que estão bem? Vivos? Será que ainda lembrariam dele? Travis levantou a cabeça para enxergar o noturno e até então com poucas estrelas, céu. Provavelmente eles nem se lembrariam, pois Travis nunca havia feito realmente algo que marcasse sua estadia em um local, ou que fizesse alguém o lembrar para o resto da vida. Ele era simplesmente, ele.

Olhando para aquele terraço vazio e praticamente abandonado, Travis observou uma pequena pedra, a única daquele local. Ele caminhou até ela, e ficou a observando, procurando se haviam outras pedras ali, mesmo não havendo. Depois disso, a colocou no chão e riu mentalmente de si mesmo, ao tentar comparar a pedra com ele. Travis então olhou para baixo novamente, e viu aquelas pessoas caminhando, voltando do trabalho na correria, e se perguntou se um dia ele seria assim também, se ele tivesse a motivação de ir todos os dias da sua vida trabalhar, para assim conseguir dinheiro e se sustentar, ele teria filhos assim como seu antigo colega de infância, seria sociável assim como todas as pessoas da terra, e seria feliz assim como o mundo espera que todos sejam. Mas por qualquer que fosse a razão, a ideia de ser realmente alegre, amedrontava Travis, era como se tudo conspirasse para ele não ser feliz, pois assim que ele tentasse o mundo todo iria contra ele, e a sua ansiedade iria piorar ainda mais, e provavelmente ele voltaria a passar aqueles horríveis dias de sua adolescência, dos quais ele ainda se entristece de lembrar.

Travis nunca foi um garoto popular, mas quando era mais novo, era sociável, e tinha alguns amigos e sorria de vez em quando. Ele procurava ajudar qualquer pessoa que tinha um problema, e muitas vezes ele se sentia magoado a ajudando, mas mesmo assim fazia isso, e até hoje se perguntassem o motivo a ele, ele não saberia dizer. Ou até saberia, pois no fundo, ele conhece que ajuda as pessoas, porque quer que um dia alguém o ajude também, que faça o mesmo por ele. E esse desejo inconsciente, ele tenha esconder o tempo todo, mas ele sempre vem à tona, se tornando uma motivação silenciosa.

“Talvez o universo conspire contra mim”, pensou ele enquanto observava o fluxo de carros e pessoas lá em baixo. ‘’ Talvez seja apenas uma singularidade no universo, que impeça que eu siga em frente, que impeça que eu seja feliz, talvez Deus não queria, ou eu tenha nascido para ficar isolado”. Ele encostou a cabeça na fina barra de ferro, tentando inutilmente afastar os pensamentos pessimistas que estava tendo. Desde que ele havia percebido que todos estavam seguindo em frente, isso havia sido mais recorrente nele. Luna, a sua única amiga havia dito que sempre que ele estivesse tendo esse tipo de pensamento, colocasse uma música boa de uma banda que ele gostasse e simplesmente deixasse sair os sentimentos, para não ficarem acumulados e explodirem dentro dele, mas era fácil demais falar.

Travis pegou seu celular e percebeu que havia uma mensagem de Luna, perguntando onde ele estava e se estava bem. Aquela garota era incrível, conseguia ser atenciosa e ainda ser forte o suficiente para aguentar uma pessoa como ele, será que um dia Travis poderia ser desse jeito também?

Ele ignorou a mensagem e colocou para tocar Open Your Eyes do Snow Patrol, enquanto observava as poucas estrelas que se formavam no céu. Realmente escutar uma boa música era bom, mas aquilo fazia ele ficar um pouco sufocado. Ele se deitou e ficou ali, observando, enquanto o vento de começo da noite soprava. “Será mesmo que eu fiz diferença na vida de alguém?”, ele perguntou-se.


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Notas finais do capítulo

"...Tell me that you'll open your eyes..."



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