Entre Linhas escrita por Hoshino Yume


Capítulo 3
Outras tardes de chuva


Notas iniciais do capítulo

Confesso que ia apostar antes porém esqueci err

Bom, estou postando aqui no nyah também para deixar organizado mesmo, mas para quem quiser acompanhar, leiam no ss ~



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— Por que não quis ir à confeitaria? Você adora aquele lugar.

A chuva estava em seu ápice e a garota sentava-se de frente para a janela, beberricando um pouco do chá verde que o amigo havia preparado e observando as gotas deslizarem pela janela.

Quando saiu de casa naquela tarde, o sol ainda brilhava no céu e não havia sinal de nuvens escurecendo o céu. Calçando botas de borracha e portando um guarda-chuva, despertava olhares curiosos dos passantes, mas os ignorava, desviando sua atenção para o arredor. Não demorou para que o bom tempo repentinamente mudasse e a chuva surpreendesse a todos. Abriu o guarda-chuva quando a garoa começou, ao passar por sua confeitaria preferida.

Decidiu dar uma olhadela rápida pela janela, para conferir se Hinata estava lá com o primo. Correu os olhos pela doçaria, localizando primeiro o garçom loiro carregando uma bandeja — e, observando o caminho que ele seguia, cruzou-os com os de Neji. Dois segundos foi o tempo que levou para que desviasse e se colocasse a correr pela chuva, que engrossava rapidamente.

Ele a vira novamente.

— Está chovendo, Lee. E esse não é o destino que eu quero.

Tenten tentava desesperadamente fugir de seu destino, aquele que sonhara há dez anos, quando ainda era menina. Fora o primeiro de muitos sonhos, vários deles incluindo um garoto de olhos perolados, que só conheceu no auge de seus 18 anos, quando ingressou no curso de economia na Universidade de Tóquio.

Ele apareceu de repente ao seu lado, adentrando a universidade no dia da matrícula. Os olhos levemente perolados pareciam orgulhosos de estar lá, ainda que não demonstrasse em sua expressão fria. Curiosa, seguiu cada movimento do garoto, que parecia calculá-los; não esperava vê-lo bem ali, na sua frente, estudando tão perto de si. Talvez estivesse perdido, pensou, “assim como eu”, riu.  

Quem sabe devesse falar com ele. Não podia ser tão ruim, afinal, era como se já o conhecesse há anos. Respirou fundo, procurando coragem de tomar iniciativa.

“Neji?” murmurou, a alguns passos de distância.

A princípio, ele ficou em dúvida se alguém realmente o tivesse chamado, afinal, ninguém o conhecia por lá. O lugar estava cheio de pessoas que nunca vira, provavelmente escutara errado. Ainda assim, virou o rosto, procurando por algum rosto conhecido.

Pensou em dizer “sou eu, eu que te chamei”, mas diversos pensamentos a provocaram um pânico que a consumiu por dentro. Ele podia não ser uma pessoa decente, podia fazê-la sofrer e se odiar, podia deixá-la em um estado péssimo após quebrar seu coração por uma paixão avassaladora. Ou pior, podia cortar suas asas, tirar sua independência, prendê-la a si.

Olhou para suas mãos e, por um instante, podia jurar que uma linha vermelha atrelava-se a si, confinando-a para sempre; unindo-a ao garoto de olhos perolados contra sua vontade, e temeu. Não conseguia mais continuar ali, um nó em sua garganta parecia querer sufocá-la.

Correu. Passou pelas pessoas desesperadamente em busca de ar, em busca de sua liberdade, correndo até não ver mais ninguém. Só então olhou novamente para sua mão, não encontrando mais o fio avermelhado. Aliviada, olhou para seu arredor. Estava completamente perdida.

“Quer ajuda, moça?”

Era Rock Lee quem a salvara naquele dia. O garoto morava por perto e já conhecia muito bem o local; também estudaria lá: Direito, seguindo o sonho de ser o maior juiz do Japão. Não demoraram a ficar amigos e logo passaram a dividir uma casa.

— E por que continua indo atrás dele? — o amigo perguntou sentando-se ao seu lado.

Por um ano, manteve-se sem contato algum com Neji. Evitou vê-lo ou ser vista, sempre passando longe de qualquer local que ele pudesse estar e esquivando-se de todos os encontros que resultariam em uma prisão espiritual. Tenten sabia que, por algum motivo, a conexão entre os dois seria forte demais para uma garota de 18 anos. Queria viver, conhecer pessoas, viajar por vários lugares do mundo e ser livre de um futuro predestinado.

Entretanto, cada encontro ao acaso, cada vez que o via de longe, não podia deixar de sentir a corrente voltando, como se ela própria quisesse ser aprisionada. Eram os olhos, eram as expressões difíceis de serem lidas, eram os cabelos compridos e bem tratados. As desculpas brotavam em sua mente, e não conseguia deixar a curiosidade de lado.

Tenten não se interessava tão facilmente por alguém, mas fora por ele — por mais que detestasse admitir — que se aproximara de Hinata um ano depois, tão parecida com o primo. Os olhos incomuns só podiam estar relacionados com Neji, por mais que insistisse ser pura coincidência. Queria entender, saber mais sobre o Hyuuga. Havia nele algo que ela não conseguia entender, um fardo grande demais.  

Viraram amigas, mas nunca contou sobre os sonhos que tinha. Não achou justo, já que se tratava de seu primo. Escutou histórias de infância, aprendeu sobre as manias de Neji, sobre os inúmeros gostos em comum, sobre sua personalidade. Não queria colocar Hinata no meio da história, em suas confusões mentais, mas ao mesmo tempo apreciava os sentimentos fraternais da menina — Tenten não possuía irmãos ou pais, e tentava imaginar como era ter uma família.

Ainda assim, quis por diversas vezes deixá-lo a mercê de um destino cruel.

Sonhou com uma rua deserta, um homem perseguindo Neji com uma arma na mão. Talvez não devesse interferir, não sabia o que poderia mudar em seu futuro. Pensou que, se deixasse o destino decidir, o garoto fosse tirado do seu, permitindo-a escolher seu próprio caminho.

Mesmo assim, não pôde deixá-lo morrer. Era uma vida ligada de alguma forma à sua. Não podia ser indiferente a isso, não podia ser tão egoísta a ponto de sacrificar uma vida por uma mera possibilidade.

Tentou alarmá-lo no templo, mas o encontro de seus olhos a assustou novamente. Não sabendo como reagir, escondeu-se. Não queria que a linha vermelha voltasse a prendê-la. Era melhor não ser vista.

Sabendo que algo tinha que ser feito, foi ao local de seu sonho. Derrubou o suicida com tamanha força que mesmo seus anos de prática com o kendo não justificavam. A espada quebrara-se ao meio, e isso a assustou. Parecia exasperada com a ideia do homem tentar algo contra o dono dos belos olhos. Novamente, correu.

— Eu não sei, Lee. Mas realmente quero acreditar que é possível mudar o futuro.

— Eu acredito que seja, mas é realmente o que você quer? Até hoje não entendi o que você tanto teme. Não é uma prisão, é só um garoto que você está destinada a amar.

— É uma prisão, e se eu entrar não vou mais poder sair.           

O primeiro sonho que de fato se lembrava era ainda muito claro em sua mente. Dois corpos preenchidos de paixão, sorrindo um para o outro, amarrados a uma linha vermelha que os cobria por completo. Aquela era provavelmente a definição mais exata de amor mas, entre a mulher e o homem, uma enorme poça de sangue lentamente os absorvia.

“Nós te amamos muito, Tenten-chan”

Ambos desapareciam, deixando a criança chorando exaustivamente, no mesmo ritmo das gotas de chuva do lado de fora da janela.


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Notas finais do capítulo

Sobre o capítulo: vocês puderam conhecer melhor a história da Tenten! E então, o que acharam?

Deixem suas opiniões!

~ HY



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