Entre Linhas escrita por Hoshino Yume


Capítulo 1
Noites em claro


Notas iniciais do capítulo

Nejiten é um dos casais que mais gosto, e quis fazer algo bem leve com um toque de fantasia. Espero que gostem!



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— Neji, um segredo corre nas veias dessa família.

Olhou para cima, procurando os olhos do pai. Eram exatamente como os dele: uma cor característica da família Hyuuga. Não compreendia ao que o mais velho se referia; era um momento doloroso para a criança. Estavam todos de preto naquela noite chuvosa. Sua prima mais nova não parava de chorar, era um bebê de colo.

Dizem que os inocentes conseguem ver o que os maculados já não mais enxergam. Talvez por isso fosse o único que notara algo diferente no pai: uma linha presa ao dedo mínimo que se esvanecia lentamente. Possuía a mesma cor do sangue que sua mãe tossira no dia anterior, e nos dias antes deste. Um longo período de sofrimento e noites mal dormidas que resultaram no presente dia.

Mal havia amanhecido quando o único filho de Hizashi resolvera ver como a mãe estava em sua cama. Queria surpreendê-la com um abraço e um beijo. Seu pai havia passado a noite fora, trabalhando.

“Mamãe?”

Não houve resposta, então ele se aproximou. Ela estava gelada, mas mantinha um sorriso quente. Imóvel, parecia tranquila. Neji soube naquele momento que a agonia da mãe acabara, estava enfim livre de sofrimento — tentou sorrir.

“Ela não vai acordar” sua tia, casada com o irmão do pai, informou-lhe. Abraçou a criança, sabendo o que o destino lhe proporcionaria. “Sinto muito, querido” e deixou o menino sentado em uma poltrona ao lado da mãe enquanto procurava o telefone da casa para informar ao cunhado do acontecimento.

Do outro lado da linha, Hizashi já sabia de tudo antes mesmo da ligação — o que não o impediu de chorar ao receber a confirmação. Pela manhã, sentira um forte aperto no peito, como se algo tivesse se esvaído de si.

Naquela manhã, Neji não derramou uma só lágrima. Esperou pacientemente o pai voltar a casa, para depois ver inúmeros parentes, amigos e conhecidos chegarem. Vestira-se em luto, ajudara a preparar a casa para o funeral e recepcionara todas aquelas pessoas. Fora educado e cortês com todas, despertando curiosidade e surpresa.  

Quando todos finalmente se foram, só sobrou seu pai, seus tios e suas duas primas. As meninas foram postas a dormir e os tios se propuseram a arrumar a casa.

— Você entendeu, Neji? Esse segredo é algo que você deve levar a sério. Mesmo que você ainda tenha 8 anos, espero que compreenda.

— Eu sou maduro! Eu entendo tudo — disse franzindo a sobrancelha, despertando um riso no pai.

— Pois bem... Esse será nosso segredo também.

Pela primeira e última vez, Neji Hyuuga chorou. Chorou a noite inteira, inconsolável, mas inaudível. Abafou os sons no seu travesseiro para não acordar a família e, na manhã seguinte, tinha os olhos vermelhos, mas fingiu que nada havia de errado. Já estavam secos e não derrubou uma lágrima a mais.

~x~

— Vamos, Neji. Vamos sair para beber para comemorar o fim das provas.

— Hoje não posso, é a missa de 13 anos do falecimento dos meus pais. Fica para outro dia, Lee.

— Desculpa, tinha esquecido! Mas da próxima vez quero te apresentar alguém!

Neji Hyuuga estudava para ser um advogado na melhor universidade do Japão, a Universidade de Tóquio. Seus pais morreram com menos de um dia de diferença quando tinha apenas 8 anos e desde então morou com a família de seu tio Hiashi, irmão gêmeo idêntico ao pai. Fora criado ao lado das duas primas, que agora via como irmãs, e pretendia herdar a sua parte na empresa Hyuuga, ao lado de sua prima Hinata, que cursava administração de empresas.

O jovem atravessou a cidade para finalmente chegar a um templo que ficava na vizinhança de onde morava. Não demorou a avistar as primas e os tios, que o esperavam já se preparando para a missa.

Poucas pessoas encontravam-se lá, apenas familiares e amigos mais próximos, número reduzido se comparado 13 anos antes. Sentou-se ao lado de Hanabi e uniu as mãos, abaixando a cabeça e fechando os olhos, e rezou. Sentia falta de sua família, ah, como sentia.

Levantou-se apenas para acender um incenso e agradecer aos pais, voltando ao seu lugar. Quando a missa acabou, Hanabi e Hinata o abraçaram, dormindo em seus braços. Ele também não demorou a adormecer. Era como voltar à infância.

“Você tem que ter certeza.”

— Neji? Melhor você acordar, ou vai pegar um resfriado — chacoalhou levemente os ombros do garoto encostado em uma parede do templo.

Os olhos teimavam a abrir, mas se arrependeu de não abri-los antes. Já era noite e a lua reinava cheia em meio às estrelas, e alguns insetos já começavam a festa. Uma brisa suave cobria seu corpo já gelado e a garota à sua frente mantinha os olhos grandes e curiosos sobre si.

O Hyuuga então percebeu que tinha que levantar e voltar logo para casa, pois sua família o esperaria para o jantar. Procurou o celular em seu bolso em busca do horário, encontrando-o caído ao seu lado. Era tarde, achou melhor correr.

Enquanto andava a passos largos na direção da casa de seus tios, Neji lembrou ter sonhado com o dia que seus pais se foram. Ainda lembrava cada palavra que lhe fora dita naquele dia, agarrava-se a elas com todas as suas forças. As últimas palavras de seu pai. O motivo de ele ter-lhe deixado.

— Ué?

Parou bruscamente.

Tinha esquecido completamente: alguém lhe acordara, chamava-o pelo nome; tinha uma voz feminina que não lhe era familiar. Viu olhos brilhantes o olharem, e sentiu um toque leve em seus ombros. Entretanto, quando levantou não havia ninguém ao seu redor no templo, ao menos não que tivesse percebido.

Será que tudo aquilo fora um sonho? Decidiu, por fim, esquecer o acontecimento no templo e seguir em frente. Colocou-se a andar novamente, ocupando sua cabeça com matérias da faculdade para se distrair.

Talvez por estar com a mente longe, demorou a perceber o barulho de passos que o seguiam, estes que já pareciam próximos de si. O som de uma arma sendo engatilhada se sobressaiu no silêncio da noite. Neji conseguia ouvir seu próprio coração; fechou os olhos e continuou andando, já esperando o pior. Pensou nas palavras do pai, talvez não tivesse tempo para tudo aquilo. Pensou então que, se morresse, poderia estar com eles. Ia novamente sentir o cheiro do perfume da mãe, os conselhos do pai, o aconchego de ambos.

Escutou um tiro.

Um estrondo ecoou pelas ruas vazias, mas não sentiu nada lhe acertando. Tomou coragem e lentamente virou para trás, avistando um homem caído no chão, desacordado. Segurava uma arma recém-disparada, cuja bala provavelmente fora para o alto, caindo pelas proximidades.

Procurou a pessoa responsável por aquilo, mas só viu uma sombra desaparecendo na noite. Uma sombra com longos cabelos castanhos. Menos de um minuto passou até que a polícia chegasse, prendendo o homem desconhecido. Receberam uma ligação anônima com instruções para estarem lá, pois um homem pretendia se suicidar e levar alguém para a morte consigo — por total acaso, Neji.

“Eu sinto muito, Neji, mas terei que ir com sua mãe. Perdoe-me, mas não posso fazer nada. É o que há de mais belo na família Hyuuga, mas também é um fardo que você vai ter que carregar... Apesar de tudo, eu prometo que você não vai se sentir sozinho para sempre.”


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Notas finais do capítulo

E então, gostaram? Comentários são sempre bem-vindos! Sugestões e/ou críticas serão sempre consideradas.

~ HY



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