Os Howard - Fanfic Interativa escrita por Soo Na Rae


Capítulo 7
Chapter VI


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Chapter 6

  “Ah, você sentada nesse seu trono

Parece que não tem como

Te fazer gostar de mim”

Reverse – Imagina

Arrumou a gravata mais uma vez, tentando não parecer ansioso demais. É claro que já estava pronto antes das três horas da tarde, mas não podia aparecer no exato momento das visitas, era rude para um cavalheiro que pretendia cortejar uma das moças solteiras da casa. Tentou não ruborizar. Aquelas regras de etiqueta inglesas, sua mãe o fizera decorar todas, e ainda o obrigara a comprar um buquê de flores para Charlotte, antes de ir até sua casa numa das maiores avenidas de Birmingham. Queria não estar tão nervoso. A verdade é que ele não se importava de ir visitar Charlotte. Entre todas as moças a quem fora apresentado no primeiro baile da Temporada, ela com certeza lhe chamara a atenção. Não sabia, porém, se se casaria com ela, era cedo demais para concluir qualquer coisa, embora alguns pensassem que não. Secretamente, escrevera-lhe um poema, curto, porém afetuoso. Dentre todas as pessoas que poderiam ouvir suas palavras, as moças eram as que mais se atraíam por tal talento tão... inútil.

“Sirvo ao menos para cortejar” pensou, tentando não se olhar numa das janelas, para avaliar se os cabelos estavam perfeitamente alinhamos. Desistiu da cartola após a terceira vez em que pinicou-lhe as orelhas. Como todos conseguiam usar aquelas coisas? Até as mulheres, que normalmente tinham mais histerias com essas coisas tão detalhistas.

A porta se abriu, revelando uma mulher velha, de cabelos dourados e alguns fios brancos. Tinha rugas em torno dos olhos e piscou algumas vezes antes de perguntar quem ele era. Ora, um visitante, evidentemente, não era este o horário em que os jovens solteiros visitavam suas pretendentes? Mas então pensou melhor. A casa ainda estava sendo ocupada pelos donos, Charlotte não estava acostumada com toda a pompa inglesa. Muito menos ele. Provavelmente era o primeiro pretendente que surgia ali. Sentiu-se corar, envergonhado e sem jeito, como se aquela velha o tivesse apanhado com a mão dentro do pote de doces. Era o primeiro, tinha mais chances.

— Vim visitar a Senhorita Charlotte. – disse – Sou Albert de Portugal. Nos conhecemos no baile de Lady Claret.

A senhora assentiu, sem se interessar pela história do jovem, e deixou-o entrar. Como era de praxe, a sala de visitas era bem de frente a porta de entrada, de modo que as janelas todas revelavam quando as senhoras estavam bebericando seu chá ou tecendo suas almofadas. Ele espiara para ter certeza de que Charlotte estaria ali, e descobriu-se com sorte.

Assim que entrou, pôde notar que ela tecia uma imagem de nossa senhora, ajoelhada e com as mãos unidas em frente ao corpo. Parecia trêmula, embora fosse apenas um bordado. A moça ergueu seus olhos, abandonando o trabalho ao seu lado. Parecia um pouco atônita, porém não incomodada, como Albert conseguiu deduzir. Ela provavelmente sentia o mesmo a seu respeito, não o tomaria como esposo agora mesmo, mas era a alternativa mais aceitável. Afinal ele fora o único a dançar com ela em todo o baile. As moças não se esquecem de coisas como essas, fora o que sua mãe dissera, parte do argumento para convencê-lo de que Charlotte seria a primeira de sua lista.

— Alberto, que bom revê-lo. – ela disse em fluente português, o que acalmou um pouco seus nervos.

— Digo o mesmo, vossa senhorita. – e piscou, ao terminar a frase com algo tão informal. A breve mesura que fez lhe trouxe mais confiança quando notou o rosto levemente corado de Charlotte. Ela era uma daquelas que gostavam de ser tratadas como princesas. A maioria gostava. Mas não tão formalmente, com uma leve pitada de ousadia para deixar tudo mais interessante e proibido. Talvez estivesse condenado, mesmo. Sua alma era a de poeta. E isso o fazia cruel.

— Seja bem vindo a minha casa, senhor. Por favor, sente-se para beber chá. – e com isso deu a deixa para a senhora que ainda estava parada ao lado dele se mover e ir buscar o chá. Permitindo-lhes alguns minutos de privacidade. Uma privacidade pouco educada de acordo com os princípios da sociedade inglesa. Uma dama que se preze nunca ficaria sozinha com um cavalheiro solteiro.

Mas Alberto preferia aquela particularidade.

— Vim vê-la. – disse, o que era óbvio, mas o sorriso de Charlotte não foi de sarcasmo e sim de gentileza. O que ele achou muito encantador.

— É muita gentileza sua visitar-me. Meu pai logo retornará, foi convidado a tomar o desjejum num pub perto da casa de um amigo antigo. – ela revirou os olhos ao dizer a palavra pub, e Alberto achou graça.

A criada retornou com chá e alguns biscoitos. Eles se sentaram nos sofás opostos, ela como a anfitriã de frente a janela, e ele como um convidado, de costas para a janela. Era uma formalidade quase automática, já que o anfitrião sempre estava sentado de frente a janela. Ela permaneceu na sala, afinal era seu dever acompanhar a jovem lady. Charlotte mostrou-lhe a almofada que bordava, depois falou sobre os recitais para os quais fora convidada e como descobrira que  as debutantes costumavam tocar em seus primeiros anos, e por isso ela também deveria montar um recital para tocar em honra a sua primeira temporada em Birmingham. Alberto incentivou, afinal adoraria ouvir a voz da moça entoando alguma canção de amor. E normalmente eram desse tipo de canção que os recitais da temporada eram compostos.

Enquanto gargalhava, ignorando os bons modos, ele chegou a conclusão de que cortejaria Charlotte por mais alguns dias, talvez até a semana que vem, e a pediria em casamento em seu recital, como um presente pela música. Sim, era romântico o suficiente, e ela parecia gostar muito de sua companhia. Tinha cabelos finos e louros, comuns para as moças inglesas, e a tez alva, como uma boneca. Mas o que mais o fascinava eram seus olhos, ora castanhos, ora verdes. Como um mistério, Alberto os fitava por longos segundos, enquanto Charlotte contava-lhe algo sobre seus interesses e seus amigos. A medida que os minutos passavam, o mistério tornava-se mais complicado e ele ainda mais fascinado. Por fim concluiu que se passasse o resto da vida ao lado daquela mulher, nunca a desvendaria.

Certamente não tinha um rosto gracioso, era anguloso e possuía algumas marcas das espinhas que deveriam tê-lo assolado na puberdade. Mas não era qualquer vergonha, longe disto. Charlotte tinha uma beleza militar, colocaria medo e tremor em todos os soldados da marinha inglesa, assim como também os convenceria a visitar sua cama. Alberto quase cuspiu o chá ao pensar desta forma, incriminando-se. Mas francamente, ele próprio não rejeitaria tal convite.

—... pintar.

— Você pinta? – ele repetiu, tentando fingir-se ouvinte. Charlotte abriu um sorriso tímido.

— Acredita? Talvez não seja o melhor para uma garota, mas...

— Com certeza eu adoraria ver um de seus quadros.

Charlotte arregalou os olhos, surpresa e também contente. Ela deu-lhe mais um dos sorrisos largos que o faziam vacilar em sua posição como cortejador, e no fim apontou para uma parede, onde havia um quadro grande com o retrato de uma paisagem campestre. No fundo, havia uma imensidão de verde, e sentada debaixo de uma árvore mais próxima, uma moça lendo, tentando segurar o chapéu enquanto o vento varria todo o campo. Alberto jurou sentir o vento roçar seus cabelos. Com admiração e certa descrença, voltou-se para ela, que aguardava ansiosamente com as mãos atrás do corpo, em pé ao seu lado. Seu rosto era o de uma criança esperando para ser elogiada. E era impossível lhe negar tal coisa.

— É realmente muito bom, senhorita Charlotte. – disse, mas sentiu que essas não eram as palavras que ela queria ouvir. – Eu mesmo não faria tal pintura com tamanha precisão. Um talento incrível.

Desta vez ela abriu um sorriso maior, como se fosse possível, e ficou nas pontas dos pés, quase batendo palmas e cantando. Agradeceu ao elogio e disse que não era tanto, mas evidentemente fora apenas uma cortesia, pois ela estava verdadeiramente feliz com tal comentário. Alberto sempre acertava em relação a mulheres, não compreendia por quê seus amigos diziam que elas eram complicadas. Para ele sempre fora simples decifrar seus desejos e seus pensamentos. Principalmente uma pessoa tão límpida e honesta como Charlotte.

— Me mostraria um de seus poemas, senhor? Já que lhe mostrei um de meus quadros.

E ele se lembrou do poema que iria ler para ela. Enfiou a mão dentro do bolso do casaco e desdobrou o papel. Charlotte soltou uma risada contida, curiosa sobre como o poema fora milagrosamente para dentro do bolso de seu cavalheiro. Ela estava nas nuvens, era verdade, ninguém nunca vira um de seus quadros além de papai, todos pensavam que as pinturas pela casa eram compradas de artistas renomados e por isso não questionavam, querendo não admitir ignorância. Mesmo os criados não notavam a assinatura da garota logo acima da moldura.

Alberto pigarreou.

Se o amor for grande, a espera não será eterna, os problemas não serão dilemas, e a distância será vencida.

Um poema de amor não correspondido! Eram os seus preferidos. A tormenta do amante, a aceitação de sua rejeição, e então o apoio e dedicação total para que a amada alcançasse sua própria felicidade!

Se a compreensão insistir, não serei mais tolo, não correrei por todo o grande pátio de Hyde Park.

Charlotte achou engraçado o modo como ele comparou a corrida do amante com a corrida pelo Hyde Park em Londres. Era um grande parque onde as damas passeavam e os cavalheiros corriam a cavalo. Corrê-lo era mesmo um desafio para poucos.

Quando Alberto terminou de ler, olhou para ela, que bateu palmas.

— Belíssimo. Mas o amante deveria ter mais fé em si mesmo. Ele não chegou nem mesmo a falar com a dama.

— Se engana, minha senhorita. – contrapôs Alberto – Ele sabe que não será correspondido., pois seu amor é impossível. Ele ama a irmã.

Os olhos de Charlotte quase saltaram, enquanto ela colocava a mão sobre o coração, acelerado. Um amor proibido! Havia algo mais interessante que um amor proibido? Se Alberto escrevesse algo parecido ele seria aclamado por todos no mundo, e também preso e executado em praça pública. Deus, um incesto... Como não percebera a aflição do amante? Como a amada não o notava, mas permanecia sempre ao seu lado. Claro, ela estava lá, mas não o abraçava por amor! Nem o beijava por amor! Eram essas as suas dores!

— Muito criativo, admito. – disse, por fim.

— Pensei que me crucificaria, pelo modo como me olhou. Mas creio que és uma dama de bom raciocínio e consciência.

— Certamente que não me ofenderia tal coisa os meus valores e a minha fé, é arte. A arte é livre. – ela disse, quase que contemplando a si mesma. – Ela tem uma licença especial vinda de Deus.

— Amém, pois não acredito que Ele vá gostar muito das minhas futuras ideias, planejo um romance entre uma nativa selvagem e um jesuíta...

— Santos do Céu! – Charlotte riu – Isso seria incrível.

Alberto gostou de sua animação, e sentiu-se mais animado ainda. Talvez ela fosse mesmo a esposa ideal, que o apoiaria em suas decisões e o manteria focado em seu trabalho. Ela cuidaria de sua casa, pintaria seus quartos com seu talento artístico. A casa estaria sempre bonita e ele sempre poderia entrar no quarto a noite para encontrá-la e se tornar um homem realmente feliz. Tudo o que precisava agora era cortejá-la por mais um tempo, firmar um dote com seu pai e então pedi-la em casamento. Simples.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Podem pedir capítulos de seus personagens favoritos até agora, e também dizer seus casais preferidos. Quem aqui shippa Chalbert? :3 Beijos da Meell.