FusionTale escrita por Neko D Lully


Capítulo 26
Calma antes da tormenta


Notas iniciais do capítulo

Essa capitulo deveria ser apenas um com o próximo, "Chara e Undyne", mas como ele começou a ficar grande de mais eu decidi dividir ele em dois e assim ser mais detalhista com os acontecimentos. Vocês vão ver que não diminuiu em nada nenhum dos dois.
Decidi também programar o capitulo para aparecer mais cedo, assim a galera que acompanha aqui pode aproveitar desde cedo. Relembrando que o próximo capitulo aparecerá ainda hoje!
AH! UM PEQUENO AVISO, POR FAVOR ATENÇÃO! eu estou criando um twitter para que possamos nos comunicar melhor, como uma ideia tanto do meu irmão quanto de uma amiga minha, vai ser também mais fácil para mim dar avisos a vocês como a possibilidade de um capitulo não ser lançado, mas não se enganem, ele não vai ser especifico para a fanfic. É um Twitter meu o qual quero usar para ter mais contato com vocês! Sei que tem gente que não curte comentar, mas talvez se solte mais lá, eu adoraria falar mais com vocês, não apenas sobre Fusion, como sobre Undertale, outros jogos, animes, mangás, etc etc. É apenas um sugestão que me deram e eu achei uma ideia legal. Meu Twitter é: @NekoLully (bem óbvio xD, esse nome não vai me largar tão cedo).
Também quero agradecer a todas as recomendações, comentários, a todos vocês que estão acompanhando essa fanfic até aqui, sem vocês não teríamos chegado nem na metade disso! Espero que continuem gostando!
Já enrolei de mais não? Para o capitulo!



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 FusionTale - Calma antes da tormenta

Mais três redefinições, Frisk tinha conseguido, dessa vez, alcançar o mês de julho. Tudo o que tinha anteriormente a esses meses havia sucedido exatamente da mesma maneira, todo o progresso até ali, até mesmo seu ingressar na gangue havia ocorrido da mesma maneira como na primeira vez. Seguindo essa cronologia então, muito mais tinha acontecido e estava para acontecer.

Aquele mês era o mês das expectativa. Para adolescentes da idade de Frisk seria o momento de se preocupar com a faculdade, olhar para frente em um futuro o qual valesse a pena continuar, isso para não contar os típicos problemas da idade que muitas vezes vinham acompanhados com desavenças emocionais que eram dramatizadas pela mente em transformação. No entanto, mentalmente, Frisk já não tinha mais a idade de um adolescente, a contagem de suas experiências e vivências com toda certeza levavam-na a um patamar bem elevado, talvez um pouco acima da de um adulto formado. As preocupações as quais ela originalmente deveria estar na cabeça, não passavam de futilidades agora, fatos que não valeriam a pena exatamente pelo motivo de ela saber que, por enquanto, mesmo que fosse longe em seus estudos, entrasse na faculdade que queria e começasse a dedicar-se para sua carreira, tudo voltaria ao começo do terceiro ano do ensino médio e tudo pelo qual ela começou a lutar teria se desvanecido bem diante de seus olhos.

Por tal, Frisk passou a ter outras ideias em sua cabeça, outros problemas que seriam considerados loucuras para quem não estivesse completamente envolvido na história.

Seja como for, para ela, o mês de julho em diante, até o momento da próxima redefinição, sem contar, obviamente com as dores de cabeça do julgamento o qual permanecia a assombrar sua vida, era um momento de liberdade em que poderia mais facilmente conciliar seu tempo tanto com sua família e amigos como com os deveres da gangue sem chamar a atenção. Sem a escola para ocupar a maior parte do seu dia ela tinha total e completa liberdade para sair, voltar e fazer o que bem entendesse.

Aquele dia, por um exemplo, era um de seus grandes momentos de folga, um respirar das entregas e problemas que poderia enfrentar dentro da cede, como rixas entre companheiros. Betty ainda não aceitava muito bem o fato de Frisk estar bem mais próxima de Sans. Como a morena bem sabia o rapaz levou pelo menos cinco dias afastado dela, Carl e Diana perguntando-lhe o que tinha dito ou feito para deixá-lo assim. Mesmo que encarasse de longe, com atenção fixa, ele não lhe dedicava se quer uma palavra ou ousava aproximar-se mais de dois metros de sua pessoa. Frisk também procurou ignorar e apenas deu de ombros para as perguntas insistentes, ela sabia que logo ele se aproximaria, como um gato arredio.

E assim foi, aos poucos ele puxou conversa, procurou sua companhia em seus momentos de procrastinação. Mesmo que fosse apenas para sentar a seu lado e ficar sem conversar, mesmo que fosse apenas para uma simples pergunta, dando voltas em assuntos fúteis e desnecessários. Frisk permitia cada uma delas, aceitava seu espaço e esperava com paciência que ele começasse a confiar, não mais procurando um brinquedo sexual para passar o tempo, mas quem sabe um amigo, um companheiro.

Enfim, a questão em si era que, apesar de ser seu dia de suposta folga, Dee-dee havia lhe pedido um favor de ultima hora, próximo ao começo da tarde e final da manhã. Nada muito problemático, tudo que queria era que a pequena morena tomasse conta de seu pequeno filho de dois anos enquanto ela continuava seus afazeres da gangue. Aparentemente a babá tinha ficado doente e não existia mais ninguém que pudesse tomar conta do garoto e, como as duas estavam quase como mãe e filha, Diana decidiu que Frisk seria sua melhor escolha e a morena não se importava nem um pouco, não era como se tivesse planos marcados para aquela tarde ou noite.

Cantarolando um leve musica que havia escutado no rádio e grudado em sua mente, Frisk se aprontou com calma. Calças negras jeans justas, botas que alcançavam-lhe a canela, uma blusa de mangas compridas colada às curvas de seu corpo e um colete por cima. Os cabelos curtos deixou solto, sem se preocupar em levar mais do que seu celular junto, escondendo-o bem entre suas roupas para que passasse despercebido de olhares atentos. Não demorou mais do que poucos minutos para estar pronta, dirigindo-se calmamente para a porta. Não tinha pressa alguma.

— A onde vai? - deveria admitir que a voz lhe havia surpreendido. Como já foi mencionado era a primeira vez que Frisk conseguia chegar ao mês de Julho nos cronogramas em que havia entrado na gangue, qualquer coisa que aparecesse naquele instante seria novo, uma mudança significativa que por um tempo não poderia prever. Era emocionante, mas ilusório. Logo Frisk se acostumaria e seu encanto chegaria ao fim. Não significava, porém, que ela não poderia usufruir desses leves momentos de adrenalina.

Chara estava sentada no sofá, olhos ainda voltados para a televisão ligada em um canal qualquer. Frisk tentou manter-se neutra o melhor possível, a situação exigindo a calma e descrição a qual Frisk não estava preparada, talvez pela primeira vez em muito tempo.

— Ajudar uma amiga. - respondeu, procurando manter-se o mais próximo da verdade possível para que Chara não desconfiasse. Mantê-la longe era tudo o que lhe passava pela cabeça. Chara não poderia saber o que fazia.

— Ajudar uma amiga? Que amiga? Que ajuda?

— Tomar conta do filho dela. Ela está ocupada e precisa de alguém para vigiá-lo.

— Que amiga? - Chara repetiu a pergunta, tom impaciente em sua voz.

— Por que tanto quer saber? Parece até mesmo Asriel com seus interrogatórios preocupados. Não é grande coisa, não tem que se preocupar.

— Você tem andado muito fora de casa ultimamente. Algo que eu deva saber?

— Por que deveria? - Frisk desafiou, talvez não tivesse sido sua melhor decisão, principalmente tratando-se de Chara, mas já estava começando a se sentir incomodada com todas aquelas perguntas.

— Não sei, talvez você esteja se metendo com alguma coisa que não sabe como lidar. E... Sendo sua irmã mais velha, é meu dever ajudar você, irmãzinha inocente, a resolver. - olhos vermelhos fulminaram os dourados com atenção, esperando encontrar o que procurava. Frisk ainda manteve-se estoica, firme e determinada.

— Se eu precisar de alguma ajuda, tenha certeza que irei pedir. Agora, com sua licença, o tempo está passando e eu preciso ajudar uma amiga. Nos vemos a noite. - sem esperar qualquer resposta, Frisk abriu a porta, saltou para fora e fechou-a atrás de si, disparando pelas ruas com o coração bem preso na garganta a bater com loucura. Definitivamente manter segredos não era seu forte, por mais que o maior deles ainda estivesse rondando sua mente e assombrando seus dias.

Mas talvez Frisk deveria ter prestado mais atenção em Chara antes de sair. Talvez tivesse percebido, pouco antes de disparar pela porta a fora, a fúria nos olhos vermelhos, o entendimento e a confirmação de seus temores. Pouco tempo depois a segunda das irmãs saiu de casa, passos calmos que contradiziam completamente suas emoções, botas de couro grossas e pesadas arrastando-se pelo caminho até as periferias.

Talvez uma guerra estivesse pronta para começar.

Não houve muitos inconvenientes em seguida, Frisk chegou a cede ainda no começo da tarde deparando-se no sexto andar com um pequeno garotinho moreno de olhos verdes sendo paparicado pelas mulheres ao seu redor, Diana a segurá-lo com uma cara de puro fastígio enquanto a esperava. Assim que a viu, porém, um enorme sorriso de alívio se desenhou em seu rosto enquanto apressava-se na direção da pequena morena, colocando a criança em seus braços, passando rápidas instruções antes de desaparecer porta a fora, atarefada e apressada. Provavelmente tinha muitos papeis a organizar, entregas a efetuar, Frisk sentia-se feliz de ter um tempo para descansar, normalmente era ela que ficava com a maior parte do trabalho de campo.

O garoto em seus braços encarou-a com seus enormes olhos verdes expressivos, dedos na boca e expressão confusa indicavam que provavelmente sua mente infantil questionava-se porque sua mãe o havia deixado com uma completa estranha. Bem... Frisk talvez tivesse que conquistar-lhe a confiança antes de começar realmente seu trabalho. Distrair um garotinho não deveria ser tão difícil.

— Olá, pequeno. Eu sou Frisk, é um prazer finalmente poder conhecê-lo, sua mãe tem me falado bastante sobre você. - um sorriso doce, tentando transparecer o melhor possível carinho e afeição. A criança estava em um meio estranho, rodeada de pessoas as quais não conhecia, medo era bem normal, principalmente nessa idade, tudo ainda era novo, muito ainda deveria ser descoberto, Frisk precisava passar confiança. Mas aquele garoto parecia ser bem corajoso, desde que havia chegado Frisk não o ouviu chorar, mantinha-se tão firme quanto sua mãe. - Vou cuidar de você enquanto sua mãe está trabalhando. Quer brincar comigo?

Ainda hesitante o garoto assentiu e Frisk o levou para um dos sofás espalhados no lugar, acomodando-se com o pequeno em seu colo, prestando atenção para que ele não caísse. Algumas pessoas permaneceram a observar, curiosas, as mulheres que antes o paparicavam duvidaram a se aproximar, algumas ainda sentaram-se ao redor, torcendo para ter uma chance de carregar o pequeno também. Sem Diana por perto, que fervorosamente espantava qualquer um que tentasse encostar em seu filho, talvez tivesse alguma chance.

— Do que você quer brincar? - o pequeno deu de ombros, ainda um pouco desconfiado da presença da estranha que agora o carregava. Frisk, por sua vez, pensou um pouco, ela tinha uma ideia, mas não tinha certeza. Ela realmente não queria revelar tal cartada, mas para divertir um garotinho, talvez realmente valesse a pena.

Um sorriso travesso desenhou-se em seus lábios e com um simples movimento de mãos um urso de pelúcia de pelo menos cinquenta centímetros, bem rechonchudo e peludo, apareceu em suas mãos. O garoto assistiu com olhos arregalados, enorme sorriso começando a surgir em seu rosto, divertindo-se com as palhaçadas que Frisk fazia com o boneco, muitas vezes causando-lhe cócegas. Em seguida o urso tornou-se um palhaço, o qual soltava água por uma flor que tinha em sua gravata, enorme nariz vermelho que fazia um barulho engraçado e enorme sapatos de solado furado. A morena usava de toda sua imaginação, tornando um único brinquedo em mil e uma utilidades, soltando bolhas que ao estourarem viravam fogos de artifício bem pequenos, robôs que se transformavam em carros e falavam com vozes mecânicas, caixas de musica as quais tinham bailarinas que dançavam no compasso da musica.

Sempre que um sumia outro aparecia em seu lugar. Em poucos instantes, não apenas o garoto estava a rir e fascinar-se com cada nova aparição, como também os observadores ao redor, que não faziam a menor ideia da capacidade da garota de usar de magia.

— Anjinho, por que nunca disse que poderia usar magia? - questionou Carl, braços cruzados sobre o encosto da cadeira bem ao lado de onde estava Frisk. Queixo comodamente pousado encima deles com um singelo sorriso em seu rosto. - Sem falar dessa linda forma de tratar crianças. Com toda certeza será uma bela mãe no futuro. Ah~! Acho que estou apaixonado mais ainda por você!

— Não pensei que fosse importante contar, sem falar de me cansar bastante e não uso muito. - era meia verdade. Frisk concentrava sua magia muito mais para manter objetos resistente as voltas e confusões que ocorriam com o tempo, era um fio continuo de magia que escapava por seu corpo e mantinha tudo interligado, por tal qualquer outro uso era cansativo de mais, mesmo que pequeno. Ela tinha um grande núcleo mágico que constantemente estava em uso. - E não penso em ser mãe, pelo menos não por enquanto. Talvez um dia, não sei. Costumava ajudar minha mãe com crianças da escola, acho que isso me deu um bom jeito de lidar com elas. Sem falar que eu gosto.

— Eu adoraria que você fosse mãe dos meus filhos, Anjo. - cantarolou um dos homens próximos. Ele se jogou no braço do sofá, encarando com um sorriso malicioso Frisk ainda a brincar com o garoto que não prestava atenção em qualquer outra coisa que não fosse os brinquedos que apareciam a sua frente. Frisk o ignorou também, focada em sua tarefa. Desgraçadamente ela já tinha se acostumado com esse tipo de aproximação. - Por que não vamos lá em casa e fazemos algumas crianças? Se é que me entende.

— Você tem muita coragem, Thomas. - intrometeu-se Anabelle, sentando-se ao lado de Frisk no sofá com toda sua pose altiva, exibindo suas alongadas e belas pernas cobertas apenas por um pequeno short que dificilmente conseguia tampar o começo de suas cochas, assemelhando-se muito a uma peça intima, botas de salto fino enroscavam-se com seus cadarços em sua canela até o começo de seus joelhos, flexíveis o suficiente para permitir-lhe dobrá-los. Uma jaqueta grossa de couro negro recobria-lhe o torso que inicialmente trajava uma justa camiseta que facilmente mostrava todo o colo de seus seios fartos e chamativos, obviamente sem um sutiã para cobrí-los. Em seu rosto, perfeitamente maquiado, desenhava-se um sorriso presunçoso e desafiante. - Flertando com a mulher do Chefe. Vai acabar perdendo a cabeça meu caro amigo, se não pelas mãos do Chefe com toda certeza pelas de Frisk, que todos nós sabemos não ser tão fraquinha quanto aparenta.

— Sabe que não faço mal a uma mosca, Belle. - choramingou Frisk, fingindo estar magoada, recebendo em troca beliscões em suas bochechas. 

— Isso porque você é um anjinho bonzinho de mais para o seu próprio bem, caído entre demônios. - riu Anabelle, divertindo-se com o rosto desgostoso que a pequena morena punha. Se por acaso Frisk não tivesse o garoto de Diane em seu colo a bela prostituta não duvidaria nem um pouco em jogar o rosto da mais nova em seus seios, sufocando-a em seus típicos abraços.

Anabelle era uma bela loira artificial de pele clara e olhos bem próximos ao raro violeta. Uma bela e cobiçada mulher em sua tenra idade de vinte e cinco anos, possuidora de alongadas e belas pernas desprovidas de varizes ou estrias, macias como veludo, assim como toda sua pele. Era alta, facilmente alcançava os um e setenta, busto avantajado e cintura fina. Seus longos cabelos ondulados recaiam-lhe na maior parte das vezes por sobre os ombros, raramente os prendia e quando o fazia costumava ser em um belo e imaculado rabo de cavalo alto que a tornavam muito parecida com uma executiva. Seu rosto naturalmente possuía uma beleza invejável, firme e forte derivada de sua genética russa, o que a livrava de usos fortes de cosméticos e a deixava com um ar mais natural, atraindo muitas vezes inveja de suas colegas.

Retirando sua beleza, Anabelle ainda possuía um cérebro astuto e sagas, independente. Frisk tinha certeza que, se ela não fosse obrigada a ser uma prostituta para ganhar dinheiro e viver sua vida, facilmente teria ingressado em uma faculdade para uma carreira de sucesso. Seu temperamento muitas vezes era explosivo e debochado, quase sempre entrando em conflito com Diana, por diversas divergências de opiniões e pensamentos. Mas Frisk sabia que ambas se respeitavam, talvez por serem duas mulheres fortes, capazes de sobreviver naquele mundo sem depender de homem algum.

— E quem disse que sou a mulher de Sans? Não temos nada e se continuar espalhando esses boatos Betty vai acabar arrancando é a minha cabeça. - murmurou Frisk, esfregando as bochechas doloridas.

— Como se aquela vadia, rainha das mocreias, pudesse contra você, meu amor.

— Carl! Irei contar para a Dee-dee que está falando palavras feias para o filho dela! - repreendeu a morena, mãos tampando os ouvidos do pobre garoto que nem ao menos parecia se dar conta do que acontecia a seu redor. Frisk novamente fez aparecer um novo brinquedo, uma pequena arma lança dardos de borracha a qual ele pareceu se encantar assim que o viu, ajeitando ainda meio atrapalhado o objeto em suas mãos.

— Você não faria isso! Seria minha sentença de morte! - chorou o rapaz. - Além do mais, o fato é que você é do chefinho e de ninguém mais, não mude de assunto. Todos sabemos que ele tem olhos apenas para você, meu anjinho inocente.

— Amigos, Carl. Uma garota pode ser amiga de um garoto se quiser!

— Oh! Eu não nego isso, Anjo, mas devo concordar com Carl dessa vez, por mais que me desagrade admitir ter alguma ideia igual a dessa bicha. - interveio Anabelle a qual Carl mostrou a língua divertido. Era impossível não vê-los como dois irmãos a brigar. - Chefe tem um carinho especial por você e se morde de ciúmes quando outros tentam chegar perto. Eu não sei o que você fez, amiga, mas é como se o tivesse na palma de sua mãe! Me conte sua magia!

Anabelle, outrora, teve seus casos de amores por Sans. Pelo que Frisk tinha entendido, ela e Sans não apenas trabalharam juntos como também já tiveram seus momentos de "diversão", uma das tantas que Sans havia levado para sua cama. Bem, não era como se Frisk pudesse negar que era complicado não encantar-se com a maneira que ele era dentro de quatro paredes, muitas mulheres procuravam satisfação dentro de um quarto como fora dele e Sans, se bem quisesse, poderia dar ambos. A questão foi que não durou, assim como era de se esperar.

Mesmo assim, com o pouco do sentimento que ainda havia lhe restado, Anabelle não guardava nenhum rancor, como agora era o caso de Betty, por Frisk aparentemente ser a próxima na lista do albino. A amizade que as duas agora nutriam poderia muito bem ser comparada com a que a morena tinha com Carl, tão firme e leal quando poderia se imaginar. Ela bem sabia que a "fila" andava e que ela havia perdido a chance que tinha.

— Não vai ter nada, Belle. E você sabe o motivo.

— Ainda posso sonhar! É por isso que Thomas não pode te ter, Anjo.

— Como se eu tivesse medo do Chefe! - exclamou Thomas, erguendo-se abruptamente de seu lugar com uma mão levada ao peito, queixo erguido em uma expressão de confiança e orgulho. Carl soltou um bufo divertido, levando as mãos a boca para tentar conter as gargalhadas divertidas que queriam-lhe escapar, enquanto Anabelle apenas suspirava e negava. - Vocês que são covardes de mais para enfrentá-lo, mas não tema, Anjo meu! Lutarei por você e te salvarei daquele demônio que nos comanda! Assim podemos ter vários filhos, você poderá tornar-se minha mulher e cuidar de nossa casa, me fazer comida enquanto espera pacientemente que eu volte do trabalho. Cuidando de nossas crianças, pelo menos cinco pequenos e arrumando nossa casa.

— Desculpa, Thomas, mas não sou do tipo de mulher que gosta de ser dona de casa, eu paço. Além do mais, acho que deveria dar uma olhadinha para quem está atrás de você. - divertiu-se Frisk, ajudando Pablo em sua atual briga entre dois bonecos que pareciam travar uma guerra feroz entre si, pelo menos dentro da mente infantil do pequeno garoto.

Pálido como um folha de papel, Thomas voltou-se lentamente, encarando por sobre seu ombro a presença que Frisk havia denunciado e que ele deixou passar. Suas pernas, no entanto, bambearam assim que seus olhos pousaram nas chamas azuis, praticamente rentes a sua altura e ainda aparentando estar bem acima dele. Braços cruzados na frente do peito enquanto a expressão feroz e assustadora mantinha-se firme no rosto maduro.

Sans definitivamente sabia como assustar.

— Então, Thomas... Eu sou um demônio? - baixa, potente e assustadoramente calma a voz havia se pronunciado, fazendo o pobre rapaz tremer desde a ponta de seu dedo do pé até o ultimo fio de cabelo em sua cabeça. Em um salto desesperado ele se afastou do albino, quase tropeçando em seus próprios pés enquanto tentava fugir.

— C-claro q-que n-não, c-chefe... E-eu a-apenas... F-foi s-só u-uma brincadeira... Isso! Uma brincadeira! Hehe! - todos que assistiam tal cena divertiam-se com o estado desesperado do pobre rapaz. Sabiam que Sans não se irritaria por conta disse, ele era preguiçoso de mais para se importar com o que outras pessoas pensavam dele dentro daquele lugar, apesar que, internamente, ele sentia-se um pouco incomodado pelo que ele havia afirmado para Frisk. Como se ele fosse permitir que alguém assim pudesse ter o doce anjo para ele. Poderiam chamar de ciúme, mas Sans não admitiria isso, ele não estava sentindo ciúmes, definitivamente não. - E-eu tenho que ir!

E sem mais palavras o rapaz correu para fora da sala, desesperado e assustado, deixando para traz não apenas uma pessoa a rir de sua situação. Sans, por sua vez, suspirou, deixando-se cair no sofá ao lado de Frisk que permanecia bem mais concentrada na diversão com o garoto do que com os acontecimentos seguintes de toda aquela confusão. Sorriso gentil e carinhoso no rosto, era complicado para Sans manter-se quieto em seu lugar sem dizer ou fazer qualquer besteira.

— Como atura pessoas assim, sweetheart? - perguntou, fingindo desgosto, braços apoiados sobre o encosto do sofá, discretamente passando por sobre o ombro da garota que nem ao menos percebia. Novamente, ela estava demasiadamente acostumada a aquele tipo de ação vinda do rapaz a seu lado para se quer perceber ou sentir diferenças. Frisk deu de ombros, sem retirar em nenhum momento os olhos da criança em seu colo.

Foi em um dos momentos entre a brincadeira, Sans, Carl e Anabelle haviam caído em uma discussão acalorada entre si enquanto Frisk mantinha-se atenta as necessidades da criança a qual cuidava. Brinquedos iam e vinham e um deles pareceu ser estranhamente ignorado pelo garoto, que insistentemente se mantinha longe dele. Ironicamente para Frisk, era um dos bonecos representativos de um dos monstros que tinha em suas memórias, ela nem ao menos havia reparado em sua criação, foram tantos bonecos que dificilmente mantinha-se atenta a forma que cada um tomava, deixando que sua imaginação subconsciente tomasse conta do trabalho.

Curiosa, no entanto, ergueu o pequeno objeto para a criança, que instantaneamente se encolheu de medo.

— Não gostou desse? - perguntou, recebendo um negar tímido por parte do garoto. - Por que? Eu acho ele bonitinho.

— É um monstro. - o pequeno garoto murmurou, voz baixa e infantil, fina como a de uma criança deveria ser.

— Tem medo de monstros? - o garoto assentiu, abraçando-lhe a cintura com força, tentando manter-se o mais longe possível do pequeno boneco que Frisk sustentava com a mão. Com um sorriso carinhoso, porém, a morena lhe acariciou os fios negros, tentando tranquilizá-lo. - Não precisa ter medo, monstros não são maus. Eles não vão te machucar, querem apenas ser seus amigos.

— Como sabe? - olhos verdes subiram para encarar os dourados, a curiosidade agora passando o medo. Frisk sorriu, um braço rodeando o pequeno com um carinho que facilmente poderia ser confundido com o de uma mãe.

— Você promete guardar segredo? - Frisk sussurrou, em um tom confidente o qual prontamente foi respondido com um consentimento ansioso. A morena se aproximou um pouco mais do garotinho, fingindo olhar para todos os lados enquanto lhe sussurrava: - Porque eu conheci os monstros.

— Como?

— Quer que eu te conte? - novamente o consentimento. E Frisk, com um sorriso doce e coração quente começou seu conto: - Muito, muito tempo atrás, existiam duas raças. Os humanos, - um fantoche em forme de uma pessoa tomou-lhe a mão direita. - e Monstros. - na esquerda, em seguida, deu-se forma a um fantoche de um monstro, peludo, apenas um olho, com a pele de um verde intenso. - Eles viveram em paz durante muito tempo, até que a guerra começou. Várias vidas foram perdidas, ambos os lados devastados e afogados por seus erros, por seu medo. Mas Monstros eram mais fracos que os humanos, suas almas não tinha determinação, o que os levou a derrota inevitável. Derrotados, eles foram mandados para o subterrâneo, presos e condenados a viver ali para sempre. Com o tempo, os Humanos se esqueceram de sua existência, assim como a existência da magia. Monstros tornaram-se lendas, apenas para assustar as crianças antes de ir dormir. Mas um dia, uma criança subiu uma montanha, onde tinha um buraco bem fundo no qual ela caiu. Machucada e assustada a criança gritou por socorro e um jovem monstro apareceu, a levou até seus pais que cuidaram de suas feridas e a deram um lar, já que não mais a criança poderia sair. Presa no buraco junto com todos os outros monstros.

A voz era calma, solene, muito pouco poderia ultrapassar os outros ruídos que enchiam a sala onde estava. A atenção do pequeno garoto completamente voltada para sua pessoa, fantoches brincando em suas mãos a demonstrar o que queria representar, mudando seus personagens, moldando-se de acordo com suas memórias, nostalgia novamente tomando-lhe o peito. Suas aventuras contadas com calma, não prestando atenção para qual universos ela seguiria, tão absorvida no conto quanto o próprio garoto em seu colo.

Ainda assim, ela preocupou-se em deixar a história divertida como podia. Em momentos em que deveria se fazer uma escolha, em que as possibilidades poderiam mudar os acontecimentos seguintes, Frisk deixou que Pablo escolhesse, que decidisse qual caminho queria seguir e ajeitou os resultados para os que se recordava. Usou dos bonecos para mostrar a aparência dos personagens, mudou sua voz para tons diferentes tentando imitar cada um deles.

Era como voltar a estar no Underground sem ter saído do lugar, ainda com a curiosidade latente de saber o que outras pessoas fariam em seu lugar. Qual caminho seguiriam? O que iria preferir? Seriam muito diferentes dela?

Obviamente para eles não seria uma experiência real. Ouvir era diferente de viver, a tensão de um momento de luta e sua escolha durante ele poderia mudar todos os resultados seguintes com facilidade. Um efeito borboleta, por assim dizer. E era tudo como um jogo, um pensamento um tanto doentio para Frisk, mas a verdade assustadora agora. Era brincar com o que aconteceu, divertir-se com o que não existia mais e com aqueles que sofreram tanto em sua mão. Tal sentimento causando um embrulho enjoado em suas entranhas, procurando, desesperadamente, espantá-lo ao concentrar-se apenas em contar a história para uma inocente criança que ainda não sabia das consequências que seus próprios atos poderiam causar.

Frisk não chegou a reparar, submergida de mais em seu próprio conto para notar, mas os ruídos que anteriormente abafavam sua voz pouco a pouco deixavam de existir. Mais e mais pessoas aglomeravam-se a sua volta, curiosas e interessadas no que falava, prestando a mesma atenção que a pequena criança em seu colo, por mais avançadas em idade que pudessem ser.

Existiam aqueles que, por orgulho ou empatia, negaram-se o prazer de escutar tal fascinante conto, desaparecendo da sala ao perceber que não poderiam atrapalhar sem, consequentemente, serem agredidas no processo por aqueles que insistentemente queriam saber o que a morena continuava a falar. E como se apenas aqueles que já estavam no lugar já não fossem um publico o suficiente, logo pessoas de andares mais a baixo subiram curiosas, acharam um lugar, interavam-se do assunto e deixavam-se levar pela voz tranquila que enchia a sala.

Bill, o porteiro, sentou-se ao lado de Anabelle, foi um dos primeiros visitantes de andares abaixo a aparecer ali. Um de seus braços repousou no ombro da mulher a seu lado, dedilhando com carinho seu ombro em uma caricia discreta. Já era de conhecimento geral que ambos tinham uma relação próxima a de um romance, apesar da diferença de idade. Logo depois dele, no entanto, vieram as crianças, acomodadas agora ao redor de Carl, próximas aos pés de Frisk, encarando-a com admiração e atenção desde o chão.

Sans, por sua vez, não sabia em que poderia se perder mais, se eram nos olhos dourados a brilhar de uma forma peculiar, nos lábios finos a formar as palavras as quais saiam com tanto detalhe, delicadeza e beleza, enchendo seus ouvidos como uma melodia tranquila e deveras apreciada ou na esquisita sensação que agora enchia-lhe o peito. Uma mistura de familiaridade, reconhecimento e admiração. Ele não sabia da onde a maior parte desses sentimentos derivava, não conseguia recordar-se de nada parecido com a história que escutava e ainda assim... Sua alma esquentava, sacolejava e inflava dentro de seu peito, próximo ao coração, sentimentos confusos e estranhos derivando-se dela. E, no meio de todos eles, ele identificava um carinho latente, um desejo de proteção e apego, todos eles direcionados a garota sentada a seu lado.

Mesmo depois de Pablo adormecer, bem aconchegado nos braços de Frisk, a história continuou, ninguém querendo que parasse até o momento que chegasse a um fim. Escolhas no meio da história sendo feitas pelo restante do publico, a maior parte vindo das crianças aos pés de Frisk, animadas em participar, enquanto os mais velhos sentiam-se demasiadamente constrangidos e acuados para participar de tal evento infantil, ainda assim, para si mesmos, não negando sua vontade de dar sua opinião sobre as decisões a serem tomadas.

— Por que não matar a todos? - questionou um rapaz no meio da multidão, logo após a história ser finalizada. - Seria mais fácil, não? O caminho estaria livre e você voltaria para casa.

Sans sentiu um estremecer dentro de seu peito, alma novamente sacolejando, dessa vez com fúria. As crianças agitaram-se em desgosto, indignadas que alguém tenha sugerido em matar seus amigos monstros imaginários, até que Frisk os acalmou, pedindo silêncio para que não acordassem o garotinho em seus braços.

— Quer saber o final da história se você tivesse matado a todos? - ela perguntou, solene, expressão neutra em seu rosto, apesar da alma latejar em dor por ter que se recordar de tais detalhes dos quais preferia esquecer. Mas fazia parte da história, fazia parte de quem era, de sua alma e de sua vida. Ela não poderia jogar essas experiências fora porque foram elas que formaram seu crescimento. Todos assentiram, um tanto hesitantes e Frisk continuou, em um suspiro pesado: - Matar alguns te leva ao nada. Você fica preso em um lugar vazio, escuro, sem saber se está vivo ou morto. Se você matar a todos, sem discriminação, o mundo acaba. Você se deixa levar pelo sabor do poder, da capacidade de ficar mais e mais forte, seu LOVE subindo tão rápido que chega a ser atordoante. Mas o que te resta depois é um monte de poeira acumulada em suas roupas e mãos, talvez possamos compará-los com sangue, destruição em suas costas, o mundo chegando ao fim por sua cede de poder. Mas ela é embriagante e te consome, mesmo que você saiba, de alguma forma, que o que você faz é errado. Esse é o final de um genocídio: a destruição de tudo.

O lugar caiu em silêncio, por instantes ninguém ousando fazer um movimento se quer, imersos em suas próprias conclusões sobre o conto que haviam acabado de ouvir e todos os seus tipos de finais contados. Sem uma palavra ainda dita, eles se dispersaram, voltando a suas atividades rotineiras ainda atordoados pelos novos pensamentos. Nenhum deles, que por tanto tempo viveram da lei "matar ou morrer", havia um dia cogitado, se quer uma vez, as consequências de seus atos. Ou talvez simplesmente evitassem pensar, pois o peso dos pecados poderia ser de mais para carregar.

— Isso foi bem... Profundo. - murmurou Carl, rosto caído para suas mãos. Todos os atos acometidos até esse momento de sua vida repensados em apenas um lapso de tempo. Ele tinha vivido tão pouco, escassos vinte e três anos e tinha tantas experiências. E com todas essas experiências vinham tantos arrependimentos, tantas escolhas erradas, tantas imprudências causadas pelo medo.

— Você falou como se já tivesse presenciado isso tudo, Frisk. - comentou Anabelle, seu tom baixo e pesado, fraco, quase em um suspiro engasgado. Um sorriso triste subiu para o rosto da morena, olhos encobertos pelas pálpebras acobertando todo o pesar que sentia em sua alma. Ela embalou o pequeno em seu colo, ajeitando-o para um posição mais confortável para ambos.

— Como se alguém como ela pudesse ter tal experiência. - zombou Sans, tentando aliviar não apenas a tensão que rodeava o grupo, como a de seu próprio interior. Ele tinha tanto, mas tanto medo de se deixar levar pelo sabor do poder, de seu LOVE em constante crescimento. Uma parte de sua alma ansiava por isso, mas uma grande maioria sofria por todas suas experiências vividas até então, culpada, triste. - Essa criança não seria capaz de machucar alguém nem mesmo se tentassem matá-la.

— Você não sabe nada sobre mim, Chefe. - murmurou Frisk, em um tom provocativo e desafiante, novamente deleitando-se com o arrepiar involuntário que tão desesperadamente o albino tentava esconder. Definitivamente um fetiche. - Quem sabe por trás da minha carinha de anjo eu não guarde um segredo bem obscuro.

— Eu adoraria ver isso, Anjo. - retrucou, igualmente desafiador, erguendo-se acima de Frisk enquanto ela erguia o queixo com igual confiança. Ambos já estavam sentados um ao lado do outro, a proximidade e roçar de seus corpos era inevitável pelo espaço limitado do sofá, mas nenhum dos dois realmente chegava a reparar. Olhos focados um no outro, rosto tão próximo que a ponta dos narizes quase tocavam-se, faíscas da tensão escapando um do outro.

— Você seria o ultimo a saber.

— Terei que arrancar esse segredo de você, então?

— Como se você fosse capaz.

Próximo, cada vez mais próximo. Apenas mais um pouco e não existiria distância e nenhum deles chegava a realmente reparar, imersos em seu desafio determinado e divertido, brincando um com o outro como sempre faziam. Para eles era apenas fácil estar na presença um do outro, mesmo dentro de seu espaço pessoal parecia natural, certo. Eles não estavam pensando em um beijo ou em nada intimo, mas era exatamente isso que aparentava.

O clique de uma suposta câmera os tirou de seus devaneios, rosto voltando-se para Carl que sorria zombeteiro e malicioso onde estava sentado, celular erguido na direção deles de uma maneira demasiadamente explicita para dizer exatamente o que era.

— Carl, eu não sei se te mato por ter atrapalhado o maior momento de tensão sexual da história ou se te dou um beijo por ter gravado esse momento! - riu Anabelle não muito tempo depois, ainda achando engraçado o rosto confuso do casal, agora fora de seu embriagante momento.

— Prefiro que me mate, não quero beijo de mulheres. - zombou Carl de volta, sorrindo feliz com a foto que tinha conseguido pegar. Um momento desse deveria ser guardado e preservado para futuras fofocas. - E não me culpe por atrapalhar! Eu tive que gravar esse momento épico!

Sans foi o primeiro a se afastar, rosto voltando-se para o lado oposto ao de seus companheiros, maças do rosto coloridas em um leve tom de rosa. Ele não estava irritado, não era isso, talvez um pouco frustrado por ter perdido uma boa chance de roubar um beijo da garota que estava ansiando já fazia algum tempo, mas se ele fosse ser bem sincero, nem ao menos tinha se dado conta que realmente poderia roubar-lhe um. A possibilidade, mesmo que ínfima, nem havia lhe passado pela cabeça, nebulosa de mais com a visão dos olhos dourados para ter algum pensamento coerente se quer. Seu coração, no entanto, batia como louco dentro de seu peito, o calor subindo desde seu pescoço até o ultimo fio de seu cabelo.

— Carl, isso não tem graça. - repreendeu Frisk, sua voz passando por cima de qualquer pensamento que Sans poderia ter naquele exato instante. - Essa foto pode ser interpretada da forma errada e você sabe disso.

— Não está sugerindo para eu apagá-la, está, meu amor?

— Estou. Estou sugerindo exatamente isso. Então, por favor, me faça esse favor.

— Por mais que eu te ame muito, meu lindo anjinho, amor da minha vida, não posso fazer o que está me pedindo. Eu vou lá saber quando um momento assim pode acontecer? Eu preciso aproveitar cada oportunidade que tenho! - Carl afastou o celular da mão de Frisk, temendo que ela pudesse pegá-lo em algum momento. Um pequeno bico infantil formado em seus lábios, como uma criança que recusava-se, teimosamente, ficar de castigo.

— Poderia acontecer mais vezes se os dois admitissem finalmente que estão juntos. - interferiou Anabelle, respondida com um franzir de cenho profundo vindo de Frisk, já cansada de ter que negar todas essas afirmações. - Não me olhe com essa cara! No começo eu poderia muito bem concordar com os dois e dizer que não era nada mais do que brincadeiras ou puro desejo, mas vamos lá! Só está faltando vocês darem as mãos enquanto andam um do lado do outro nessa cede a fora. Acho que Sans apenas não te espera no hall depois de cada entrega porque tem preguiça de sair da sala!

Não era, porém, como se Frisk ou até mesmo Sans pudessem negar qualquer um dos pontos apresentados, pois ambos sabiam que eles tinham  uma estreita relação. Tão visível e óbvia que mesmo o mais leigo e ingênuo dos homens poderia perceber. Sendo que não mais poderiam acusar os hormônios em fúria que insistentemente queimavam entre os dois com o simples encontro de olhares. Fazia muito que Sans não conseguia mais ver Frisk como um possível pedaço de carne em exposição, mas sim alguém com quem poderia ter uma conversa tranquila ou uma boa companhia.

Inicialmente era muito fácil para ele culpar sua curiosidade latente e desconfiança sem tamanho. Afinal, a maneira em que haviam se conhecido tinha sido conveniente de mais para seus padrões.

Primeiro um sequestro relativamente fácil, quase sem qualquer resistência. No momento poderia ter pensado que era normal vindo de uma vítima do sexo feminino aparentemente indefesa, mas com seu novo conhecimento sobre a força e capacidade da garota em questão era realmente suspeito sua rendição pacífica, mesmo levando em consideração sua personalidade. Em segundo vinha a forma como lidou com a situação, calma e relaxada, quase como se estivesse em uma excursão escolar chata no jardim botânico ao invés de entre supostos bandidos assassinos estupradores desconhecedores de piedade. Obviamente Sans havia controlado e podado a maior parte dessas práticas, eliminando-as ou limitando-as para casos extremos, mas até então, teoricamente, não tinha como ela saber. Em terceiro tinha seu estranho interesse aparentemente sem motivo de ingressar na gangue. Esse ultimo sendo o mais suspeito.

Todos esses pontos, em suma, influenciaram para aceitá-la e vigiá-la desde perto. Era ariscado? Provavelmente, principalmente por ela ter contato com Pap. Sans não tinha boas memórias quando o assunto, de alguma forma, juntava seu irmão e essa sua outra vida. Por tal, quanto mais perto a tivesse, mais fácil seria vigiá-la, mantendo a devida distância entre ela e seus interesses.

Não era a primeira vez e nem mesmo seria a ultima que fazia alguma coisa desse estilo.

Todavia, em um tempo assustadoramente curto, ela foi encantando, apaixonando e envolvendo mais e mais pessoas com as quais passou a conviver. Sans observou, surpreendido e impressionado, como um a um seus subordinados caíam em seus encantos atrativos, não sendo necessariamente físicos, apesar de, no caso dos homens, ter grande influencia. A primeira sendo Diana, tão forte da maneira que era, confiando cegamente em uma garotinha sem qualquer tipo de qualificação ou demonstração de respeito. Em seguida foi Carl, tão complicado de manter o controle completamente envolvido com a pequena garota, não apenas usando-a como uma válvula de escape de suas fofocas, como uma confidente de sua própria vida pessoal também. Não muito tempo depois foi Anabelle, tão antipática como poderia ser por conta de sua personalidade forte, acompanhando amigavelmente a garota onde quer que fosse. Posteriormente vieram Bill, Thomas, Brida, Allan, Evelin... Boa parte dos participantes, retirando Betty e seu pequeno grupo restrito, dos que faziam parte de sua mesma área de trabalho caíram para a garota. Desordeiros que deveriam desrespeitar até mesmo seus próprios pais agindo como animais dóceis próximo a uma garotinha de simples dezessete anos que acabou de cair nesse mundo de marginalidade. Quem poderia prever?

E não apenas eles, a lista continuava em constante crescimento não apenas de membros, mas aliados, civis, cooperadores ou informantes. Eles a procuravam, a bajulavam e protegiam, tão leais e encantados que qualquer um suspeitaria de magia. Afinal, por pouco chegavam a cinco meses de participação dentro da gangue.

E, em toda sua vigília e cautela, ainda mesclada com o desejo e a atração, Sans percebeu que o que tanto parecia envolver as pessoas ao redor dela era, surpreendentemente, a pureza de suas ações. Ela nunca parecia, seja em qualquer sentido, ter más intenções. Abnegada e benevolente, trazia um respiro, um porto seguro para aqueles que forçadamente caíram na marginalidade. Aqueles que por tanto tempo viveram com medo e apenas ansiavam por um raio de esperança, ou um simples ouvinte fiel.

Sans não conseguia entender! Ele simplesmente não via sentido em nenhuma de suas ações. Tão acostumado com segundas intenções, com a traição e egoísmo que era difícil aceitar que alguém tão benevolente poderia viver, imutável, ali.

E ela parecia saber que ele procurava algum defeito, uma brecha em sua bondade, afinal, ninguém poderia ser tão bom. Tanto sabia que esfregava em sua cara que ela não tinha, que ela não se deixaria moldar por aquele mundo, mas sim o contrário, ela o mudaria. O mostraria a piedade e compaixão, a amizade.

Como se isso já não bastasse ela ainda lhe estendeu a mão. Ofereceu-lhe um amigo para escutar seus problemas, suas crises e lamentações, alguém em quem pudesse se apoiar e confiar. Muito além das brincadeiras em flertes, dos jogos de sedução e interesses puramente físicos e sexuais nos quais haviam se mantido desde que se conheceram. Ele pensou que ela simplesmente cederia ao desejo e que suas palavras de um relacionamento sério eram apenas isso, palavras. Pois mesmo sendo capaz de ver quem mentia e quem não, era impossível, em sua concepção, alguém ali procurar mais do que diversão, ela seria apenas mais uma a brincar, a atrair e a jogar fora como todos os outros, como ele. E ainda assim, quebrando toda e qualquer expectativa, ela lhe mostrou o contrário, comprovou suas palavras e sua convicção, deu-lhe uma chance para chegar perto, em seu próprio tempo.

Sans era uma pessoa persistente apesar de tudo, mesmo com toda sua preguiça ele ainda possuía uma certa determinação em ir atrás do que ele pensava que poderia lhe render alguma coisa. Frisk era uma pessoa que o atraia de diversas formas diferentes, seu corpo reagindo quase automaticamente quando a via, causando-lhe sensações que poucas garotas já tinham conseguido provocá-lo. E ainda sendo persistente ele nunca procurou passar a linha. Ele sabia quando deveria afastar-se e desistir e quando deveria realmente avançar. Até então, Frisk sempre deu a entender que poderia estar perto, que poderia investir, que um dia ele conseguiria levá-la a sua cama, ela nunca o havia realmente afastado, no entanto, depois do dia em que ela lhe ofereceu, não uma noite, não sexo e não uma simples relação passageira, mas sim uma amizade, uma confiança e uma aproximação menos física ele foi aquele que se afastou, que correu.

Ele não teria vergonha de admitir que tinha sentido-se acuado. Todas aquelas palavras, tão próximas da verdade, jogadas em sua cara como nunca antes e da forma mais gentil que poderia escutar. Mas depois de tanto tempo afastando-se das pessoas, até mesmo de sua própria família, ele realmente poderia se abrir com alguém? Confiar?

Durante semanas ele se pôs a pensar, questionando-se se realmente seria uma boa escolha, se valeria a pena, se o tiro não sairia pela culatra. Ele já tinha percebido que Frisk não era do tipo que vendia informações, ela não era o tipo de pessoa que usava de algo que sabia contra a pessoa que lhe tinha confidenciado e já tinha reparado que ela deveria saber mais segredos de todas as pessoas dali do que qualquer em seu centro de informações. E ela o havia dado espaço para pensar, ela não o procurou, não insistiu ou persistiu, ela esperou.

Foi então que as aproximações começaram, que ele decidiu, pouco a pouco, chegar até ela não para procurar alguém com quem transar, mas sim uma companhia calma, uma conversa tranquila, com trocas de piadas sem graça e brincadeiras infantis. Um lugar para dispersar a mente e poder descansar da pressão que mantinha-se em seus ombros a cada dia, dos pecados que se acumulavam constantemente e do temor de sucumbir a eles. E ela o aceitou, o deixou chegar, deu-lhe o que precisava sempre com um grande sorriso em seu rosto.

Talvez foi por isso que ele começou realmente a cogitar que talvez... Apenas talvez, ele pudesse investir em algo mais do que apenas sexo. Que ele poderia ceder seu pedido e tentar dar a ela o que ela merecia: alguém que estaria atrás de uma parceria séria e não alguns momentos de diversão.

Mas em meio a todas essas ponderações tão simples e esperançosas caiam-lhe a verdade cruel: Sans, por mais que quisesse, não poderia ter um relacionamento sério, pois sua vida não era tão simples como apenas o "querer". Pois se fosse assim, ele não estaria ali e não teria feito boa parte das coisas que o levaram a estar ali.

Sans tinha plena consciência de que tinha vários inimigos, não apenas fora de sua gangue, como dentro também, tão próximos que ele facilmente poderia dizer quem são. Pessoas que não tinha escrúpulos, que não mediriam esforços para derruba-lo de seu poder. Pessoas que queriam colocá-lo em uma coleira novamente, torná-lo o cãozinho que foi antes de tomar o poder, ameaçando tudo que ele amava e queria. Se caso, essas mesmas pessoas, soubessem que ele tinha algum ponto que poderia ser atingido, eles o usariam. Sans ainda poderia proteger Pap e Gaster com sua influência, com seu poder, ele ainda tinha aliados que o ajudariam, de alguma forma, se ele ainda tivesse algum tipo de poder para dar algo em troca. Mas se ele fosse derrubado... Ele não queria imaginar...

Nesses cinco anos como líder ele conseguiu afastar a ameaça constante longe de sua família, não poderia deixar que um capricho como querer um relacionamento atrapalhasse. Não era conveniente e dava trabalho. Manter a todos achando que ele era apenas um desinteressado em romances era melhor, mais fácil de lidar.

Ele ainda poderia usufruir de uma amizade, não é? Eles não precisavam de um relacionamento, não é? Quer dizer, tudo bem, ele admitia que não mais poderia querer Frisk apenas de forma sexual, ele sabia que alguma coisa a mais havia brotado e que talvez não fosse tão fácil de fazer desaparecer, mas isso não os impedia de continuar nas boas conversas, boas risadas e compartilhar histórias, não é? Então... Então por que parecia que não era possível? Por que parecia que seria impossível? Por que doía? Parecia até engraçado, sempre querer o que não podia ter.

Não podia por sua própria culpa.

E não foi como se seu debate interno realmente tivesse sido visível em seu exterior. Sans facilmente conseguia acobertar muito bem qualquer coisa que sentisse das pessoas a sua volta. No entanto, Frisk tinha mais convivência com ele do que poderia imaginar e sabia quando estava pensando em alguma coisa que não gostava. Normalmente as reações atingiam as mãos, apertando-se em punhos bem fechados e tensionados, sendo bem comum agarrar alguma coisa que estivesse perto, no caso o sofá, tão próximo a cabeça de Frisk, por um de seus braços ainda passar pelo encosto por trás de seus ombros, que ela conseguiu escutar o arranhar estalado do estofado por debaixo dos dedos apertados.

Ela então ajeitou-se em seu lugar, trazendo as pernas para cima do móvel, cruzando-as no espaço limitado que tinha, um ponto positivo em ter pernas curtas, em sua opinião. Os braços procuraram manter o melhor possível a criança que carregava enquanto discretamente deixava seu corpo próximo o suficiente de Sans para deixar-lhe um roce delicado em movimentos sutis, discretos e imperceptíveis. Ninguém, além de Sans, havia notado.

Ele foi surpreendido, admitia, mas em seguida relaxou deixando que seu braço apoiado no encosto do sofá escorrega-se um pouco para baixo, aproximando-se perigosamente do ombro de Frisk, quase conseguindo sentir o colete o qual usava.

A conversa trivial entre o grupo então continuou, todos igualmente relaxados dessa vez.

E talvez fosse pelo fato de terem ficado demasiadamente absorvidos e relaxados em seu pequeno momento que não tinham reparado na euforia ao redor. Ela começou bem pequena, um leve burburinho do lado de fora e depois aumentou-se para falas agitadas, exaltados de timbre elevado exigindo um único nome, sempre a fazer a mesma pergunta. E talvez fosse por toda a tranquilidade que os tinha envolvido que não repararam na porta abrindo-se com brutalidade, quatro pessoas entrando com passos apressados e pesados, obviamente carregados de uma fúria descontrolada.

Fosse por reflexo ou uma percepção vinda de seu subconsciente, Frisk não tinha como saber, mas ela agradeceu por Sans ter sido rápido o suficiente para pelo menos tirar a criança de seu colo antes que ela fosse jogada ao chão. Porém, ele não tinha conseguido ajudá-la, arrastada pelos cabelos para fora do pequeno circulo de amigos formado em um dos sofás da sala no sexto andar. Quando eles deram por si ela estava no chão, rosto preso contra o piso por um pé sobre sua cabeça.

— Mas que porra é essa?! - exclamou Anabelle, sendo a primeira a reagir, saltando para fora do sofá em um único impulso indignado. Por sorte Pablo parecia estar em um sono profundo o suficiente para não se incomodar com tal agitação. Ela pretendia se aproximar, rosto contorcido em uma careta quando Betty interpor-se, braços cruzados e expressão satisfeita. - Mas o que... Saia da minha frente! Vocês não podem fazer isso!

— Na verdade, nós podemos. Estamos dentro das regras. - refutou Betty, sorriso de canto surgindo em seu rosto.

— Explique-se. - Sans exigiu, rosto sombrio enquanto deixava a criança com Carl enquanto se erguia.

— As regras dizem claramente que somos permitidos a agir contra um dos nosso para causar danos permanentes apenas em casos que exijam tal. - Ralph citou com sua voz desafiante, erguendo o queixo ao encarar Sans tentando passar o controle que tinha sobre sua situação. Ralph sabia perfeitamente quem eram os favoritos de Sans, sabia quem deveria acertar para causar uma briga e Frisk estava no topo da lista.

— Correto. - no entanto, Sans mantinha-se imutável, o sorriso tendo sumido de seu rosto para dar lugar a uma expressão séria bem atípica de sua pessoa, mas exigida naquele momento.

— Pois então, aqui temos um caso de traição, chefe. — o ultimo o rapaz havia cuspido a palavra com visível descaso. - Essa puta avisou Chara sobre sua estadia aqui. O convite de desafio dela acabou de chegar.


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Notas finais do capítulo

Tensão tensão e mais tensão. No que será que toda essa confusão vai parar?
Logo mais algumas respostas vão vir, o próximo capitulo vocês vão ter a continuação dessa intriga e para a sorte de vocês ele vai chegar ainda hoje!
Como o vinte e oito está ficando bastante grande também, eu tenho medo que os capitulos 29 e 30 ou saiam separados ou não saiam, então já está o alerta. Sendo que muito provavelmente o 29 terá LEMMON! Sim, vocês leram certo, não vai ser HENTAI, vai ser LEMMON. Sei que tem fujoshi por aqui então estou pensando em agradá-las um pouco kkkk (sou tbm, não se preocupe :P). Para aqueles que não curtem, é só pular. Eu não vou me detalhar muito pq vai ser o primeiro Lemmon que vou fazer, me desejem sorte.
Recordando sobre o aviso do TWITTER (@NekoLully), espero mesmo que vocês estejam interessados.
Até o próximo capitulo! Semana que vem teremos mais! Para os novos leitores, capitulos são lançados todas as Quintas-feiras a não ser que tenha algum imprevisto que até hoje não aconteceu! (eu realmente devo comemorar isso, são mais de vinte capitulos sem mascar!)
Mantenham-se determinados!