À Espada Pelo Sangue escrita por LahChase


Capítulo 68
Capítulo 55 - Café com Mel


Notas iniciais do capítulo

Oieee
Em primeiro lugar, minhas sinceras desculpas pelo atraso >.< Aconteceu tanta coisa esses últimos dias que eu nem saberia por onde começar. Desculpem também o capítulo curto, e podem jogar a culpa toda no meu mais recente bloqueio criativo.
Agradeço com todo o meu coração a Ary por seus comentários que me enchem de alegria. Você é uma leitora maravilhosa.
Bom, sem mais delongas...



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— Porta 12. 

— É no próximo corredor. Você disse 12? 

— Isso.

— Como os doze olimpianos? Por que será que eu não gosto disso?

— Baka. É só uma coincidência.

Eu parei de andar e o encarei.

— Depois de tudo que aconteceu, acha mesmo que eu ainda acredito em coincidências? 

Ele deu de ombros.

— Faz sentido. - disse, mas colocou a mão no topo da minha cabeça e me obrigou a virar pra frente - Vamos logo com isso.

Nós dobramos o corredor e ficamos de frente à porta. Estava aberta, e enfermeiros passavam por ela com pressa, enquanto gritos vinham de lá de dentro.

Estávamos no hospital psiquiátrico, e havíamos entrado sorrateiramente só para cumprir a missão. Depois de bisbilhotar os registros até encontrar o nome do paciente que Izumi havia indicado, seguimos para o quarto onde ele estava, tentando evitar chamar a atenção. Mas agora não dava mais para esconder nossa presença, pois precisávamos entrar com rapidez e fazer o feitiço, antes que o eidolon destruísse o pobre hospedeiro.

— Ei, vocês não podem estar aqui. - um homem de jaleco branco exclamou para nós, e então se virou para uma enfermeira - Lily, quem deixou eles entrarem? - não esperou resposta e olhou para nós de novo - Quem deixou vocês entrarem?

Lancei a Ian um olhar.

— Eu distraio e você entra? 

— Eu distraio e você entra.

Eu me preparei para arrumar uma distração, até perceber o que ele havia dito.

— Espera, o que?

Mas Ian caminhou em direção ao doutor em passos trôpegos, e começou a tagarelar numa mistura de japonês e português, fazendo gestos sem sentido. Segurei o riso. Aquela era a visão mais valiosa de todos os tempos. Lamentei não ter uma câmera.

Quando a maior parte das pessoas tinha sua atenção voltada para Ian, eu me esgueirei para dentro da sala, e dei de cara com duas camas ocupadas. Numa delas, havia um homem adulto aparentemente sedado, e na outra estava um jovem preso à maca por aquelas fivelas de segurança. Ele se debatia, tentando livrar-se delas, e gritava maldições em grego. No entanto, assim que me viu, ficou quieto. Saquei Prostátida e me aproximei, mas sua voz fria me fez parar no meio do caminho:

— Então eles realmente estão com ela. - seu tom era amargo - Eu não quis acreditar. Tem que abrir os olhos... Não devia ter vindo, não pode confiar... - o corpo tremeu.

Apertei o cabo de minha espada, perguntando-me se deveria simplesmente começar logo ou questionar sua fala.

Ele deixou a cabeça cair no travesseiro e olhou para o teto. Franzi a testa ao ver que seus olhos brilhavam com um dourado menos intenso do que o normal, praticamente inexistente. O outro homem se ergueu de repente, fazendo-me dar um salto e estender a lâmina em sua direção. Ele também estava claramente possuído, mas a princípio não fez nenhum movimento para me atacar, apesar de não estar preso.

— Está falando de mais. Pronto para voltar? - o homem disse ao jovem, que o fitou - Nem pense em abrir a boca agora. Sabe o que farei se não concordar, certo?

O rapaz suspirou, e olhou para mim de novo.

— Ainda há muito para ser tirado de você. - avisou, e então o corpo fechou os olhos e desfaleceu sobre a cama.

O homem sorriu para mim.

— Obrigado por colaborar. - e o hospedeiro caiu no chão.

— Mas que diabos...?

— Ei, garota! - o doutor estava na porta.

Arregalei os olhos e disparei para fora do quarto. Ian estava no final do corredor, cercado por seguranças. Assim que me viu, desvencilhou-se deles e correu em minha direção. 

E então nós saltamos pela janela, caindo fora daquele lugar de loucos.

 

 

— "Ainda há muito para ser tirado de você" - repeti, cruzando os braços.

Ian pagou à moça no caixa e pegou a sacola com novas bandagens e band-aid's, e foi saindo da farmácia. Eu o segui.

— O que acha que foi isso? - perguntei, mais para confirmar meus pensamentos do que por não saber da resposta.

— O que mais? - Ian disse - Uma ameça, é claro. Gaia deve estar realmente incomodada com você.

Bufei.

— Deixe estar. - murmurei, apesar a pontada de ansiedade no peito. Suspirei - De qualquer jeito, acho que sei quem era aquele eidolon.

Ian assentiu e parou para observar o movimento na pista antes de atravessar. Levei a mão ao queixo.

— A transformação de Mike deve estar completa. - falei.

Ele agarrou meu braço e me guiou pela travessia.

— Você parece estar lidando com isso um pouco bem de mais. - comentou.

Chegamos ao outro lado, e desvencilhei-me de seu aperto.

— Bom, as coisas só estão seguindo o curso que pensei. - falei - Não posso tentar lidar se não colocar os sentimentos de lado por enquanto. Se eu pensar de mais no que significa pra mim que Mike esteja sendo transformado em meu inimigo... Não serei capaz de lutar, e começarei a chorar novamente. Não posso me dar esse luxo.

Ian me encarou por alguns segundos, e então assentiu.

— Está certo. - disse, e tirou do bolso sua carta - Mas pensou errado: seu amigo não está completamente transformado ainda. Você disse que os olhos não estavam muito dourados, certo? E o outro o ameaçou, mandou que não abrisse a boca. Ele provavelmente ainda tem resquícios de seu antigo eu que Gaia quer domar.

— Tem razão. Mas por que ela o deixaria sair antes de terminar a transformação?

Ian considerou por alguns instantes, enquanto me estendia o capacete.

— Ele pode estar resistindo mais do que ela esperava, e ela quis lhe mostrar algo com a sua presença ali. Ou o contrário: queria mostrar a você o que está fazendo com ele. Certamente faz parte de algum plano para te atingir. O importante é que você fique alerta. Ele vai voltar, disso tenho certeza. Precisa decidir o que fazer quando isso acontecer.

Fitei o chão e respirei fundo.

— Eu encontrarei um jeito de consertá-lo. - respondi - Não só por ele, mas por todos os que também sofreram o mesmo. Isso é algo que meu pai esperava de mim.

Ian subiu na moto, levantou o tripé e faz sinal para que eu também montasse, ao que obedeci.

— Não posso dizer que gosto de você fazendo tantas coisas ao mesmo tempo. Vai desviá-la das providências quanto ao Conselho.

— Não estou me desviando do objetivo. Sei manter as prioridades. - devolvi, enquanto colocava o capacete - Se eu não cuidar dos Greno logo, muitos correrão perigo. Mas também não quero perder tempo quanto a Mike. Quanto mais eu demorar, mais facilito as coisas para aquela bruxa lamacenta. Não quero deixar que ela tenha mais um trunfo contra mim. Além disso, estou aproveitando a oportunidade desta vez. Dois coelhos, uma cajadada.

Ele deu partida no motor e segurei sua cintura.

— Nesse caso, é melhor o seu plano com A Teia dar certo.

 

 

Precisei olhar duas vezes antes de ter certeza sobre qual prédio servia de sede para A Teia. 

Quando meu pai escreveu que "é ó único que se destaca", esperei encontrar uma rua repleta de ruas comuns e, entre elas, algum tipo de construção bizarra, mas o que acontecia era o inverso. Cada loja daquela rua podia muito bem representar um número diferente de circo, com vitrines cheias de tralhas esquisitas, casas de cartomantes e vendedoras de fantasias espalhadas. Aquele lugar parecia tirado de alguma cena de filme Disney, e me fez lembrar tanto "A Princesa e o Sapo" que fiquei imaginando se "o homem da sombra" apareceria cantando alguma coisa. 

Eu ri com o pensamento. 

— O que é tão engraçado? - Ian perguntou, enquanto guardava a carta de sua moto de volta no bolso. 

Eu o encarei. "Sendo assim, ele seria o sapo" segui o raciocínio, o que me fez explodir em risos. Principalmente porque "anfíbio" parecia adequado para alguém que é meio terrestre, meio aquático, como Ian era.

— Cara de sapo. - arfei, tentando me segurar.

— Hein? 

Achei melhor não explicar se não quisesse atrair sua fúria, então comecei a respirar fundo até me acalmar. Só então voltei a analisar os prédios com seriedade. A única coisa normal ali era um bar com cara de Las Vegas. 

Ian começou a andar em sua direção antes mesmo que eu dissesse alguma coisa, e dei de ombros ao segui-lo. 

Por dentro, era apenas um bar simples, com mesas espalhadas, um balcão à frente de várias prateleiras de variados tipos de bebidas, e um tocador antigo de música, o qual fazia soar um velho jazz, como que para relembrar o berço que New Orleans representava para o estilo musical. Àquela hora da manhã, havia apenas um garçom, e três clientes presentes: dois conversando à uma mesa no canto e um com a cabeça caída sobre o balcão, fazendo o típico papel do bêbado genuíno, roncando, murmurando coisas sem sentido e tudo mais. 

Ian e eu passamos os olhos pelo ambiente em silêncio por um momento, enquanto eu me perguntava o que deveríamos fazer, até que ele confiantemente caminhou até o balcão, o que me fez correr logo atrás, sem saber o que planejava. 

O garoto deu duas batidinhas na madeira do balcão para chamar a atenção do garçom, que estivera limpando taças com um ar entediado. O homem ergueu o olhar para nós e forçou um sorriso de vendedor.

— O que posso oferecer ao senhor e à senhorita? - perguntou.

— Apenas café, por favor. - Ian respondeu, e acrescentou lentamente: - Café com mel.

O olhar do garçom se afiou.

— Com mel, senhor? 

— Sim, para tirar o amargo do preço que vou pagar pelo que preciso comprar. 

— Ora, não é como se fosse lhe custar os olhos - o homem respondeu com um sorriso.

— Isso depende do que eu perguntar, não é? - Ian devolveu, numa fala quase mecânica. 

O outro assentiu com seriedade e então apontou para a passagem ao lado das prateleiras.

— O chefe os espera. - e então olhou Ian de cima a baixo - Espero que volte inteiro, garoto. 

— Eu também, Billy. Obrigado. - ele disse, segurando minha mão e me guiando para o local apontado.

Começamos a atravessar um corredor estreito.

— Mas o que diabos foi isso? - perguntei, por algum motivo falando baixinho.

— A chave. - respondeu - Se você der as respostas certas, significa que é um Greno.

Murmurei alguma coisa para deixar claro meu desconforto quanto àquilo. Afinal, eu era Greno e não sabia. Fiquei me perguntando se meu pai havia previsto que eu estaria com Ian e por isso não mencionou as palavras-chave.

Caminhamos mais alguns passos até que o corredor se abriu em um espaço amplo, do tamanho da sala de jantar da minha casa, organizado de maneira semelhante a um escritório, com uma mesa no centro, à frente de uma cadeira de couro. Tudo ao redor parecia ter sido colocado ali apenas temporariamente: caixas, estantes, livros, como se a qualquer momento pudessem recolher tudo e levar para outro lugar. Sentado à mesa do centro, havia um rapaz, que conversava com uma figura encapuzada à sua frente. Um jovem grande e de feições bem torneadas estava postado ao seu lado, de pé numa postura protetora, seus cabelos loiros quase tocando-lhe os ombros. Duas ou três outras pessoas andavam de um lado a outro no recinto, mas todos pararam suas atividades assim que entramos, e viraram-se para nós.

O rapaz loiro assumiu um ar revoltado ao nos ver, e a figura encapuzada deixou escapar uma expressão de surpresa, mas minha percepção dessas duas pessoas se esvaiu quando fitei o rapaz sentado.

Sua pele era negra, os cabelos cortados curtos e as feições serenas. Ele se sentava com um ar profundo, e abriu um leve sorriso diante de nós. No entanto, foram seus olhos que me prenderam. Eram brancos, imóveis e impassíveis.

Ele era cego.

 


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Notas finais do capítulo

Eu de novo!
O que achou? Críticas, erros, teorias, expectativas? Conta tudo pra mim nos comments ^^
Obrigada por ler ♡ Saranghaeyo



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