À Espada Pelo Sangue escrita por LahChase


Capítulo 33
Capítulo 27 - Procurada


Notas iniciais do capítulo

Oie ^^
Eis o capítulo prometido ^^
Hehehe, muitas explicações e surpresas...
Vejo vocês no final ♥



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“Abra quando sentir que precisa” eram as palavras escritas no papel que meu pai havia deixado na mochila, referindo-se à caixa. Eu tinha certeza de que aquele era o momento.

Eu havia acabado de descobrir que meu pai era um dos videntes da família, aparentemente muito influente no “Conselho”, mas também com relações problemáticas. Uma vez que havia apropriadamente me despedido da minha dor, o que sobrou foi a curiosidade. Eu tinha ouvido meus colegas de equipe conversando sobre “JJ”, mas quando percebi que se tratava do homem que me criara, meu cérebro quase deu um nó, e fiquei sem entender muita coisa. Precisava de resposta, e esperava que pudesse encontra-las naquela caixa.

Encarei-a, um pouco hesitante, por alguns segundos, mas então respirei fundo e a abri. Dentro, havia um livro grosso de capa dura. Escrito em letras douradas que contrastava com o marrom, estava: Diário de Jack Jacobs. As páginas estavam gastas, deixando claro que ele havia sido muito manipulado.

Abri a primeira página, onde estava escrito com a letra do meu pai:

“Para May,

Que você encontre aqui as respostas que procura.

Com amor,

Papai.”

 

 

 

Querida May,

Suponho que eu deva me apresentar, apesar de você certamente já saber quem lhe escreve. Meu nome é Jack, e eu sou o seu pai.

É engraçado se referir a mim mesmo dessa forma. Afinal, eu tenho apenas 19 anos e você tem três dias de vida. Sua mãe, Atena, apareceu em frente ao meu apartamento com você e eu soube o que isso queria dizer. Não vou mentir dizendo que fiquei surpreso. Na verdade, há anos sei que você viria. Mesmo assim, minha alegria não poderia ser maior.

Apesar disso, preciso confessar que temo por você, minha pequena. Você agora já deve estar grande o suficiente para entender o significado dessas palavras, por isso não vou tentar me explicar de mais. Você tem um destino grandioso, um futuro incrível, e eu tenho trabalhado por muito tempo para que você possa cumpri-lo da melhor forma possível... Mas agora que a vejo, meu coração não quer que você passe por nada do que lhe está reservado. Eu só desejo protegê-la.

No entanto, não posso. Você, minha princesinha, nasceu para ser uma guerreira Greno. A maior de todas. Vai salvar a família da ruína, vai livrar-nos da cova que cavamos para nós mesmos. Por isso preciso manter meus planos em andamento.

Você é aquela nascida fora das regras, o fruto da minha desobediência às leis de Programação Genética. Você crescerá sem saber suas origens, e sem participação na Guerra, só assim ficará a salvo do veneno que hoje macula o seio da nossa família, e não será alvo do preconceito que atinge os que nasceram da mesma forma que você... Pelo menos enquanto eu puder te manter assim. Quando o dia chegar, você enfrentará seu destino.

Perdoe-me por lhe impor tal responsabilidade, filha. Tenho apenas o consolo de saber que escolherá por si só o que é certo.

Nesse diário, não poderei escrever todos os dias, mas pretendo te deixar tudo o que precisa saber.

May, eu te amo.”

 

A página seguinte tinha um esquema desenhado, e o nome “Conselho de Guerra” escrito acima. Em seguida explicações superficiais sobre os cargos e seus papéis.

Assim que li as últimas palavras da página, ouvi uma batida na porta.

— May. – ouvi a voz de Matt chamar do outro lado.

— Pode entrar. – respondi e ele abriu a porta, colocando a cabeça para dentro.

Eu estava sentada na cama, com as pernas cruzadas e o livro no colo. Havia tomado um banho, enfaixado os ferimentos que ainda não haviam se curado e tentado fazer meu cabelo parecer menos com um ninho ratos. Meus fios longos e dourados agora caíam molhados por minhas costas e meus ombros, alcançando abaixo da minha cintura. Minha calça jeans havia sido substituída por um short mais folgado, assim como também troquei a blusa e jaqueta por uma regata confortável e fiquei descalça.

— Com licença. – Matt disse, entrando e vindo até mim. Ele ficou em pé ao lado da cama. – Ouvimos a música... Você toca bem.

Esbocei um sorriso.

— Obrigada. – respondi – Eu estava dizendo o meu adeus.

Ergui o diário.

— Meu pai. – falei – Esteve escrevendo uma enorme carta para mim desde que nasci.

Fechei o diário e o guardei novamente na caixa.

— Matt... Aqui diz que sou o fruto da desobediência dele, que eu sou uma quebra às regras de Programação Genética da Família. – ele colocou as mãos nos bolsos, desconfortável. Olhei em seus olhos – É por isso que vocês estavam me chamando de “a criança bastarda”?

Matthew deu um sorriso triste e se sentou ao meu lado, na ponta da cama.

— Eu sabia que não deixaria isso passar em branco. – falou – Eu poderia te explicar isso de muitas maneiras, e cada uma delas serviria se você não tivesse crescido no mundo mortal.

Fiquei quieta, aguardando pelo restante da explicação.

— A programação genética: uma estratégia para fazer nascer a criança com os poderes e habilidades que a família e o mundo precisam. É o que eles dizem, e essa é a teoria. A prática vai mais longe que isso... De forma direta, o Conselho controla quem casa com quem, que tipo de semideuses constituirão a próxima geração. Existem casos extremos... Para você entender melhor, vou dar um exemplo: você viu Hiro usar a habilidade dele hoje, não viu?

Assenti.

— Ele é fruto da Programação?

— De certa forma. Descobriram a habilidade de Hiro quando ele tinha quatro anos. – Matt começou. Pelo seu tom de voz eu sabia que aquela não seria uma história feliz. – Ele encostou em um fio de alta voltagem descascado, mas o choque mal o feriu. O mais impressionante foi que ele foi capaz de armazenar a eletricidade em seu corpo por cerca de dez segundos, acidentalmente transferindo-a para sua mãe, que veio socorre-lo. Ela não resistiu. Depois disso, o sr. Asada o desprezou ainda mais, e o forçou a um treinamento intenso com eletricidade, submetendo o corpo do garoto a voltagens cada vez maiores e agonizantes. Isso o tornou mais forte, mas ele sofreu muito.

Não consegui dizer nada por alguns segundos. Eu sabia que a história de cada um dos Greno era difícil, e que a Guerra era cruel. Mas ali estava a prova de que mais do que isso, os próprios Greno eram cruéis com seus familiares. O pouco que eu sabia da história de Hiro, da de Jayden.... Aquilo tudo me cheirava mal, e eu suspeitava que não era só isso. Uma criança ser torturada para que seus poderes e habilidades fossem aprimorados... Matthew soava como se se sentisse mal por isso, mas não parecia surpreso ou revoltado. Seu tom podia mesmo passar a impressão de que era uma prática comum.

— Um pai fazer isso com seu próprio filho... – falei, fitando o chão – Como ele pôde?

— Bom, eis o ponto chave. Hiro não era filho dele de verdade... – disse – Ele é filho de Hefesto, você sabe.

— Ah, estive me perguntando sobre isso. – falei, olhando-o – Então quer dizer que a mãe de Hiro traiu o pai de Izumi?

Ele passou a mão pelo cabelo.

— Bom, não exatamente. – respondeu – O Conselho decretou que ela engravidasse de Hefesto, justamente pelo bem da Programação Genética. Sendo um ramo tão influente da família, negar-se a isso seria perigoso, então ele mesmo concordou. Mas... Lidar com uma criança “ilegítima” era mais difícil do que pensara. Hiro era uma lembrança constante do que sua esposa havia feito, e ele nunca foi capaz de trata-lo normalmente. Quando a mulher morreu, ele parou de tentar.

Fiquei sem palavras por mais alguns segundos novamente.

— Isso... – franzi a testa – Isso não está certo... Ir tão longe a ponto de fazer alguém casado trair...

Matthew assentiu.

— Eu concordo, mas o Conselho assume muitos “maus necessários”. O caso de Hiro não saiu exatamente como esperavam, mas há alguns outros em que tiveram um resultado bom. Esse é o poder da Programação Genética.

Desviei meus pensamentos da situação de Hiro.

— Isso então quer dizer que meu pai tinha alguém destinado a ele para gerar outro tipo de criança?

Ele assentiu.

— JJ... o seu pai era um vidente poderoso. Não seria exagero afirmar que ele talvez tenha sido o mais poderoso em muitas gerações. Ele ocupava o cargo de Líder dos Videntes e era muito influente. Tinha três opções de união, mas se recusou e sua atuação no Conselho se reduziu a apenas o essencial. Alguns membros pressionaram o Líder de Guerra a renega-lo, mas isso seria tolice, visto o quão poderoso ele era. A maior parte da família só ouviu os boatos: JJ havia gerado uma criança bastarda. Quebrar essa tradição é um tabu muito forte, e seu pai... Bem, digamos que essa não foi a única vez que teve posições questionáveis. De qualquer jeito, o que sabemos é que alguns anos depois ele se reaproximou e sua influência cresceu novamente. Ninguém nunca viu a “criança bastarda”, mas todos conhecem o boato.

Mexi em minha pulseira com uma falsa calma.

— E agora, aqui estou eu. – completei – A garota bastarda. Deuses, eu jamais pensei que teria “bastarda” adicionado à lista de apelidos estranhos que eu tenho. – toquei a testa com as pontas dos dedos – Programação Genética, não é? Imagino que ainda tenha mais, mas não acho que já estou pronta para isso.

Matthew pôs a mão em meu ombro.

— Vá com calma. – recomendou – Esse mundo... É complicado.

E o olhei.

— Acho que este é o problema. – falei – Meu pai costumava dizer que quanto mais simples as coisas são, melhor. Agora vejo que ele tinha fortes motivos para pensar assim.

Ele esfregou a nuca.

— Tem mais, May. – falou – Nós investigamos mais um pouco no andar de baixo e achamos isso.

Ele tirou do bolso um papel dobrado. Eu o abri e li em voz alta:

— “A Família Greno pesarosamente informa que o Líder dos Videntes JJ foi assassinado e encontrado morto em sua casa. O culpado foi determinado: seu filho, a criança bastarda.”

Arregalei os olhos, sem acreditar no que lia.

— “O Conselho não tem ciência de sua aparência ou localização, mas desconfia-se que este semideus esteja em posse dos dois filhos legítimos de JJ. A esposa dele foi encontrada desacordada e ferida em uma avenida, e agora repousa em nossas instalações. Emite-se, portanto, através desta, a ordem: qualquer um que tiver informações sobre o assassino deve reportar imediatamente ao Conselho de Guerra, e está proibido de protegê-lo, sob pena de ser renegado. Dignamente, O Conselho.”

Fiquei muda, incapaz de formular qualquer coisa decente. Ficamos em silêncio por alguns minutos, enquanto eu lia e relia aquelas palavras. Pela primeira vez desde que saíra do Acampamento, precisei fazer a contagem mental: “um, dois, três...”.

— Vocês vão me entregar. – concluí – Não, mas isso é ridículo... Eu não matei o meu pai, Matt.

— May, não vamos te entregar.

Eu o fitei, surpresa.

— M-mas a ordem... Se descobrirem, vocês serão...

— Eles não têm como descobrir. Como eu te disse, ninguém viu o rosto da “criança bastarda”. Quem quer que você já tenha conhecido, se era algum Greno, deveria ser algum amigo íntimo do seu pai e jamais o trairia.

Meu cérebro começou a trabalhar, os pensamentos voando rápido.

— Matt, se isso está aqui, quer dizer que não foram os eidolons que levaram o corpo?

Ele suspirou.

— Isso eu não posso afirmar com toda certeza, mas provavelmente sim.

Fiquei séria.

— Então isso significa que os Greno já estiveram aqui. – concluí – Isso é ruim.

Matthew me encarou.

— Isso quer dizer que eles estão blefando – expliquei – Há fotos minhas espalhadas por toda a casa. Mesmo que nenhum Greno tenha me visto pessoalmente, ao menos sabem minha aparência – levei a mão ao queixo – Não, mais que isso: poderíamos até assumir que eles sabem onde estou. Há mais do que o suficiente aqui para me rastrear...

— May...

— Se é assim, só pode haver um motivo para eles blefarem assim: estão testando a lealdade de vocês.

— May.

— Não há o que fazer, Matt. Vocês vão ter que me entregar...

— May!

Olhei para ele, que tinha uma expressão estranha na cara. Ele revirou os olhos e então o cobriu com a mão.

— Ah, fala sério. – resmungou – Quando sua mente entra num ritmo...

Fiquei confusa. Ele me lançou um sorriso.

— Eu sei que você é filha de Atena e eu sou só neto, mas tenta não me subestimar. É claro que já pensei nisso tudo. – ele apoiou os cotovelos nos joelhos – Você está certa: eles vieram aqui, então isso só poderia ser um teste, ou uma armadilha. Mas a questão é que eles não estão mentindo.

— Hein?

Ele ficou de pé e caminhou até a parede de fotografias de Layla. Tirando de lá uma delas, mostrou para mim.

— O que vê aqui?

— Eu e meus irmãos na praia. – respondi, ainda sem entender.

Ele olhou para a foto novamente.

— Eu só vejo duas crianças.

Fiquei de pé.

— O que?!

— Isso é porque seu pai se certificou de que nenhum Greno fosse capaz de vê-la. Ele lançou uma camada de Névoa poderosíssima em suas fotos. Estão todas assim, eu mesmo verifiquei. E mais, seu quarto está selado: não conseguimos entrar.

Meu queixo estava caído.

— Você só pode estar brincando.

Ele devolveu a foto ao seu lugar.

— Bom, seu pai certamente se preveniu.

Eu olhei seu rosto.

— Matt, se não há a menor pista aqui de quem eu sou, vocês não têm provas de que estou falando a verdade. Se vocês decidiram não me entregar, isso quer dizer que todos no grupo acreditam em mim? Sei de pelo menos uma pessoa que não confia em mim.

— Se está falando de Ian, ele foi o primeiro a se opor a te entregar.

Quase engasguei.

— O que? Mas por que diabos...?

— Eu não sei o que se passa naquela cabeça, e ele não explicou seus motivos, mas eu sei que de alguma forma a morte do seu pai mexeu com ele. Talvez lembre de mais a forma como o dele também morreu.

— O pai dele...? – murmurei.

— E quanto a você estar ou não falando a verdade, eu não precisaria ser um especialista em linguagem corporal, nem descendente de Atena, e nem usar minha habilidade secundária para saber. Ninguém que está mentindo levantaria essa hipótese tão facilmente, nem consideraria os riscos que o grupo corre ao não te entregar. Mas se quer um motivo melhor, posso te dar: como falei, tenho uma habilidade secundária, a qual aperfeiçoei com meus próprios conhecimentos. Ela está relacionada à capacidade de ler as pessoas. Para mim, os sinais da mentira ou da sinceridade são cristalinos como água, embora isso só sirva para esses dois casos.

Abri um sorriso sem graça.

— Então quer dizer que você é um detector de mentiras ambulante?

Ele riu.

— Ora, não exagere. Não é como se eu pudesse usar essa habilidade o tempo todo. Ela também tem regras e exigências para ser ativada.

— Então, você a usou em mim?

— Não precisei. – respondeu, bem-humorado – Mas posso usar se quiser. A condição para que eu a ative é que eu tenho que beijar o rosto da pessoa.

Fiquei vermelha de repente.

— O que?!

Ele gargalhou.

— Brincadeira. – falou, ainda rindo – Deuses, essa piada nunca me decepciona.

Eu lhe lancei um olhar frio.

— E eu já estava me perguntando como era possível você não ter herdado nada de Hermes. Pelo visto só esconde muito bem o que herdou.

Ele colocou a mão na nuca.

— Ah, desculpe se foi constrangedor ou algo do tipo. – seu sorriso tímido voltou – Eu normalmente deixo as piadinhas sem graça para Kess, mas você parecia meio tensa.

Fui capaz de abrir um sorriso.

— Bom, funcionou. Ao invés de tensa, senti vontade de te dar um tapa – respondi, rindo e então toquei seu braço, falando sério: – Obrigada pela ajuda, Matt.

Ele ficou vermelho e deu um passo para trás.

— A-ah... Claro.

Inclinei a cabeça para o lado.

— Algum problema? – perguntei, divertida – Você está todo vermelho.

Ele lançou um olhar para o próprio reflexo no espelho do guarda-roupa e então fez uma expressão frustrada.

Eu o encarei, sem entender, até que ele suspirou.

— Isso é só... Falta de costume. – respondeu, meio embaraçado – Eu não gosto muito que estanhos me toquem, e... Quando alguma garota com quem não estou acostumado faz isso eu entro em pânico. Acho que algo assim acontece quando sua única irmã cresceu longe e todos os outros familiares mais próximos são homens.

— Mas você tocou meu ombro. - falei. 

— Isso é diferente. Fui eu quem te toquei... Você me pegou de surpresa.

Eu me segurei para não rir.

— Ah, isso é fofo. – falei e ele revirou os olhos.

— É um tremendo pé no saco. – reclamou – Tem noção do quanto Kess pega no pé por causa disso?

— Ah, mas isso é porque é besteira. – falei, e me aproximei, novamente tocando seu antebraço.

Ele se afastou de novo e me lançou um olhar meio desesperado.

— Pare com isso. – disse.

Cheguei perto de novo e ele se afastou, ficando cada vez pior. Repeti o movimento mais algumas vezes, divertindo-me.

— May, é sério, pare. – sua voz soou grave.

— Ah, qual é, Matt. – ri – Você conversou comigo esse tempo inteiro numa boa. Até falou que ia beijar meu rosto! Não é possível que fique assim só por causa do contato da nossa pele.

Senti um vento forte passar por mim, e me assustei. As janelas e a porta estavam fechadas, então não havia sentido... Quando olhei de volta para Matthew eu soube que o havia irritado de verdade. Um de seus olhos cinzentos estava da mesma cor que o de Kess, e seus pulsos estavam fechados.

“Droga” pensei “Isso deve ser a ativação de algum poder... Acho que fui longe de mais”.

— Ahn... – comecei – Matt, desculpa!

Mais um vento forte balançou meu cabelo. Papéis voaram da escrivaninha do meu pai.

— Matt...

A ventania continuou. Mais coisas voaram.

— Ah, escuta aqui, você vai bagunçar o quarto do meu pai todo! – gritei – Se não parar com isso agora mesmo, vou te dar um soco na cara.

O olho castanho dele tremulou e ficou cinza, pouco depois o vento se foi.

— Mas que droga, o que foi isso?! – reclamei, tirando o cabelo do rosto.

Matt colocou a mão na nuca.

— Ah, de novo... – ele me lançou um olhar frio – Sinceramente, pensei que fosse agir diferente de Kess.

Eu me dei conta do que fizera.

— Ah, desculpa. – falei, sincera – Não deveria ter brincado assim com isso. É só que me parece meio bobo. Você sabe lidar tão bem com as pessoas, e sempre conversa tão naturalmente comigo que realmente não entendo qual o problema.

Ele voltou à sua postura de sempre.

— Eu sei. É bobo mesmo, mas não consigo evitar. Eu só não gosto de contato físico com quem não estou acostumado, mesmo com garotos, isso me incomoda. Meu pai diz que isso é para compensar minha habilidade com as palavras e com a leitura corporal. Nenhum Greno tem um poder completo: todos sempre têm fraquezas para compensar tanta força, algo que nossos inimigos podem usar contra nós. Algo que nos lembra nossas limitações. Para a minha habilidade de lidar com as pessoas, está a dificuldade de lidar com o contato físico.

Assenti.

— Isso faz sentido. – falei – Mas não quer dizer que você não possa superar essa dificuldade, quer? Ou você está fadado a ser assim para sempre?

Ele deu de ombros.

— Eu suponho que não.

Sorri.

— Bom, então isso basta.

— Basta?

— Sim. Isso quer dizer que com esforço você supera isso. – falei, e então caminhei em direção à porta do quarto – Se você quiser, posso te ajudar com isso.

Eu o ouvi suspirar.

— Por que será que eu tenho a impressão de que mesmo se eu recusar você não vai desistir?

Eu ri.

— Bom, é o mínimo que eu posso fazer por um quase irmão.

— Quase irmão? – ele me alcançou no corredor e nós descemos as escadas.

— É. Bem, é mais fácil do que tentar calcular nossa real ligação, não é?

Ele falou mais alguma coisa sobre isso, entrando na brincadeira, e eu ri novamente.

De repente, em uma manhã, eu me senti cada vez mais como parte daquela equipe. Lutamos contra ciclopes, chegamos ao nosso objetivo apenas para descobrir que fora um esforço inútil e cada um deles decidiu não me entregar como culpada. Podia ser que coisas inesperadas houvessem acontecido, e que eu ainda não soubesse de muita coisa envolvendo minha família, mas uma sensação boa me invadiu. Eu fazia parte de um bom time, e estava ficando mais próxima a eles, conhecendo suas histórias, seus poderes, suas personalidades. Se as coisas continuassem como estavam... Ficaria tudo bem.

“Pai.” Pensei “Eu realmente vou cumprir o meu destino”.

 

 


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Notas finais do capítulo

Yeeey
E então? O que acharam? Críticas, erros, expectativas, teorias? Contem-me tudo nos comentários, por favor! ^^
O que acharam desse lado mais fofinho do Matt? E quanto à história do Hiro?
O que vem por aí é: Capítulo Extra - A História de Mais Alguém: O Porquê de Querer O Campo de Batalha. Vou tentar postar no Sábado, mas se não for possível, fica pra Terça.
Até lá meus amoreees ♥ ♥
^^