À Espada Pelo Sangue escrita por LahChase


Capítulo 11
Capítulo 11 - História de Família


Notas iniciais do capítulo

O capítulo 11 chegoou ^^
Comemorações à parte, quero agradecer a Leta Le Fay, Minoran e Cassie pelos comentários lindos e maravilhosos que estão sempre me incentivando a fazer o meu melhor ^^
Bom, vejo vocês lá no fim
Espero que gostem ^^



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— NÃO!

Meu grito acordou todo o chalé de Atena.

Eu estava encharcada de suor e meu coração parecia querer sair pela boca.

— May? – Annabeth se aproximou sonolenta – O que aconteceu?

— Um sonho... Eu... - arquejei, minha voz tremendo como todo o meu corpo.

Apesar de suada, eu sentia frio. Um frio congelante na alma, exatamente como havia sentido na praia, no dia em que chegara ao acampamento.

Annabeth tocou minha testa e, com um grito, afastou a mão depressa.

— Pelos deuses! - exclamou - May, você está quente de mais! Deveria estar em convulsão!

Não consegui responder, minha cabeça girando e meu corpo tenso.

— Jake – Annabeth chamou um dos garotos que tinha levantado – Corra até o chalé de Apolo. Chame Michael.

O garoto sonolento saiu aos tropeços do chalé.

— Katlyn, pegue um pano molhado. – ela continuou dando ordens ao pessoal – Andy, busque um pouco de água.

Michael entrou correndo junto com Shayla e mais um filho de Apolo, e eles fizeram com que todos se afastassem. Michael colocou a mão sobre meu pulso, que estava fechado com tanta força que minhas unhas perfuravam a carne, fazendo-a sangrar. Seus olhos percorreram meu corpo, como se ele fosse capaz de dar um diagnóstico apenas por olhar.

— Ela está em choque. – falou – Oliver, comece o canto. Shayla, faça exatamente o que eu mandar.

O garoto começou a entoar em grego antigo. Rapidamente, Michael iniciou uma série de procedimentos com a ajuda de Shayla e, aos poucos, a febre foi cedendo e o tremor diminuindo. Mas aquele frio ainda estava lá, esmagando meu coração. Eu tive a desesperada sensação de que aquilo não me deixaria nem tão cedo.

Eu não contei o meu sonho pra ninguém. Não me sentia preparada para lembrar dele ainda. Também não falei daquela sensação. E, quando Michael perguntou se estava tudo bem, eu balancei a cabeça e murmurei um “obrigada”.

Ele me lançou um olhar preocupado e sentou ao meu lado na cama, com Shayla terminando de enfaixar minha mão machucada.

— May... Ninguém tem um ataque desses do nada. – Michael falou – O que foi que aconteceu?

Desviei o olhar, apenas para dar de cara com a expressão insistente de Shayla. Suspirei.

— Eu estou bem. – repeti – Foi só um sonho ruim, é tudo.

— May, achei que tivéssemos combinado que não vamos mais esconder coisas uma da outra. – Shayla ressaltou, séria.

Cobri os olhos com o braço.                                                                         

— Não vou esconder. – prometi – Mas não quero pensar nisso agora. Só... respeitem o meu tempo, ok?

Os dois acabaram concordando, mesmo que a contragosto.

Depois de muito tempo, quando todos já haviam voltado a dormir, Annabeth tentou me convencer a contar o sonho, mas também a afastei. Quando ela finalmente adormeceu, peguei Link e saí sorrateiramente do chalé, indo para o limite do Acampamento, sentar-me ao lado do Pinheiro de Thalia.

Contei até quinhentos e setenta e pouco, até que perdi a conta e desisti.

Quando o sol nasceu, eu ainda estava lá, decidida a não voltar a dormir. Com Link começando a ficar sonolento, eu o alimentei. Ele parecia sempre tão tranquilo, e nem mesmo o dragão acima de nós, que fazia meu coração querer parar toda vez que se mexia, o incomodava. Com o dedo, fiz carinho em sua cabeça, mas meus pensamentos estavam longe.

Aquele sonho não fazia sentido! Quem era aquela garota? Por que ela estava atacando meus pais? E como eles conseguiram armas de Prata olimpiana?

Quíron, pensei, preciso contar a ele. Levantei e, depois de devolver o pássaro ao seu lugar no Chalé 6, corri para a Casa Grande.

Quíron estava pastando. Isso mesmo. Pastando.

Eu não deveria me admirar pelo fato de ele comer grama, já que ele possui um estômago de cavalo e um de humano. Mas nunca tinha parado para pensar que ele alimenta os dois com os tipos corretos de comida. Para mim, a comida que ele comia no refeitório servia para tudo, já que ele comia praticamente uma montanha.

Ele olhou para mim enigmático quando percebeu que eu estava olhando.

— Acordada tão cedo, minha querida? Imagino que não tenha conseguido dormir devido à conversa de ontem.

Eu fiz que sim.

— Passei muito tempo sem conseguir dormir. Mas peguei no sono, sim. Só que eu tive um sonho horrível. – e contei-lhe tudo.

Depois de ouvir todo o sonho sem dizer nada além de “hum” e “continue” ele balançou a cabeça devagar com a mão no queixo.

— Não quero te assustar, mas um sonho de um semideus, nem sempre é um simples sonho. Muitas vezes pode ser uma visão do futuro, ou algum tipo de profecia.

Eu não gostei dessa explicação.

— Quer dizer que acha que aquilo pode mesmo acontecer? – estremeci ao pensar naquilo.

— Não quero dizer isso. Quero dizer que tem que ficar atenta. Já te falei que a sua família tem tradicionalmente um caminho difícil, por isso você deve prestar atenção em detalhes que possam te dar qualquer tipo de dica.

Deixei meus ombros caírem. Eu não queria um futuro difícil nem incomum. Tudo que eu quisera a minha vida toda fora seguir minha vida ao lado da minha família, meus amigos e meu pai... Quem sabe um dia me formar em algum curso numa faculdade que me permitisse trabalhar com ele em seus projetos e pesquisas, assim não teria que ficar longe dele nunca. Ter uma vida simples e normal. Assim que descobri que era semideusa, soube que jamais teria a vida que planejara. No entanto, talvez por ver Drake vivendo no tanto no mundo mortal quanto em meio aos semideuses, eu ousei manter uma esperança mínima, que foi completamente dissolvida depois daquilo.

Eu resolvi expulsar aquele sonho da minha cabeça pelo resto do dia. Eu sabia que aquela não era a melhor forma de lidar com tudo, mas fiz por teimosia. Eu também sabia que deveria conversar logo com meus amigos sobre aquilo, e buscar entender o que o sonho significava, mas aquele frio no estômago apenas me fazia ter vontade de esquecer sobre ele. No almoço, depois do treino com espadas, sentei-me à mesa de Atena imersa em pensamentos, apesar do esforço para fazer o contrário. Annabeth não tentou mais conversar comigo. Eu havia me esquivado dela a manhã inteira, e dito a Shayla e Kyle (que voltara de sua missão) que queria fazer de conta que nada havia acontecido. Os dois não pareceram gostar, mas não me pressionaram. Estranhamente, Michael não havia me procurado, o que me fez presumir que Annabeth lhe havia avisado que eu estava de mal humor.

Eu não precisara me desfazer de Percy. Ele não tentou me fazer falar. Apenas sentou ao meu lado na praia e calou-se. Ele parecia entender o que eu estava passando. Então eu percebi que ele realmente entendia, afinal, era filho de Poseidon e todos esperavam muito dele. Sua história deve ser ainda mais difícil que a minha jamais seria. Foi bom ter sua companhia e eu fiquei tentada a contar a ele sobre o sonho, mas Annabeth chegou e estragou meus planos.

Segui meu dia normalmente, com a cabeça nas nuvens a maior parte do tempo. Pouco de interessante aconteceu, e apenas um acontecimento vale a pena relatar.

Antes que o treino de montaria com pégasus começasse, Drake veio com Sean, que ficou completamente deslumbrado com os animais. Butch, um filho de Íris, era o instrutor. Ele era o melhor montador do acampamento e, apesar do tamanho enorme e dos músculos que o faziam parecer um valentão, se dava muito bem com os cavalos alados. Ele nos fez entrar no estábulo e caminhar entre os animais.

Mexi em minha pulseira, nervosa. Eu costumava gostar de cavalos. De verdade. Mas desde aquele episódio... Senti minhas costelas formigarem, quase como se estivessem lembrando do impacto também.

Eu tinha onze anos e nossa família estava em uma viagem de férias, num hotel fazenda tranquilo, onde eu podia correr a vontade e satisfazer minha hiperatividade. Mas eu não estava satisfeita em apenas correr: queria cavalgar, mas meu pai havia pegado um resfriado e Layla precisava cuidar de Laura, que tinha três anos de idade. É claro que eu não me conformei com aquilo. Dizendo que iria à piscina, eu corri sozinha para os estábulos e abri a porta de uma das casinhas, fazendo o cavalo sair. Como você pode ver só por esse fato, eu não era lá muito esperta, e havia escolhido justamente o garanhão mais arredio da fazenda. O resto da história já dá para imaginar. O resultado foi uma costela quebrada e dois meses de castigo. Depois desse acontecimento, cavalos faziam minha respiração acelerar.

Lidar com Quíron não era difícil: eu sabia que era um homem – ou quase isso – controlando a parte animal. Quando se tratava dos bichos de verdade...

— Mayara-senpai? – Sean chamou.

Eu o olhei.

— Que?

Drake riu.

— Você estava viajando de novo. – falou – O garoto te chamou três vezes.

Passei a mão pelo cabelo e respirei fundo, tentando me acalmar.

— Francamente... – resmunguei – Por que cavalos?

— Você tem medo de cavalos? – Sean pareceu surpreso, quase decepcionado.

“Não me olhe assim” pensei, incomodada “Não é como se eu não pudesse ter medo de nada”. Mas não consegui dizer que sim.

— Não é que eu tenha medo. – respondi, cruzando os braços – É só que não me dou bem com eles.

Drake segurou o riso, mas Sean me olhou com seriedade.

— Não precisa se preocupar. Eles não são cavalos, são pégasus.

Franzi a testa.

— Mas qual é a diferença...?

Meu irmão colocou as mãos nos bolsos.

— Na verdade, ele está certo. – disse – A diferença entre os dois é grande. Os pégasus descendem diretamente do Pégasus, o imortal. Eles são mais inteligentes, ágeis e também costumam estar mais dispostos a nos ajudar que a maioria dos cavalos comuns.

Não rebati, mas franzi a testa. Eles podiam ser inteligentes como fossem, mas ainda tinham cascos e ferraduras. “Mas não é o mesmo que Quíron?” pensei, mas então sacudi a cabeça “Não. Quíron tem uma parte humana que eu posso ler, já esses aqui...”. Eles eram imprevisíveis, ou seja, eu não sabia o que iriam fazer. E eu detestava não saber.

Dei um sorriso amargo.

— Acho que isso explica. – falei para mim mesma.

Parei de frente para um dos animais presos, apesar de minhas mãos estarem suando frio. Seus olhos grandes e escuros me encararam, serenos. E era tudo que eu era capaz de dizer dele. O fato de seu rabo balançar não significava que estava feliz, como quando um cachorro o fazia. Ele não tinha o brilho ansioso nos olhos pedindo por cafuné, como Link. E eu duvidava que fosse ronronar preguiçosamente como um felino.

“No entanto...”

Observei seus músculos fortes, tão firmes e definidos. Eu tinha que admitir, ele era um belo animal. Tinha uma pelagem cor de mel ao longo do corpo, com manchas mais claras na crina e na cauda, o que fazia com que os cabelos de ambos fossem uma mescla de branco com mel, como se fosse pintado. Suas asas eram uniformemente cor de mel, e ele exalava graciosidade e força.

Antes que percebesse, estava chegando um passo mais perto.

— Espere! – ouvi Butch exclamar e virei a cabeça em sua direção com um movimento súbito.

No momento seguinte, senti uma coisa molhada esfregar em meu rosto. Eu me afastei com um grito.

— Eca! – exclamei, passando a mão na face, tentando limpar a baba de cavalo que agora descia por meu pescoço.

Sean e Drake explodiram em gargalhadas. Sim, o pégasus havia me lambido.

— Mas o que...?

Butch me olhava, parecendo surpreso, enquanto eu usava minha blusa para me secar.

— Por que diabos ele faz isso? – reclamei.

O filho de Íris alternou o olhar entre mim e o garanhão por alguns segundos, e então sorriu.

— Olha, parece que ela gostou de você.

— Ela?

Ele assentiu e abriu a boca para falar alguma coisa, mas foi interrompido por um grito:

— Desculpa, desculpa! – Percy corria até nós.

Quando nos alcançou, apoiou as mãos nos joelhos, respirando fundo por alguns segundos.

— Desculpa, Butch. – disse quando se recuperou, passando a mão pelos cabelos – Eu esqueci completamente que havia prometido te ajudar hoje.

O outro fez um gesto com a mão.

— Não tem problema. Nós acabamos de começar.

Percy olhou para mim.

— Ah, oi, May. Como vai?

Fiz uma cara de desgosto.

— Babada. – respondi.

Ele olhou para o animal atrás do portão e ergueu uma sobrancelha.

— Não me diga que ela te lambeu. – riu – Então ela finalmente gostou de alguém?

Butch cruzou seus braços enormes.

— É o que parece.

Percy andou para mais perto da égua.

— Oi, garota. Isso quer dizer que vai deixar alguém te montar com boa vontade dessa vez?

Não achei que ela fosse responder, mas ela relinchou. Percy ergueu as sobrancelhas.

— Sério? – ele então se voltou para mim – May, ela disse que você é a humana dela.

Precisei de um segundo antes de ser capaz de esboçar uma reação.

— Como é que é?!

 

 

Depois do jantar, relutantemente, procurei por Michael, Shayla e Kyle, e contei a eles o sonho. Estes últimos ficaram em um silêncio mortal, parecendo entender o motivo de eu ter decidido não pensar nele. A verdade é que eu só fora capaz de desviar minha atenção do que acontecera na noite anterior durante a aula de montaria, e isso por que a situação ficou ainda mais confusa. Depois da fala de Percy, a égua se recusou a dizer – ou relinchar – qualquer outra coisa, nós ficamos sem qualquer pista do que estava acontecendo.

Mas no resto do dia...

— Olha, – disse Michael –eu sei que eu deveria dizer para esquecer isso e que tudo vai ficar bem. Mas eu não posso. Você está cansada de saber que o caminho de um semideus é difícil. Se quiser algum consolo, posso dizer que estamos aqui pra você. O meu conselho é que você treine, aperfeiçoe suas técnicas, aprenda o que puder sobre a sua família e tente entender o que te aguarda. Se você conseguir passar por tudo o que lhe está destinado, poderá ter uma vida normal, talvez.

Eu o olhei com uma expressão cansada.

— De alguma forma, eu sabia que você ia dizer exatamente isso. – falei.

Ele sorriu.

— Claro, espertinha. Mas não desanime, você vai conseguir.

Ele deu um beijo suave em minha testa e caminhou para seu chalé. Eu o observei partir, e, com um suspiro, virei para Shayla e Kyle.

— O que vocês acham?

Antes que eu pudesse me esquivar, Kyle deu um peteleco na minha testa.

— Ai!

— Acho que você deveria ter contado isso antes! – reclamou – Francamente, você não aprende não?

— Não seja dramático. – resmunguei.

— Ele tem razão. – Shayla ajuntou – Eu entendo que você não queria relembrar aquilo, mas manter segredo de nós...

— Eu não estava mantendo segredo. – interrompi – Pelo menos não intencionalmente. É que eu pensei... – hesitei – Pensei que talvez tudo poderia simplesmente não passar de um sonho assustador. Acho que eu quis tratar como se fosse.

Os dois se entreolharam.

— Está tudo bem. – Shayla suspirou e então me lançou um olhar fuzilador. – Mas se você repetir isso, não vai sair tão fácil assim.

Senti um arrepio na espinha. Shayla raramente lançava olhares fuziladores, mas quando o fazia, seus olhos doces ficavam assustadores. Kyle deu um sorriso, mas então assumiu uma expressão séria.

— May. – falou e eu me virei – Você por acaso leria uma história na qual o protagonista consegue tudo o que quer sem esforço, não tem mistérios nem problemas, e que não sofre em nada?

— Imagino que não. – respondi, perguntando-me onde ele queria chegar.

— Estou certo que não. – continuou – Porque uma história assim não é nem interessante, e muito menos possível. Uma história assim jamais poderia se tornar real mesmo para os mortais. – ele olhou em meus olhos – Então por que você parece querer que sua vida seja assim?

Fitei o chão.

— Eu não... – comecei – Eu não acho que minha vida possa ser fácil e sem dificuldades... Eu sei que não. Afinal, eu tenho dezesseis anos e já enfrentei mais problemas que muita gente por aí. Mas mesmo assim, eu queria que fosse no mínimo tão normal quanto poderia ser.

— Mas não vai ser. – Shayla disse – Isso é fato. E ficar se recusando a acreditar não vai mudar isso. May, você sempre encarou os seus problemas sem pestanejar. E, como você disse, não foram poucos. O que vem pela frente pode ser grande, e é por isso que você precisa enfrenta-los com ainda mais força.

Ela deu um sorriso malicioso.

— O que vem por aí é uma aventura. – continuou – Vai escolher fugir dela?

Observei os dois por alguns segundos. Eles estavam definitivamente me confrontando – e vencendo. Ambos com posturas determinadas e com os olhos brilhando em um desafio claro. Sorri internamente. “Francamente” pensei “esses dois sabem exatamente como me convencer a fazer qualquer coisa”. Eu não recuso desafios, especialmente quando estou interessada. Shayla e  Kyle estavam tornando aquela situação em algo que valia a pena encarar.

Inevitavelmente, meu peito começou a pulsar em excitação, como costumava acontecer logo antes de uma luta ou competição. Revirei os olhos, sabendo que havia sido pega na armadilha. 

Sorri.

— Não é como se eu estivesse mesmo cogitando essa possibilidade.

 

 

— Mayara. – A voz de Quíron me acordou no meio da noite.

— Quíron? – perguntei sonolenta – O que foi?

— Levante-se e venha. Tem alguém para falar com você.

Resmunguei sobre como ultimamente as coisas só aconteciam de noite e eu nunca podia dormir, mas levantei.

            Fui com ele até a Casa Grande. Lá, entramos em um quarto com um computador. O rosto do meu pai estava nele. Levei alguns segundos para perceber que era uma videoconferência.  

— Vocês só têm alguns minutos. – disse Quíron – É o máximo que podemos dispor.

Ele saiu e eu sentei na cadeira.

— Pai – falei – Não acredita em tudo que aconteceu.

Ele deu um sorriso cansado.

— Ah, bem, acho que posso acreditar, sim. Mas não temos tempo para isso agora. Quíron me disse que teve um sonho interessante.

Eu não classificaria o meu sonho como interessante, mas contei-o ao meu pai.

Quando terminei, ele ficou com aquela expressão que sempre fazia quando estava pensando em algo importante. Depois de suspirar, ele começou:

— Imagino que Quíron tenha te explicado sobre a nossa família.

— Ele mencionou alguma coisa, mas não ficou muito claro.

Meu pai assumiu um ar grave.

— Eu esperava poder proteger você de tudo isso, mas acho que não posso. Também tentei fazer com que se preparasse para o futuro que enfrentaria. Não sei se obtive sucesso. Mas chegou a hora de você saber de tudo.

Meu pulso começou a acelerar. Eu nunca o vira falar com tanta seriedade. Iniciei a contagem “um, dois, três...”, não podia ficar nervosa agora.

— May, a família Greno fez um pacto com os deuses há éons atrás. Se nos comprometêssemos a cumprir nossa missão, os deuses jamais retirariam de nós a bênção que nos foi concedida. Estivemos entre os fundadores da Grécia, mas nossa família estava sucumbindo a uma maldição. Havia gerações que uma “doença” matava todos os descendentes homens quando eles atingiam os trinta e cinco anos. Não tenho tempo para falar tudo sobre como isso ocorria, mas era horrível. Um dia uma mulher desesperada evocou os deuses e lhes ofereceu o pacto: em troca do nosso serviço, a maldição daria lugar a uma benção, na qual o sangue dos deuses jamais se retiraria da nossa família. O fato é que nos foi incumbida a tarefa de caçar certa raça de monstros que é capaz de tomar o corpo das pessoas: os eidolons.

— E-eidolons? – repeti.

— Sim. – ele levou a mão ao queixo – Na mitologia, esse nome é atribuído a qualquer aparição de espírito de um morto. Com o tempo, deixamos de chamar qualquer uma por esse nome, e passamos a usá-lo apenas os espíritos que foram corrompidos pela sede de vingança e pelo desejo de voltar à vida. Fomos encarregados de caçar especificamente a estes. De qualquer jeito, nós mantivemos o acordo, e os deuses também. Mas agora Zeus fechou o Olimpo e todos os deuses estão passando por algumas... Complicações. Os monstros estão ressurgindo do Tártaro, e todos os que matamos simplesmente voltam.

— Mas achei que os monstros não morressem. – falei confusa – Eles não voltam, de qualquer jeito?

— Mas sempre levam alguns meses ou até anos. – continuou – Preste bem atenção: eu seriamente ordeno que fique em silêncio quanto ao que vou te falar agora, pois Lady Hera tem seu tempo de revelar as coisas aos demais semideuses do Acampamento e não queremos atrair a sua fúria, muito menos atrapalhar seus planos. Você deve manter segredo mesmo de Quíron. Mas precisa saber, principalmente por ser uma Greno e por causa de seu destino... A Mãe-Terra está se erguendo.

Senti um calafrio percorrer minha espinha. Eu não sabia bem o que aquilo significava, mas à menção daquele nome, um medo apertou meu coração. “A Mãe-Terra” pensei, buscando em minhas memórias qualquer coisa sobre ela, mas meu tempo no Acampamento fora curto até ali, e eu não sabia de muita coisa. Tudo o que pude lembrar foi algo sobre a deusa que incitara seus filhos Titãs a matarem o próprio pai e a tomarem o controle do mundo.

Tive o sentimento de que fosse o que fosse que esse tal “despertar” significasse, boa coisa não era.

— Ela é aquela dando o poder aos monstros de retornarem mais depressa. Nós não sabemos exatamente como, mas... Filha, se os eidolons não permanecem no Tártaro, é como se tivéssemos quebrado o acordo. E com os deuses incapacitados e incomunicáveis...

Ele fez uma pausa dramática, seus olhos presos aos meus. Engoli em seco.

— A maldição está de volta. – completei, apavorada.

— Exatamente.

Ficamos uns segundos em silêncio enquanto eu tentava absorver tudo.

— May, tem mais uma coisa. – disse ele – Tudo o que estou te dizendo eu coletei de mais de uma fonte, mas nossa família ficou sabendo disso por meios muito seguros. Nós fomos alertados por meu pai há algumas semanas. A determinação dos deuses é que os mais jovens devem iniciar uma missão para reestabelecer a ordem.

— Espere. – ergui as mãos – Seu pai? Achei que tinha morrido.

Ele deu um sorriso cansado.

— Não, querida. Meu pai é Apolo.

Engasguei.

— Como é que é?! – exclamei.

— Explicarei a você sobre isso quando tivermos mais tempo. Só precisa saber que todos os Greno, ou são semideuses ou filhos de semideuses. Nossa família é maior e mais complicada do que possa imaginar, May. Não é algo que envolve apenas primos e irmãos. Mas, como eu ia dizendo, Apolo disse que vocês devem se juntar e caçar os monstros para que a maldição retroceda.

Achei difícil focar meus olhos em qualquer coisa, confusa. “Cinquenta e quatro, cinquenta e cinco...” Minha contagem não estava mais fazendo efeito, e eu não sabia qual das duzentas perguntas que pipocavam em minha mente eu deveria externar naquele momento. Decidi deixar a conversa seguir seu fluxo. O que quer que eu não entendesse ali (o que não era pouca coisa), não parecia que poderia ser esclarecido no curto tempo que dispúnhamos. “Complicado? ” pensei “Isso aqui é impossível! ”.

“Certo, uma coisa de cada vez” obriguei-me a me recompor. “Ele disse que os mais jovens devem se juntar para caçar os monstros...”

— Mas, pai! – exclamei ao entender o que aquilo significava – Se eles não ficam mortos, o que vamos fazer?!

— Prendê-los. – disse – Nossas armas... A sua espada foi encantada para isso. Antes nós apenas fazíamos um feitiço para que a lâmina fosse capaz de atingir o monstro dentro das pessoas e “matá-los”. A partir sua geração, no entanto, começamos a fazê-lo para que sejam capazes de absorver o demônio e prendê-lo à arma. Nós nos demos conta de que não poderíamos lidar com tantos eidolons, visto que, além dos já existentes, mais e mais pessoas morrem com sede de vingança.

Quíron entrou no quarto.

— Acabou o tempo. – disse ele.

Apressei-me por perguntar:

— Mas e esse lance do meu corte? Está curando milagrosamente rápido.

— Faz parte da benção. – Falou rapidamente - Todos nós nascemos com habilidades especiais, e sua regeneração acelerada faz parte da sua. Você tem mais sangue divino que a maioria dos semideuses. May, em mais ou menos duas semanas os jovens Greno vão se encontrar em um lugar em NY. Eles saberão o que fazer. Precisa ir para lá, entendeu? – assenti, perplexa – Até lá, esteja pronta. Quíron – disse ele para o centauro – Cuide para que ela esteja preparada, por favor.

— Claro, meu amigo.

— May, eu amo você. – E desligou.

 

 


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Notas finais do capítulo

Fim! ♥
O que acharam? Algum erro? Algo que preciso melhorar? O que mais gostaram? Deixa nos coments, por favor ^^
Então, perguntei qual poderia ser o shipper oficial da May e do Michael e as sugestões foram: Maychel, Michy e Mayel. Qual vocês preferem?
Próximo capítulo sai no Sábado
Vejo vocês lá (e agora vou correr por que estou atrasada pro treino - e ferrada por isso)
Beijos ^^