Eu, Meu Noivo & Seu Crush — Thalico escrita por Helly Nivoeh


Capítulo 39
Eu quero dizer que a culpa não foi totalmente minha


Notas iniciais do capítulo

Recapitulando:
Thalia está no acampamento a duas semanas;
Já nos dois primeiros dias, eles lutaram um caça a bandeira (que resultou em brigas Thalico e Solangelo) que acabou em um empate, fizeram uma aposta junto com a Hazel e Nico ganhou, como prêmio ele pediu que Thalia fizesse chover.
Ela invocou uma tempestade e Nico teve um ataque de pânico, recordando a morte de sua mãe, logo, os Graces estão evitando usar os poderes perto dele.
Lembrando também que existem duas gêmeas de Melinoe que realmente odeiam a Thalia, principalmente Mirah, apaixonado por Nico.
Ah, e Nico morreu. E depois reviveu, claro.
Eles aceitaram o casamento, mas estão treinando beijos e foi assim que Thalia acabou mordendo a língua de Nico. Ela realmente acha beijos nojentos - não julgo.
Eles combinaram de se beijar quando vencerem o caça a bandeira, que está começando neste exato momento.



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Narração: Thalia Grace

 

Eu quero dizer que a culpa não foi totalmente minha. 

O plano era bem simples, diga-se de passagem: Eu iria pegar a bandeira, cruzar o rio com ela e, na alegria da vitória, Nico me pegaria pela cintura e me beijaria. Simples e cinematográfico.

No entanto, é claro que as coisas não estavam saindo exatamente do jeito que eu queria.

Eu simplesmente não conseguia parar de pensar que em breve a boca de Nico estaria contra a minha novamente — eca! — e isso estava prejudicando meu raciocínio e meus reflexos de batalha. Eu ainda era melhor do que a maioria dos campistas em esgrima e Jason estava ao meu lado em busca da bandeira, mas eu também estava levando o dobro de tempo para me livrar de cada membro da equipe vermelha que estava se metendo no meu caminho. Algo que estava me deixando muito irritada, diga-se de passagem.

— Mantenha a calma, Thalia. — murmurei para mim mesma assim que um filho de Deméter invocou raízes para me prender e meu instinto era fazer churrasquinho vegetariano jogando um raio em cima do campista.  — Você só precisa vencer essa noite pro seu castigo começar de verdade.

Felizmente me livrei do garoto rápido, avistando a última linha de defesa da equipe vermelha há pouco mais de dez metros da bandeira, como mandava a regra. A parte ruim, é que é que as gêmeas de Melinoe estavam ali.

Mirah foi a primeira avançar, seus cabelos pálidos flutuando como um fantasma enquanto vinha em minha direção, sua faca se chocando com rapidez contra minha lança. 

— Quer quebrar a asa novamente, querida?! — retruquei, em busca de atacar, sem paciência para joguinhos. A garota havia tirado o gesso há pouco, não seria nenhum problema numa luta corpo-a-corpo.

Ela não respondeu, mas continuou avançando com rapidez e raiva. Parecia não estar disposta a usar os poderes, o que facilitava a luta. Minha mente ainda estava ocupada demais com o plano de Nico, no entanto, meus reflexos e os anos de experiência agiram por si só, em pouco tempo eu conseguia acertar um belo golpe na perna de Mirah, deixando-a de joelhos e sangrando. 

Sem perder tempo, peguei a bandeira vermelha e corri o mais rápido que pude, meu coração acelerado conforme desviava de galhos e campistas. Há menos de dez metros do riacho, um espectro pálido surgiu na minha frente, uma garota pálida e sagrando que saia das sombras: Mirah novamente.

Praguejei, batendo com aégis na faca da garota, esperando que fosse o suficiente para derrubá-la. No entanto, a filha de Melinoe conseguiu não só desviar do ataque, como utilizou a velocidade do meu corpo contra eu mesma, atacando-me com um chute por trás e me levando ao chão. 

Mais uma vez xinguei, meu escudo voltando a ser uma pulseira enquanto me colocava em pé, a bandeira ainda comigo. Num movimento rápido, transformei a lata de spray em minha lança, colocando-me em defensiva, esperando Mirah atacar.

Mas ela estava simplesmente parada, com os cabelos pálidos grudados no rosto de tanto suor, o sangue escorrendo pela perna e por um pequeno corte acima da sobrancelha direita. Havia uma faca em cada uma de suas mãos, seu corpo estava reto e o queixo erguido, mas não estava em posição de ataque. Eu deveria atacá-la de uma vez, ou simplesmente virar as costas e correr em direção a vitória, mas eu apenas parei também.

— Não está com pressa, caçadora? — Mirah destilou, sua voz baixa e macabra.

Eu apenas sorri, girando a lança em minha mão com maestria.

— Ainda tenho tempo de te ensinar uma lição. — retorqui, ainda sem dar um passo até que a garota avançasse.

Eu tinha que admitir que Mirah não era nenhuma novata, mas a raiva a estava fazendo atacar demais e se defender de menos. Era fácil acertá-la e provocar cortes, mas tomei cuidado para que não fosse mortais ou muito profundos. Toda sua raiva era por causa de Nico e, bem, ela não tinha culpa de ser apaixonada por ele, certo? Além do mais, em poucos minutos ela teria o coração quebrado, eu estava tentando não fazer isso (de novo) com seus ossos. 

— Um pouco mais para trás, Mirah! — Escutei um grito masculino por entre as árvores e franzi a testa, distraindo-me por tempo suficiente para que a filha de Melinoe empurrasse uma das facas contra minha lança e me fizesse, por instinto, dar um passo para trás.. 

Eu só tive tempo de gritar antes do chão ceder sob o meu peso e eu me ver em um tobogã de lama, deslizando aos gritos pelo barranco e comendo barro e folhas. Mal tive tempo de ver o maldito filho de Deméter que já havia me irritado mais cedo — eu sabia que devia ter feito churrasquinho vegano! — rindo por entre as árvores, antes de aterrizar com tudo num buraco às margens do riacho, onde uma lama espessa e gosmenta cobria até os meus seios. 

— Curtiu o banho, caçadora? — o filho de Deméter riu, agitando as mãos até que raízes se enrosssem pelos meus pulsos, me prendendo, e o garoto se abaixou para pegar a bandeira.

— Acho que tá faltando um pouquinho na cara. — Foi a vez de Mirah rir, jogando um punhado de lama no meu rosto, me fazendo xingar alto.

No entanto, logo meu grito era abafado por uma multidão de vozes de adolescentes, parte comemorando, parte protestando. E então, eu assistia, bem na minha frente, Will Solace saltar sobre o riacho, levando consigo a bandeira e declarando a vitória do seu time. 

Enquanto comemoravam, tentei me livrar das raízes e da lama, surpreendendo-me quando ninguém menos que Nico di Angelo me estendeu a mão. Com relutância, aceitei a ajuda, sujando o garoto de lama no processo de sair do buraco, algo que ele agradeceu com alguns palavrões e reclamações. 

— Nosso plano foi pra lama. — Nico falou baixinho com a expressão séria, observando seu melhor amigo ser carregado pelos outros campistas. — Literalmente. 

— Isso foi muito engraçado, haha. — Retorqui irônica, revirando os olhos ao ver Jason com a cara azeda se aproximar, também repleto de lama. — Mas, sinceramente, entre um beijo seu e um banho de lama, pelo menos o segundo faz bem pra pele.  

Nico sorriu levemente de lado me fazendo pensar que, talvez, eu não fosse a única a ter facilitado nossa derrota. 

(...) 

 

Eu não dormi direito naquela noite. Nem eu e nem Nico conversamos muito sobre como nosso plano havia falhado e o que iríamos fazer, queríamos protelar mais um pouco. No entanto, Jason estava quase surtando inventando mil ideias do que poderíamos fazer. Foi difícil, mas eu ignorei completamente meu irmão.

No dia seguinte eu precisava apenas descansar, extravasar toda a raiva e a ansiedade que estava sentido e a melhor forma era com uma boa caçada. 

Mas, é claro, que eu não podia simplesmente transformar algum garoto aleatório — cadê aquele filho de Deméter mesmo? — em uma gazela e sair atirando flechas nele — só porque não tenho esse poder, diga-se de passagem — , então tive que me contentar com os bonecos de palha e sem graça do acampamento. Cada vez que eu acertava um golpe, eu imaginava um responsável diferente no lugar do boneco.

Antes de começar, desenhei uma cara carrancuda e um raio, estilo Harry Potter, na testa do boneco, para simbolizar meu querido pai, que acabou com três facas na virilha. Em segundo, desenhei a cara-de-coruja de Atena, que teve a cabeça destroçada com os cortes certeiros da minha lança. Por fim, Ártemis, teve o rosto leve e gentil, além de flechas em seu coração.

E, por fim, imaginei a mim mesma que estava presa nessa situação sem saber como agir ou sair dela. Com a lâmina afiada da espada, desferi tantos golpes quanto possíveis, hora chutando e esmurrando, querendo extravasar aos gritos tudo o que eu sentia.

— Você parece irritada. — Uma voz calma chamou minha atenção e, em um movimento instintivo, girei meu corpo para trás apontando a espada, parando a centímetros do pescoço de Nico. 

Ele não parecia nem de longe nervoso ou impressionado ao quase ser decapitado. Na verdade seu corpo estava relaxado, com as mãos no bolso e um sorriso debochado ao me fitar, seus olhos negros emoldurados por olheiras bem semelhantes às minhas. 

— Eu podia ter te matado. — resmunguei, guardando a espada e secando o suor do meu rosto com o antebraço. 

— Nossos pais me trariam de volta à vida. — deu de ombros com o mesmo sorriso arrogante e bufei, pensando seriamente em testar a teoria. 

Não me dei ao trabalho em responder, apenas voltei a atacar o boneco já quase estraçalhado, enquanto Nico se colocava ao meu lado como se eu não tivesse um lâmina mortal nas mãos e uma doce vontade de cometer assassinato. 

— Então, por que está tão irritada assim? — o garoto continuou em um tom feliz demais pro meu gosto e mais uma vez fiquei calada, imaginando-o no lugar do boneco. — Tudo isso por que perdemos a batalha ontem à noite? Por que o plano não deu certo?

Novamente não respondi, girando meu corpo com tanta força que decapitei o boneco em um golpe rápido.

— Por causa do banho de lama, então? — Nico continuou me irritando, me fazendo apenas bufar. — Ou será que é por que ficou sem meu beijo ontem a noite?

Com a mesma rapidez que cortei o boneco, desferi um golpe em direção ao di Angelo, tão próximo que a ponta da lâmina cortou-o levemente no queixo. E, nem assim, seu sorriso irritante se desfez.

— Sabia que era por causa do beijo. — debochou e estreitei os olhos, retrucando com uma bela joelhada na barriga que ele não teve tempo de desviar. 

— Sim, com certeza é pelo beijo. — foi minha vez de sorrir com escárnio, vendo-o apertar com a mão o lugar do ferimento fazendo uma careta. 

— Golpe baixo, Thalia. — resmungou, aprumando o corpo e mostrando que era resistente a dor ou não havia doído tanto assim. — Se quer tanto um beijo meu, por que não vem tomar? 

— Eu quero mais é tirar esse sorrisinho sacana dessa sua cara. — retorqui e o sorriso dele só aumento. 

— Vem tirar.

Joguei a espada para o lado e avancei, desferindo um soco em direção ao seu rosto, que desviou para o lado. Novamente fiz o mesmo, mas, dessa vez, ele segurou meu pulso, girando meu corpo e me prendendo contra o seu, um dos meus  braços contra meu pescoço e o outro contra a barriga enquanto ele segurava meus pulsos.

— Só isso, Pinhazinha? — Ele riu no meu ouvido.

Antes eu não queria realmente acertar ele, mas depois daquilo? Por favor, ele mexeu com a ex-pinha errada! 

Enquanto Nico ainda ria, pisei em seu pé, fazendo com ele gritasse e afrouxasse o aperto o suficiente pra que eu forçasse meu braço para trás, acertando-lhe uma cotovelada no rosto.

O garoto recuou o suficiente para que eu conseguisse me virar e sacar minha lança, me colocando em posição de defesa. 

— Só? — Perguntou de novo, se afastando dois passos e tirando a espada da bainha.

Ergui a sobrancelha antes de avançar um ataque com rapidez, o qual Nico conseguiu aparar com a espada e revidar outro em seguida, começando uma dança em que ele se aproximava cada vez mais, aproveitando a vantagem da espada em curtas distâncias. 

Ao mesmo tempo que eu precisava recuar para conseguir me defender e atacar melhor com a lança, eu queria tirar aquele sorrisinho cínico de Nico. Mas ele era bom, isso eu tinha que admitir. 

Nossos ataques eram rápidos, precisos, assim como nossas defesas que transformavam boa parte dos golpes de defesa em um de ataque mais veloz, mais forte. O sorriso de Nico só aumentava, mesmo com uma ou outra careta de esforço e, mesmo com meu corpo já coberto de suor, eu tinha que admitir que aquilo estava me divertindo, um sorriso insistente surgia em meus lábios. 

Nico não tinha medo de se aventurar ao se aproximar para tirar vantagem da espada, hora ou outra recebia um corte ou uma pancada, mas seu humor não ia embora, bem como suas implicâncias e sua esperteza. 

Mesmo quando a ponta da lança passou a centímetros de sua virilha, quase tocando o tecido jeans da calça, ele não perdeu o riso, brincando:

— Qual é, Thaliazinha? Quer acabar com o futuro das pipopinhazinhas?!

Foi a minha vez de rir, notando pela primeira vez que estávamos atraindo uma boa plateia. Campistas de todas as idades e chalés se aglomeravam em um círculo, sussurrando e rindo, parecendo impressionados com nossa luta.

Nico pareceu notar e ficar desconfortável com a atenção, mas seu corpo relaxou minimamente e seus olhos tomavam uma expressão que eu já podia deduzir: Ele estava planejando algo. Seu sorriso se tornou mais frio ao se aproximar de novo, seus golpes um tanto mais lentos, rígidos e calculados quando a espada bateu contra a minha lança, me fazendo erguer a sobrancelha. O que Nico estava aprontando? 

Confia em mim...” seus lábios formaram as palavras ditas mudas antes dele se afastar e atacar novamente, mas agora tão rápido quanto antes, voltando a nossa dança frenética.

Contudo, ainda havia aquele brilho estratégico em seus olhos que estava me deixando tensa, ainda mais com nossa crescente platéia. Percebi que seus golpes não mais miravam meu corpo, mas minha lança, como se quisesse me desarmar mais do que acertar. 

Aquilo me desconcentrou o suficiente para que ele conseguisse o que queria: logo minha lança voava para longe e Nico também deixava a espada de lado. No entanto, nossa luta não havia acabado. 

Mais uma vez avancei com os punhos, tentando socá-lo, ignorando os sinais de cansaço que meu corpo começava a apresentar. Nico desviou de alguns golpes e desferiu outros, porém mais parecia preocupado em me desestabilizar do que acertar, novamente, me deixando cada vez mais confusa e desconcentrada. 

Sua expressão ainda era meticulosa quando tentei novamente golpear-lhe no rosto e ele conseguiu desviar e segurar meu pulso direito. Sequer tive tempo de raciocinar quando, ao mesmo tempo, sua perna passava por entre as minhas, me fazendo escorregar e segurar em seu pescoço com a mão esquerda, enquanto Nico apoiava minhas costas com o braço livre, me impedindo de cair. 

Arfei, tentando pensar em como voltar a me equilibrar, meu corpo inclinado para trás, segurado apenas pela mão de Nico no meio das minhas costas e um dos meus braços enlaçando seu pescoço, como num filme clichê.

Lentamente ele soltou meu pulso e tocou meu rosto, tirando os fios do meu cabelo que grudavam com o suor, seus olhos fixos nos meus, a energia passando pelos nossos corpos de forma eletrizante.

— Não me mate… — O garoto sussurrou, atraindo meu olhar para sua boca, a centímetros da minha.

Eu sequer tive tempo de formular uma pergunta, antes que ele de aproximasse mais e seus lábios tocassem os meus.

E então, Nico di Angelo estava me beijando. De novo.

 


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Notas finais do capítulo

Eu nem acredito que fiquei um ano sem postar, ME PERDOEM!
As coisas não foram nada faceis em 2019, a ponto da psicologa quase cair no choro junto comigo ahsusahu' E confesso que a saída de várias autoras incríveis que escreviam Thalico me afetou muito. PRECISAMOS REVIVER O TEAM PIPOPINHA!
Mas as coisas estão melhorzinhas e espero voltar a postar com frequência.
Esse capítulo foi reescrito várias vezes nesses últimos meses e nada parecia bom o suficinte e espero que tenha ficado bom.
Ele também é pra comemorar o quarto aniversário dessa fanfic que tem um lugar especial no meu coraçao ♥
Muito obrigada a todos que ainda estão aqui me acompanhando e me incentivando, se não fosse por vocês EMN&SC não estaria sendo atualizada. E sim, AnaBeecLinda, eu com certeza levo em consideração o seu pedido, bem como o de todos vocês!
Posso não estar respondendo os comentários (morro de vergonha disso, mas eu nunca sei o que responder e acabo acumulando muito), mas eu guardo cada um deles no coração!
Enfim, muito obrigada e espero vê-los nos comentários!
E espero a opinião sincera de vocês também.