Os Avaradores escrita por Yennefer de V


Capítulo 9
A Pequena Fugitiva




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“- Um trouxa – disse Hagrid -, é como chamamos gente que não é mágica como nós.”

 

HP e a PF – p. 50

 Andrômeda Sarah Lupin, a filha de Ted e Victorie, observava sem emoção a plataforma nove e meia. Tinha cabelos curtos até os ombros de cor rosa bebê, com uma franja jogada de lado. Os olhos eram de uma tonalidade verde tão claro que não eram normais e lábios rosados. Andy era uma metamorfomaga.

Seus olhos verdes expressavam um ar de quase pavor ao checar o imponente trem vermelho que era o Expresso de Hogwarts.

Seus pais, no entanto, estavam muito animados pela despedida da filha. Andy tinha quinze anos e estava na Lufa-Lufa. Não ter ficado na casa dos pais, a Grifinória, era um assunto delicado para ela.

Ser uma lufana talvez não fosse motivo suficiente para a apreensão que Andy sentia por retornar à escola. O motivo real também não era muito convincente. Andy estava apaixonada por um garoto trouxa. E isso era segredo. E também era segredo que Andy sofrera por todos os meses das férias porque seus cabelos e olhos mudavam de cor quando chegava perto dele. Esse era o motivo da apreensão – as saudades e as gargalhadas do garoto não saíam de sua mente nem de seu coração. O amor não correspondido.  Claro, ele não a amava da mesma forma. Era uma esquisita. Andy não conseguia fixar uma identidade física, porque toda sua forma mudava a cada sentimento exacerbado. Andy não sabia se controlar.

A família Lupin passou pela algazarra da plataforma (Ted empurrava o carrinho da filha e a gaiola com seu pufoso chamado Gorducho) e Andy viu um garotinho calouro de olhos assustados resmungando para uma mãe que parecia prestes a lhe dar umas palmadas:

— Eu perdi o bilhete mamãe, estava aqui...

Talvez se eu fingir que perdi o meu bilhete não me forcem a voltar, pensou Andy deprimida. A mulher deu uns gritos tão altos com o menininho que ela mudou de idéia na hora. Mas ficar para resolver as coisas com o garoto trouxa era mais tentador que voltar ao castelo. Para a já conhecida sensação de não ter amigos e de que ninguém te conhece bem o suficiente. Para a já conhecida sensação de que as pessoas estão olhando, apontando e comentando sobre você.

— Glen Burton substituiu Molly. – Andy ouviu a voz do pai comentando com a mãe, parando em frente ao trem.

— Burton?  – surpreendeu-se Victorie. – O antigo obliviador da seção de Contra-Informação? Que ficou famoso por ser tão bom em mudar a memória das pessoas que juravam que ele podia fazer qualquer um acreditar que era uma fada-mordente?

— Sim. – confirmou Ted – Ele saiu do cargo quando a mulher fugiu com o filho dele na barriga. Caiu em depressão. Voltou logo quando Molly pediu demissão.

Victorie olhou para os lados. A plataforma estava tão barulhenta que ficaria surpresa se alguém os ouvisse. A informação era sigilosa até para ela, que escrevia no Semanário das Bruxas.

— O que ele quer como chefe do Departamento para Regulamentação e Controle das Criaturas Mágicas? E por que Molly pediu demissão?

— Sei tanto quanto você. – Ted baixou a voz. – Eu mesmo a vi chegar. Pediu demissão sem pensar duas vezes. Ela aceitou outra posição. Pediu que fosse realocada no Organismo da Relação entre Seres Mágicos e me pareceu muito satisfeita quando saiu de lá, o que é estranho, porque foi um rebaixamento de cargo. Só estão falando nisso no Ministério. E Burton começou a me cobrar com idéias malucas sobre a Cúpula logo no primeiro dia...

Naquela hora a locomotora soltou um apito, anunciando que ia partir. Espirais de fumaça subiram. Crianças e adolescentes na plataforma deram pulos, se precipitando para a entrada do trem. Adultos gritavam palavras de adeus, lembretes ou verificavam se eles estavam esquecendo algo. Os carrinhos eram largados de qualquer jeito na plataforma.

Andy se precipitou com o malão para o trem, atrapalhando a entrada. Algumas pessoas atrasadas reclamaram, passando desembestados. Andy puxou o malão para cima com a ajuda do pai e pegou a gaiola de Gorducho.

— Nos vemos no Natal. – avisou Victorie, balançando os cabelos loiros e dando um aceno.

— Andy, você está bem? – perguntou Ted, observando a filha embarcar. – A história com o garoto trouxa, você...

Andy olhou assustada do pai para a mãe. Ted se calou. Ele e Victorie sabiam um pouco da história. Porém, julgaram pelo silêncio dela nas últimas semanas que tudo fora resolvido.

— Bom trimestre pra você. Se comporte com a nova professora de Feitiços. – gritou para a filha.

Andy embarcou depois de uma inquieta garotinha de cabelos loiros, que pulou no trem sem mala alguma e sumiu de vista.

***

A garota loira que embarcou antes de Andy tinha uma franja e olhos verdes. Seus cabelos se ondulavam ao chegar aos ombros e caíam em espirais finas. Tinha um rosto atrevido para a idade e pareceria uma estudante comum, não fosse sua mochila velha e se não estivesse com um blusão da Sonserina muito maior do que seu corpo. Com certeza não pertenciam a ela.

Ela andou apressada pelo corredor apinhado de estudantes que se saudavam, vislumbrada com o ambiente. Deu de cara com corujas, gatos, alunos duelando e livros que pareciam encantados. Carregava a mochila em um ombro sem saber para onde ir. Por fim, decidiu encostar no último compartimento, onde ninguém entrara ainda. Abriu a porta de correr e se alojou lá dentro, desejando que ninguém importunasse sua viagem.

A garotinha observou pela janela o trem se mover para fora da estação e deu um sorriso triunfante. Conseguira. Antes que pudesse repassar seu plano, uma garota de cabelos cor de rosa abriu a cabine.

— Desculpe. – pediu Andy, surpresa que a cabine estivesse ocupada. – Ninguém gosta daqui, eu sempre...

A garota loira a fitou com extremo interesse. Estava com as pernas em cima do banco e a longa vestimenta caía insistente por seus ombros pequenos. Ela não se importava.

Andy ficou parada no portal sem saber se entrava. A garota, que não devia ter mais de treze anos,a observava com curiosidade.

— Ah! Entra aí! – convidou ela, percebendo que Andy estava relutante em entrar.

Andy puxou seu malão e a gaiola para dentro, desconfortável com a vistoria da menina. Sentou-se à sua frente sem querer mais conversa.

— Então... Você não tem uma coruja? – perguntou a garota, curiosa. – O que é esta bola?  - apontou para a gaiola que estava ao lado de Andy, que tinha um bicho guinchando feliz com pelos cor de caramelo do tamanho de uma bola de futebol.

— Não tenho uma coruja.  – respondeu Andy, olhando pela janela e dando olhadelas furtivas na garota. – Isso – apontou para Gorducho – é um pufoso.

— Que pena. Queria ver uma coruja de perto. – resmungou a outra.

— Você nunca foi ao corujal? – perguntou Andy, intrigada. – Você não está no primeiro ano, está?

— Hm, não. – respondeu a garotinha loira. – Estou no... – e fez uma cara pensativa – no terceiro ano. É isso aí. – depois pousou os olhos sem vergonha alguma nos cabelos de Andy, que estava se irritando.

— Como é que você pinta o cabelo? – perguntou a garotinha loira.

— Sou metamorfomaga. – respondeu Andy como se o fato não lhe causasse orgulho.

— O quê? – perguntou a menina.

— Posso transformar minha aparência. Não que isso seja um grande feito. – resmungou Andy.

A garotinha arregalou os olhos para ela.

— E existe isso? Que legal!

E voltou seus olhos para Andy como se a garota fosse a coisa mais maravilhosa que ela já tivesse visto.

— Você não está brincando com a minha cara, está? – perguntou Andy, com aquele sentimento de que estavam pregando uma peça com sua cara.

— Claro que não! – respondeu a garota. – É muito legal, mesmo!

— Hm. – fez Andy, mais tranqüila.

— Estou na Sonserina. – informou a menina sem ninguém ter perguntado.

Andy arqueou as sobrancelhas para ela.

— Eu sei que você está na Sonserina. Seu uniforme. – Andy apontou para o que mais parecia um casacão na menina.

— Ah, é. Não tô acostumada. – resmungou a loirinha, olhando para a própria roupa. – Então, por que você não está com seus amigos brincando com a varinha e essas coisas?

— “Brincando com a varinha”? – perguntou Andy, cada vez mais estupefata.

— Sim, jogando feitiços uns nos outros, coisas assim. – continuou ela com um brilho nos olhos.

Andy abriu a boca para responder, mas preferiu ficar em silencio. Como se ela tivesse algum amigo em Hogwarts para rir e conversar.

A garota loira do terceiro ano pareceu ficar entediada com a falta de conversa e se precipitou para fora do compartimento.

— Tchau. – ela resmungou e Andy deu um aceno com a cabeça.

A menina loira deu de ombros e continuou. Queria ver uma coruja ou um duelo de vida-ou-morte.

Em algum lugar lá pra frente, portas começaram a se abrir. Muitos alunos saíam delas com distintivos brilhantes indicando “monitor” presos às vestes. Eles começaram a rondar os corredores falando alto.

Uma garota de porte indiferente saiu por último de uma cabine. Já vestia as roupas da Grifinória e tinha o distintivo preso com capricho no peito. O olhar de Valen encontrou os grandes olhos verdes da menina loira. Ela sentiu que era encrenca. E não estava em uma posição de querer problemas para si.

A garotinha voltou pelo corredor firmemente enquanto Valen a fitava, intrigada.  Valen achou aqueles olhos vagamente familiares.  A monitora-chefe começou a seguir a menina mais nova devagar. A outra entrou na primeira cabine que encontrou para fugir daquele olhar acusatório.

***

Havia um casal na cabine se beijando efusivamente. Não perceberam uma terceira presença até a garotinha fechar a porta com tanta força que foi difícil conter o barulho.

Utau e Prince voltaram à tona, surpresos.

— O que...?

A menina pulou para o canto sem dar explicações.

— Está encrencada? – perguntou Utau, divertida pela expressão de medo da garota.

— Mais ou menos. – respondeu a loira com os olhos pregados na porta. – Tem uma garota atrás de mim.

— Uma monitora? – perguntou Prince.

— Uma... ela tem um distintivo. É da Casa com as cores vermelho e dourado. – praguejou assustada.

— Uma monitora da Grifinória. Vem cá. – chamou Utau. – Se esconde atrás dessa sua roupa enorme...

Ela obedeceu, indo sentar onde os dois estiveram se beijando. Encolheu-se no banco e Prince, percebendo o plano da namorada, ajudou a menina a colocar o blusão em cima de todo o seu corpo magrelo. Estava toda coberta pelo blusão da Sonserina.

— Ela tem estilo... – riu Prince, ao mesmo tempo em que a porta se abriu em uma velocidade enorme.

Valen estava no portal.

— O bilhete de um calouro foi roubado. – anunciou Valen.

Utau quase riu, mas a fitou com olhar de parede. Sentou no colo de Prince, na frente do volume que era a garotinha escondida.

— Está nos acusando de roubo, Valen? – perguntou Utau, debochando.

— Não, havia uma menina. Com roupas da Sonserina, roupas enormes. Estou checando. – disse Valen sem se importar com o tom de Utau.

Prince olhou de soleira para o amontoado que era a menininha escondida. Valen percebeu.

— O que tem aí?

— Minha bateria. – respondeu Prince de súbito. - Você acha que minha bateria roubou o bilhete?

— Não, não acho Prince.  Sou monitora- chefe e tenho que fingir me preocupar. – disse Valen, bocejando. Então mudou de assunto, desinteressada. – Quando vocês vão tocar?

 - Não sabemos. – respondeu Utau, querendo se livrar de Valen. – Por que está interessada? Nem gosta da banda.

— Porque só posso ver Max agora quando for para o Três Vassouras. Se eu me interessar pela banda posso ver meu namorado.

A menininha se remexeu. Utau pulou do colo de Prince para distrair a visão de Valen da suposta bateria de Prince.

— Nós temos um bom plano para este ano. Que envolve shows às sextas no Três Vassouras. Só precisamos da autorização do diretor.

Valen sorriu.

— O que vocês estão planejando? – perguntou Valen grudada no portal.

— Isto é entre nós e a Pride. – respondeu Prince inquieto. – Você não tem que terminar a ronda?

— Pridess Ayra? – exasperou-se Valen – O que ela pode conseguir que eu não posso?

Prince lançou um olhar mortificante para Valen. Não ia ouvir os resmungos infantis de Valen sobre como ela odiava Pridess. Não quando precisava esconder uma menina que fingia ser sua bateria no compartimento.

— Nós queremos privacidade. Vai dar uma volta, Valen. – ordenou com firmeza.

Valen ficou ofendida.

Mas Utau não precisava de meias palavras para enxotar Valen. Puxou Prince para si e começou a beijá-lo sem pudor, girando na cabine. Valen revirou os olhos, resmungou algo como “infantis” e fechou a porta.

Colloportus!— ordenou Utau, com a varinha para a porta, se prevenindo para uma possível volta de Valen.

A garotinha jogou seu casaco para longe dando um pulo.

— Ela namora o Max?! – chiou ela para o casal.

— Você conhece o Maximilian? – sorriu Utau. – Ele tocava conosco até ano passado. Uma grande perda se quer saber. Meu primo Lohan não tem atitude rock n’ roll. Muito sério. – fungou Utau.

Prince sentou ao lado de Utau.

— Essa chata namora o Max?! – continuou a menininha, surpresa.

— Valen não é chata. Só gosta muito dela mesma. – riu Utau, despreocupada. – E você conhece o Max da banda?

A loirinha percebeu o tanto que falara de repente. Seus olhos se arregalaram, olhando de Utau para Prince. Estava sem saída.

— Não... – ela respondeu incerta.

— Me diz – Prince começou, pegando o casaco da Sonserina do chão – por que seu uniforme é tão grande?

Utau e Prince pousaram os olhos nela.

— Não é meu. É do meu irmão Max.

Eles se entreolharam.

— Você é a irmã trouxa do Max? – perguntou Utau sem rodeios. – E roubou o bilhete do calouro?

A garota loira ficou muito vermelha. Tinha sido pega. E agora a mandariam embora montada em uma vassoura?

Ela assentiu nervosa. Mas Utau e Prince começaram a gargalhar.

— Que ousadia! E você tem quantos anos? Doze?

— Treze! – respondeu ela ofendida. – E o que é uma trouxa?

— Ah, significa que você não é bruxa. Não é uma coisa má. – Prince quis consertar.

— Você pegou o trem por que...?

— Estou indo para o Três Vassouras onde Max trabalha. Fugi de casa.

Utau abriu um largo sorriso, seguida de Prince.

— E qual seu nome, sua maluquinha?

— Mackenzie Juliet. Max me chama de Enzie. – respondeu Enzie com uma expressão desafiadora no rosto.

— Ele vai surtar. – riu Utau. – Me promete que quando estiver no Três Vassouras mandará uma coruja para Hogwarts contando como ele reagiu? Porque a Valen não vai contar muita coisa. – terminou Utau, olhando para porta como se Valen ainda estivesse ali.

— Está bem. – prometeu Enzie, satisfeita que eles não fossem dedurá-la.

— Façamos assim, vou te desiludir. Quando chegarmos, eu desfaço o feitiço. Assim não precisamos fechar a porta e você pode sair por aí. Certo?

Mackenzie não tinha entendido metade da frase de Utau, até que ela bateu a varinha em sua cabeça, fazendo uma sensação gelada escorrer por todo o seu corpo. Prince jogou o cabelo para o lado, observando a menina desaparecer.

Mackenzie abriu a boca em uma expressão de pura incredulidade que nenhum dos dois viu. Porque parecia um camaleão. Não estava invisível, mas com a forma e textura da janela e do cenário lá de fora.

Utau observou o trabalho final, satisfeita.

— Acho que passo nos N.I.E.M’s com facilidade, e você, Prince?

— Você sabe que eu ainda terei que estudar um pouco, sereiana. – Prince deu um muxoxo, puxando Utau para seu colo de novo.

E começaram a se beijar. Mackenzie ficou ali,parada, como se não estivesse no lugar. A voz de uma mulher gritando lá fora chegou aos seus ouvidos quando ela se sentou colada na janela.

— Ah! – Utau deu um grito – Abre a porta, ela vai adorar isso!

Finite!— disse Prince para a porta de varinha erguida.

Era um carrinho cheio de doces. Uma mulher gordinha e sorridente recebeu Utau, que pediu mais doces do que o normal para ela e para o namorado. Pagou alguns sicles e nuques e a mulher continuou pelo corredor.

— Cadê você, Enzie? – chamou Utau. – Veja só, são Sapos de Chocolate...

Os três passaram a tarde se divertindo com a novidade que eram todos aqueles doces para Mackenzie. Faziam exclamações e um barulho anormal para uma cabine com duas pessoas, mas ninguém ligava, porque Prince e Utau, os dois líderes da banda, em geral eram barulhentos e descontraídos.

Quando o estômago de Mackenzie, ainda transformada em camaleão, já estava enjoado de tanto doce e ela já tinha um número considerável de cartões colecionáveis no bolso do casaco, a porta se abriu novamente.

Lohan entrou sem rodeios e ela ficou quieta. Utau nem precisou avisar.

— Terminou a tarefa de monitor-chefe? – perguntou Utau, recolhendo embalagens vazias que Lohan encarava com desaprovação.

— Sim. Dizem que há um intruso por aqui, mas acho que não é verdade. Estão fazendo o maior alarde porque um garoto perdeu o bilhete. Se eu o encontrasse, aplicaria uma detenção para não ser tão desleixado. – frisou Lohan.

Mackenzie percebeu que ele não era do tipo que ela podia contar que estava fugindo de sua casa trouxa e tinha entrado no trem de penetra.

— É só um calouro, Lohan. – comentou Utau, despreocupada.

— Precisam aprender desde cedo. – ele resmungou indiferente. – Vocês vão mesmo falar com a Pridess?

— Vamos! A maioria de nós é maior de idade!

— E por que acham que o diretor vai deixar a gente se apresentar à noite em Hogsmeade?

— E por que ele não deixaria? – perguntou Prince.

— Porque é contra as regras.

— A Srtª Abby tem mudado um bocado de coisas desde que chegou. – lembrou Utau. – E Pridess consegue muitas coisas com ela. Ela não ficou as férias em Hogwarts? – perguntou Utau, rindo.

Lohan abriu uma expressão de desagrado.

— Não vou me meter nas coisas da banda, entrei este ano. Mas não concordo. Aliás... – Lohan olhou ansioso para Utau, sem querer falar na frente de Prince.

Utau percebeu e fez que “não” com a cabeça.

— E como fica o Maki? – perguntou Lohan de repente, porque Maki era o único menor de idade na banda.

— Hm. Não sei. A Pride terá que substitui-lo, como sempre.

Pridess Ayra substituía Maki sempre que era lua cheia e ele se transformava em lobisomem.

Lohan suspirou alto. A porta tornou a se abrir e Maki entrou como se tivesse escutado seu nome. Trocou um longo olhar com Lohan e baixou a cabeça, corando. Cumprimentou os colegas de banda. Mackenzie percebeu que algo em Lohan deixava Maki muito inseguro.

A cabine estava ficando cheia para uma pessoa escondida. Logo alguém podia esbarrar em Mackenzie ou sentar nela sem querer. Ou ela podia espirrar e se denunciar. Prince percebeu os olhares de Utau.

Ele cutucou Mackenzie, que estava ao seu lado e sussurrou:

— Vamos dar uma volta.

Mackenzie se levantou. Prince anunciou para todos:

— Preciso ir ao banheiro.

E abriu a porta, se demorando propositalmente. Quando sentiu Enzie passar por ele, desastrada, topando com o dedinho na porta e xingando alto (Prince teve que fingir um acesso de tosse), ele fechou a porta. O corredor estava quase vazio. O pessoal estava comendo e fazendo bagunça dentro das cabines depois do carrinho de doces passar.

— Vamos importunar minha irmã. – chamou Prince.

Não alcançaram nem a próxima cabine quando Maki saiu muito vermelho às suas costas. Prince e Enzie se viraram automaticamente.

— Ãhn. – fez Maki, parecendo aturdido.

— Tudo bem, cara? – perguntou Prince.

— Anne! – sorriu Maki.

Ele elevou o olhar por cima dos ombros de Prince (que não eram baixos) e uma garota vinha correndo. Anne Alanis Flint era uma garota loira, de cabelos cheios e nariz gorducho. Os cabelos embaraçados e o rosto lavado não demonstravam nenhuma vaidade e ela vinha com um sorriso de quem fizera coisa errada estampado no rosto além dos olhos azuis opacos. Segurava nas mãos algo que lembrou à Enzie fogos de artifício trouxas. E não estava muito enganada.

— Anne! – vociferou Maki entre o riso e a reprovação.

Anne parou de chofre vendo apenas Prince e Maki no corredor (Enzie deu dois passos para trás por segurança) e soltou os fogos que ameaçavam explodir no chão, fumegando. Começou a tagarelar sem fôlego:

— Andy estava chorando, então eu simplesmente os acendi para animá-la, e aí adivinhem na porta de que cabine eu estava parada...? Encontrei Valen e Frances no mesmo compartimento e saí correndo...

Os fogos explodiram, não dando tempo para Anne terminar de falar. Mackenzie deu um grito que ninguém percebeu. Prince ria descaradamente e Maki tirou Anne do caminho. Anne encarava os fogos brilhantes explodirem com um riso de triunfo. Todas as cabines próximas se abriram e cabine por cabine rostos saíram de dentro para ver o que estava acontecendo.

Os fogos giravam no corredor, fazendo barulhos agudos e criando um efeito nas cores verde e prata, subindo até o teto da locomotiva, batendo e voltando ao chão, quicando.

Mackenzie colocou as mãos na frente dos olhos para se proteger, mas pelo visto, os fogos não eram perigosos para os olhos, porque Anne entrou na nuvem de brilho. Dava um efeito sinistro de uma artista saindo de trás das cortinas para uma apresentação.

— Caramba Anne! – disse Prince em aprovação.

Anne ria abertamente. Maki disse baixinho:

— Anne, não acha que é melhor sair daqui? Você não quer uma detenção logo no começo do ano.

Anne, com seus dezesseis anos (e da Sonserina) por vezes tinha atitudes muito infantis para o resto dos colegas. Já Maki, seu melhor amigo de mesma idade, estava na Grifinória (e Anne adorava constatar que podiam ser amigos sem se importar com a Casa). Em geral, Anne divertia Maki sem saber. O garoto introvertido só se abria com ela.

— Sim, temos que sair daqui! – percebeu Anne. – Vamos correr!

Maki abriu um raro sorriso retribuído com doçura por Anne.

— Você sabe que é maluca, não sabe? – ele avisou.

— Sou doida por você! – disse Anne e arrancou um beijo dos lábios dele antes de darem as mãos e sumirem pelo corredor.

A fumaça dos fogos já tinha baixado. Muitos alunos já tinham entrado de volta às suas cabines e estavam se trocando. Só restava Prince e a desiludida Mackenzie no corredor.

Prince resolveu que não era hora de ganhar uma detenção também. Continuou seu caminho até o compartimento da irmã, mas Frances foi mais rápida. Veio chegando com olhar analítico para Prince.

— Não me diga que foi você!

— Não fui eu. – respondeu Prince sincero.

Francie olhou para ele como se o julgasse. Por fim, teve certeza que ele estava falando a verdade.

— Quem foi? Você viu. Estava ao lado!

— Não vi nada. – respondeu Prince desta vez sem muita convicção.

— Oras Prince. Você não sabe mentir. Quem foi? Foi Anne? Ela gosta de pregar peças como se tivesse cinco anos de idade.

— Não vou contar. – respondeu Prince firme, se irritando com a postura da irmã.

Mackenzie também guardou nota mental para não entrar no caminho da irmã de Prince.

— Claro que foi a Anne. Ela nem começou o período letivo e já tem uma detenção.

Prince não podia rebater. Afinal, Frances estava certa (e quando não estava?). Ela deu meia- volta e fechou sem barulho a porta de seu próprio compartimento (Ares e Valen estavam lá dentro).

— Enzie? – Prince chamou. Depois de tatear o local e esbarrar em seu nariz (“Que droga!”, exclamou Enzie) ele continuou a falar. - Minha irmã é um tanto misteriosa. E muito cheia de si. Vive enfiada em livros e segredos.

Prince olhou para fora da janela e percebeu que já era noite e, dada a mudança de cenário, estavam chegando à Hogsmeade.

— Preciso me vestir!

E saiu correndo para a cabine que dividia com Utau. Mackenzie se atrapalhou em segui-lo. Lohan não estava mais lá quando chegaram.

— Cadê ela? – perguntou Utau, se espreguiçando. Já estava vestida com o uniforme da Corvinal.

— Aqui. – anunciou Mackenzie.

Utau foi até onde o som da voz dela vinha e deu outra batida com a varinha em sua cabeça. Mackenzie se sentia gelada aos poucos e seu corpo voltou ao normal.

Prince se trocava atrás das duas e Mackenzie tapou os olhos com as mãos.

— Se tiver problemas em achar o Três Vassouras me mande uma coruja, entendeu? Aliás, fique com a minha.

Mackenzie tirou as mãos da frente dos olhos e se surpreendeu. Uma corujinha pequena piava feliz dentro de uma gaiola mínima. Ela não conteve um enorme sorriso. Sempre quis ver uma coruja de perto.

— Ela ainda não tem nome. Foi presente das minhas mães, mas só minha mãe Joe está em casa ultimamente, elas estão brigadas. – explicou Utau.

— Eu já disse para chamá-la de Sereiana. – comentou Prince, colocando o chapéu.

Utau abriu um sorriso.

— Vocês tem mães...? – perguntou Mackenzie.

— Duas. – respondeu Utau, coçando o nariz. – Mas não tenho pai. Elas brigaram no verão e minha mãe Molly pediu demissão do trabalho. A mãe Joe está muito decepcionada com ela. Você pode me ajudar a dar um nome para a coruja...?

— Posso chamá-la de Sininho? – perguntou Enzie, ansiosa. – É de uma historia que Max lia muito para mim.

— Claro. Então, a Sininho saberá onde me encontrar se você tiver problemas, O.K?  Me chamo Utau e meu namorado se chama Prince.

— Certo. – assentiu Mackenzie, feliz, carregando a gaiola da corujinha mínima recém-batizada de Sininho.

Quando todos desembarcaram, Mackenzie muito bem colocada entre Utau e Prince (quase esmagada) para ninguém vê-la, o casal a observou sumir da estação de Hogsmeade e foi procurar uma carruagem.

***

Max estava fechando o bar, observando lá no alto o castelo de Hogwarts contrastando contra a escuridão da noite. Sentiu um aperto no coração ao pensar que no ano anterior estava lá com a namorada, a banda e os amigos no banquete de abertura para depois encontrar a confortável cama de dossel. A vida seguira e agora ele não tinha mais contato com a família, ia cuidar do Três Vassouras sozinho por tempo indeterminado enquanto Amelie lecionaria Feitiços e a namorada cursava o sétimo ano. Nunca se sentiu mais solitário do que naquele momento e seus olhos se encheram de lágrimas.

Contemplou por mais alguns minutos a escola, que tinha quadradinhos que eram as janelas acesas em uma torre ou outra. Deu um suspiro muito alto e pensou em escrever mais uma vez para Mackenzie e torcer para que dessa vez ela o respondesse.

Ele girou o corpo para entrar, as chaves titilando nas mãos. Não era preciso escrever.

Mackenzie Juliet White estava na porta do Três Vassouras com seu antigo casaco da Sonserina, uma mochila às costas e a gaiola de uma corujinha no chão. Ele abriu a boca em sinal de surpresa. Mackenzie pulou em seu colo, o rosto expressando imensa satisfação.

— Max! – exclamou ela – Que saudades!


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Notas finais do capítulo

Oi pessoal! Espero que estejam gostando! Por favor, comentem! Bjos ~*



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