Duas Moedas escrita por Seto Scorpyos


Capítulo 1
Capítulo 1




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— O senhor é um médico?

O homem loiro olhou para baixo e sorriu ao ver o pequenino que lhe puxou o jaleco branco. O outro loiro apenas ergueu a sobrancelha, curioso. Ambos olharam em volta e o mais alto se abaixou à altura do garotinho.

— Sou e você, quem é?

— Eu sou Lucas Monteiro. – o pequeno respondeu, sério.

O médico evitou rir da expressão solene dele. Em vez disso, inclinou a cabeça.

— E onde está sua mamãe?

— Eu não tenho mamãe, só meu papai e meu irmãozinho.

— Onde eles estão?

— Ali. – o garotinho indicou um corredor e o médico acompanhou o gesto com o olhar, mas não viu ninguém procurando pela criança.

— O que posso fazer por você, Lucas Monteiro? Quer que eu te ajude a voltar para seu papai? – perguntou, educado.

— Eu quero pagar para meu irmãozinho ficar bom. – o pequeno explicou, sério.

Os médicos se entreolharam e Lucas olhou de um para o outro.

— Eu dou o que eu tenho. – afirmou, sério. Com um gesto firme, abriu a mãozinha e mostrou duas moedas. – Posso trabalhar e conseguir mais, se faltar.

O médico loiro desviou os olhos, respirando fundo.

— Vou chamar uma enfermeira. – o outro disse, afastando-se.

— Não dá? – o pequeno perguntou, entristecido.

— Porque seu irmãozinho está aqui? – o médico perguntou suavemente.

— Ele tem uma coisa no coração que tem sair, mas não quer e tem que pagar para o médico tirar. – ele suspirou – Eu tenho outra moeda, mas eu queria pagar comida para meu papai. Ele está com fome e cansado, mas não diz. Se precisar dela...

O loiro observou, estarrecido, o pequeno tirar outra moeda do bolso e juntar às que segurava.

— É tudo o que tenho, senhor doutor. Dá? – o olhar esperançoso do garotinho o fez sentir um vácuo no estômago.

Estendeu a mão para o garoto. – Eu aceito o pagamento.

O pequeno sorriu, aliviado e colocou as três moedas na mão maior. O médico estreitou os olhos, antes de fechar a mão e colocá-las no bolso.

O outro médico chegou acompanhado de uma enfermeira.

— Este é o garotinho. Consegue achar os pais dele?

Ela concordou, olhando avidamente para o médico ainda abaixado. Quando ela estendeu a mão para pegar o garoto, o homem a interrompeu.

— Pode deixar comigo – levantou-se e a olhou, fazendo-a corar – Eu cuido dele.

O outro o encarou, surpreso.

— O que está acontecendo? – olhou do menino para o amigo, confuso.

Natan ignorou o amigo e deu um sorriso ao pequeno, estendendo a outra mão.

— Me mostre seu pai, está bem?

Ambos seguiram pelo corredor, sob o olhar estupefato dos dois parados.

— Quem é aquele garoto? – ela perguntou, perplexa.

— Eu não faço a menor idéia. – o outro médico respondeu, franzindo a testa.

 

O moreno olhou de um lado para outro, à beira do desespero. Estava tão preocupado com o bebê internado e por uma falha da qual nunca se perdoaria, seu filho mais velho se afastou e agora estava perdido. Olhou em volta, sentindo as lágrimas que tentou durante dias evitar e sentiu-se ainda mais agoniado.

Uma enfermeira tentou ajudar a encontrar o pequeno, mas não conseguiu e avisou o serviço de segurança, para começarem a buscar pela criança. Levi se sentou onde estava e colocou a cabeça entre as mãos, transtornado. Achou melhor voltar para o mesmo lugar caso Lucas o fizesse também. Se se afastasse, a chance de se desencontrarem era maior.

— Papai...

Levi se levantou de um pulo, aliviado demais para se lembrar de ficar bravo, e agarrou-o com força. O pequeno protestou um pouco e o pai o afastou, franzindo a testa ao ver o homem atrás dele.

— É meu filho, desculpe se ele... – disse, engolindo as lágrimas.

O médico encarou a figura diante dele. Pálido e magro, o moreno pareceu estar enfrentando um pesadelo completamente acordado.

— Não se preocupe, senhor... – o médico parou, esperando.

— Levi... Levi Monteiro.

O loiro se aproximou e curvou-se levemente. O moreno fez o mesmo, deixando ver claramente que estava confuso, mesmo assim manteve Lucas para perto de si.

— Eu sou Natan Livorno. – deu uma piscadinha para o garoto, que sorriu – Agora que está com seu pai, vou ver seu irmão.

Lucas abriu mais o sorriso, se aconchegando ao pai. Levi olhou o médico lhe dar um sorriso e seguir pelo corredor. Franziu um pouco a testa, tentando se lembrar onde já tinha ouvido o nome que o loiro deu. Sacudiu a cabeça, exasperado e olhou o filho com desconfiança.

— Onde estava, Lucas?

— Eu fui ajudar, papai... Agora está tudo bem. – garantiu, com um sorriso sincero.

Levi sacudiu a cabeça e deu um sorriso cansado.

— Fiquei preocupado. Nunca mais faça isso, ok? – pediu, sem forças para se zangar muito.

Além disso, não podia reclamar do filho mais velho. Lucas estava sempre preocupado consigo e com o bebê, se concentrando em ajudar de todas as formas que podia. O moreno apertou o filho no peito, sentindo-se mal por exigir tanto de uma criança de apenas cinco anos, mas não podia ser diferente.

— Tudo bem, papai. Agora vou ficar aqui e cuidar de você. – o menino sorriu, aconchegando-se.

— Porque ele disse que iria ver seu irmão? – Levi perguntou, depois de algum tempo.

— Por que...

Mas Lucas não terminou. Uma enfermeira se aproximou, educada.

— Levi Monteiro? – perguntou, com um sorriso.

— Sim. – o moreno ergueu a cabeça, surpreso.

— Por favor, me acompanhe.

Apesar de meio confuso, o moreno se levantou e certificou-se de segurar firme a mão do filho. Seguiu a enfermeira por tantos corredores que até ficou meio perdido, e quando já ia perguntar, pararam em frente a uma porta e ela bateu levemente, anunciando-o.

— Senhor Levi Monteiro, doutor Livorno.

Levi notou o tom meloso e olhou para o filho, ambos sorrindo de leve. Depois que eles entraram, o moreno ficou surpreso ao ver o mesmo homem loiro que encontrou no corredor. A enfermeira ficou parada, olhando para o médico. O loiro respirou fundo e tentou ser diplomático, levantando-se.

— Pode ir agora, enfermeira Hondou. Eu chamarei se precisar.

Ela ainda demorou um pouco para cumprir a ordem, arrancando uma risada baixa do garotinho. Assim que ela saiu, ele não perdeu a chance.

— Ela parece boba. – ele comentou, calmo.

— Lucas! – Levi exclamou, envergonhado.

— Não se preocupe, senhor Monteiro. Lucas está certo, ela parece boba mesmo. – deu uma piscadinha divertida para o pequeno, que sorriu.

Levi tentou disfarçar o incômodo de ouvir o estranho chamar seu filho tão intimamente.

— Bem... – o moreno começou, disposto a esclarecer a situação.

— Eu sou o pediatra chefe desse hospital, Natan Livorno – o loiro fez um cumprimento educado e indicou uma cadeira para Levi e seu filho.

O moreno sentou-se, intimidado e confuso. Agora se lembrou de onde tinha ouvido o nome. Estava diante do pediatra mais importante do país e sentiu-se estranho. Encarou o outro, demonstrando seus sentimentos e o médico deu um sorriso compreensivo.

— Desculpe pelo mau jeito. - desviou os olhos do homem e encarou uma pasta aberta sobre a mesa – Eu pedi que viesse por causa de seu filho, Leonardo.

O garoto olhou do médico para seu pai, que empalideceu vivamente.

— Não... – o moreno sussurrou, deixando transparecer toda a sua angústia.

Lucas se levantou ao mesmo tempo em que Natan, ambos preocupados.

— Por favor, não é nada disso... – o médico apressou-se a garantir.

Caminhou até uma pequena geladeira e abriu-a, retirando duas garrafinhas de suco. Sem perguntar, estendeu uma ao moreno e abriu a outra para o pequeno, que olhou o pai. Levi ainda demorou um pouco para concordar com a cabeça. Natan estreitou os olhos ao ver a vontade com que a criança tomou o suco. Vendo que o homem estava atordoado demais, pegou a garrafinha delicadamente e abriu, estendendo-a com um sorriso constrangido.

— Desculpe por te assustar. Por favor tome isso... é suco e está gelado. Vai te fazer bem.

O moreno pegou a garrafinha e tomou, sem vontade.

— O que quer me dizer sobre meu filho? – Levi perguntou, incerto – Eu sei que o plano não cobre as despesas da internação, mas eu estou pagando aos poucos... eu não tenho como... – parou, tentando segurar o desespero – Por favor, eu vou pagar... só preciso de um tempo... eu sei que já está atrasado...

A angústia do moreno não o deixou ver o lampejo no olhar mais claro do médico. Lucas abriu a boca, mas Natan fez um gesto calmo.

— Não é por isso que pedi ao senhor que viesse. – o loiro começou, calmo – Pelo que pude ver no prontuário, ainda faltam alguns exames para que a cirurgia possa ser feita. Eu preciso de sua autorização para esses procedimentos.

Levi encarou o outro com o olhar mortificado.

— Eu não... – a voz falhou e ele respirou fundo – Eu não posso...

— Todo o tratamento já está pago, senhor Monteiro. Eu só preciso de sua autorização.

O moreno levou tempo para entender as palavras do médico. Uma lágrima escorreu pelo rosto marcado.

— Porque está fazendo isso comigo? – perguntou, num sopro.

Natan se aproximou e encarou o moreno, notando que Lucas estava segurando a mão do pai com força.

— O tratamento está realmente pago. Foi pago essa manhã e eu preciso de sua assinatura para a autorização. – o olhar dele se enterneceu diante da fragilidade do outro – Lucas, por favor pegue os lenços para seu pai.

O garoto olhou inseguro para o moreno e então, desceu da cadeira. Deu a volta na mesa e pegou a caixa indicada pelo médico. As garrafinhas de suco foram esquecidas. Quando o pequeno voltou, o rosto dele já estava vermelho.

— Eu fiz alguma coisa errada? – perguntou, baixinho.

Levi olhou para o filho sem entender. Natan o acalmou com um sorriso.

— Não. – deu uma rápida olhada para o moreno, que encarava os dois com um olhar estranho.

O médico se ergueu e pegou a caixa de lenços, estendendo-a para o outro homem. Levi pegou a caixa e tirou um lenço de forma mecânica, respirando fundo.

— Disse que o tratamento está pago. – o moreno disse, sem encarar o médico – Como pode ser?

O olhar do pequeno passou do pai para o médico. Natan respirou fundo.

— Seu filho pagou.

Levi arregalou levemente os olhos, segurando o lenço junto ao rosto.

— Desculpe-me? – a voz saiu falha e incrédula.

Natan se sentiu um idiota, mas a sensação sumiu diante do brilho no olhar do pequeno.

— Isso mesmo. Seu filho me pagou o tratamento. – repetiu, calmo.

O olhar estarrecido do moreno caiu sobre a criança, que se encolheu e olhou incerto para o médico. Sem saber exatamente porque, o loiro decidiu proteger a atitude do pequeno.

— Lucas está preocupado com o irmãozinho e com o senhor. – Natan começou, fazendo Levi olhar para ele – Então ele trabalhou e conseguiu o valor suficiente para pagar todo o tratamento, inclusive o apoio a vocês. – explicou, espantado consigo mesmo por inventar aquilo. Diante do olhar descrente, estreitou o seu – Não o diminua, seu filho tem muita responsabilidade.

Levi olhou dele para o filho, incrédulo. Lucas respirou ruidosamente, olhando de um para o outro e retorcendo as mãozinhas.

— Papai... eu trabalhei... eu cuidei do jardim do coronel. Eu ajudei a carregar as compras... – olhou de um para o outro – Eu queria ajudar... eu...

Por alguns minutos tensos, os três ficaram em silêncio. Levi respirou fundo e tentou sorrir, controlando-se a muito custo.

— Está tudo bem. Eu... agradeço sua ajuda.

O moreno lançou um olhar para o médico, mas o loiro resolveu não deixar passar.

— Acho que isso vai esclarecer melhor a situação. – disse.

Levi e Lucas observaram o médico selecionar um documento da pasta e estendê-lo ao moreno. Este hesitou, mas pegou a folha e a leu enquanto Lucas e Natan trocaram um olhar.

— Mas aqui não diz o valor... – o moreno notou, confuso.

— Não. Lucas e eu já acertamos tudo. – o médico se surpreendeu com a própria calma.

— Papai, o que está faltando para o Leo? Ainda falta? – o pequeno perguntou, olhando de um para o outro.

Levi engoliu seco, envergonhado.

— Não. Está tudo bem.

— Então porque não está feliz? Está bravo? – Lucas encarou o pai com os olhos amedrontados.

— Não... – o moreno ficou sem jeito diante do olhar do filho – Eu só estou surpreso... Eu não sabia que estava trabalhando para juntar o dinheiro.

Lucas sorriu, nitidamente aliviado.

— Eu queria ajudar. Agora pode descansar e comer...

A frase fez o médico se lembrar da outra parte do que tinha decidido. Deu a volta, rezando para que o moreno não reagisse negativamente.

— Se o senhor assinar aqui...

— Levi. - o loiro olhou para o moreno, que sorriu sem jeito e encolheu os ombros. - Se chama meu filho pelo nome pode me chamar também.

— Então sou Natan.

Sorriu e estendeu a caneta. Levi ainda hesitou, mas acabou assinando. O médico notou que ele estava tremendo levemente e lembrou-se da alimentação. Afastou-se e pegou o telefone, pedindo que um amigo fosse chamado.

Por alguns minutos, ninguém disse nada. Uma leve batida na porta precedeu um homem baixo e ruivo, que entrou na sala com um sorriso. Olhou para os dois morenos e elevou uma sobrancelha.

— Levi e Lucas – o loiro apresentou. – Este é André, um amigo e psicólogo da clínica.

O moreno ficou claramente constrangido em aceitar o apartamento para acompanhantes, assim como a alimentação, mas cedeu ao considerar o filho. Não tinha condições ou dinheiro para mantê-los por mais tempo e Lucas já tinha passado por muito mais que o aceitável.

Por mais que tentasse entender, tudo estava acontecendo rápido demais para o moreno. Não tinha coragem de continuar a questionar o filho e o pediatra se fechou, afirmando simplesmente que tudo já estava resolvido. Cansado demais para argumentar, Levi aceitou a ajuda.

De qualquer forma, Leonardo teria tudo o que até então, não conseguiu dar a ele.

 

***

Levi olhou em volta e suspirou, sentindo-se perdido. Observou Lucas simplesmente devorar a comida da bandeja servida a eles e seu coração ficou pequeno. Fazia tempo que o filho não tinha uma refeição completa como aquela. Ele mesmo ficou faminto ao sentir o cheiro delicioso, mas a preocupação e a angústia não estavam deixando que aproveitasse a refeição.

— Acho que vou enlouquecer... – murmurou, exausto.

Encarou o filho e se surpreendeu ao ver que ele estava parado, olhando para ele de volta.

— Não está com fome, papai? - Levi sorriu de leve e Lucas mostrou a outra bandeja – O doutor mandou duas... agora pode comer.... Leo vai ficar bom.

— É... – concordou, se aproximando.

Sentou-se e tentou comer, animado pelo filho.

— Lucas... eu queria saber quanto pagou... – o filho o olhou e ele perdeu o jeito – Eu só queria saber...

— Eu dei tudo o que eu tinha e o senhor doutor disse que dava. – o pequeno respondeu, sério.

Levi engasgou com o pouco que havia colocado na boca. Sentiu os olhos cheios de lágrimas novamente e muito perto do limite.

— Mas... foi dinheiro mesmo que deu a ele? – perguntou, depois de um tempo.

— É claro, papai. Eu paguei com o dinheiro que ganhei trabalhando.

O moreno corou de vergonha. O olhar límpido do filho não o deixou fazer mais nenhuma pergunta e com esforço, terminou de comer. Ambos estavam alojados em um apartamento confortável, um andar abaixo do centro cirúrgico. Tentando não pensar muito, Levi ajudou o filho a tomar banho e se trocar, deitando-o na cama confortável. O pequenino, aliviado e totalmente calmo, dormiu quase de imediato.

Apesar do banho relaxante, o mais velho não conseguiu se acalmar o suficiente para dormir. Deitou-se ao lado do filho por puro costume, sem nem perceber a outra cama ao lado e encarou o teto, sem realmente vê-lo.

Ainda demorou para que finalmente fosse vencido pelo cansaço e adormecesse.

 

****

— Ele parece que vai desabar a qualquer minuto. – o psicólogo comentou, sentando-se na cadeira em frente à escrivaninha do médico.

O outro médico olhou para o ruivo e dele, para o pediatra pensativo. Natan respirou fundo e se recostou na cadeira.

— Eu sei... ele está no limite. Pelo que soube, a situação tem sido difícil já há um bom tempo.

— Eu não entendi uma coisa: como o pequeno pode ter pago a cirurgia? – Marcelo perguntou, curioso – Ou está apenas dando uma desculpa de bom samaritano?

O pediatra encarou os dois amigos e encolheu os ombros, agradecendo mentalmente pelo amigo não ter visto as moedas que recebeu do garoto. Elas ainda estavam queimando no bolso do jaleco, mas não conseguiu se separar delas.

— Lucas realmente pagou a cirurgia. – confirmou, sério – E me deu uma lição e tanto.

— Essa intimidade toda é muito estranha. – André comentou, encarando o pediatra com atenção – Que eu saiba, você não os conhecia antes...

— Assim que eu entender, te explico, ok? – Natan ofereceu, exausto de dar explicações.

Quando ele se recostou e fechou os olhos, os outros dois se entreolharam. O pediatra, sempre tão frio e controlado, estava diferente do comum. Nunca antes havia se envolvido assim com os pacientes e aquela situação era, no mínimo, insólita.

 

*****

— Ele disse que foi dinheiro mesmo... – Levi terminou de contar a Maurício sobre a cirurgia – Que recebeu trabalhando...

O jovem franziu a testa.

— E você não perguntou para o médico? – perguntou, confuso – Como um garotinho ia ter dinheiro para pagar por uma cirurgia do coração?

— Natan não me explicou nada e não tenho muita coragem de perguntar mais... fico com medo de acordar se for um sonho que meu bebê tem uma chance... – a voz foi sumindo – Meu Deus, Maurício, eu nunca ia conseguir pagar por tudo...

— Bom, agora está tudo nas mãos de Deus. – Maurício encolheu os ombros e acariciou os cabelos escuros do garotinho adormecido – Quem pode dizer como Ele decide como serão nossos caminhos? E agora, como está tudo?

Levi sorriu minimamente.

— Como vê, estamos nesse apartamento. Recebemos comida e eu recebi transporte quando fui até em casa buscar roupas e outras coisas. – cuidadosamente, tirou o filho do colo e o ajeitou sobre a cama – André, um psicólogo da clínica, sempre vem ver como nós estamos.

Os dois se sentaram nos sofás perto da porta e Levi serviu suco e biscoitos.

— Vê? Temos um frigobar abastecido com pequenas coisas... e... – respirou fundo – E eu não entendo mais nada.

Maurício se serviu e recostou-se, observando o amigo com cuidado.

— Se incomoda se eu perguntar para o doutor como foi? – perguntou, hesitante.

Levi sorriu mais abertamente. – Não! Não mesmo! Quem sabe para você ele conta...

Depois de alguns minutos, o jovem terminou o suco e limpou a garganta.

— Isabela apareceu de novo... parece que está com outro amante. – comentou, neutro.

O olhar do pesquisador esfriou.

— Não quero saber de Isabela, Maurício. – a voz saiu dura.

— Você tem razão... – o outro concordou, sombrio – Ela não deve sequer ser mencionada em uma conversa civilizada - indicou um objeto na cama ao lado – Isso é um tablet?

Levi corou absurdamente.

— Natan trouxe... disse que era para Lucas ver desenhos e outras coisas... eu não queria, mas... bem... podemos sair e passear no jardim e até temos feito isso, mas...

Maurício se levantou e puxou Levi para um abraço.

— Não se atormente tanto... esse interesse todo pode até ser muito suspeito, mas somos caras inteligentes e...

A porta se abriu depois de uma leve batida e Natan entrou, franzindo a testa ao ver os dois homens abraçados. Levi se separou do amigo, corando absurdamente. Maurício estremeceu de leve, mas conseguiu segurar o olhar intenso do médico.

— Atrapalho? – Natan perguntou, seco.

— Não... este é Maurício... um amigo que veio nos visitar. – Levi estava totalmente sem jeito.

Os dois homens se cumprimentaram sem simpatia.

— Vim perguntar se quer ver Leonardo. As condições são melhores hoje... – Maurício notou que o tom do médico se suavizou.

Levi arregalou os olhos. – É claro! Eu... – parou ao se virar e ver o filho dormindo – Mas Lucas está dormindo... e ele queria ver o Léo...

— Mesmo que ele estivesse acordado, eu não permitiria. – quando Levi se virou com a testa franzida, encolheu os ombros – A UTI não é lugar para uma criança, Levi. A visão do irmão cheio de fios e tubos pode não ser o que ele agüenta.

— Concordo com o doutor. – Maurício disse, se aproximando do amigo e sem perceber, segurando seu braço delicadamente. Quando ergueu o rosto, Natan o estava encarando com o olhar gelado.

Intimidado, soltou o amigo e sorriu ligeiramente. – Por que não vai com o doutor e fica um pouco com o Léo? Ele deve estar sentindo falta de ouvir sua voz... Fico aqui com Lucas.

Levi ainda olhou de um para outro, indeciso.

— Obrigado. – disse, sorrindo fracamente para Maurício.

Natan abriu a porta e cumprimentou levemente ao sair atrás de Levi. Maurício se sentou e franziu a testa.

— Por Deus! Ele quase me congela só porque segurei o braço do Levi? – balançou a cabeça, pensativo – Será que foi por causa do Levi que ele está fazendo tudo isso e o Lucas é só uma desculpa?


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Notas finais do capítulo

O cerne da história é bem conhecido, mas eu quis contá-la do meu jeito. Espero que gostem!



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