"O telefone tocava, vibrando na mesinha ao lado da cama. Ao tatear a superfície lisa, Castle encontrou o aparelho. Levando-o ao ouvido, escutou a voz de Kate.
— Ei, babe. - o tom era manso.
— Ei... - Rick, ainda sonolento, respondeu.
— Estava dormindo? Já passa das onze.
— Sim, mas lembre-se que uma certa capitã não me deixou dormir até as cinco.
— Desculpe, amor. Eu não sei o que deu em mim ontem à noite. - Do outro lado da linha a capitã riu, tentando abafar o som com a mão. - Desculpa mesmo.
— Tudo bem, eu não estou reclamando. - Castle levantou da cama, pondo-se em direção à cozinha. - Mas o que quer comigo a essa hora da madrugada?
— Eu só queria ouvir a sua voz. - O falso desdém ultrapassou o aparelho.
— Kate!
— Ok, tudo bem. - Ela suspirou. - Preciso te contar uma coisa, mas tem que ser pessoalmente. Posso ir até o loft hoje à noite?
— Claro. - Bocejando, ele colocou o café na xícara. - Pode me dar uma dica de que se trata?
— Não.
— Ai, essa doeu. - Ela riu mais uma vez. - Ok, vou deixar você trabalhar. Te vejo à noite
— Sim. Eu te amo. - Sussurrou as últimas palavras.
— Eu te amo. - Pouco antes de desligar, ele completou. - Ah! Seu café é horrível.
Ouvindo um resmungo, ele finalmente desligou.
— Preciso dizer a ela qual é o ingrediente especial. - Castle jogou o líquido na pia, já ligando a máquina de café.
Satisfeito, e com a cafeína circulando em seu corpo, o escritor dirigiu-se para o escritório. Estava disposto a escrever até a hora de Kate chegar. Abriu o documento em branco, porém, o cursor lhe desconcentrou.
— Você ainda acha que é fácil escrever um Best Seller, não? - O tracinho preto, no início da página, continuou a piscar. - Pare! - Castle remeteu-se à manhã anterior, quando acontecera o mesmo. Definitivamente, ele estava com bloqueio e precisava de sua musa ali.
Pegando o tablet, Rick deixou o computador em cima da mesa, - aquela birra iria longe - estava pronto para jogar a nova atualização do seu joguinho favorito: "Angry Birds".
***
— Castle? - À noite, Kate entrou no loft chamando pelo marido.
— No quarto.
Andando calmamente, Beckett adentrou o ambiente.
— O que está fazendo? - Ela parou de frente para ele. Castle estava de cabeça para baixo, pendurado por alguns cabos presos ao teto.
— Testando os cabos do Laser tag?! - Ele sorriu, tentando escapar daquela situação. Kate arqueou uma sobrancelha, fazendo uma careta.
— Você não joga isso há uns três anos. Por que isso agora?
— Porque nós vamos jogar hoje. - Ele soltou a ponta do gancho que prendia-o aos cabos, caindo de cara no chão. - Ai.
— Você está bem? - Kate não controlou a risada, e, perdendo a noção de espaço, tropeçou, caindo por cima de Castle. - Droga! - ela esbravejou desesperada, já levantando do chão.
— Ei, calma aí. Pra que tudo isso? - Os olhos verdes desviaram do rosto dele.
— Nada. Podemos jantar?
— Ok. _ castle, um pouco desconfiado, levou-a até a cozinha. - Pronta para saborear o melhor jantar da sua vida?
— Pronta! - Kate observou a mesa, admirando-se por encontrar uma comida típica da culinária Franco-Canadense - Oui, Monsieur. Quelqu'un est entré dans le caractère et ne veulent pas quitter. (Sim, Senhor. Alguém adentrou o personagem e não quer mais sair.) - O sotaque francês - quase legítimo- da capitã chamou a atenção do escritor.
— Oui, Madame. John Luke m'a inspiré à elle. Poutine! (Sim, minha Senhora. John Luke me inspirou a isso. Poutine.)
— Isso parece maravilhoso. - Ela jogou o blazer sobre o sofá e voltou até ele. - Atacar?
— Atacar. - Kate não se importou em usar um garfo, pegou a batata entre os dedos, saboreando-a logo em seguida. - E então?
— Magnifique. (Maravilhoso)
— Vinho? - Ela balançou a cabeça.
— Só um pouco, precisei tomar um analgésico hoje mais cedo.
— Tudo bem, um pouco de Chinon para você. - serviu-lhe um pouco do líquido púrpura, logo voltando a perguntar - Por que precisou tomar remédio?
— Os relatórios me deixaram com uma dor de cabeça infernal. - Recostando-se à cadeira, Beckett soltou o ar, sentindo o estômago revirar. - Merde. (Porcaria)
— Aparentemente, você é fluente no francês, e eu não sabia. - Ele riu, beijando os dedos dela, ainda melados com o molho salgado. - E em russo também. - Ele lembrou do dia na embaixada russa.
— Desculpe, babe. Acho que esqueci de te contar algumas coisas. - Em um movimento rápido, Kate sentou-se no colo do marido.
— Só para você saber, eu acho isso muito sexy. - Beijou o pescoço dela, já afastando a alça da blusa estampada. - Je t'aime. (Eu te amo)
— Eu também te amo, Rick. - Kate beijou-o com vontade. - Faça amor comigo, me faça sua a noite inteira. - A súplica esculpida em sua voz.
Ele não negou, levantando-se da cadeira, colocando as pernas dela ao redor de sua cintura, caminhou até o quarto. Ali amaram-se como nunca. A paixão transbordava dos corpos suados, desejo exalando dos poros. Amor.
***
Beckett rolou na cama, esticando-se entre os lençois bagunçados. Suspirou, arrependendo-se imediatamente. Pulou da cama, correndo para o banheiro.
— Querida? - Castle gritou, aproximando-se do banheiro, mas ela logo voltou, arrastando-o de volta para a cama.
— Eu estou bem.
— Não é o que parece, você está pálida. - Ele passou a mão no rosto da esposa, afastando alguns fios de cabelo que teimavam em cobrir-lhe o rosto.
— É sério, estou bem. Só preciso te contar a coisa da qual conversamos mais cedo pelo telefone. - O medo na voz da detetive era evidente.
— O que está acontecendo?
— Eu não posso mais esconder isso de você. - Puxando o lençol para cobrir seu corpo, Kate levantou da cama, indo até a sala e buscando o blazer.
— Kate...? - Ele prendeu a respiração quando ela voltou, já estendendo-lhe um papel dobrado.
— Apenas leia.
Numa rapidez impressionante, Castle desdobrara a folha, lendo cada palavra até chegar ao final da página.
— E então? - Indagou ao perceber ele olhando-a com uma expressão de admiração.
— Grávida? - Ela meneou a cabeça confirmando. - Oh, Meu Deus. Kate, isso é maravilhoso.
Beckett sorriu. Ele aceitara aquela notícia da melhor maneira possível, mesmo na atual situação deles. As vezes, a capitã chegava a pensar que seu marido não existia, pois o modo como ele a tratava não poderia ser melhor.
— Você está feliz? - Quando ele chegara tão perto? Castle segurava o rosto dela entre as mãos, enxugando as lágrimas que molhavam-lhe o rosto.
— Mais do que feliz. Eu não tenho palavras para descrever como me sinto nesse momento, Rick. Eu só posso dizer que amo esse pequeno ser com todas as minhas forças. - Ela chorava copiosamente, tendo-o bem próximo a ela. - Nós dois sabemos que esse não é o melhor momento para ter um filho, mas eu desisto de todos os segredos, desisto de tudo apenas pra proteger nosso filho. E eu preciso de você ao meu lado para enfrentar isso.
— Eu nunca deixarei de estar ao seu lado. E não importa o que aconteça, nós vamos protegê-lo de todo e qualquer perigo. Eu prometo. - Rick agarrou-se ao corpo dela, sem querer soltá-la. Por ele não soltaria.
Os dois estavam emocionados, afinal eles sonharam com aquilo.
Agora eles tinham uma nova missão, nada que envolvesse política, tiroteios ou algo do gênero. Eles precisavam zelar pelo fruto do amor puro concedido a eles."