Caminhantes escrita por Serin Chevraski


Capítulo 109
O fio de um desejo




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Lucy POV

Já era de dia quando abri novamente os olhos, me senti cansada, como se houvesse caminhado por muito tempo. Mas estranhamente estive sempre deitada, então não havia como estar cansada fisicamente.

— Zeref... -chamei.

— ... Lucy. Eu estou aqui.

Segurei firmemente o pingente.

— Eu prometi que seria forte e tinha confiança nisso... Mas...

Parecia que algo dentro de mim quebrou. Não, estava quebrado faz tempo mas aguentei. Aguentei e fingi que tudo estava bem.

Mas não estava bem, eu não estava bem. Não poderia aceitar que todos os meus amigos, todo o meu mundo morreu e sobrevivi sozinha. 

Que eu amei e esse amor simplesmente foi obrigado a deixar para trás. Tentei aguentar. Mas meu bebê inocente também morreu. Meu pequeno milagre evaporou e sobrou mais nada nesse mundo estranho.

E até mesmo matei uma outra vida assim que cheguei. Tudo isso fez algo colapsar.

Sei que preciso me levantar... Mas... Talvez... Estou um pouco chateada... Apenas um pouco triste, então por favor, me perdoe por ficar deitada.

Eu vou me recuperar. Apenas... Quero ficar um pouco mais aqui.

Um suspiro escapou dos meu lábios.

A entrada da barraca farfalhou, não olhei para quem entrou agora. Apenas encarando o teto. 

— Lucy Knightwalker.

Uma voz fria murmurou meu nome. Que não era bem o meu nome, e sim o nome que roubei. Mas a voz era estranhamente familiar. 

Minhas pupilas tremeram.

Uma sombra grande se aproximou. Movi brevemente meus olhos, me deparando com um rosto escondido sob um capuz obscuro. Mas pelo ângulo de baixo, pude ver seu cabelo negro e íris rubis.

— Você... -murmurei, com os olhos arregalados. 

— Há... Eu sabia que desde o começo essa cooperação ia dar errado -ele murmurou algo incompreensível. Seu tom amargo foi muito discernível.

— Cooperação?

— Lucy Knightwalker. O que você sabe?

Sua voz cheia de hostilidade me tomou de surpresa. Um sinistro sentimento deu calafrios em minha espinha. 

— Responda -o seu tom baixo e cruel ressoou nos meus ouvidos.

— Eu... Do que você está falando?

— Vai dizer que não sabe?

Ele se aproximou mais. Me esforcei para me sentar e encará-lo. O rosto dele era familiar. Alguém que eu senti falta. 

Mas sua expressão acusadora foi muito desconhecida. 

Seus dedos longos apareceram por baixo das longas mangas da grande manta. Suas sobrancelhas franzidas me encararam com desgosto e nojo. E então a mão dele subiu até meu pescoço.

— Sua cara me faz querer vomitar. Mas mais do que isso, o que mais me dá raiva é você continuar respirando, sem se redimir dos pecados, vivendo tão tranquilamente por aí.

Seus dedos apertaram meu pescoço lentamente, me sufocando pouco a pouco.

— Eu... Espera...

— Não importa quem você seja. Lucy Knightwalker, você acaba de ultrapassar os limites!

— Limites...?

— Você se lembra. Você conhece esse nome. Mas o dono desse nome morreu.

Franzi as sobrancelhas para ele. Que nome?

Então me recordei antes de desmaiar, Erza chamar um nome diferente para o homem que está à minha frente. Ryos. 

— Então você nunca deve dizer esse nome repugnante novamente. Ele morreu naquele dia. 

— O... O que você está falando?

— Há...! Isso... Como você ousa dizer que não sabe...? -seu sorriso se tornou cheio de dor e escárnio.

— Quem... Quem morreu?

— Como você... Para mim... -suas sobrancelhas torcidas pareciam que iam chorar, ao mesmo tempo que brilhavam em um sentimento assassino.

— Eu... -a dor no meu pescoço se tornou mais e mais forte. 

— Ele morreu... No mesmo dia que você fez aquilo com Frosch! Então nunca mais diga esse nome de novo!

Quando Ryos disse isso, meus olhos se nublaram, com um flash de uma lembrança. Meio tonta. Com os dedos dele apertando meu pescoço cada vez mais, me segurei no seu pulso desesperadamente.

Uma memória de Lucy Knightwalker passou pela minha mente. Meio apagada e borrada.

Na minha frente, um quarto que era tão pequeno que mal se poderia caminhar alguns passos, com uma grossa corrente saindo pela parede de tijolos cheia de lodo. Igual a uma minúscula prisão. Há um menino de cabelos pretos, tão jovem quanto um garotinho de sete anos. Ele me encarou com ódio em seus olhos rubi marejados de lágrimas.

— Monstro! -ele gritou.

O corpo dele estava cheio de marcas, mas o pior eram os pulsos roxos que puxavam freneticamente as algemas presas pelas correntes esticadas.

Na minha mão, igualmente pequena, segurava um martelo ensaguentado. O ferro e a madeira eram pesados, mas não era por isso que minhas mãos tremiam, e sim por causa do líquido vermelho de cheiro sufocante. E aos meus pés... Uma bola bagunçada de vermelho e verde que não se mexia.

— Frosch! Frosch! Se afaste dele, seu monstro!

Esse flash de memória foi tão rápido que acabou, e meus olhos se arregalaram, enquanto vi os olhos do pequeno menino se transformarem no rosto do homem adulto na minha frente, se sobrepondo a memória para a realidade. O rubi de sua pupila brilhando em chama cheia de rancor eram iguais.

— Fro... sch...! -suspirei, com as lágrimas caindo em horror.

Minha mente nublou pelo sufocamento do homem.

— Não diga o nome dele com sua boca imunda. Seu monstro...! -ele grasnou.

Ryos POV

Lucy Knightwalker. Quantas vezes sonhei em um pesadelo com ela. Desde aquele dia que me colocaram no inferno. E a garotinha demoníaca que me torturou pessoalmente, era ela. 

Quando dormia, não podia deixar de lembrar do corpo de Frosch, que estava irreconhecível, completamente desfigurado pelo martelo das mãos de uma menininha que não parecia ser mais velha do que eu. 

Como desejei encontrar ela e me vingar. Fazer algo muito pior, causar a ela tantos pesadelos quanto ela deu a mim. Cortar e a deixar pior que do que ela fez a Frosch, me implorando para que a matasse.

Ela está na minha frente agora. Não devo matá-la. Eu sei que não posso fazer isso. Mas escutar esse nome ontem, realmente me fez revirar o estômago. Eu não podia mais me segurar. Nesse impulso assassino, a enforquei com minhas mãos.

Os olhos dela marejaram, como se fosse um cordeiro inocente e puro. Realmente me encheu de nojo. 

— Você é um monstro, por que está chorando quando fez coisas ruins sem um pingo de piedade? -senti minhas mãos tremerem.

A dor no meu coração é muito maior, quem deveria chorar sou eu! Então por que é você quem está chorando!?

Seu rosto mascarado de prata. Um metal nobre que indica pureza foi a pior ironia que vi na primeira vez que reencontrei essa mulher.

Pelo canto do meu olho, vi o corvo que a esteve zelando, me encarou com calma. Então repentinamente ele voou na minha direção. Abri a boca para lançar magia da escuridão. 

— Shadow Arrow!

Flechas negras dispararam nele, o pássaro impressionantemente desviou, então com suas garras, pegou a manga do meu pulso. O puxou para cima e arregaçou minhas mangas.

— Craw! Craw!

— O que...? -os olhos da mulher que estavam turvos, encararam o corvo.

— Craw!

— Pulso...? -ela sussurrou.

O meu pulso que foi exposto porque o corvo puxou minha roupa, revelou minha pulseira. Uma pulseira de couro negro, com uma estrela desenhada nela. Era algo que eu tinha há muito tempo, tanto que não me lembro quando foi que a coloquei. Mas estranhamente ninguém conseguia ver ela e eu também não podia tirar, como se fosse um objeto amaldiçoado, então depois apenas ignorei essa coisa.

Mas os olhos de chocolate dela fitaram diretamente para o meu pulso, como se pudesse ver o que tinha ali. Um objeto que deveria ser invisível para todos os demais.

Os lábios dela tremeram e as lágrimas caíram mais ainda.

— Rogue... -um sussurro cheio de emoção escapou pelos lábios dela.

Minhas mãos tremeram. Franzi mais as sobrancelhas, respirei pesado para colocar mais força nos meus dedos, tentando quebrar seu pescoço. Mas essa mulher, digna de se chamar Platina Sanguinária, é um monstro e difícil de matar. Senti minhas veias pulsarem.

Então a mão da mulher se levantou e acariciou com dificuldade, segurando meu pulso, como se fosse algo precioso. Cheio de nostalgia e... Amor.

Seu toque é áspero, contando uma vida de luta e guerra encrustada na sua palma cheia de cicatrizes.

Não a machuque.

A minha mão afrouxou. 

Não machuque Lucy....!

Uma voz estranha no meu subconsciente gritou. Fazendo minha mão relaxar mais. 

Antes que pudesse entender essa estranheza, a entrada da barraca se abriu abruptamente.

— RYOS SHADOW, O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO!

Uma cabeleira ruiva veio com alta velocidade, junto a uma pancada violenta, me jogando ao chão. O pescoço da loira escapou das minhas mãos, e ela caiu de joelhos no piso arenoso.

— Coff Coff Coff! -tossiu freneticamente. Pude ver o hematoma colorido em roxo na pele dela.

Erza a apoiou com o rosto apavorado.

— Lucy! Você consegue falar? -então os olhos castanhos se viraram ferozes para mim- Ryos, você ficou louco? Não é permitido lutar entre os membros do grupo! 

Mordi meu maxilar. 

Cometi um erro. Independente da raiva que tenho, não deveria ter atuado tão imprudente.

— Você sabe das regras, certo? Sabe a punição para o que você fez? -ela gritou para mim, enquanto ainda segurou a loira. 

Agora só posso ser expulso.

— Sim, eu sei -respondi, sem encará-la- Eu vou aceitar a punição.

— Espera... Coff... -a loira interrompeu- Erza... Que... coff... Punição...?

— Lucy, isso não cabe a você. 

— Erza... -ela olhou para a Titânia, de forma persistente.

— ... -a mulher comprimiu os lábios- Expulso. Vou expulsá-lo.

— Não...

— Lucy! 

— Não Erza. Deixa... Eu escolher a punição, não o expulse.

Nós dois a encaramos. Mas os olhos achocolatados estavam fixos em mim... Na verdade no meu pulso, aonde havia uma pulseira... Supostamente invisível.


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