Orgulho e Preconceito escrita por Mokocchi


Capítulo 3
Bar Hibring


Notas iniciais do capítulo

Gente, vocês são demais! É cada comentário lindo que eu recebo, obrigada por me estimularem a escrever.
Já devem estar percebendo que essa fanfic é atualizada bem rapidinho, né? Pois vou fazer o máximo para continuar assim ;)
Boa leitura!!



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— Ainda dá tempo de mudar de ideia – os parceiros estavam chegando à parte mais afastada do bairro, era lá onde viviam os cidadãos menos condicionados, e um ótimo lugar para se esconder, caso pertença a um grupo não muito aceito da sociedade.

Havia um outdoor bem extravagante logo à frente, perto de um aglomerado de animais de diversas espécies entrando em um único lugar. Não havia errada, era o bar Hibring. Nick sentiu todos os pelos das costas se arrepiarem, e voltou a dizer:

— Há outros casos que podemos resolver, sabe – Judy não lhe deu atenção, a coelha estava ocupada demais tentando manter a calma.

Os rumores sobre os bares híbridos eram os piores, porém, não se pode esperar muito de colegas de trabalho cheios de preconceito, e se havia alguma coisa que Judy não suportava era isso. Mas, se ela realmente não tinha preconceito com híbridos, por que estava tão nervosa para entrar naquele bar?

A coelha parou a poucos metros de distância e ficou estática de orelhas baixas, fazendo vários questionamentos a si mesma, e repensando a ideia de ir pra casa e fingir que nada aconteceu. Nick a conhecia como ninguém, e soltara um grande suspiro de alívio ao vê-la recuar.

— Enfim, entendeu – pôs a mão no ombro da menor, e tentou leva-la de volta. – Mexer com essa gente é furada, acredite. É melhor mesmo desistirmos.

A última palavra ecoou na cabeça de Judy, e um grande grito da consciência a acordou daquele transe indeciso. O que estava fazendo?

Suas orelhas levantaram e largou a mão do parceiro dando dois passos pra trás, o fez voltar a ter uma expressão quase desesperada.

— Obrigada por lembrar que não sou de desistir, Nick – ajustou seu colete e olhou-o com seriedade. – Eu vou entrar naquele bar, você queira o não. Se esse seu preconceito bobo te impede de me acompanhar, tudo bem, espere aqui.

— Não é preconcei-

— É sim— bateu a pata esquerda no chão repetidas vezes, reprimindo-o. Nick sentira-se um pouco envergonhado por não ter uma resposta.

A coelha o deixou sozinho no meio da rua e foi se juntar aos animais que entravam no bar alegremente. “Coelha teimosa”, a raposa pensou enquanto bufava sem parar, de braços cruzados e uma cara feia.

O bar era totalmente diferente do que Judy havia imaginado, tudo ali era bem organizado, o cheiro era agradável, e os animais não tentavam assediar ninguém (era assim que os colegas de trabalho da coelha descreviam). Na verdade, parecia mais um refúgio onde muitos queriam apenas dar as patas em público sem sentir medo, outros já eram mais ousados e ficavam aos beijos, e também haviam alguns solteiros apenas querendo um romance de uma noite só.

Resumindo, era um bar como qualquer outro, porém com uma temática mais exótica. Ainda assim, Judy se sentira um peixe fora d’água no momento em que pisou naquele lugar, e muitos animais começaram a encará-la de forma estranha, com os olhos fixados em seu uniforme de policial. “Calma, Judy... Respira fundo. Confiança. Sem desistir.”.

Com o passar dos segundos em que procurava algum funcionário, os olhares em sua direção foram reduzindo. Passara por muitos casais aos beijos, e sentiu o rosto corar violentamente na mesma hora, mas o pior foi quando um castor a analisou da cabeça aos pés e disse:

— Eu bem gostaria de ser preso por essa coelhinha— piscou para ela, e ela sentiu uma necessidade enorme de fugir daquele bar. “Não! Não posso sair daqui! Não posso desistir!”.

Sem dar atenção ao castor, que começou a se aproximar dela lentamente com um copo de bebida na pata, procurou o lugar mais reservado, onde estavam servindo as bebidas. Judy deu um salto e sentou-se numa cadeira alta, esperando ser atendida, deu mais uma olhada no bar por um todo e percebera que, sem dúvida, era um lugar muito bonito.

— Lindo, não é? – Judy quase se assustou quando a garçonete parou em sua frente apoiando os braços no balcão. Uma raposa, fêmea, muito bonita, tinha um estranho roxo no olho direito, com um olhar sínico, lembrava Nick em diversas maneiras. Mas, apesar do sorriso sínico, não pareceu ter ido muito com a cara da coelha de primeira. – Espero que não esteja aqui para causar problemas, senhorita policial.

— O quê? – ela demorou para entender, mas logo tornou a ficar tímida. – Pode ficar tranquila, não tenho nada contra essa gente.

A raposa pareceu menos feliz ainda.

— “Essa gente”... Você tem um modo estranho de se referir a animais como qualquer outros – a raposa fizera Judy corar, um tanto envergonhada de si mesma.

Não demorou muito para a garçonete perceber que ela não estava acostumada com ambientes como aquele, por isso decidiu dar uma trégua. Era cortesia da casa dar a primeira bebida de graça aos novatos, e foi o que fez com a coelha, arrastando um copo com uma bebida vermelha sobre o balcão.

— N-Não, obrigada, – Judy recusou – eu não estou aqui pra beber.

— Não quer prender ninguém, não quer beber... O que faz aqui, coelhinha? – a raposa parecia curiosa, tirou um cigarro do bolso de seu vestido e o levou à boca.

— Bem, - a policial levantou sua mochila, tirando a pasta, seu bloco de anotações, e sua caneta em forma de cenoura, a qual apertou o botão no mesmo instante para gravar a conversa – estou aqui para resolver o caso de Thomas Boris e Jeanette Glória, o urso e a hipopótamo que frequentavam esse bar.

— Thomas e Jeanette... – a raposa fez um olhar distante, soltando a fumaça do cigarro pela boca. – O velório deles é amanhã. Que tragédia...

— Sim – vendo que não conseguiria falar com mais nenhum funcionário, dirigiu-se à raposa. – Se importa se eu fizer umas perguntas, senhorita...?

— Venus – completou, enfim, sorrindo com mais simpatia. – Venus Roxanne.

— Trabalha aqui há quanto tempo, Venus?

— Praticamente a vida toda – fez um olhar nostálgico. – Tinha seis anos quando minha mãe fundou este bar, sempre a ajudei como podia, garçonete, faxineira, DJ... Sei o nome de cada cliente.

— Você... é um deles?

— Do que está falando?

— Você sabe... Híbrida? – não sabia no que aquilo seria relevante em sua busca, mas por alguma razão sentira uma vontade desenfreada de pergunta-la aquilo. Tudo era tão novo para a coelha processar de uma vez.

A raposa lhe dera um sorriso malicioso, fazendo-a ficar meio sem jeito.

— Senhorita policial, por acaso está me persuadindo?

Judy ficou vermelha.

— O-O que disse? – perguntou, tímida. A raposa riu, vangloriando-se do nervosismo da coelha.

— Relaxa, o preconceito entre relações homo afetivas já não existe há séculos.

— V-Você entendeu errado! – disse a coelha, quase que desesperada. Não entendera que a raposa estava apenas brincando com ela.

— Mas respondendo sua pergunta, – sugou a ponta do cigarro com força – sou do tipo que se atrai pela mesma espécie.

Judy levantou uma sobrancelha, meio confusa. “Talvez ela não se sinta desconfortável aqui por conviver com isso desde pequena... Talvez...”. Os olhos da policial vidraram-se no roxo que havia no olho da raposa, mas depois de alguns segundos, lembrou que estava ali a trabalho.

— Era próxima de Thomas e Jeanette?

— Conversei com eles algumas vezes – apagou o fogo de seu cigarro no balcão. – Eram um casal muito feliz, casaram na cidade vizinha, e estavam pensando em adotar um filhote de zebra – Judy sentira o peito apertar. – Eram bons amigos.

— Eu sinto muito.

— Não sinta – Venus suspirou, um tanto triste. – Os animais do protesto começaram a enlouquecer, e a polícia estava muito violenta... Não conseguimos ver quando aconteceu.

— Você... estava no protesto?

— Claro.

— Mas... – agora a policial ficara confusa. – Você disse que não é híbrida. Por que foi protestar?

Venus a encarou como se a resposta fosse óbvia, “Essa coelha não entende nada, mesmo” deve ter pensado. Mas, sorriu.

— Não é preciso fazer parte de uma causa para defende-la – Judy arregalou os olhos. – Você não concorda?

Mais uma vez Judy sentia-se como uma ignorante, sem saber como responder a garçonete sorridente e intimidadora. E, por algum motivo, a curiosidade sobre o olho roxo bateu mais forte.

— Esse roxo... – apontou para o olho de Venus, que tornara a ficar mais séria.

— No protesto. Um policial me bateu – Judy sentira uma pontada no peito mais uma vez. – Até me admira ver alguém investigando esse caso, a polícia sempre ocultou todo o preconceito que esses animais sofrem... Bando de preconceituosos...

Toda a vergonha caíra nela junto com suas orelhas, olhou para as próprias patas, pela primeira vez, sentindo certa vergonha da profissão que mais amava. Sempre pensara na polícia como um ícone, o maior exemplo de respeito e esperança para uma sociedade melhor, por tal motivo se arriscara tanto para o melhor dos cargos na delegacia. Mas agora, seu mundo havia deixado cair um pedacinho de sua esperança.

Seria a intolerância o modo certo de tornar o mundo um lugar melhor? Estaria ela sendo intolerante?

Respirou fundo, preferiu ignorar todos aqueles pensamentos, e seguiu com mais algumas perguntas. Venus era gentil, atenciosa, e fazia um bom esforço na memória para contar tudo o que sabia à policial. Mas, chegou o momento em que ela disse:

— Lamento, coelhinha, mas acho que terei que voltar ao trabalho – disse, olhando para seu relógio de pulso. – Às nove horas, isso aqui começa a lotar de animais.

— Tudo bem – Judy clicou o botão de sua caneta e começou a guardar as coisas na mochila. – Posso encontra-la em outra ocasião para fazer mais perguntas?

— Sim, claro – ela arrancou uma folha do bloco de anotações de Judy antes que ela o guardasse, e escreveu seu número ali. – Eu te mando uma mensagem no Zoozap. Posso procurar saber mais informações com os clientes.

— É mesmo? – um brilho inexplicável nasceu nos olhos da coelha. – Muito obrigada, Venus!

— De nada, err... qual é mesmo o seu nome?

— Judy, – sorriu, e apertou a pata da raposa – Judy Hopps.

— Acho que já ouvi falar de você – Venus levou a pata ao queixo. – Resolveu o caso dos predadores infectados pelos uivantes, não é?

— Sim – ela respondeu, voltando a ficar cheia de orgulho com sua profissão. – Mas não levo todo crédito, eu e meu parceiro Nick-

— Aquele ali? – Venus apontou para o outro lado do bar, onde Nick entrara com a cara de maior desespero do mundo, evitando olhar para os animais que beijavam-se em público.

Ele estava recebendo olhares de diferentes espécies, e para alguém que tinha certos preconceitos dentro de si, era normal desesperar-se. Procurava Judy no meio daqueles animais como uma criança que perdera sua mãe no supermercado, e a coelha deliciava-se ao ver aquela cena. Adorava quando Nick sentia-se desconfortável com alguma coisa, ou em algum ambiente, da mesma maneira como ele se divertia quando ela perdia a paciência com preguiças.

Venus, que estava olhando de longe, também achou graça do desespero da raposa ao longe.

— Acho melhor ajudar seu parceiro, aqui com certeza não é o habitat dele – a raposa pegou uma bandeja, ajustou seu vestido, e deu último sorriso à policial. – Foi um prazer conhece-la, Judy Hopps.

— O prazer foi todo meu, Venus – antes que a coelha pulasse da cadeira, a garçonete a impressionou mais uma vez.

— Fico contente em ver que o departamento de polícia não está totalmente perdido.

Venus parecia ter o dom de deixar outros animais sem uma boa resposta, deixando o último contato entre as duas apenas em sorrisos. Judy entrou na multidão novamente, que parecia ter duplicado, e segurou a pata de seu parceiro, para o alívio dele, puxando-o para fora do bar.

Judy caminhou sorridentemente pelas ruas domadas pelo frio da noite, enquanto Nick ainda se arrepiava um pouco lembrando das coisas que vira naquele bar.

— Ainda bem que você saiu de lá, – ele confessou – já estava começando a ficar assustado lá dentro.

— Medroso – ela brincou.

— Cenourinha, uma lontra deu em cima de mim. Uma lontra.

— Recebi cantadas de um castor – ele arregalara os olhos por ela dizer isso com tanta indiferença. – E... conheci uma raposa legal – ele arregalara ainda mais os olhos, fitando-a com certo apelo. Era meio lenta, e demorou para perceber o que aquilo significava. – Ei, não pense besteiras, eu só disse que ela era legal.

— Ah, sim – ele soltou um grande suspiro com a pata no peito, aliviado.

— Calma, gostar de outras espécies não é contagioso – sem que percebesse, já estava reprimindo o preconceito do colega mais uma vez. – Só estava dizendo... que acho que você combina com aquela raposa.

Ele finalmente saíra do modo de desespero e começara a rir com ironia no olhar.

— Você estava fazendo uma investigação, ou procurando uma namorada pra mim?

— Quem sabe os dois, não aguento mais sua carência – brincou, rindo. – Ela é bem bonita, se serve de impulso.

Nick levou sua pata à cabeça da parceira, bagunçando seus pelos.

— Você também é bonita, e nem por isso quero lhe beijar.

Ela riu.

— Engraçadinho...

A policial dormiu feliz, o pouco do seu preconceito fora quebrando aquela noite.


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Notas finais do capítulo

Esse capítulo serviu para esclarecer várias outras coisas, pontos de vista novos, e mais tapas na cara da sociedade.
Espero que tenha gostado, se sim, deixe seu review e favorite caso ainda não tenha o feito.
Kissus ♥